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FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

PS em silêncio mantém cerca sanitária para manter distância de Sócrates

No PS admite-se que Sócrates regresse para "ajustar contas", mas não ao partido de onde saiu por falta de apoio. Essa linha da direção é para manter. Caso foi referido numa reunião da bancada.

No PS mantêm-se o mantra fixado pelo líder logo em novembro de 2014, no dia seguinte a José Sócrates ter sido detido. Política de um lado, justiça do outro, disse António Costa para evitar um caso de alta sensibilidade para o partido. A relação entre ele e Sócrates esfriou totalmente até à inexistência — o ex-líder desvinculou-se mesmo do partido com queixas de “embaraço mútuo” que sentia representar –, e agora não muda nada, pelo menos espera a direção do PS. O partido está atento às movimentações, mas pouco crente que Sócrates volte ao PS.

À hora em que o juiz Ivo Rosa lia em direto nas televisões a instrução da Operação Marquês era difícil falar com um socialista sem que se ouvisse ao fundo, na chamada, a voz do momento a debitar as mais de 6 mil páginas da decisão instrutória. “Ainda a procissão vai no adro”, comentou ao Observador um alto dirigente socialista sobre o que aconteceu esta sexta-feira, em que José Sócrates viu cair grande parte das 31 acusações que tinha sobre si na Operação Marquês, restando apenas três crimes de branqueamento de capitais e outros três de falsificação de documentos. Nada de corrupção, nem mesmo de fraude fiscal. “Mas haverá recursos, o julgamento e mais recursos”, pelo que o caso está longe de estar resolvido e, até lá, mantêm-se o “à justiça o que é da justiça”. “Tudo isto ainda tem de ser digerido e é preciso cuidado com as primeiras reações”, comenta ainda a mesma fonte.

José Sócrates liderou o PS entre 2004 e 2011 e foi eleito primeiro-ministro em 2005 e reeleito em 2009.

LUSA

Outro socialista acrescenta que “o PS está marcado pelo SMS de Costa e há uma limitação. Não se fala disso”. A verdade é que o próprio António Costa continua a remeter para as suas declarações de 2014 e foi isso mesmo que fez esta sexta-feira, já depois de conhecido o desfecho da instrução da Operação Marquês. “Sobre esta matéria já disse tudo o que tinha dizer em novembro de 2014 e não tenho mais nada a acrescentar”. Refere-se ao SMS que mandou prontamente aos militantes socialistas na manhã seguinte à detenção e em que admitia que todos estivesse, “chocados com a notícia da detenção de José Sócrates”, embora acrescentasse logo de seguida que “os sentimentos de solidariedade amizade pessoais não devem confundir a ação política do PS. A partir daí, só uma ideia mais sobre o assunto: “À justiça o que é da justiça e à política o que é da política”.

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O regresso para “ajuste de contas”

O caso “incomoda o PS, quer se queira quer não”, diz um deputado ao Observador que comenta a “autoridade” que Sócrates ainda mantém no partido, exemplificando mesmo com o que se passou no ano passado em nas eleições para a distrital do PS-Braga e em que uma intervenção sua terá sido fundamental para garantir a vitória de Joaquim Barreto. Tanto assim foi que o líder eleito até agradeceu a Sócrates no discurso de vitória. Ainda assim, este mesmo deputado diz que nesta fase o “espaço de Sócrates no partido é mais sentimental e histórico do que político. Não o estou a ver dentro do PS“.

Ainda assim, há que não esteja não convencido disso. Dois dos socialistas com que o Observador falou admitem que Sócrates queira vir marcar o seu espaço “para fazer um acerto de contas com a vida”, diz um. “Vai ajustar contas”, comenta o outro.

“Sócrates tem o objetivo de pacificar a sua  imagem pública e isso não se faz provocando o país“, considera o mesmo deputado explicando que era isso que o ex-líder do PS faria ao avançar novamente na arena política. Outro socialista mais próximo de Sócrates tem dúvidas que o próprio “esteja disponível” para regressar à política, embora também admita que “isto tudo muda de um dia para o outro”.

O que é certo é que nesta sexta-feira, Sócrates deixou essa porta escancarada ao dizer, à porta do tribunal onde tinha ouvido a leitura do juiz Ivo Rosa: “Quanto a essa questão do regresso à política ou à minha participação na política, isso diz respeito a mim e ao diálogo comigo mesmo que eu não quero partilhar convosco”. Sobre a Presidência da República em concreto, Sócrates respondeu: “Eu não quero partilhar isso… As minhas ambições políticas… Farei toda essa reflexão comigo próprio”. Longe de estar aqui um ponto final.

António Costa saiu de número dois do Governo de Sócrates, em 2007, para se candidatar às eleições intercalares à Câmara de Lisboa.

LUSA

Em 2010, o secretário-geral da “esquerda moderna” que conquistou a primeira maioria absoluta do partido desfiliou-se. Numa carta que tornou pública, Sócrates escreveu que era “chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo”, referindo-se por várias vezes a declarações que tinham sido feitas nos dias anteriores por dirigentes do partido sobre os processos judiciais que envolviam ex-governantes socialistas — impulsionados na altura pelo caso que envolvia o antigo ministro da Economia Manuel Pinho.

Carlos César, presidente do partido, foi um deles e foi mais longe do que qualquer socialista até ali ao dizer que os socialistas estavam “entristecidos, até enraivecidos com pessoas que se aproveitam dos partidos políticos, e designadamente do PS [para ter] comportamentos desta dimensão e desta natureza”. E quando foi questionado concretamente sobre Sócrates assumiu: “A vergonha até é maior porque era primeiro-ministro”.

As 42 horas de críticas que fizeram Sócrates deixar o PS

Se quiser voltar à política “terá de ser na qualidade de independente”, afirma mais um deputado socialista em conversa com o Observador justificando esta sua interpretação precisamente com o que Sócrates escreveu quando saiu do PS. “O que o levou a desfiliar-se não me parece que tenha saído da frente“. No partido, garante ainda, “das bases à direção nacional, ninguém está a contar que ele regresse. Não é sequer tema de conversa”, garante.

Deputado alerta com impacto de caso na reforma da Justiça

A preocupação maior no PS — pelo menos a verbalizada nesta altura — é com as implicações deste caso para o sistema judicial. “As afirmações do juiz foram chocantes”, comenta um alto dirigente que diz que este “foi um dia triste para a justiça em Portugal”. Na última quinta-feira, numa reunião do grupo parlamentar do PS, na Assembleia da República, dois deputados falaram no que se passaria no dia seguinte, sexta-feira, com a Operação Marquês.

No último dia do ano de 2014, Costa visitou, pela primeira vez e depois de muita pressão pública, Sócrates na prisão de Évora.

LUSA

Ascenso Simões foi o primeiro, segundo apurou o Observador junto de deputados que estiveram nessa reunião, ao deixar um “alerta” que a partir deste dia os temas da reforma da justiça e da corrupção, relacionados com a Operação Marquês, e o partido deve estar preparado para isso. Jorge Lacão também falou do mesmo assunto, numa altura em que o Parlamento se prepara para debater a nova estratégia de combate à corrupção que o Governo propõe e que traz implicações sobre a forma como se processam as grandes investigações judiciais.

Além disso, há outros temas de insistência à esquerda e de resistência socialista, como a criação do crime de enriquecimento ilícito, que agora “vão estar novamente em cima da mesa”, comenta um deputado do PS ao Observador. Pouco depois desta conversa, já a líder do Bloco de Esquerda escrevia no Twitter a urgência de avançar com esta alteração concreta.

Seis anos depois da prisão que chocou o PS, o caso continua a ser bicudo, como se vê pela dificuldade de tanto socialistas em falar de forma identificada sobre o assunto — sem contar com tantos que nem sequer em off aceitam falar sobre o tema. O Chega falou sobre o assunto, o Bloco de Esquerda também, o PSD marcou uma reunião da comissão permanente do partido para analisar a decisão instrutória da Operação Marquês. Mas o partido que Sócrates liderou durante quase sete anos ficou em silêncio e António Costa falou de fugida apanhado pelos jornalistas à saída do velório de Jorge Coelho, na Basílica da Estrela em Lisboa.

O atual líder do PS disse bem menos do que tinha dito, no último dia do ano de 2014 à porta do Estabelecimento Prisional de Évora, onde o ex-líder estava preso, quando afirmou que a “personalidade dele [Sócrates] é conhecida de todos. Vai certamente lutar pelo que acredita ser a sua verdade”. A “sua verdade” foi uma expressão que ficou a ecoar nos ouvidos de muitos e a sua barreira higiénica neste caso foi sempre vista como pouco leal pelo “animal feroz” José Sócrates. E terá de continuar a lidar com esta sombra, bem mais presente agora do que nestes seis anos de liderança de Costa e de caso Sócrates, dois momentos que nasceram no mesmo dia.

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