Rui Rio faltou à primeira reunião de Luís Montenegro com a bancada do PSD esta quinta-feira. O antigo líder do PSD quis continuar deputado em plenas funções, mas não marcou presença no encontro em que o novo presidente se apresentou ao grupo parlamentar. Na reunião, à porta fechada, Montenegro fez uma intervenção — segundo relataram vários deputados ao Observador — a garantir que tem a “porta aberta” para todos os deputados, quer os que o apoiaram, quer os que não o apoiaram. O novo presidente do PSD tentou, acima de tudo, eliminar potenciais focos de tensão na bancada parlamentar.

Luís Montenegro quis demonstrar aos deputados que confiava neles e que era quase um entre pares. “Caros colegas“, chegou a dizer, para logo justificar que tinha sido deputado durante 16 anos e que, por isso, se sentia em casa. Disponibilizou-se, depois, a receber todos e lembrou que — além do gabinete na sede do partido ali perto, na rua de São Caetano à Lapa — terá um gabinete na Assembleia da República. “Tentou desanuviar o ambiente com os que não estiveram com ele”, comentou um deputado próximo de Luís Montenegro ao Observador.

O presidente do PSD explicou ainda aos deputados que vai avançar com uma espécie de presidências abertas em que, todos os meses, passará uma semana num distrito diferente do país e nas regiões autónomas. E Luís Montenegro garantiu que quer fazê-lo com o apoio dos deputados eleitos por cada distrito e envolvê-los nessas ações. Mais um esforço de aproximação à bancada.

Ainda na estratégia de descrispar a relação com deputados que estiveram com Rui Rio ou Jorge Moreira da Silva, Luís Montenegro fez questão de agradecer a Paulo Mota Pinto pelo trabalho prestado como líder parlamentar, assumindo que foi por “opção política” (logo, não por falta de competência) que será substituído.

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Um outro deputado, menos alinhado com a atual direção, fez a leitura ao Observador de que o “ambiente geral” era de “paz”, mas que “ainda há muita gente que está na expectativa de ver como será a nova direção da bancada parlamentar e isso condiciona qualquer intervenção menos positiva que se possa ter”.

Várias fontes presentes na reunião, explicaram que Luís Montenegro abordou as questões do novo Aeroporto de Lisboa e da regionalização sem dar grandes detalhes sobre a posição do partido. “Nesses dossiês não houve grande abertura do Luís para estar ali em debate, mas também é certo que ninguém lhe perguntou. E podiam”, diz ao Observador um deputado que apoiou Luís Montenegro nas últimas diretas.

Já o deputado Rui Rio, que fez questão de entrar ao lado de Luís Montenegro na última sexta-feira no Congresso do PSD, optou por não marcar presença na primeira reunião da bancada. Podia haver a circunstância de o antigo líder do PSD estar fora de Lisboa, mas Rio esteve presente na sessão plenária que começou duas horas depois de acabar a reunião da bancada.

Tirando esta ausência, muita normalidade. Houve deputados que fizeram intervenções mais setoriais, por exemplo, sobre Agricultura, mas ninguém fez perguntas difíceis ou provocadoras para o líder. Para já, tudo calmo na bancada. As primeiras fissuras podem aparecer, no entanto, quando Luís Montenegro escolher a nova  direção da bancada.

Equipa Miranda Sarmento em construção

Luís Montenegro, que conseguiu bons resultados na eleição dos órgãos nacionais no Congresso — fez melhor que Passos e Rio tinham feito –, não quer arriscar a ter um resultado menos positivo na eleição da direção da bancada. Mesmo tendo consciência que será difícil o futuro líder parlamentar que escolheu, Joaquim Miranda Sarmento, ter os 92% que Paulo Mota Pinto teve há três meses, Montenegro quer aproveitar a escolha dos vice-presidentes (e principalmente dos coordenadores) para ter uma lista consensual.

Joaquim Miranda Sarmento ainda não fez os convites, mas muitos dos deputados têm a expectativa de integrar a direção da bancada com base em conversas que tiveram anteriormente ou a influência que tiveram na campanha de Luís Montenegro. Paulo Rios Oliveira e Paula Cardoso, que já eram vice-presidentes da bancada de Paulo Mota Pinto, devem continuar nesses cargos. Aliás, Montenegro deu-lhes um voto de confiança ao escolhê-los para serem os rostos do partido no debate da moção de censura ao Governo na quarta-feira.

O presidente da distrital de Santarém, João Moura, também deverá ser vice-presidente, sendo um sério candidato à pasta da agricultura. Outro nome apontado para vice-presidente, ainda sem área fechada, é Andreia Neto. Na saúde, caso a decisão seja a saída de Ricardo Batista Leite (que não é certo que saia), é provável que a vice-presidência e o pelouro passem para Miguel Santos, que foi vice-presidente de Montenegro quando este era líder parlamentar.

O amigo do novo presidente do partido e antigo presidente da câmara de Espinho, Joaquim Pinto Moreira, é outro dos nomes apontados para a direção da bancada, tal como o da deputada Clara Marques Mendes ou o do presidente da JSD, Alexandre Poço. Hugo Oliveira é outro dos nomes prováveis, sendo que haverá sempre um mínimo de 10 vice-presidências.

A lista será entregue na segunda-feira e a votação será no dia 13 de julho. Sobre se há figuras do rioismo a integrar a nova direção isso dependerá, em parte, do peso que Joaquim Miranda Sarmento tiver na escolha da lista. O mais provável será, no entanto, que seja Luís Montenegro — sempre coadjuvado pelo braço-direito, Hugo Soares — a finalizarem a lista. Todas as aprovações e vetos passarão por eles.

Apesar de haver uma prática de não mexer nos presidentes das comissões essa pode ser uma possibilidade para a nova liderança do partido. Há dois presidentes de comissão que, pelos montenegristas, seriam candidatos à saída: Isabel Meirelles (presidente da Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão) e Maló de Abreu (presidente da Comissão de Saúde). Resta saber se Luís Montenegro quer comprar esta guerra, que até podia obrigar a uma alteração do regulamento do grupo parlamentar.

Unir, unir, unir. E dividir para reinar

Luís Montenegro continua empenhado em unir pontes dentro do partido, que os seus apoiantes acreditam que Rui Rio destruiu. Desde a reunião com o antigo líder, Pedro Santana Lopes, na Figueira da Foz (a quem abriu a porta para o regresso) até ao alinhamento total com Marcelo Rebelo de Sousa, num relacionamento São Caetano à Lapa-Belém que nunca se viu, nem com Passos, nem com Rio.

Montenegro teve encontro discreto com Santana no primeiro dia como líder e convidou-o a voltar

Além disso, Luís Montenegro não se limitou a escolher alguns notáveis para vice-presidentes como estes são uma espécie de pontas-de-lança que tem no espaço público. Miguel Pinto Luz, por exemplo, esteve na RTP na segunda-feira à noite, no programa É ou Não É, a defender a posição do PSD na questão do novo aeroporto e também o novo líder. O futuro líder parlamentar, Joaquim Miranda Sarmento, também falaria sobre o mesmo tema no programa Causa Comum, na Rádio Renascença.

Paulo Rangel deu igualmente uma entrevista ao Público, onde mostrou a sua sintonia com o líder: “Luís Montenegro teve sempre como grande preocupação, e com a qual me identifico e que estou disponível a colaborar com ele, que é fazer do PSD uma alternativa, não um complemento ao PS”. Rangel diz ainda que no PSD se está a trabalhar para “as legislativas de 2026”, mesmo que garanta que o partido está pronto se tudo se precipitar mais cedo.

No ataque ao Governo, Rangel mostrou-se alinhado com Montenegro, dizendo já o terceiro Executivo de Costa já começou “gasto e cansado”, acrescentando, numa expressão britânica, que o Governo levar o Governo está em phasing out”.

No dia da moção de censura, à mesma hora que o Parlamento votava a proposta, o secretário-geral Hugo Soares falava na Rádio Observador para dizer que é “evidente” que André Ventura só tinha avançado com aquele instrumento para responder ao facto de o PSD ter mudado de líder.

PSD contra “berraria” assume ganhos para o Chega

Hugo Soares deixou também críticas ao Chega por querer ganhar o campeonato da oposição com “berraria” e acusou o partido de André Ventura de tratar as moções de censura como uma “brincadeira”, como um “Carnaval” que se repete todos os anos.

Luís Montenegro tem tido agenda e declarações públicas falou na segunda-feira (em Pedrógão Grande), na terça-feira (no Palácio de Belém) e já esta quinta-feira (no Parlamento). Ainda assim, deu espaço às principais figuras da sua direção para falarem em nome do partido (e para o defenderem a si — o que todos fizeram).