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Pela primeira vez desde que é líder do partido, Rui Rio sofreu uma derrota interna às mãos dos militantes sociais-democratas
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Pela primeira vez desde que é líder do partido, Rui Rio sofreu uma derrota interna às mãos dos militantes sociais-democratas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Pela primeira vez desde que é líder do partido, Rui Rio sofreu uma derrota interna às mãos dos militantes sociais-democratas

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Rangel vence o primeiro round, Rio ainda não sabe se entra no ringue

Rio teve a sua primeira derrota interna, que retira força à sua recandidatura e vai mantendo o tabu: "Logo se vê". Rangel acelera armado pelas estruturas e a pensar em 2023.

Rui Rio já falava aos jornalistas no hall de entrada do Epic Sana Marquês, em Lisboa. No exterior, longe dos olhares indiscretos, Paulo Rangel ouvia em direto as palavras do líder do PSD e do seu futuro adversário num telemóvel que um dos apoiantes segurava. O grupo que rodeava o eurodeputado era revelador do trabalho de convencimento feito nos últimos meses: Alberto Machado, líder da distrital do PSD/Porto; José Manuel Fernandes, homem forte de Braga; Paulo Leitão, líder da distrital de Coimbra; Pedro Rodrigues, figura influente em Lisboa; Bruno Vitorino, ex-presidente da distrital de Setúbal. Porto, Lisboa, Braga, Setúbal, Coimbra… quase todas as estruturas que verdadeiramente contam na definição de qualquer eleição interna. Assim que Rio acabou de falar aos jornalistas, Rangel seguiu caminho em direção à comitiva que o aguardava. Ia começar uma noite que pode ter sido decisiva na definição do futuro próximo do PSD.

Pela primeira vez desde que é líder do partido, Rui Rio sofreu uma derrota interna às mãos dos militantes sociais-democratas. Na véspera, o presidente social-democrata tinha surpreendido quase todos — aliados e adversários — ao propor o adiamento das eleições internas para depois da votação do Orçamento do Estado, sob o argumento de que o partido não podia estar a discutir a liderança num cenário de crise política e eleições antecipadas. Lá dentro, o Conselho Nacional — o mesmo órgão que travou o impeachment organizado por Luís Montenegro, em janeiro de 2019 — chumbou-lhe o plano: o PSD vai a votos e vai a votos já a 4 de dezembro.

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E agora, Rio? x1 + x2 e “logo se vê”

Os sinais de nervosismo do líder foram-se manifestando ao longo da noite. Às primeiras afrontas, quando alguns conselheiros questionavam se ia apresentar o requerimento ou falar como presidente do partido, Rui Rio mostrou-se agastado: “Vamos ser muito claros para ver se isto é civilizado: se quiserem que eu não fale, eu não falo. É isso que pretendem? É que eu não fale? Bom, vamos ver se isto é civilizado”.

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Ralhete dado, Rui Rio avançou para os argumentos com que tentaria, sem êxito, convencer os conselheiros. Desde logo, começou por atirar a Rangel, dizendo que “o povo não vota em quem grita mais mais contra o Governo”, mas sim “em quem é fiável” para determinados cargos e o cargo em causa seria o de primeiro-ministro. O atual líder quis convencer os conselheiros que era mais primo-ministeriável que o eurodeputado.

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Rio tentou depois explicar aos presentes que a hipótese de eleições antecipadas era mesmo real e que era “óbvio” que o partido não podia ir para diretas. Acrescentaria que, com o resultado das autárquicas, a “estrada” para o Governo tinha ficado “mais larga” e que o PSD teria de evitar ser apanhado na curva das eleições antecipadas. Acrescentaria: “Isto qualquer pessoa entende”. Setenta e um conselheiros não entenderam.

Os argumentos não colheram e Rio acabaria por ter assim a sua primeira derrota interna. Venceu as diretas a Santana em 2018, a tentativa de impeachment dos apoiantes de Montenegro num conselho nacional extraordinário de 2019 e ainda as diretas ao mesmo Montenegro em 2020. Venceu todas as votações polémicas em Conselho Nacional. Era imbatível em eleições internas, até à noite desta quinta-feira. Foi a primeira derrota de Rio e logo na mercearia interna tão importante em internas.

Foram mais de dois terços os conselheiros que votaram contra a proposta de Rio para adiar as eleições. José Silvano, minutos depois de uma pausa para um cigarro pós-derrota, apareceria aos jornalistas para tentar desvalorizar o resultado. “É uma derrota da proposta” e “isso não impede nada” foram algumas das expressões que utilizou. Invalida a recandidatura de Rio? “Se, para ele, isto significa alguma coisa a mais, ou se isto influencia ou não a decisão dele, isso vai ter que ser ele a responder na altura certa”. Que ainda não seria esta noite.

Os sinais continuariam a não ser os melhores. Rui Rio não fez o discurso de encerramento do Conselho Nacional — como tinha direito e é hábito —  e preferiu dedicar alguns minutos aos jornalistas. O tabu manteve-se, mas o presidente do PSD mostrava um misto de resignação e desalento, que admitia em palavras. “Estou bastante preocupado”, chegou a dizer Rio, considerando incompreensível a decisão da maioria dos conselheiros, que acusou de defenderem os interesses pessoais e não os interesses do partido.

Rio afirmou ainda com firmeza que era ele quem (ainda) mandava: “O presidente do PSD chama-se Rui Fernando da Silva Rio, porque foi eleito, e está lá até haver um Congresso em que tome posse o outro ou o mesmo presidente.” O líder do PSD deixava a semente para não desfazer o tabu, ao dizer “o mesmo presidente”, sugerindo que não atirou a toalha ao chão.

Quando lhe perguntavam quando acabaria a equação, Rio desconversava, ao mesmo tempo que a sua mais próxima assessora repetia entredentes perto do séquito que normalmente se posiciona atrás dos políticos: “Brevemente”.

Rio, em vez de responder em Português, respondia em matemática. “Ainda tenho de ver se é 2,3 se é 3,4”, dizia num momento. Noutro diria: “Agora é juntar x1 e x2 e fazer a média”.

O economista Rio sofreu pela primeira vez a dureza das contas: mais câmaras, mais vereadores, mais votos (nas autárquicas), mas menos distritais, menos concelhias e menos conselheiros (no partido). Que, no fim do dia, é o que conta. O presidente do PSD sai do SANA — hotel habitué das reuniões mais importantes do PSD no passismo — mais debilitado do que entrou e com a dúvida a adensar-se nos seus apoiantes: Rio vai mesmo avançar? O próprio não podia ser mais vago na resposta: “Logo se vê”.

O ajuste de contas de Rangel com o passado

Já depois de os seus apoiantes terem conseguido a grande vitória da noite — impedir que Rui Rio adiasse as eleições internas e logo por números expressivos (71-40) — era a vez de Paulo Rangel cumprir a sua parte na estratégia: anunciar a candidatura à liderança do PSD e, pelo caminho, tentar fazer implodir os pilares do rioísmo.

De acordo com os relatos dos conselheiros que assistiram à intervenção de Rangel, o eurodeputado não deixou pedra sobre pedra: falou das europeias de 2019 e no facto de Rio não ter hesitado em culpá-lo pelo pior resultado das história do PSD — apesar de ter sido o mesmo Rio a desencadear a crise dos professores; rebateu as acusações de deslealdade da direção de Rio; recordou as divergências sobre o referendo da eutanásia; questionou o sentido de discutir a revisão constitucional ou da localização do Tribunal Constitucional quando o país enfrenta a ressaca da pandemia; criticou a ausência de um projeto claro; e acusou Rio de “ostracizar” todos os que dele discordam.

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Agregar, ser verdadeira oposição (não passiva, mas interventiva) a António Costa e ter um projeto alternativo de poder. Foram estas as três ideias que Rangel levou para o Conselho Nacional, onde foi, conseguiu perceber o Observador, muito aplaudido pelos sociais-democratas. A frase da noite de Rangel seria uma: “Com toda a liberdade, serei candidato.”

Antes do momento de confirmação da mais do que esperada candidatura, houve outros. Primeiro ato: o chega para lá à direção do PSD. “Choca-me que alguém possa dizer que andei a fazer contra-campanha. Não levo desaforos para casa. Não aceito do David Justino acusações de deslealdade. Sou leal. O que também sou é livre.”

Segundo ato: a resposta a Rio, que, nos bastidores do PSD, sempre sugeriu que a derrota nas europeias foi responsabilidade da estratégia de Rangel na campanha eleitoral e do tom crispado usado pelo candidato — ideia, de resto, que Rio recuperou esta noite, numa óbvia indireta para o adversário, ao sugerir que o “povo não vota em quem grita mais contra o Governo”. Resposta de Rangel: “O PSD não pode esquecer de ser oposição. Não é uma oposição trauliteira, é uma oposição serena. Não podemos é ser a oposição da espera. Temos de saber fazer oposição. Não podemos estar à espera que o poder caia. Não acredito num PSD cuja função esteja estar sentado no seu sofá.”

Terceiro ato: a denúncia da falta de rumo estratégico do PSD.  “Não quero ser o partido contra o Costa. Quero ser um partido que tem uma alternativa. Não podemos ser mais o partido da espera. Temos de ser o partido da esperança”, pediu Rangel. O binómio “espera-esperança”, aliás, foi o mais usado pelo agora formalmente candidato à liderança do PSD para marcar um tempo novo.

O eurodeputado saiu do Conselho Nacional reforçado pelo apoio das estruturas e pela vitória expressiva sobre Rio. Esta sexta-feira, Rangel apresenta a candidatura à liderança do PSD, às 17 horas, num hotel em Lisboa. Resta saber se terá Rio ou outro adversário na corrida. Rangel, esse, já cumpriu a primeira parte do seu plano. Falta a segunda.

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