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Ricardo Baptista Leite. "É fundamental evitar uma terceira onda em março e abril"

Em entrevista, Ricardo Baptista Leite alerta para nova vaga da pandemia em março/abril. Critica comunicação do Governo e acusa Costa de privilegiar a política em detrimento da ciência.

O Governo está a comunicar mal, não está a “sensibilizar” as pessoas e não está a preparar o país para uma terceira vaga que pode chegar no primeiro trimestre de 2021. “O país corre o risco de controlar com grande esforço económico esta segunda onda mas, passado poucas semanas, voltar a subir para uma terceira onda, o que teria efeitos devastadores do ponto de vista social e económico”, alerta Ricardo Baptista Leite, médico especialista em infectologia, deputado e vice-presidente da bancada do PSD.

[Ouça aqui na íntegra o programa Vichyssoise]

Ai Chega, Chega de acordo. Afasta, afasta o leitão

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Em entrevista ao programa Vichyssoise, da Rádio Observador, o social-democrata critica o facto de o Governo estar a fazer uma “gestão política” da pandemia em vez de uma “gestão baseada na ciência”. Os dados epidemiológicos deviam ser públicos, insiste. Baptista Leite diz mesmo que é preciso “uma mudança radical do ponto de vista da estratégia do dispositivo de saúde pública”.

Salvaguardando que a prioridade de todos deve ser o combate à pandemia, Baptista Leite abre uma exceção para falar sobre eventuais ligações ao Chega: o PSD está bem ciente da sua matriz social-democrata; se os outros partidos querem apoiá-la, é com eles. Em jeito de desafio, no momento de escolher que partido tem maior “carga viral”, se o Chega se o Bloco de Esquerda, Baptista Leite não tem dúvidas: o Chega. Leia a entrevista.

Sabe dizer com precisão quantos bebés nasceram hoje no mundo?
[Risos] É uma boa pergunta. Na minha página do Facebook procuro todas as noites colocar esse número. Não sei ao certo, mas posso dizer, em números redondos, que ronda os 380 mil bebés por dia, o que nos dá alguma esperança num tempo tão difícil como este que estamos a viver.

Agora mais a sério, o presidente do PSD fez esta semana duras críticas a certas medidas do estado de emergência. Isto significa que o Governo não tem garantido o apoio do PSD nas renovações que aí vêm do estado de emergência?
Da parte do PSD há a preocupação de garantir que tudo o que é necessário fazer para controlar a pandemia e evitar novas ondas é feito. Infelizmente, grande parte das medidas é resultado da falta de preparação do outono/inverno e isso está à vista de todos. O PSD está aqui para apoiar na medida em que seja necessário. E o que o presidente do partido acabou por dizer foi que não passaremos cheques em branco: a Constituição prevê uma revisão do Estado de Emergência de 15 em 15 dias e o Parlamento não deixará de ver quais são as condições, as razões, e ouvir o Governo, para fazermos uma avaliação caso a caso.

O que não invalida as críticas.
Não estamos inibidos de criticar o que achamos que devia ter sido feito de forma diferente, que devia ser melhor. Importa também dizer que, na gestão de uma pandemia desta dimensão, o Governo continua a centrar todos os dados e informação na DGS, não os torna públicos, o que torna difícil fazermos uma avaliação detalhada do rigor das medidas e da sua pertinência. Isso seria algo que se devia corrigir.

"A comunicação do Governo tem sido incoerente, inconsistente e não tem permitido ganhar a confiança da população"

Antes havia as reuniões do Infarmed, que o próprio presidente do PSD, Rui Rio, chegou a dizer na reta final que não tinham muita utilidade. Não havia mais informação nessa altura?
Sinceramente não. Aquilo que nós recebemos no Parlamento de 15 em 15 dias é um relatório muito semelhante àquilo que era distribuído através da reunião do Infarmed. O PSD tinha proposto, logo no início de setembro, que passássemos a ter reuniões quinzenais com os peritos, e que, ao invés de termos três horas de apresentações, podermos, em contexto parlamentar, na comissão de Saúde, à vista de todos. Ter os peritos a responder às perguntas dos deputados. Aquilo que acontecia era que o espaço para tirar dúvidas, para debater políticas que seriam mais importantes, debater medidas à luz da ciência, para podermos depois encontrar plataformas mínimas de entendimento, não existia naquele modelo. Propusemos que fosse no Parlamento. Infelizmente o PS e o PCP votaram contra essa nossa proposta.

As medidas anunciadas pelo Governo são exageradas para a situação de pandemia que vivemos?
Temos neste momento uma situação económica devastadora, em que estamos a sentir, da restauração às mais diversas áreas e setores, um sofrimento tremendo. Mas é preciso ter-se noção de que sem controlarmos a pandemia não vamos conseguir salvar a economia. Só podemos acreditar que o Governo está a fazer o que é preciso para reduzir o número de novos casos e inverter a curva. O fundamental, uma vez que não conseguimos evitar o pior para este outono, é garantir que não temos uma terceira onda no primeiro trimestre de 2021.

Isso está em risco de acontecer?
Sem uma mudança estrutural, radical, do ponto de vista da estratégia do dispositivo de saúde pública — e o Conselho Estratégico Nacional do PSD apresentou propostas no sentido de contribuir para isso — o país corre o risco de controlar com grande esforço económico esta segunda onda mas, passado poucas semanas, voltar a subir para uma terceira onda, o que teria efeitos devastadores do ponto de vista social e económico, que afetará não só os empresários como as pessoas no geral. É fundamental que quem esteja a tomar estas decisões a nível governamental compreenda que é preciso garantir a testagem maciça e sistemática da população e garantir o seu isolamento — quer dos infetados, quer dos suspeitos, para conseguirmos controlar a pandemia.

"O país corre o risco de controlar com grande esforço económico esta segunda onda mas, passado poucas semanas, voltar a subir para uma terceira onda, o que teria efeitos devastadores do ponto de vista social e económico"

Acredita que António Costa esteve mal no momento de comunicar ao país as medidas?
Na ausência de uma vacina e de um medicamento eficaz, a informação é a única vacina que temos. A comunicação tem sido incoerente, inconsistente e não tem permitido ganhar a confiança da população. Um dos sintomas mais visíveis dessa perda de confiança é a sondagem feita recentemente que demonstrava que um terço dos portugueses se recusam a vacinar a si ou aos seus filhos caso uma vacina segura e eficaz seja colocada no mercado contra a Covid-19. Isto é desastroso.

E as fake news não ajudam.
Esse é um problema que estamos a verificar em todo o mundo. As redes sociais têm um papel muito relevante uma vez que são a fonte primária de informação de muitos cidadãos. É fundamental que antes de partilharmos uma informação nova, antes de a assumirmos como verdadeira, cruzá-la com informações credíveis.

Está a dizer que o Governo não está a fazer bem, mas como é que se deve fazer diferente? O Conselho Estratégico Nacional do PSD apresentou algumas recomendações, como isolar casos suspeitos, contratualizar com hotéis, disponibilizar testes sem receita médica. Tem ideia do custo estimado destas medidas?
Do ponto de vista prático, o conjunto de medidas apresentado, nos sete eixos prioritários que o CEN propôs, poderá ter um custo entre 300 e 400 milhões de euros. Ora, isso é algo que tem de ser contabilizado à luz do impacto económico desta onda e de muitas outras seguintes. Temos de fazer as contas ao que se pode evitar e o custo de não se mudar de estratégia. E o risco de um aumento brutal de desemprego. Quando olhamos para as análises económicas do próximo ano, percebemos que uma terceira onda em março e abril não está a ser equacionada. Os números serão muito piores.

O líder do PSD já deixou algumas críticas ao recolher obrigatório, mas os médicos elogiam a medida. É médico, deputado do PSD e vice-presidente do grupo parlamentar. É mais ou menos favorável a esta medida?
Estamos a falar de medidas desenhadas à luz de dados epidemiológicos a que não temos acesso. E uma avaliação rigorosa exigiria ter acesso. Agora, creio que o primeiro-ministro devia ter aproveitado o momento em que corrigiu a informação pública que estava a dar para também sensibilizar a população portuguesa. Recordar-se-ão quando, na primeira vaga, Itália decidiu confinar a região Norte do país e colocou a população em isolamento. Por falta de informação, aquela população acabou por se deslocar para a região de Roma e do Sul de Itália, o que acabou por transformar um surto epidemiológico centrado no Norte num surto nacional. Neste momento, com um conjunto de concelhos não abrangidos, devia ter sido mais clara a informação de dizer às pessoas que se estão num concelho de risco não é para se deslocarem para outro concelho. É fundamental as pessoas compreenderem que isso pode levar a um agravamento da pandemia e à disseminação da presença do vírus no território nacional.

Há quem fale em fim de ciclo político. Estas falhas podem precipitar, a médio prazo, o fim deste Governo e a subida ao PSD ao poder?
Estamos num momento particularmente grave em que ainda ontem [quinta-feira] vimos quase 80 pessoas morrerem só por Covid-19. No mesmo dia, se os números da mortalidade excessiva estiverem certos, morreram cerca de 150 pessoas de outras causas, acima da média dos cinco últimos anos. Creio que o Governo tem errado quando tem optado por fazer uma gestão política da pandemia em vez de fazer uma gestão baseada na ciência. A última coisa que precisamos agora é de entrar na análise política. Dito isto, é fundamental o PSD ter a consciência plena de que é o maior partido da oposição, o que obriga a ter sentido de responsabilidade, a ter pensamento e a torná-lo público. E estar preparado para, em qualquer momento, assumir as suas responsabilidades.

"O Governo tem errado quando tem optado por fazer uma gestão política da pandemia em vez de fazer uma gestão baseada na ciência. A última coisa que precisamos agora é de entrar na análise política"

O PSD já está preparado para ir para o Governo neste momento?
O PSD está sempre preparado para assumir as suas responsabilidade no país. O fundamental agora é todos os partidos contribuírem ativamente e positivamente para garantir o controlo da pandemia.

Há quem tenha criticado o PSD nesta última semana a propósito do sentido de responsabilidade ao entender-se com o Chega nos Açores. O PSD fez ou não um acordo nacional com o Chega?
O PSD já respondeu múltiplas vezes e não há muito mais a acrescentar. A Comissão Política Nacional transmitiu ao país que há um acordo de base regional. O que nos deve centrar a discussão é que o voto de cada partido compromete a cada partido. Se há partidos que entendem que devem identificar-se com a linha programática social-democrata, isso é com esses partidos. O que posso dizer é que acredito na visão social-democrata para o país, um partido que acredita na pessoa no centro da ação política, que luta pela igualdade de oportunidades. Se houver outros partidos que queiram apoiar as nossas medidas, devem fazê-lo por via parlamentar.

Morais Sarmento, vice-presidente do PSD, diz que se o PSD necessitar do apoio do Chega, não vai negar que o Chega possa ajudar a viabilizar um programa de Governo. É isso?
O que estou a dizer é que o PSD tem de lutar pelas suas ideias e os seus ideais, que não são compatíveis com as ideias e ideais desse partido extremista, nem de outros. Somos um partido moderado. Temos de lutar para convencer cada português que temos a melhor solução para poder governar o nosso país e prepará-lo para o futuro próspero no qual a igualdade de oportunidades está no centro da ação política. Mas se outros partidos votarem no nosso programa, fantástico. Isso é com eles. Isso compromete cada um dos partidos. O que é importante é que não fujamos da nossa linha programática.

Mas se houver uma negociação prévia com vista a acolher essa viabilização e entendimento, é mais o que isso.
Se os outros apoiarem o programa e o projeto do PSD num cenário desses, é com esses partidos.

Mas sem negociação prévia.
Não vou entrar em especulações hipotéticas de futuros que nem sabemos se acontecem. Não há qualquer identificação ideológica, programática, de mensagem, de visão de forma entre o PSD e qualquer um dos partidos extremista do espectro político português dentro ou fora do Parlamento. O PSD acredita na sua visão e deve lutar por garantir o apoio maioritário dos portugueses.

Chega a viabilizar Governo PSD nos Açores? "Se outros partidos votarem no nosso programa fantástico, isso é com eles. Isso compromete cada um dos partidos. O que é importante é que não fujamos da nossa linha programática"

Segmento “Carne ou peixe”

Preferia ser ministro da Saúde de um governo de Rui Rio ou presidente da Câmara de Lisboa?
Acho que optava pelo vegetariano…

Qual destes dois tem maior carga viral: o Chega ou o Bloco de Esquerda?
O Chega.

Como cidadão luso-canadiano sente mais orgulho no seu primeiro-ministro António Costa ou no seu primeiro-ministro Justin Trudeau?
Sinto orgulho em ser português.

Numa segunda volta das Presidenciais, entre André Ventura e Ana Gomes, em quem votaria?
Ana Gomes.

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