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O autarca do Porto apresentou esta sexta-feira a nova imagem gráfica do renovado mercado municipal da cidade (Foto: Miguel Nogueira/CMP)
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O autarca do Porto apresentou esta sexta-feira a nova imagem gráfica do renovado mercado municipal da cidade (Foto: Miguel Nogueira/CMP)

O autarca do Porto apresentou esta sexta-feira a nova imagem gráfica do renovado mercado municipal da cidade (Foto: Miguel Nogueira/CMP)

Rui Moreira apresentou o renovado Mercado do Bolhão, mas há comerciantes descontentes. “Não tenho condições para vender o meu produto"

Rui Moreira apresentou a imagem do renovado Mercado do Bolhão, que irá reabrir a 15 de setembro, mas há comerciantes descontentes. Dizem não ter condições para trabalhar e aguardam por mudanças.

É uma das obras mais esperadas na cidade do Porto, após quatro anos de uma complexa empreitada de restauro e conservação com alguns contratempos, o Mercado do Bolhão vai reabrir ao público a 15 de setembro. O presidente da Câmara Municipal do Porto, Rui Moreira, apresentou esta sexta-feira a imagem gráfica do mercado municipal, garante que os trabalhos estão praticamente concluídos, mas parece faltar o consenso entre os 64 comerciantes históricos, que desde maio de 2018 vendem os seus produtos num espaço temporário situado no outro lado da rua.

Três anos e meio depois, o Mercado do Bolhão continua por abrir. “Só acredito quando lá entrar”, dizem comerciantes

Uma semana antes de Rui Moreira abrir o Bolhão à comunicação social para apresentar a marca do renovado edifício, no Mercado Temporário as opiniões dividiam-se relativamente ao futuro, entre desabafos emocionados e comentários de revolta. Fernando Pereira, responsável pela Garrafeira Cantinho da D. Rosa, vende no Bolhão há 35 anos e diz sentir-se enganado pela autarquia do Porto. “O espaço que me apresentaram na semana passada não tem condições para uma garrafeira, aquilo tem mais condições para vender peixe ou rebuçados. Sinto-me enganado pela câmara por isso. Tenho uma entrada comum com o meu vizinho do lado, que vende o mesmo produto que eu, isso não tem cabimento, além de confundir o cliente não nos dá privacidade nem orientação ao cliente”, começou por partilhar ao Observador.

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A sua montra está repleta de garrafas de vinho com rótulos de todo o mundo, sendo o vinho do Porto um dos mais procurados da casa, no novo mercado, conta Fernando, terá uma porta que o irá impedir de mostrar toda a sua oferta disponível a olho nu. “Aquela porta não vai ajudar o negócio, contávamos que o turista chegasse ali e visse a quantidade e qualidade de vinhos que temos e isso já não será possível.”

Fernando Pereira não acredita na nova data de reabertura apontada por Moreira, diz só acreditar quando entrar no mercado, defende que o arquiteto da obra, Nuno Valentim, deveria consultar os comerciantes antes de projetar o edifício, conhecendo as suas necessidades e preocupações, “algo que não aconteceu”, e atira ainda críticas à preferência do município pelos novos inquilinos. “Antes de fazerem a obra deviam ter vindo ter connosco para saber como queríamos e precisaríamos das nossas lojas, mas fizeram tudo à vontade deles e agora é isto que temos. Depois claro que os novos inquilinos nos tiraram espaço às nossas lojas e bancas. Não tenho condições para vender o meu produto, sinceramente.”

Porto, 06/12/2021 - O novo Mercado do Bolhão abre no segundo trimestre de 2022, depois de um longo prazo de requalificação. Os comerciantes estão descontentes com a falta de apoios mas confiantes no sucesso da abertura (Rui Oliveira/Observador)

Maria Olinda vende no Bolhão há mais de 50 anos e confessa que chegou de desilusão quando visitou o seu novo posto de trabalho

(Rui Oliveira/Observador)

Uns metros ao lado está Maria Olinda Remísio, atrás de uma salsicharia homónima, e partilha orgulhosa que há 51 anos que vende “com o Bolhão ao peito”. Depois de umas curtas férias, no início deste mês conheceu o seu novo posto de trabalho e não gostou. “Cheguei lá fiquei muito desiludida, até chorei”, começa por contar emocionada. “Tenho uma frente de loja pequeníssima, um espaço muito reduzido, não existem paredes, não tenho um varão da frente para pendurar os enchidos e uma traseira enorme com 20 metros quadrados que nem necessito. O meu marido é meu auxiliar, fez uma cirurgia há oito anos e está numa cadeira de rodas, não pode ajudar-me porque não tem acesso. Para ir buscar um pedaço de carne para colocar na montra tenho que descer quatro degraus numas escadas sem corrimão”, enumerou.

Maria Olinda acusa o arquiteto do projeto de se ter preocupado apenas com a fachada e as lojas exteriores, não atribuindo aos comerciantes do interior as mesmas condições e acessibilidades. “O arquiteto que fez aquilo só pensou nas lojas exteriores, por dentro fez quilo como uma feira, eu tinha uma loja no antigo espaço, não posso admitir que agora esteja numa banca de uma feira, não posso.” A comerciante garante que vai reclamar junto da autarquia e assegura que não é a única descontente. “Vou reclamar e vou apresentar as minhas queixas, faço isso por mim, mas há aí muitas pessoas na mesma situação e muito descontentes. Apelo ao senhor presidente que reveja este problema e fale com o arquiteto”, suplicou Maria Olinda Remísio.

“Não imagino chegar ao Bolhão e não ouvir alguém a reclamar comigo, era uma chatice”, diz Rui Moreira

Não estava prevista a presença de comerciantes durante a conferência de imprensa de apresentação da imagem gráfica do renovado mercado, uma vez que não tinham sido sequer informados que o evento iria acontecer, no entanto, o discurso de Rui Moreira foi interrompido por cumprimentos afetuosos de duas vendedores que fizeram questão de estar ali. Confrontado com as queixas de José Ferreira e de Maria Olinda, o autarca da cidade começou por explicar a acessibilidade do edifício, que a partir de agora vai contar com 12 elevadores, mas foi novamente interrompido pelas duas comerciantes que rejeitaram qualquer crítica apontada ao trabalho desenvolvido pelo município.

“Qual é o problema de os comerciantes partilharem uma entrada? É um espaço comum, estamos a falar em ilhas, onde estão vários comerciantes, não fazia nenhum sentido estar a fazer um tapume”, realçou o independente, acrescentando que os 64 vendedores históricos estão há quatro anos “em condições absolutamente excecionais no mercado temporário”, com bancas de grande dimensão e feitas de raiz. “Não podíamos aumentar o mercado original, as pessoas habituaram-se a ter mais espaço e aqui têm que voltar a viver com o espaço que tinham e ao qual já não estão habituados.”

Rui Moreira durante a apresentação do quarto projeto de requalificação do Mercado em abril de 2015

JOSÉ COELHO/LUSA

Cátia Meirinhos, administradora da empresa municipal Go Porto, responsável pela obra que representou um investimento de mais de 24 milhões de euros, falou em “más interpretações” e admitiu ter recebido requerimentos por parte de comerciantes. “São pequenas alterações que eles podem fazer, como as divisórias no espaço no interior das ilhas ou as prateleiras nas zonas de cafés. Estamos a falar de pequenos ajustes, os espaços foram feitos de uma forma geral e agora fizeram-se as primeiras visitas para adaptar os locais às atividades e equipamentos de cada negócio. É uma questão de adaptação, não requer obra nenhuma e será uma coisa pacífica que será executada agora pelos próprios.”

Já sobre a possibilidade de as 91 bancas no piso térreo, os 10 restaurantes nas galerias e as 38 lojas na fachada não abrirem todas ao mesmo tempo, a 15 de setembro, Cátia Meirinhos revela que “não há processos em simultâneo”. “Temos comerciantes históricos connosco mais adiantados, espaços foram atribuídos em dois concursos públicos e alguns estão em fase de obra, outros ainda estão a licenciar projetos e outros ainda estão a desenvolver projetos que ainda não foram submetidos à apreciação. Em setembro abrem os que estiverem em condições, esperamos que seja a maioria.”

O mercado irá funcionar das 8h às 20h, sendo que os 10 restaurantes prolongam o horário até às 00h

(Rui Oliveira/Observador)

Outra das preocupações dos comerciantes são as penalizações que os contratos de aluguer preveem, caso não reabram o seu negócio na data estipulada, uma vez que as obras no caso da restauração ainda estão a decorrer. “Isso é uma coisa que temos, de facto, previsto em contrato, mas vamos analisar sempre caso a caso, verificando quando é foi entregue a chave e quais foram as condicionantes que os impediram de terem os espaços prontos”, sublinhou a responsável pela obra.

Já Rui Moreira aproveitou para a acrescentar que o município “não tem essa visão castigadora”. “Uma coisa é se alguém não consegue abrir, não iremos penalizar essa pessoa, outra coisa é se ela não quiser abrir”, esclareceu. Entre críticas, queixas, agradecimentos e elogios, o autarca considera natural ser questionado pelos comerciantes do mercado, mas recorda as 953 reuniões com comerciantes que foram feitas durante todo o processo. “Vão reclamar sempre, é normal. Não imagino chegar ao Bolhão e não ouvir alguém a reclamar comigo, era uma chatice.”

Uma rua nova, uma imagem guardada a sete chaves e um sino que irá voltar a tocar

“É para sempre” é a assinatura da nova imagem gráfica do Mercado do Bolhão desenvolvida pelo designer Eduardo Aires, também autor da marca “Porto.” em 2014. A assinatura já se pode ver no painel que cobre o edifício, pintado com a cor original “que procurava reproduzir o granito portuense quando está exposto ao sol”, e estava a ser cozinhada desde 2018, tendo sido “guardada a sete chaves”.

O autarca do Porto sublinha que o mercado será gerido pelo município e espera que essa decisão perdure além do seu mandato (Foto: Miguel Nogueira/CMP)

O renovado equipamento terá um piso subterrâneo, para cargas e descargas de mercadorias, acesso direto ao Metro do Porto, quatro entradas diferentes e uma passagem nova que ligará as ruas Alexandre Braga e Sá da Bandeira. No piso térreo vão funcionar 81 bancas de frescos, as galerias, situadas no piso 1, ficarão reservadas para 10 restaurantes, e no exterior do mercado vão conviver 38 lojas com várias categorias de produtos. “Os restaurantes não são de grandes cadeias, são negócios individuais, que têm o compromisso de se abastecerem fazendo compras no mercado”, adianta Rui Moreira, alertando ainda para um espaço que irá acolher “festivais gastronómicos de produtos tradicionais”.

O autarca independente salienta que o mercado, inaugurado em 1914 e classificado como monumento de interesse público em 2013, será exclusivamente gerido pelo município. “Não vamos entregar a gestão, no fundo, a cidade será responsável por si própria. Espero que essa responsabilidade perdure e vá para além do meu mandato”, disse, concluindo que a 15 de setembro será o próprio a tocar o sino que embeleza a entrada do edifício, marcando assim o regresso a uma das moradas mais emblemáticas da cidade do Porto.

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