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"Quero ser YouTuber". Isso é um emprego?

Quatro em 10 universitários querem profissões que não existem. Ser YouTuber é uma delas. É quase impossível ter êxito, mas há casos que correm bem. Entrámos no YouTube Space, em Londres.

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Reportagem em Londres

É como entrar num restaurante americano onde se toca blues. Há um bar self-service inspirado nos Cadillac dos anos 50, uma grande sala com cortinas pretas e pesadas para conferências, cadeiras altas e balcões com autocolantes parecidas às de um paddock. No meio de todos estes clássicos, a modernidade: um espaço com cadeiras de gaming de última geração à frente de uma televisão com jogos digitais, quatro ecrãs gigantes cada um, separados em seis painéis com vídeos em loop e, por perto, uma parede inteira com um graffiti feito com marcador preto. Estamos no YouTube Space London, um estúdio do YouTube na capital inglesa onde os produtores de conteúdos podem produzir vídeos com tecnologia de ponta — desde que estejam dispostos a esperar por vagas na agenda.

Antes de tocar no sumo de laranja ao pequeno-almoço, Inês Rochinha já está de câmara em punho para registar — segundo a segundo — o dia que vamos passar com ela nesse espaço. Inês tem 25 anos, um canal no YouTube com quase 246 mil subscritores, uma licenciatura em Comunicação e Multimédia com especialização em Marketing Digital e, desde há um ano, um livro publicado — “Conversas Sem Segredos”, editado pela Manuscrito. Inês Rochinha é considerada uma das YouTubers mais bem sucedidas em Portugal. Veio até Londres para receber uma placa de comemoração por ter ultrapassado os 100 mil subscritores no canal que gere.

Inês Rochinha colocou-se no centro do espaço, virou a câmara para si mesma e falou para as lentes como se de uma pessoa real se tratassem. Do outro lado da câmara estavam milhares de pessoas: o vídeo que Inês produziu no YouTube Space — que mostra desde o quarto de hotel onde ficou hospedada até às salas de produção — teve quase 53 mil visualizações. O primeiro vídeo que disponibilizou na plataforma, publicado em junho de 2011, teve metade. Inês Rochinha explica que decidiu entrar no YouTube quando tinha 17 anos e recebeu uma máquina de costura da avó. E que há uns anos decidiu deixar para trás o cargo tradicional de gestora de redes sociais numa empresa para se dedicar em pleno à conta que mantém na plataforma.

Passado todo esse tempo, Inês não se arrepende de ter trocado uma profissão tradicional por outra mais peculiar: “Quando comecei a trabalhar, percebi que estava a perder grandes oportunidades de fazer coisas que realmente queria fazer. Recebia convites ou queria falar sobre determinados assuntos, mas tinha de recusar porque tinha um horário para cumprir e responsabilidades para honrar”. Nem tem medo do futuro: “É muito cedo para perceber o futuro disto como profissão, mas acredito que, se me souber reinventar, pode durar muito. Além disso, já tenho experiência nesta área e tenho um curso superior, por isso tenho condições para arranjar outra ocupação caso esta se esgote”, conta.

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“Apostar tudo nesta nova carreira pode trazer frustrações”

Há um estudo, no entanto, que não é tão otimista: num relatório publicado pela Bloomberg, Mathias Bartl, professor de matemática da Universidade de Offenburg para Ciências Aplicadas descobriu que 96,5% de todas as pessoas que tentam ser YouTubers, nos Estados Unidos, não conseguem receber dinheiro suficiente em publicidade para estar acima do limiar de risco de pobreza. Quem chega à fatia de 3% dos produtores mais bem sucedidos do YouTube (que atraem mais de 1,4 milhões de visualizações por mês) pode gerar uma receita de 16,8 mil dólares em publicidade — mais cinco mil dólares do que aquela que é traçada pela linha federal de pobreza norte-americana, que se situa nos 12,1 mil dólares.

Segundo Bartl, “depois de a Google ter adquirido o YouTube, o número de produções profissionais no YouTube aumentou significativamente. Mas, o grande volume de competição já existente deve tornar difícil tanto para profissionais como para amadores entregar os seus conteúdos a uma audiência maior”.

Como Miguel Raposo, consultor digital especializado em marketing de influência que trabalha diretamente com YouTubers, disse ao Observador em maio: um vídeo com”um milhão de visualizações pode dar entre 500 e mil euros” aos YouTubers portugueses. Do YouTube, podem mais ou menos contar com isso. Agora, há YouTubers que fazem 40/50 milhões de visualizações por mês. Mas isto não é assim tão simples, depende das alturas do ano. No Natal, é muito mais fácil fazer dinheiro porque há muito mais oferta. Pode-se ter um milhão de visualizações num mês, mas se calhar só 50% é que teve publicidade”.

Isto significa que, na lógica de Mathias Bartl, fazer mais dinheiro do que o previsto para o limiar da pobreza em Portugal é ainda mais difícil, se nos seguirmos pelas estatísticas da Pordata. Se um milhão de visualizações der um máximo de mil euros a um YouTuber, mas se só metade — ou seja, 500 euros —  vier de publicidade, como disse Miguel Raposo, então os YouTubers em Portugal ganham menos 53,6 euros do que o limiar de risco de pobreza.

Descobriu-se que 96,5% de todas as pessoas que tentam ser youtubers não conseguem receber dinheiro suficiente em publicidade para estar acima do limiar de risco de pobreza dos Estados Unidos. Em Portugal ganham menos 53,6 euros do que o limiar de risco de pobreza.

Porque é que ser YouTuber é tão difícil?

Mathias Bartl não é o único a falar das dificuldades de fazer carreira no YouTube. Léo Capelossi, gestor associado da Michael Page, uma empresa de recrutamento britânica com atividade em Portugal, considera que “a cada dia que passa, o mercado fica mais competitivo para o YouTuber, que disputa a atenção dos utilizadores com outros produtores de conteúdos: “Hoje, Portugal já conta com inúmeros YouTubers que geram alguns milhões de euros anualmente. Outros com certeza surgirão, mas apostar tudo nesta nova carreira pode trazer frustrações. Nada garante que um canal será bem sucedido e que as pessoas irão gostar do conteúdo produzido, portanto, criar a expectativa de ser um grande YouTuber e abandonar os estudos ou oportunidades profissionais tradicionais pode ser um grande erro. Principalmente no mercado português, que tem uma escala e audiência reduzida”, explicou ao Observador.

É precisamente desse mercado que chegam os maiores entraves ao crescimento profissional dos YouTubers em Portugal, considera Mariana Oliveira, consultora de tecnologias de informação da empresa de recursos humanos MSearch. Em primeiro lugar porque “Portugal apresenta um mercado naturalmente mais reduzido”: “A rentabilidade resultante da publicidade no mercado digital pode ser reduzida tendo por base o volume de utilizadores que os YouTubers portugueses conseguem atingir, principalmente se tivermos em conta a utilização exclusiva da língua portuguesa”, sublinha a consultora.

E, em segundo lugar, porque “a associação às marcas pode ser o ponto que distingue mais negativamente os YouTubers portugueses em relação aos que estão localizados em países como os Estados Unidos ou o Reino Unido”: “A sensibilização das marcas e a aposta das mesmas neste meio de divulgação para promoção dos seus produtos tem atualmente mais expressão noutros países. Esta situação potencia de forma natural a capacidade de investimento e de visibilidade por parte destes face aos nacionais”, explica Mariana Oliveira.

Nada garante que um canal será bem sucedido e que as pessoas irão gostar do conteúdo produzido, portanto criar a expectativa de ser um grande youtuber e abandonar os estudos ou oportunidades profissionais tradicionais pode ser um grande erro. Principalmente no mercado português, que tem uma escala e audiência reduzida.
Léo Capelossi, associate manager da Michael Page

85% de todas as visualizações do YouTube vão para apenas 3% dos canais

Os números falam por si. No Brasil, mais de 95% da população online — cerca de 116 milhões de pessoas — utiliza o YouTube. A Michael Page diz que esta é uma condição importante para que “alguns canais estejam entre os maiores do mundo, como é o caso do Kondzilla, especializado em videoclips de funk, e Whindersson Nunes, um jovem humorista que conta anedotas em vídeos simples para uma câmara sem cenário ou edição complexa”, exemplifica Léo Capelossi.

Só Whindersson Nunes tem cinco vezes mais subscritores do que Portugal tem de utilizadores da Internet. São 6 milhões as pessoas que usam a Internet em Portugal, segundo os dados facultados pela Michael Page. Em termos de proporção, há uma percentagem maior de população portuguesa a utilizar a Internet (60%) do que de população brasileira na rede (55,8%). Ainda assim, o mercado em Portugal é muito mais restrito: o número de brasileiros na Internet é mais de 19 vezes maior do que o número de portugueses. E isso aumenta as probabilidades de sucesso no outro lado do oceano. Cá, a melhor solução ainda vai sendo “a criação de conteúdos que possam abranger utilizadores de outros países”, aconselha o associate manager da Michael Page.

Mas pode não ser bem assim: na análise que Lép Capelossi fez a mais de 19 mil canais de YouTube e a praticamente 5,6 milhões de vídeos carregados no site — o segundo mais visitado no momento, apenas ultrapassado pelo Google, indica o ranking da Alexa —, Mathias Bartl descobriu que “os 3% de canais com mais visualizações carregam pelo menos 20% de todos os vídeos e recebem a vasta maioria de todas as visualizações: quase 90% em 2016”. Mais precisamente, e olhando para as estatísticas recolhidas entre 2011 e 2016, “os 3% de canais com mais visualizações são responsáveis por 28% de todos os carregamentos e 85% de todas as visualizações”.

Valores como este, na leitura do professor de matemática alemão, alimentam um fenómeno a que ele chama ‘rich-get-richer’ ou, em português, “os ricos cada vez ficam mais ricos”: os dados de Mathias Bartl sugerem que, à medida que o número de produtores de conteúdos no YouTube aumenta, diminui a probabilidade de um novo YouTuber chegar à elite dessa ocupação e ter tanto sucesso como os outros. “É normal para os vídeos ou canais que já foram vistos muitas vezes terem ainda mais visualizações, simplesmente porque têm uma base de partilha maior”, começa por justificar: “À medida que os canais e os vídeos recolhem mais visualizações ao longo da vida, há sempre uma possibilidade de ganharem uma massa crítica de atenção, mas, para a maioria, isso vai levar muito tempo e paciência”.

Mathias Bartl descobriu que “os 3% de canais com mais visualizações carregam pelo menos 20% de todos os vídeos e recebem a vasta maioria de todas as visualizações: quase 90% em 2016”. Entre 2011 e 2016, “os 3% de canais com mais visualizações são responsáveis por 28% de todos os carregamentos e 85% de todas as visualizações”.

Mathias Bartl percebe de onde vem o entusiasmo na perspetiva de construir carreira no YouTube: “A própria página do YouTube dizia, em janeiro de 2017, que o número de canais a ganhar um salário com seis dígitos por ano na plataforma é 50%. Dado que a expectativa de rendimento pode ser uma das motivações para que alguém partilhe vídeos online, esses comunicados de imprensa pode fazer com que o YouTube pareça uma oportunidade de carreira viável para muitos”, justifica o professor no estudo publicado no Journal of Research Into New Media Technologies.

Nenhuma das empresas de recrutamento estranha a tendência entre os mais jovens de ambicionarem erguer uma carreira no YouTube. “É natural que os jovens olhem para os vários casos de sucesso, de YouTubers que são completamente independentes financeiramente, que estão numa fase jovem das suas vidas e que partilham conteúdos que gostam, ou que se divertem enquanto o fazem, e queiram fazer o mesmo”, afirma Cátia Carvalho, consultora em tecnologias de informação da Hays.

As profissões do futuro

Além disso, acrescenta Léo Capelossi, é uma ocupação “que não se encaixa no modelo de carreira tradicional, com caminhos lineares de crescimento, cargos, salários e responsabilidades”: “É também por conta desta ausência de hierarquias, obrigações e rigidez, além do alto potencial de ganho, que tem cada vez mais sucesso junto das novas gerações, que na sua maioria preferem não se enquadrar em modelos já estabelecidos e pré-concebidos de profissão”, explica o associate manager da Michael Page.

Qual será a profissão mais procurada em 2020, informático ou carpinteiro?

E são cada vez mais ocupações desta natureza que os jovens procuram. A Kaspersky Lab, uma empresa de cibersegurança, fez um estudo com mil estudantes alemães, ingleses, espanhóis, franceses, italianos e holandeses sobre o futuro das suas carreiras no final da universidade. E estimou que 40% dos jovens estuda para uma profissão que ainda não existe: “Cerca de 40% destes alunos europeus considera que está a ser treinado para uma ocupação que ainda não existe e, com a rápida evolução e desenvolvimento de novas tecnologias, esse pode muito bem ser o caso”. É que “hoje em dia, ramos profissionais como a medicina, a arquitetura ou mesmo a agricultura veem-se obrigados a mudar radicalmente a sua forma de operar graças ao desenvolvimento de novas tecnologias, em especial da inteligência artificial. Por essa razão, é natural que existam muitas questões sobre como serão os trabalhos do futuro”.

"Cerca de 40% destes alunos europeus considera que está a ser treinado para uma ocupação que ainda não existe e, com a rápida evolução e desenvolvimento de novas tecnologias, esse pode muito bem ser o caso".
Kaspersky Lab, uma empresa de cibersegurança

Mas será que os YouTubers são um exemplo disso? Léo Capelossi da Michael Page diz que, “se partirmos do princípio de que uma profissão é uma ocupação produtiva de algum indivíduo perante a sociedade e se isto significar gerar receita, devemos encarar com seriedade um mercado gerador de muitos milhões de euros mensalmente”: “Um YouTuber é um produtor de conteúdos, um influenciador e um entertainer. Esta recente ocupação ganha o estatuto de profissão ou carreira à medida que as empresas começam a perceber que esta ferramenta digital é um canal estratégico para alcançar o seu público-alvo criando um engajamento sem precedentes”, conclui o gestor.

A Michael Page considera que, se o conceito mais “rígido e estático” do conceito de profissão tem vindo a mudar, então “as gerações mais antigas terão de se adaptar”. Esse é uma caminhada inevitável porque “o universo tecnológico cria necessidades antes impensáveis”: “O YouTube apresenta números colossais de audiência e desde a sua criação em 2005 que tem tido uma ascensão notória. Hoje, são cerca de 30 milhões de utilizadores ativos todos os dias, com cerca de cinco mil milhões de vídeos visualizados a cada 24 horas. Este oceano de conteúdo proporciona cada vez mais potencial de ganho para aqueles que acertam na sua estratégia, tornando a ‘carreira’ de youtuber cada vez mais desejada“, explica Léo Capelossi.

Mas Cátia Carvalho tem uma opinião diferente. Questionada sobre se ser YouTuber é uma profissão aos olhos das empresas de recrutamento e de recursos humanos, a consultora da Hays respondeu: “Creio que não. Atrevo-me a dizer que não consideramos ‘ser YouTuber’ como uma profissão, mas sim como uma ocupação — para muitos a tempo inteiro e para outros a part-time. Se é algo que pode mudar e fazer com que as empresas de recrutamento comecem a olhar de outro modo, poderá acontecer”. Mas acrescentou que “devemos olhar para este tema com alguma seriedade face ao seu grande crescimento”.

Rafael: será assim o trabalhador ideal em 2020

A MSearch vai ainda mais longe: para Mariana Oliveira, consultora na empresa, “seria futurologista avançar com uma previsão sobre se podemos considerar os YouTubers uma profissão“: “A crescente evolução do mercado digital e o expressivo aumento do consumo de conteúdo deste âmbito podem ser fortes influenciadores de uma abertura do mercado do trabalho a este tipo de profissões. No entanto, o caminho da profissionalização da posição de YouTuber será traçado pelos próprios“, explica.

É por isto que, mesmo assim, Mariana Oliveira sublinha que há a “responsabilidade de analisar o fenómeno”: “A sua aproximação às novas tecnologias e o trabalho desenvolvido sob o olhar permanente da atualidade, oferecem a estes profissionais potenciais saídas no mercado de trabalho atual. Com o aumento de utilizadores nas plataformas digitais e as rentabilidades alcançáveis com a utilização da publicidade, facilmente identificamos oportunidades para estes profissionais no âmbito da comunicação digital e do marketing“.

"Seria futurologista avançar com uma previsão de podermos considerar youtuber uma profissão. A crescente evolução do mercado digital e o expressivo aumento do consumo de conteúdo deste âmbito podem ser fortes influenciadores de uma abertura do mercado do trabalho a este tipo de profissões".
Mariana Oliveira, IT consultant da MSearch

Como ter sucesso no YouTube, segundo as estatísticas

Ainda assim, há YouTubers que têm uma “probabilidade de sucesso” maior do que outros, dependendo dos temas que abordam e da longevidade dos canais que têm. Atualmente, há 18 categorias de canais no YouTube. O estudo de Mathias Bartl percebeu que entre 2006 e 2009 a maior parte dos canais pertenciam à categoria Música: há nove anos, mais de 20% de todos os canais criados carregavam maioritariamente vídeo relacionados com música. Nesse mesmo período de tempo, outras três categorias continuaram a crescer: eram Entretenimento, Pessoas & Blogs e Educação. Mas de 2010 em diante, a maior parte dos novos canais eram rotulados na categoria Pessoas & Blogs. Em 2016, 75% dos canais tinham essa categoria. E desde 2012 que os videojogos são a segunda categoria mais popular no YouTube.

No que toca ao número de vídeos carregados, a categoria Notícias & Política também parece ser promissora: menos de 3% de todos os canais no YouTube recaem nessa categoria, mas ela “sempre foi extremamente ativa”, a contribuir com 45% de todos os carregamentos de vídeos no YouTube. Entre 2008 e 2015, a categoria Entretenimento foi a segunda mais produtiva da plataforma: 12% de todos os carregamentos eram rotulados com essa área. Em terceiro lugar, em matéria de número de carregamentos, foi Pessoas & Blogs: embora o crescimento de número de canais com esse rótulo tenha sido exponencial, no que toca ao volume de carregamentos só contribuiu para 9% de todos os uploads.

Em termos de popularidade, a categoria mais rentável em número de visualizações é Entretenimento, que recolhe 24% de todas as visualizações no YouTube. A seguir vem a categoria Música com 17% das visualizações e Gaming com 13% das visualizações. Só que a leitura não pode ser tão linear assim, avisa Mathias Bartl: “Olhando para os anos individualmente, a categoria mais vista foi mudando com o tempo. Em 2007 e 2008 os vídeos mais vistos eram de Notícias & Política; nos anos de 2009, 2011 e 2012 era Música; e de 2013 para a frente, Entretenimento tornou-se na categoria mais vista. O Gaming começou a ganhar popularidade em 2010 e cresceu gradualmente anos após ano até ser a segunda categoria mais vista em 2015 e 2016”.

Michael Bartl estima que os youtubers com maior probabilidade de chegar à elite dos 3% mais bem sucedidos "sempre foi acima da média" para quem produz vídeos nas categorias de Comédia, Entretenimento, Como Fazer & Estilo e Gaming. E os canais mais antigos tendem a ter maior probabilidade de pertencer ao top 3% de canais com maiores visualizações.

Fazendo um balanço de tudo isto, Michael Bartl estima que os YouTubers com maior probabilidade de chegar à elite dos 3% mais bem sucedidos “sempre foi acima da média” para quem produz vídeos nas categorias de Comédia, Entretenimento, Como Fazer & Estilo e Gaming. Em 2016, no entanto, a categoria de Notícias & Política destacou-se com 10,9% de probabilidade de sucesso. Abaixo da média, isto é, com inferior probabilidade de sucesso, estão as categorias Desporto, Educação, Sem Fins Lucrativos & Ativismo e Pessoas & Blogs.

Além disso, o matemático também concluiu que os canais mais antigos tendem a ter maior probabilidade de pertencer ao top 3% de canais com maiores visualizações. Por exemplo, em 2016, 33% dos canais bem sucedidos eram de 2013 ou ainda mais antigos. No entanto, ressalva ele, “dada a competição de um número de canais exponencialmente maior, torna-se cada vez mais difícil ser bem sucedido”.

“Se isto é o mercado de trabalho, então estamos na primavera”

Se o sucesso depende da longevidade do canal do YouTube, Dário Guerreiro está no caminho certo. Ao Observador, o YouTuber que alimenta o canal Môce dum Cabreste diz ser “um dinossauro” da plataforma: “Entrei no YouTube de uma forma completamente recreativa. Criei um canal em 2006 com amigos meus. Era uma coisa muito embrionário, até porque a dinâmico da plataforma não era a mesma. Usávamos o YouTube como um servidor gigante para incorporar os vídeos em outros sites ou blogs“. Quatro anos depois, Dário e os amigos separaram-se porque cada um entrou numa universidade diferente e não se conseguiam encontrar para produzir vídeos. Dário decidiu continuar por lá e em 2010 nasceu a página Môce dum Cabreste. O primeiro vídeo que foi visto por 500 pessoas. O segundo por mil. Agora o canal tem mais de 191 mil subscritores.

Pelo telefone, Dário Guerreiro explicou ao Observador que a ideia por detrás do canal “Môce dum Cabreste” é reavivar as “tradições orais que se estão a perder”: Dário Guerreiro é de Portimão, estudou na Universidade de Faro e mantém bem vincado o sotaque algarvio. “Tenho um certo primor por este projeto”, confessa: “Tudo começou com um logótipo muito artesanal, mas o número de pessoas que me viam ia aumentando porque eu ia testando os conteúdos, adaptando-os em função da resposta. Procurei sempre criar conteúdos novos para atrair pessoas novas e encontrar públicos que gostassem de matérias fora da minha praia“, diz ao Observador.

"A menos que se tenha exposição no Brasil ou em Angola, o mercado é demasiado pequeno para ser viável ganhar um salário substancial apenas a partir da atividade no YouTube. Uso essa ocupação como uma forma de promover o stand up comedy, a minha atividade principal. O YouTube é um meio de divulgação".
Dário Guerreiro, youtuber na página "Môce dum Cabreste"

Uma coisa parece clara para Dário: se “Môce dum Cabreste” resultou foi porque, mesmo depois de todas essas experiências, Dário manteve a “genuinidade e a transparência”: “Procurei sempre espelhar ao máximo aquilo que sou. Fala-se da exposição em demasia mas isso, embora tenha desvantagens sérias, também pode ser uma boa ferramenta a nosso favor. Sei que fui desenvolvendo capacidades técnicas e de eloquência porque a fasquia do público subiu. Se eu não fizesse isto bem, as pessoas iam procurar melhor a outra freguesia. Tomei a escolha de nunca adaptar aquilo que queria dizer ao público. O público é que me escolhe“, explica o YouTuber ao Observador.

Questionado sobre se esse é o segredo para o sucesso de Dário Guerreiro enquanto YouTuber, o produtor de conteúdos diz que “o conceito de sucesso é relativo”, avança: “A menos que se tenha exposição no Brasil ou em Angola, o mercado português é demasiado pequeno para ser viável ganhar um salário substancial apenas a partir da atividade no YouTube. Eu sou YouTuber mas uso essa ocupação como uma forma de promover o stand up comedy, que é a minha atividade principal e aquela de que subsisto. O YouTube é, para mim, um meio de divulgação”, explica.

Não é assim com todos os YouTubers: alguns conseguem retirar lucros suficientes através da publicidade nos canais do YouTube, outros acabam por entrar no mercado do digital ao se associarem a determinadas marcas. Alguns nunca chegam tão longe, mas, para Dário Guerreiro, é ele a criar o seu próprio mercado de trabalho: “O YouTube trouxe, ou pelo menos sublinhou ainda mais, a democratização dos comunicadores. Deu-nos novas formas de nos conhecermos. Muitas marcas têm entendido que os orçamentos de publicidade da televisão são muito altos quando comparados com os serviços que um YouTuber pode prestar. Se isto é o mercado de trabalho, então estamos na primavera“.

*A jornalista visitou o YouTube Space London a convite do YouTube

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