O sorriso de Rui Rio não escondia a alegria de estar na sua terra, o Porto. Na descida da rua Santa Catarina sentia-se em casa, embora — na arruada mais participada da campanha — a confusão e o ritmo acelerado deixasse pouco tempo para o contacto com os eleitores. Seguranças à paisana e militantes encorpados depressa começaram a formar um cordão de segurança em torno da chamada “bolha” onde vão os jornalistas e o candidato. Mas a certa altura o presidente do PSD protestou: “Deixem-me sair daqui e ir para as pontas, para falar com as pessoas que é ali que se ganha votos“. E saiu disparado para a Calzedonia e comentou o facto de estar a entrar em várias lojas de roupa interior na campanha: “Isto é só para entrar, mas só para quem gosta. Quem não gosta não vale a pena.” Preferências à parte, regista-se que Rio quer ir atrás de votos.
Sexta-feira é o último dia e o cenário era adverso, mas Paulo Rangel não baixou os braços. A campanha criou ações que não estavam previstas: uma grande arruada em Braga e uma “mega caravana” de carros pelas ruas do Porto, que termina na Casa da Música com os dois candidatos a 15 minutos do dia de reflexão. É até à última e com a descida de Santa Catarina pelo meio.
Indo a esse meio meio, a descida de Santa Catarina, o nome do PSD grita-se mais alto com a pronuncia do norte e a arruada é muito mais participada que a de Lisboa. Mas há pontos em comum: Rio voltou a falar alemão com turistas, mas até isso correu melhor: eram do partido irmão do PSD, a CDU (em Lisboa eram do SPD). Metros à frente, o líder do PSD lembrou que é de contas certas. Estavam quatro mulheres de um mesa e o presidente do PSD atirou enquanto sorria: “Um flyer para as quatro, que isto está caro“.
No final da arruada, já perto de chegar à praça da Batalha, Rui Rio subiu à varanda e com ele subiram Carlos Moedas, sempre com a bandeira da União Europeia na mão, Paulo Rangel, Lídia Pereira e outros candidatos, mas Ana Miguel Santos — a candidata número oito e dos membros da comitiva que mais empatia cria com as pessoas — foi barrada por um dos seguranças e teve de ficar cá em baixo junto à porta. Ficou à porta, o que já não seria uma analogia má para o resultado eleitoral: Ana Miguel Santos ficar à porta e os outros entrarem significava que o PSD metia sete eurodeputados.
Antes de chegar à Batalha, Rui Rio ainda se encontraria com uma mulher que se queixou do facto de a senhoria querer expulsar o seu irmão deficiente da casa que era dos pais. E teve um pequeno lapso: “Para onde é que vai um deficiente com 100% de incapacidade, senhor Rui Moreira?” E rapidamente se apercebeu do erro: “senhor Rui Rio. Já estou tão nervosa, desculpe”. Depois pediu para Rio interferir junto da autarquia: “Diga-me, o senhor, se faz favor, fala com ele, com o senhor Rui Moreira? Faz isso, senhor Rui Rio? Faz?” Rio não se comprometeu: “Vou ver”.
Ao lado de Rui Rio na arruada seguia Paulo Rangel, que voltou a deixar a iniciativa para o líder. Horas antes, em Braga, numa arruada também muito participada o candidato assumiu as despesas de falar com as pessoas. Chegou perto de três jovens e perguntou: “Já votam, minhas meninas?” “Eu”, respondeu uma delas, que era a única com mais de 18 anos. Só ela levou caneta: Tome lá que é para poder votar.”
Em Braga, houve também duas mulheres que queriam ver o candidato porque os filhos eram amigos de Paulo Rangel. Mas não o estavam a identificar e uma delas disse: “É aquele das barbinhas, pequenino“. Não conseguiam lá chegar perto e foi o presidente da concelhia de Braga, Hugo Soares, que as ajudou: “Venham comigo, que eu levo-as lá”. Chegaram a Rangel e sorriram todos, apesar da pouca interação.
Nessa mesma arruada, a certa altura Rangel cantava “Pê-pê-dê”, quando os jovens se calaram e lançou um “PPD” isolado. “Fiquei sozinho”, comentou. Ao que Carlos Moedas acrescentou: “A vida de líder é assim, por vezes fica sozinho.”
Rangel denuncia “mordaça” no PS e acusa Costa de silenciar Assis
À hora de almoço, o cabeça de lista do PSD às Europeias tinha subido o tom, em Vila Verde, contra o primeiro-ministro, ao denunciar que “há uma mordaça no PS para toda a gente” e “só fala uma pessoa: António Costa“.
Rangel diz que na quarta-feira à noite Costa voltou a estar “inflamado” num comício onde só fala ele e mais ninguém. No PS, denuncia o cabeça de lista do PSD, “tentaram silenciar e silenciaram Francisco Assis, que foi a Matosinhos, mas ficou calado, impávido e sereno, porque eles não o quiseram deixar falar”. Rangel lembra que “apesar de ele ser o número um da lista anterior não teve direito a falar.”
Já na sexta-feira à noite, Rangel tinha falado no “ímpeto controleiro” do PS durante um jantar-comício em Lisboa. Rangel voltou a insistir na degradação dos serviços público, em particular do Serviço Nacional de Saúde. Mas com uma nuance, a vivência pessoal: “Digo por experiência própria que nunca o SNS esteve tão mal”. No Serviço Nacional de Saúde, denuncia o candidato, “reina o caos e o desrespeito pelos utentes”.
Como tem feito nas últimas intervenções, Rangel faz também um apelo prático. Pediu a uma sala com mais de 700 pessoas, que questionem “amigos, colegas de trabalho, vizinhos, conhecidos, familiares” e as “pessoas nas redes sociais” porque diz Costa que tem bons resultados e os serviços públicos são tão maus. Na verdade, é um apelo prático ao voto, a que cada um convença conhecidos a irem às urnas votar PSD.