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A celebração em Mossul, rodeado de ruínas de igrejas, foi um dos momentos mais significativos da viagem inédita do Papa ao Iraque

AFP via Getty Images

A celebração em Mossul, rodeado de ruínas de igrejas, foi um dos momentos mais significativos da viagem inédita do Papa ao Iraque

AFP via Getty Images

Religião e diplomacia. Os quatro pontos-chave da viagem inédita do Papa Francisco ao Iraque

Papa foi ao Iraque promover o diálogo inter-religioso como chave para a paz no Médio Oriente, consolar cristãos perseguidos, pôr terras bíblicas no mapa e enviar um sinal à comunidade internacional.

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Quando, nos primeiros dias de março, pelo menos 10 rockets caíram numa base norte-americana no Iraque, a 200 quilómetros da capital Bagdade, temeu-se que a história se repetisse: em 2000, o Papa João Paulo II vira-se obrigado a cancelar aquela que seria a primeira viagem de um líder da Igreja Católica ao país, depois de as negociações com o governo de Saddam Hussein terem sido abruptamente canceladas. Francisco tinha prometido que honraria o compromisso assumido pelo papa polaco e visitaria as terras bíblicas do Iraque, mas o intensificar das tensões no Médio Oriente fez tremer os planos. No próprio dia, contudo, o Papa Francisco garantiu que nem as bombas o demoveriam de levar a cabo a inédita viagem: “O povo iraquiano espera-nos, esperava João Paulo II que foi proibido de lá ir. Não se pode dececionar um povo uma segunda vez”. Na sexta-feira, embarcou em Roma à hora prevista rumo a Bagdade. No voo, repetiu que a viagem era um “dever perante uma terra atormentada durante tantos anos”.

Esta segunda-feira, o Papa Francisco regressou a Roma depois de ter garantido aos iraquianos que guardaria aqueles três dias no coração. Ainda é cedo para compreender exatamente o verdadeiro impacto desta inédita e perigosa viagem de um papa ao Iraque. Desde o início do pontificado, o Papa Francisco tem procurado aproximar-se das periferias — geográficas, humanas e existenciais, como detalha habitualmente. Poucas imagens ilustrarão tão bem esta intenção do papa argentino como a celebração a que presidiu no domingo de manhã, numa praça de Mossul, rodeado pelas ruínas de quatro igrejas cristãs destruídas durante a ocupação do Estado Islâmico, entre 2014 e 2017. Embora curta no tempo e fortemente limitada por medidas de segurança extraordinárias, a viagem de Francisco ao Iraque ficará para a história como um dos mais significativos gestos diplomáticos deste pontificado — no plano religioso, é certo, mas também no plano da política internacional e dos esforços para a estabilização do Médio Oriente.

epa09058483 Pope Francis attends a prayer for the victims of the war at Church Square, Mosul, Iraq, 07 March 2021. Pope Francis began on 05 March a three-day official visit in Iraq, the first papal visit to this country affected throughout the years by war, insecurity and lately COVID-19 Coronavirus pandemic.  EPA/ALESSANDRO DI MEO

O Papa Francisco presidiu a um momento de oração em Mossul, onde em 2014 o Estado Islâmico fora oficialmente declarado

ALESSANDRO DI MEO/EPA

Com a ajuda do vaticanista Octávio Carmo, da Ecclesia, que desde 2002 acompanha diariamente o dia-a-dia dos papas e do Vaticano, analisamos aqui os quatro principais pontos a ter em conta na análise desta viagem histórica.

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Diálogo, a chave para a paz no Médio Oriente

Assim que aterrou em Bagdade, na sexta-feira, o Papa deixou claro que um dos pontos centrais da sua agenda seria a promoção do diálogo inter-religioso enquanto chave central para alcançar a paz no Médio Oriente. “Chega de violências, extremismos, fações, intolerâncias”, disse o Papa no seu primeiro discurso público no país, durante um encontro com diplomatas e autoridades civis no palácio presidencial de Bagdade, após um par de encontros de cortesia com o Presidente Barham Salih e com o primeiro-ministro Mustafa Al-Kadhimi. “O nome de Deus não pode ser usado para justificar atos de homicídio, de exílio, de terrorismo e de opressão”, continuou, para depois pedir que todos os iraquianos, independentemente da religião, se unissem para “construir juntos este país, no diálogo, no confronto franco e sincero”.

Papa Francisco em viagem inédita ao Iraque: “Chega de violências, extremismos, fações e intolerâncias”

Mas Francisco foi além do discurso. “O grande plano do Papa para a região é religioso, passa pelo diálogo com os muçulmanos”, analisa ao Observador o jornalista Octávio Carmo, vaticanista da Ecclesia. “Mas, para isso, ele precisa de encontrar aliados para esta luta. Não é o Papa que pode falar em nome do Islão. Precisa de vozes que se juntem à dele. O Papa tem feito um grande investimento em visitar países de maioria islâmica, para encontrar pontes.”

Um dos momentos mais significativos do pontificado de Francisco nesse aspeto ocorrera em 2019, ano em que Francisco visitou a Arábia Saudita. Nessa altura, um dos pontos altos da viagem ao país de origem do Islão tinha sido um encontro com o xeque Ahmed al-Tayeb, o grande imã de Al-Azhar e considerado a mais alta autoridade do Islão sunita. Francisco e Al-Tayeb assinaram, nesse dia, uma inédita declaração de fraternidade. “Não há violência que encontre justificação na religião”, dissera na altura o Papa.

"Não é o Papa que pode falar em nome do Islão. Precisa de vozes que se juntem à dele. O Papa tem feito um grande investimento em visitar países de maioria islâmica, para encontrar pontes"
Octávio Carmo, vaticanista

No Iraque, Francisco voltou a procurar pontes com os responsáveis islâmicos. Na manhã de sábado, o Papa deslocou-se à cidade sagrada de Najaf, um dos lugares mais importantes para os muçulmanos xiitas (onde se acredita que esteja sepultado o califa Ali e as personagens bíblicas Adão e Noé), para um novo encontro inter-religioso inédito, com o Grande Aiatolá Sayyid Ali Al-Husayni Al-Sistani. Reputado como o mais importante líder religioso dos iraquianos xiitas, Al-Sistani recebeu o Papa para um encontro privado de 45 minutos durante o qual, segundo os comunicados divulgados por ambas as partes, se discutiu a perseguição religiosa no país e a necessidade de um diálogo profundo entre muçulmanos e cristãos no Iraque.

No mesmo dia, o Papa Francisco deslocou-se a Ur, a terra natal de Abraão, para outro dos momentos mais marcantes da viagem: uma celebração inter-religiosa com dezenas de fiéis de várias confissões e religiões distintas. O lugar não podia ser mais simbólico. Ali nascera Abraão, o pai das três grandes religiões monoteístas. Significativamente, o Papa Francisco apelou à união entre fiéis classificando judeus e muçulmanos com uma mesma expressão — “filhos de Abraão”.

Em reunião inédita no Iraque, Papa Francisco e aiatolá Al-Sistani pediram diálogo inter-religioso no Médio Oriente

Mais do que um clássico apelo ao diálogo, o Papa pretendeu pôr na agenda pública iraquiana a questão da secularização, observa Octávio Carmo. “Qual o lugar que os líderes políticos e os líderes religiosos devem ocupar no espaço público? A maioria dos xiitas recorrem a Al-Sistani, que diz que a religião e a vida do Estado têm os seus lugares. Mas a secularização não é assim tão automática nos países de maioria islâmica como é nos países ocidentais, em que é um dado adquirido”, sublinha o jornalista, que tem acompanhado todas as viagens do Papa Francisco. “Há no Iraque quem ache que a sharia se sobrepõe à lei civil. Esse é um debate que tem de ser tido com ponderação”, nota, acrescentando que é curioso que a secularização tenha desfilado no Iraque “no carro do Papa”.

“A imagem, sobretudo, das mulheres em festa em torno do Papa, transmitida pela televisão iraquiana e pela Al-Jazeera por todo o Médio Oriente, é uma imagem muito forte”, considera.

Em simultâneo, a viagem de Francisco ao Iraque apresenta-se como oportunidade para melhor projetar a universalidade das religiões, desfazendo preconceitos e sublinhando a necessidade de convivência entre crentes. “Há uma ideia muito forte que o Papa tenta combater, que é a ideia de que o Cristianismo é uma coisa ocidental. Para muitos fundamentalistas islâmicos, os cristãos que vivem no Médio Oriente são estrangeiros”, diz Octávio Carmo. “Mas, como foi dito por várias das pessoas que lá falaram, os cristãos fazem parte daquela terra. Um muçulmano até disse ‘já cá estavam entre nós’. A tradição diz inclusivamente que teria sido o São Tomé, logo no século I, a espalhar ali a fé. A separação, muito precisa, entre o que é ser ocidental e ser cristão é equivalente àquela que nós temos de fazer entre o que é ser árabe e ser muçulmano.”

A reconstrução da confiança dos cristãos

Em 2014, Mossul foi o palco da oficialização do Estado Islâmico. A partir do púlpito da Grande Mesquita de Mossul, que à época era a terceira maior cidade do Iraque, o jihadista Abu Bakr al-Baghdadi autoproclamou-se califa, exigiu a obediência de todos os muçulmanos e declarou oficialmente a criação de um Estado Islâmico. O processo começara em Raqqa, na Síria, ainda na clandestinidade, quando o grupo terrorista aproveitou o tumulto provocado pela guerra civil para se separar definitivamente da Al-Qaeda e começar o seu próprio regime de terror, expandido o território até ao Iraque.

O verão de 2014 ainda está na memória dos iraquianos que viviam na planície de Nínive, em Mossul e nas cidades e aldeias mais próximas. A partir de Mossul, o Estado Islâmico lançou uma campanha de expansão territorial e, em poucos meses, havia conquistado grande parte da região, saqueando vilas e cidades e escravizando tantos quantos não tinham conseguido fugir antes da invasão. Estima-se que cerca de 150 mil cristãos tenham sido forçados a fugir para norte, enquanto milhões de muçulmanos foram obrigados a viver sob o regime extremista. As igrejas cristãs foram um dos alvos prioritários do Estado Islâmico, que obrigava os muçulmanos a denunciarem os vizinhos cristãos assinalando-lhes as casas com a inicial da palavra “nazareno” em árabe (uma letra que se tornaria num símbolo dos cristãos perseguidos).

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O Papa Francisco reuniu-se com os cristãos em Qaraqosh na igreja da Imaculada Conceição, que em 2017 foi incendiada pelo Estado Islâmico

AFP via Getty Images

Durante três anos, milhares de pessoas viveram longe das casas que deixaram do dia para a noite, levando apenas a roupa que tinham vestida. Muitos fugiram do país, mas o principal destino foi a cidade de Erbil, capital do Curdistão iraquiano, no norte do país.

Considerando a história recente de perseguição aos cristãos iraquianos, o roteiro do Papa Francisco foi profundamente significativo: esteve em Mossul, o coração do Estado Islâmico, a rezar pelas vítimas do terrorismo e a lembrar que “a fraternidade é mais forte do que o fratricídio”; seguiu para Qaraqosh, a maior cidade cristã do Iraque, para visitar uma igreja que o Estado Islâmico tinha destruído depois de a usar como enfermaria para os seus militantes, para celebrar a reconstrução dos edifícios e da fé e para sublinhar “o triunfo da vida sobre a morte”; e terminou o dia em Erbil, no maior banho de multidão (apesar da pandemia) de toda a viagem para pedir aos cristãos que evitassem a tentação de se vingarem. No dia anterior, o Papa tinha celebrado uma missa numa catedral de Bagdade onde, em 2010, meia centena de cristãos tinham sido mortos num dos mais violentos ataques terroristas contra a minoria cristã do Iraque nas últimas décadas (e cujas vítimas poderão vir, em breve, a ser beatificadas pela Igreja Católica).

Iraque. A história da igreja que o Estado Islâmico usou como enfermaria — e que o Papa Francisco foi visitar

Aquele domingo de multidões em Mossul, Qaraqosh e Erbil foi um dos momentos mais significativos de toda a viagem. “No contexto da pandemia, aquilo foi inimaginável para nós, ocidentais”, reconhece Octávio Carmo, referindo-se às multidões, com muitos fiéis sem máscara, que se aproximaram do cortejo de carros que transportava o Papa. “É legítimo que o pensemos, mas, quando nos colocamos no lugar daquelas pessoas, que em 2014 fugiram de casa porque iam ser mortas por terroristas islâmicos e em 2021 têm lá o Papa, percebemos que o simbólico diz mais aos iraquianos do que aos ocidentais.”

A presença física de Francisco no lugar onde o Estado Islâmico se havia afirmado foi, no entender do jornalista, fundamental para que, além da reconstrução das cidades e aldeias, se reconstrua também a esperança dos cristãos. “Não basta que as casas deixem de estar ocupadas pelos terroristas para que as pessoas voltem. É necessário que volte também a confiança”, diz Octávio Carmo, salientando o profundo significado do facto de “um alvo prioritário do Estado Islâmico — lembramo-nos de eles dizerem que iam tomar Roma — ter estado no coração do califado”. Esta preocupação refletiu-se também nos muçulmanos que foram convidados a usar da palavra nas celebrações com o Papa. “Um deles disse ‘voltem, cristãos, voltem para os vossos negócios e casas, vamos reconstruir as cidades com todos’. Isto é importante para a reconstrução da confiança.”

Em celebração com milhares de fiéis no Curdistão, Papa pede aos cristãos que evitem tentação de se vingarem

"Não basta que as casas deixem de estar ocupadas pelos terroristas para que as pessoas voltem. É necessário que volte também a confiança"
Octávio Carmo, vaticanista

A perseguição aos cristãos no Iraque não tem sido, na verdade, um problema específico do tempo do Estado Islâmico. Antes de 2003, durante a ditadura de Saddam Hussein, os cristãos gozaram de uma certa margem de manobra no Iraque — como Hussein era muçulmano sunita (uma minoria comparando com a maioria xiita do Iraque), garantiu às outras religiões uma considerável liberdade, em troca de estas não se insurgirem contra o regime. Porém, depois da invasão americana, em 2003, o ambiente de tensão contra os cristãos agravou-se profundamente, com a eclosão de novos grupos fundamentalistas islâmicos. A perseguição teve um efeito muito significativo na população cristã iraquiana: até 2003, estima-se que vivessem cerca de 1,5 milhões de cristãos no país; atualmente, a estatística mais recente apontava para 270 mil.

As terras bíblicas no mapa

Além da promoção do diálogo inter-religioso e do consolo aos cristãos perseguidos, o roteiro do Papa Francisco teve também uma outra particularidade: passou por diversos lugares bíblicos. É que, apesar de esta ser a primeira vez que um Papa católico visita o Iraque, a verdade é que muitos daqueles lugares são referidos vezes sem conta nas celebrações cristãs por todo o mundo. “Muita gente já ouviu falar milhares de vezes na Bíblia de Ur e de Nínive, mas se calhar nunca pensou onde elas ficam”, comenta Octávio Carmo.

Ur, hoje um lugar arqueológico, foi uma das mais importantes cidades da Mesopotâmia e acredita-se que ali tenha nascido Abraão, a personagem central que está no início das religiões monoteístas. Segundo os relatos bíblicos, Abraão teria obedecido às ordens de Deus, abandonado a sua cidade-natal de Ur para partir rumo à Terra Prometida, conduzindo o povo crente num caminho de fé retratado em todo o Antigo Testamento. Por este motivo, o Judaísmo, o Cristianismo e o Islão são habitualmente referidos como “religiões abraâmicas”.

Pope Francis in Iraq

Em Ur, o Papa Francisco presidiu a uma celebração inter-religiosa

Anadolu Agency via Getty Images

Por outro lado, a cidade de Mossul encontra-se no lugar geográfico da ancestral cidade de Nínive, muitas vezes referida na Bíblia e conhecida por ser o lugar onde o profeta Jonas pregou. Ainda é por esse nome que é conhecida a província de que Mossul é capital (Ninawa) e, de modo genérico, toda a planície de Nínive, onde vive a maioria dos cristãos iraquianos.

Para o vaticanista Octávio Carmo, o momento mais importante da celebração inter-religiosa que decorreu em Ur não foi o discurso do Papa, mas a intervenção de um fiel muçulmano que acalentou a esperança de ver Ur transformado num lugar de peregrinação. “Na primeira vez que o Papa vai à terra de Abraão, era fácil falar do passado, mas houve uma preocupação de tentar colocar este espaço no mapa”, comenta o vaticanista. “Há a esperança de que, num futuro próximo, quando houver um mínimo de estabilidade no país, estes lugares bíblicos sejam lugares de peregrinação”, à semelhança do que acontece com os lugares da chamada Terra Santa, em Israel e na Palestina.

Um sinal à comunidade internacional

Apesar de uma visita papal ter uma dimensão religiosa predominante, não deixa de ser um momento de grande peso diplomático. Ao reunir-se e deixar-se fotografar com os líderes políticos do Iraque e do Curdistão, bem como com os líderes muçulmanos, o Papa Francisco abriu espaço para um entendimento que é vital para a região — mas também obrigou o mundo a colocar os olhos na situação interna do Iraque.

“O Papa criou canais de comunicação. Vamos ver, provavelmente, convites diplomáticos a multiplicarem-se”, analisa Octávio Carmo, sublinhando que o Papa Francisco procura, com estas viagens, dar em pequena escala o exemplo do que outros líderes internacionais podem fazer em grande escala. “A reconstrução do Iraque não se faz sem cooperação internacional. As pessoas viram, por exemplo, a catedral da Imaculada Conceição reconstruída, mas a obra foi feita com donativos de organizações católicas de todo o mundo. Não foram os iraquianos que tiveram os fundos para o fazer.”

"A comunidade internacional tem contas a prestar à própria consciência sobre o que permitiu que ali se passasse entre 2014 e 2017. Criou-se uma ideia de que aquilo era um território dispensável e o Papa foi lá deixar essa mensagem: não é dispensável"
Octávio Carmo, vaticanista

Por outro lado, ao deslocar-se presencialmente àqueles lugares de guerra e ao reafirmar a importância da região, o Papa Francisco mostrou que não há no globo “territórios dispensáveis” e obrigou, no entender do vaticanista, o Ocidente a olhar para a sua própria consciência. “A comunidade internacional tem contas a prestar à própria consciência sobre o que permitiu que ali se passasse entre 2014 e 2017. Criou-se uma ideia de que aquilo era um território dispensável e o Papa foi lá deixar essa mensagem: não é dispensável”, acrescenta, lembrando que “quem lá esteve a fazer a guerra e quem permitiu a ascensão do Estado Islâmico também tem a responsabilidade de ajudar na reconstrução”.

No último dia da viagem, o Papa Francisco enviou um outro sinal à comunidade ocidental, sobretudo à União Europeia, ao encontrar-se, por sua iniciativa, com o pai de Aylan Kurdi — o menino sírio de três anos cuja morte em 2015 numa praia turca se transformou num dos principais símbolos da crise dos refugiados. Foi em Erbil, onde celebrou a última missa da viagem, que o Papa Francisco fez questão de conversar durante longos minutos, em privado, com Abdullah Kurdi, para dele ouvir “a dor do pai pela perda da sua família” e lhe transmitir a participação no seu sofrimento.

Papa Francisco encontrou-se com pai de Aylan Kurdi, a criança que se tornou no símbolo da crise dos refugiados

A fotografia de Aylan Kurdi morto numa praia da Turquia, depois de a precária embarcação onde tentava fugir da Síria ter naufragado, correu o mundo e inspirou campanhas de sensibilização para o drama dos refugiados. No mesmo acidente morreram a mãe e o irmão de Aylan — só o pai sobreviveu. No encontro com o Papa, Abdullah Kurdi “manifestou gratidão ao papa pelas palavras de proximidade perante a sua tragédia e a de todos os migrantes que procuram a compreensão, a paz e a segurança, deixando os seus próprios países e correndo risco de vida”. Durante a crise dos refugiados, o Papa Francisco já tinha procurado dar o exemplo à comunidade internacional — em forte contraste até com a política seguida pelo anterior ministro do Interior italiano, Matteo Salvini —, quando em 2016 acolheu 12 refugiados sírios no Vaticano depois de uma visita à ilha grega de Lesbos.

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