789kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

i

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Sam the Kid: "Faço 41 anos e continuo a ser o gajo da frescura"

O novo álbum de 'beats' e os que se seguem. Os projetos com GROGNation, Blasph e Amaura. A próxima compilação. E uma revelação: mais concertos com orquestra. Entrevista em tempo de "arrumar a casa".

O aniversário foi dele, mas a prenda foi para os ouvintes: na última sexta-feira, dia em que comemorou a chegada aos 41 anos, Sam the Kid revelou um novo álbum. Intitulado Caixa de Ritmos, é um disco de temas instrumentais, parte deles inéditos e outra (grande) parte antigos, mas perdidos e esquecidos no tempo. “Estou a arrumar a casa”, explica ele.

O disco foi o mote para uma conversa com o Observador. No próprio dia de aniversário, o rapper e produtor musical falou deste novo disco de batidas instrumentais — que deverá ter sucessores —, mas também de outros projetos paralelos, como a compilação que planeia fazer para suceder à já lançada Mechelas e as colaborações com o grupo nacional de hip-hop GROGNation (que resultará num conjunto de temas que deverão ser lançados ainda este ano), primeiro, e com o rapper Blasph e com a cantora de R&B Amaura, posteriormente.

Admitindo que gostava de ter já um sucessor do seu último álbum de rimas a ‘solo’, Pratica(mente), lançado já em 2006, Sam the Kid acrescenta: “Gostaria muito, imenso, até de ter já mais dois ou três álbuns de rimas. Mas se não sou só rapper e se gosto de fazer outras coisas, vou fazendo outras coisas”. Tece loas ao hip-hop, que diz ter “enriquecido a sua cultura musical” e que não quer nem monotemático nem só com uma estética — prefere-o com “variedade”, que é o “ponto forte” do estilo.

Na longa entrevista, Sam the Kid, natural de Chelas e autor de álbuns como Entre(tanto), Sobre(tudo), Pratica(mente) e Beats Vol 1: Amor, conta ainda que a pandemia impediu que viesse a fazer, como tencionava, mais alguns concertos (“cinco, seis”) a solo e de rimas, acompanhado por orquestra e pelos seus colegas de banda dos Orelha Negra, semelhantes àqueles que fez em 2019 nos Coliseus.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No final, sobra uma convicção e um desejo. A convicção: “Faço 41 anos e continuo a ser o gajo da frescura”, isto é, que não está preso no passado. O desejo: independentemente do formato e do que fizer, o objetivo é só um, “só quero inspirar alguém para me inspirar a mim também” porque “nota-se bastante em mim que há quase um desespero para inspirar as pessoas”.

O formato do CD com o novo disco de instrumentais de Sam the Kid, ‘Caixa de Ritmos’, tem este formato único e está à venda no site da sua plataforma TV Chelas

O método para revelar este disco foi muito diferente do que adotaste no Mechelas, compilação em que as músicas foram saindo individualmente até ao álbum ficar completo e disponível. Aqui, foi uma surpresa. Qual foi o motivo que te levou a lançar este álbum sem grande aviso prévio?
Isto é uma coisa muito específica. Isto na minha cabeça é tudo uma coisa que faz sentido, mas percebo que para algumas pessoas possa ser… [Sam the Kid interrompe, pede um segundo e faz uma pausa]. Este projeto, a meu ver até nem envolve grande secretismo. Já falei sobre ele mas não obrigo todas as pessoas a seguirem todas as entrevistas que dei. A minha questão aqui é o seguinte: quando divulguei a tracklist deste trabalho, pus no Instagram e publiquei com uma descrição que dizia: “arrumar a casa”.

Em que sentido?
É o que estou a começar a fazer. Neste caso, é um conceito de instrumentais. Pode até ter mais volumes mas na minha cabeça este é um conceito específico. Não é como o Beats Vol: 1 [também um disco de instrumentais] nem é outro tipo de conceitos.

"O conceito deste álbum de instrumentais é os temas terem sido gravados totalmente ao vivo. Cada música foi gravada do início ao fim num mesmo take."

Ainda se falou num outro projeto de temas — salvo erro também instrumentais — chamado Um Café e a Conta…
Esse era um projeto específico de remisturas do Valete, mas possivelmente nunca irá sair. Este vive de instrumentais meus diretamente saídos do mini-disc, temas de que não tenho as pistas. A música não tem misturas, têm uma masterização para estarem ao mesmo volume mas foram temas sequenciados ao vivo, como sempre fiz. Não foi pôr as pistas [várias partes de cada tema] no computador e depois ajustar. É gravado totalmente ao vivo, cada música foi gravada do início ao fim num mesmo take.

Os rappers quando iam a minha casa ouvir os instrumentais, era este tipo de coisa que ouviam — uma coisa já bastante produzida e com títulos, com sugestões para um tema. E às vezes se rimarem nos temas, até tenho de tirar coisas [do instrumental].

Essa era uma das minhas dúvidas: se estes instrumentais tinham sido feitos de raiz a pensar que eram temas que não precisavam de voz, em que não era suposto alguém rimar por cima.
Exatamente. Isto da ‘Caixa de Ritmos’, além do conceito de serem temas que não têm pistas, passa também por beats que não foram feitos com a intenção de serem rimados. Depois há este ponto: metade destes instrumentais já viram a luz do dia. Daí falar em “arrumar a casa”. Eu próprio, desde as alturas do Myspace e do início do Facebook, punha lá um beat ou outro, às vezes com links para partilha de ficheiros. Nessa altura nem tinha canal de Youtube…

Metade destas faixas até andam por aí, em canais de Youtube que não são meus e com os quais não tenho nada a ver. Metade destes beats podem ser familiares a pessoas que possam seguir tudo o que faço. Mas esses beats nunca estiveram numa ‘bolacha’ [disco]. Por exemplo: apareceu-me agora uma memória do Facebook, de há uns dez anos,  de uma fase em que andava a publicar beats. Tinha lá um amigo, Vasco Vaz, a dizer-me para pôr um beat que tinha partilhado na altura numa bolacha, que ele comprava. É basicamente isso que estou a fazer agora. Estou a arrumar a casa começando por reunir os beats que andam por aí dispersos e de que ainda gosto. Muitos destes beats são muito antigos.

"Estou a arrumar a casa começando por reunir os 'beats' que andam por aí dispersos e de que ainda gosto. Muitos destes 'beats' são muito antigos mas sinto que são bons, ainda gosto de os ouvir."

Mas hoje ainda te soam bem, é isso?
Sinto que são bons beats, ainda gosto de os ouvir.

Também tinha essa dúvida: se os temas instrumentais mais antigos que incluis aqui tinham sido alterados recentemente ou não, para fazerem parte do disco. Mas já percebi que não. 
Nada, zero mesmo. Estão mesmo como são e como já eram. Houve só uma seleção. Por acaso à última da hora tirei dois beats e pus outros dois. Tenho imensas coisas para fazer este tipo de volumes, relativos a beats que não fiz para serem rimados — apesar de para aí metade destes já terem visto a luz do dia e de haver um caso ou outro em que já ouvi pessoas a rimarem nestes instrumentais. Mas é porque pus na internet e alguém por sua iniciativa decidiu rimar, não se tratou de colaborações.

Depois também posso fazer um volume paralelo de instrumentais, que já não se chame Caixa de Ritmos — não tenho nome ainda — mas que pode ter as partes instrumentais de músicas conhecidas que produzi. Por exemplo, o instrumental para o “Rhymeshit que Abala” [gravada por Chullage], o instrumental para o “À Noite” do Valete, o instrumental da “Pormenores” do Bispo, instrumentais que tenha feito para Dealema, para toda a gente…

Planos não faltam.
Estou a arrumar a casa, a organizar-me, a pôr tudo no meu canal e ao mesmo tempo também estou a educar. Muitas pessoas, nomeadamente jovens, não tiveram acesso a muitas edições físicas e não sabem que fiz isso [esses instrumentais]. Assim passam a saber. Mas em relação aos instrumentais deste “Caixa de Ritmos” e a não querer fazer disto um ‘evento’ tem a ver com sentir que isto não é propriamente um trabalho novo, é mais estar a arrumar as coisas. Não vou fazer aqui promoção, vender isto como a minha cara nova. Não é, são coisas antigas.

[O vídeo oficial para “Orgulhoso”, tema do novo disco de instrumentais de Sam the Kid:]

Mas que agrupadas agora, lançadas agora quando parte do público não as conhece…
Pois, também tenho essa teoria: se não tiveres ouvido, para ti pode ser novo. Se não dissesse nada… vou dar um exemplo: o primeiro instrumental que lancei com um vídeo [“Orgulhoso”] já estava na internet. Mas tenho a certeza que para muitas pessoas não estava, porque muitas não conheciam. Da mesma maneira como tenho a certeza que há sempre um miúdo que vai comentar: ‘pensava que ele ia rimar e é só instrumental’.

Isso faz parte do grande leque de abrangência de pessoas que me podem seguir e que podem gostar de mim. Vai haver aquele que já conhecia o ‘beat‘ mas aceita na boa, diz ‘ok Samuel, estou a perceber o que estás a fazer, já conhecia este beat mas agora até tenho todo o prazer em comprá-lo dentro deste contexto’. Vai haver aquele que não conhecia este beat mas sabe que faço instrumentais. E há aquele que carrega no play e está à espera que eu rime, mas se for preciso acaba por curtir na mesma. Daí não fazer muito barulho com isto.

"Sinto-me bastante grato por poder utilizar estas ferramentas virtuais que permitem chegar a pessoas que gostam do meu trabalho sem ter intermediários, como pessoas ou editoras. Acho que é o ideal. Este é o tipo de produto que consigo comunicar diretamente com as pessoas que gostam de mim sem fazer grande alarido.

Hoje em dia sinto-me bastante grato por poder utilizar estas ferramentas virtuais que permitem chegar a pessoas que gostam do meu trabalho sem ter intermediários, como pessoas ou editoras. Acho que é o ideal. Este é o tipo de produto que consigo comunicar diretamente com as pessoas que gostam de mim sem fazer grande alarido. Na compilação [Mechelas] fiz, no [disco] Classe Crua também — falei com a minha amiga Carina para fazer comunicação, entrevistas, etc —, mas neste caso não. Não é que ache que não tenha valor, mas isto é mais para as pessoas que gostam mesmo. Não será muito consequente nem será algo muito espremido, não haverá concertos…

Apesar de ter saído no teu aniversário, foi, portanto, quase uma prenda para as pessoas….
Sim. E a peça em si, o objeto físico, está espetacular. Para quem é colecionador, a peça está espetacular, estou mesmo orgulhoso daquilo que o Deck fez. É mesmo uma réplica de um mini-disc. Fiz um vídeo amador com o telemóvel, para mandar para os meus amigos, a abrir o primeiro CD. Acabei por publicá-lo. Estava mesmo entusiasmado.

Fiquei muito orgulhoso com o objeto físico. Sei que hoje em dia, a base [quem compra música] é o colecionador e aquilo é mesmo peça de colecionador. Até pode não interessar o que está lá dentro [risos], o aspeto físico está bonito e cheio de pormenores. Adoro isso. Já o Pratica(mente) tem isso, vês a cara daquele e do outro, podes passar ali cinco minutos a ver certas coisas. O CD aqui também não tem a tracklist normal, tens de ter o poster e depois procurares os números, para ver como se chama a música… está cheio de pormenores. Ainda vou revelar um mini-filme sobre este álbum, uma média-metragem, que é explorar um lado, contar uma história visual.

Sam the Kid em estúdio, quando se preparava para os seus primeiros concertos "a solo" com orquestra e com os Orelha Negra

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Mas foi mesmo uma preocupação juntar aqui apenas temas instrumentais que hoje te soassem bem? Houve alguns que, por mais que fosse importantes, não fariam sentido aqui?
O conceito em parte é esse: beats que ainda sinta que podiam sair hoje. Se calhar em outros volumes, de beats que foram rappados e rimados [feitos para outros rappers], vou dar um certo desconto, pensar: pá, as pessoas conhecem este beat, até pode ser um beat ligeiramente mais datado mas como o tema tem significado, como as pessoas o reconhecem de determinada canção, não vão ter muito essa preocupação de ser novo e soar novo ou não.

Aqui, com este álbum ‘Caixa de Ritmos’, sinto que quase poderia enganar as pessoas, dizer que foi feito ontem ou anteontem. E ainda tenho outra coisa que tenho interesse em fazer de futuro: instrumentais de remisturas que fiz [risos]. Ainda agora fiz uma, de um tema de Beware Jack e Bling Projekt comigo [“Deixem-me Ser Livre”]. Tenho da “Soldadinho” da Capicua [aqui em instrumental, aqui completo]. Tenho uma remistura de Valete, tenho uma remistura de Xutos & Pontapés. Lançaria só os instrumentais por uma questão de consciência: são meus, também não me pagaram por fazê-los — não vejo royalties dos meus amigos quando faço um remix para eles —, então trocamos, porque na parte do beat a autoria é minha. É um tipo de acordo que me parece justo, sentir-me-ia pior se fosse pôr o meu remix inteiro no álbum. Se puser só os instrumentais já é algo que sinto que é totalmente meu.

"Já estou a trabalhar num próximo álbum que será meu e do Blasph, esse será TV Chelas — quer a parte com rimas quer a parte só com os instrumentais —, e num outro projeto com Amaura, mais de R&B. Mas pronto, já me estou a adiantar muito. O próximo [trabalho] será mesmo com GROGNation"

Volta e meia andamos sempre à volta do mesmo tema: o porquê de não haver um disco de rimas de Sam the Kid há tanto tempo [desde 2006]. Mas até é algo que acaba por ser uma discussão um pouco caricata quando desde 2018 tivemos vários álbuns: a compilação Mechelas, o disco de Classe Crua, agora este álbum… não te tem faltado produtividade, embora em áreas diferentes.
Exatamente. E estou agora a acabar outro trabalho, com [o grupo] GROGNation, que vai sair ainda este ano…

O EP planeado, exato.
Vai sair um trabalho este ano de GROGNation e Sam the Kid. Depois, provavelmente no início do ano [2021], para não estar já a gastar o cartucho todo, sai o conjunto dos instrumentais desse projeto com GROGNation.

Esses instrumentais sairão também em álbum, agrupados? Serão colocados na tua plataforma, a TV Chelas?
Curiosamente, esse é um ponto interessante: o álbum original com rimas de GROGNation e Sam the Kid não é um projeto TV Chelas. São muitos elementos, eles também têm uma relação com uma editora, dei-lhes essa benesse porque também não posso querer fazer todos os projetos com o carimbo TV Chelas.

Normalmente em projetos inteiros gostava mais de ter o controlo da situação, mas o acordo que fiz foi: eles ficavam com o álbum de rimas, não quero nada dali, e eu fico com o álbum de instrumentais. Esse álbum de instrumentais será um produto TV Chelas, sairá com o selo TV Chelas. Mas depois já estou a trabalhar num próximo álbum que será meu e do Blasph, esse será TV Chelas — quer a parte com rimas quer a parte só com os instrumentais — e num outro projeto com Amaura, mais de R&B. Mas pronto, já me estou a adiantar muito, são ideias que estão a ser feitas mas a seu tempo terão desfecho. O próximo será mesmo com GROGNation.

"Mais do que ninguém, também gostaria muito, imenso, de ter já mais dois ou três álbuns de rimas a seguir ao 'Pratica(mente)'. Adoraria. Mas honestamente o que me importa é continuar a contribuir. Se não sou só rapper e gosto de fazer outras coisas, vou fazendo outras coisas. Só quero inspirar alguém para me inspirar depois a mim também. Nota-se bastante em mim que há quase um desespero de querer inspirar as pessoas."

Blasph que também já tinha participado no Mechelas, com um tema forte [“A Minha Onda”].
Exatamente. E os beats já estão todos escolhidos, já está muito avançado e está estrondoso. Movo-me também pelo interesse que me motiva o desafio. Mais do que ninguém, também gostaria muito, imenso, de ter já mais dois ou três álbuns de rimas a seguir ao Pratica(mente). Adoraria. Mas honestamente o que me importa é continuar a contribuir. Se não sou só rapper e gosto de fazer outras coisas, vou fazendo essas outras coisas. Essas outras coisas também vão dar à mesma raiz de objetivo, que é inspirar alguém.

Só quero inspirar alguém para me inspirar depois a mim também. É só isso que quero fazer. Um beat meu pode inspirar alguém, um podcast pode inspirar alguém — pela conversa ou até por inspirar alguém a querer fazer o seu. Nota-se bastante em mim que há quase um desespero de querer inspirar as pessoas.

O ‘Na Mira’ [rubrica de grandes entrevistas a figuras históricas do hip-hop português] é outro exemplo: não não sendo um álbum nem sendo um disco sucessor do Pratica(mente), é um grande contributo para o conhecimento sobre o hip-hop português…
Exatamente. A contribuição passa exatamente por aí. Vou equilibrando as coisas e evoluindo aos poucos. Por acaso tenho agora de editar um ‘Na Mira’ que tenho aqui filmado com o Chullage, já gravei. São para aí três horas, foi o mais longo que fiz…

Acho que as pessoas vão gostar de saber disso. E que toda a gente vai ficar curiosa com o resultado…
Mas meteu-se aqui tanto trabalho… não gosto de fazer as coisas a sentir que estou a trabalhar. Já editei outros ‘Na Mira’ e sempre com grande prazer, mas como estou aqui cheio de trabalho, também estou a escrever umas rimas para umas participações — quero começar uma segunda compilação [sucessora de Mechelas]…

Mas isto para dizer: claro que era fixe preencher esta lacuna na faceta de rapper e ter um sucessor do Pratica(mente). Claro que sim. Mas se formos realmente ver a contribuição que tenho tido para a cultura hip-hop, acho que estou mais ativo do que nunca e mais variado na contribuição do que nunca, estou em várias frentes. Percebo a coisa, também gostaria muito mas vamos aproveitando o que há [risos].

[“Era”, tema do novo disco de Sam the Kid, ‘Caixa de Ritmos’:]

O nome “caixa de ritmos” é-te muito caro. Foi a tua mãe que te ofereceu a primeira caixa de ritmos, não foi?
Foi, foi.

Que idade tinhas?
Epá… [pausa para pensar] devia ter 15 ou 16. Provavelmente 16.

Como foi começar a mexer numa caixa de ritmos nessa altura?
Realmente foi difícil [risos] porque aí não tive ninguém para me dar umas bases. Foi mesmo sem livro de instruções [risos], a tentar descobrir por mim mesmo. Aí nem tinha a sorte de conhecer outras pessoas que tivessem uma caixa de ritmos, só mais tarde com a MPC é que pude trocar ideias com uma pessoa ou outra. Isso na altura era tudo, conhecer alguma pessoa que soubesse um bocadinho mais e pudesse dar uma luz. Ajudava-te logo a praticar. No caso da caixa de ritmos, que era um Dr. Rhythm da Boss, aprendi de forma totalmente autodidata.

Na canção “Retrospectiva de um Amor Profundo” rimavas: “Não tinha instrumentais mas tinha imaginação / fui à Baixa comprar uma caixa de percussão”. Caixa de percussão era outro nome para caixa de ritmos ou era uma coisa diferente? Isto é desconhecimento técnico…
Eu é que lhe chamei… ninguém lhe chama caixa de percussão. Mas há aqui uma coisa engraçada: aquilo que estou a dizer é verdade. Existiram caixas de ritmos, uma que foi muito usada no Rapública [primeira compilação de hip-hop português] que era a [Yamaha] QY-10, muito famosa. Essa caixa de ritmos tem sons de percussão — kick, tarola, prato — mas também tinha baixo, piano… tinha outros elementos musicais.

Nem sabia disso, mas quando comprei essa Dr. Rhythm fui ver e só tinha sons de percussão. Aquilo era um sampler, só podes trabalhar com os sons que a caixa tem. Não tinha baixo, por exemplo… então não estou a mentir, foi só para ser um pouco mais preciso, falava em “caixa de percussão” porque realmente só tinha sons de percussão. Tinha de pedir um teclado emprestado a um amigo meu para fazer as melodias.

Sam the Kid em palco

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Porquê escolher este nome, Caixa de Ritmos, para título do álbum?
A lógica para este título… não o tenho assim há tanto tempo. Andava a pensar: o que é que vou chamar a isto? Aqui há uns tempos estive com um amigo meu, fotógrafo, a quem falei nos mini-discs que tinha na juventude e que hoje tenho numa caixa. Então pensei: é também uma caixa de ritmos, porque é uma caixa que abro e que tem imensos ritmos lá dentro. Podes substituir ritmos por beats, mas está associado a isso: aquela caixa que tem os mini-discs lá dentro é riquíssima em ritmos, tem os mais variados.

Funciona como uma espécie de sinónimo de caixa de música…
Exatamente, mas chamei caixa de ritmos por ser também um termo muito associado à minha geração no hip-hop. Na minha geração, esse termo era muito usado. Claro, não foi um termo usado só no hip-hop — mas na minha geração esse termo ouvia-se muito.

"Quando estive agora a fazer o concerto com orquestra, estava a falar com o maestro de jazz e ele ficou admirado de eu saber tantas coisas de jazz, da Polónia e o caraças [risos]. Se calhar pensou: 'este gajo é do rap, só sabe de rap', mas o rap permitiu-me saber mais, enriqueceu a minha cultura musical e utilizo bastante essa memória e esse conhecimento para a minha criação."

Na produção instrumental de batidas, recorres muito ao sampling [criação que parte da recriação e manipulação de temas alheios]. Além de samplares música portuguesa — guitarra portuguesa, por exemplo —, obviamente usas muito a tradição da música negra, o jazz, a soul, o funk. Nestes instrumentais deste disco esses géneros estão muito presentes, ouvem-se muito. O interesse por esses estilos musicais veio do hip-hop ou já existia antes do hip-hop aparecer no teu percurso?
Já sublinhei isso algumas coisas: foi, obviamente, o hip-hop. Foi o hip-hop que enriqueceu a minha cultura musical, sem dúvida nenhuma. O hip-hop e o sampling, isto é, a maneira como faço hip-hop. Com pena minha, há uma nova geração que faz um tipo de beats mais modernos… são escavações sonoras diferentes, mas vão por outros caminhos que não diria que são necessariamente menos criativos, mas em que se usam sites em que te dão logo um loop, uma série de coisas. Parece que é uma batotazinha.

Também não gosto de tapar a criatividade das coisas, mas é preciso é ser-se criativo, ter noção que há mais 400 gajos em todo o mundo a pegar nas mesmas coisas. Deve-se tentar ser criativo, para não acontecerem coincidências que é o que tem acontecido muito ultimamente, porque as pessoas vão todas às mesmas fontes. Mas para mim é um bocado batota porque já estás a ir a alguém que te está a dar uma melodia pensada exatamente para servir o fim que queres. Ao passo que ao ires buscar samples dos anos 1970 e 1980, aí ainda nem existia rap. Então, a recontextualização [de músicas alheias] acaba por ser mais válida e mais mágica. De nenhuma maneira aqueles músicos dos anos 70 iriam pensar que o que tocaram tornar-se-ia um êxito numa música de hip-hop. Estes rapazes desse site onde agora se vai buscar excertos sabem de certeza absoluta que isto vai acabar num beat. Perde-se um bocado a magia, é ligeiramente diferente.

Mas voltando à cultura musical que o hip-hop te deu…
Perco horas a enriquecer a minha cultura musical. Procurar samples de todos os géneros de música, de todo o lado o mundo, de bandas sonoras, de tudo e mais alguma coisa, enriquece muito a minha cultura musical. Quando estive agora a fazer o concerto com orquestra, estava a falar com o maestro de jazz e ele ficou admirado de eu saber tantas coisas de jazz, da Polónia e o caraças [risos]. Se calhar pensou: ‘este gajo é do rap, só sabe de rap’, mas o rap permitiu-me saber mais, enriqueceu-me e utilizo bastante essa memória e esse conhecimento para a minha criação.

Acho que em contrapartida esta nova maneira de criar temas instrumentais… acaba por ser samples à mesma, mas não são samples de discos, são samples de músicos que os estão a criar para te ajudar no teu beat. São quase produtores de hip-hop que estão a criar loops que tu estás a usar. Acho que com isso, acabas por não ficar tão eclético na tua cultura musical — a meu ver. Sinto-me muito mais culto graças ao hip-hop, sem dúvida nenhuma. Se não fizesse música com samples, era muito menos culto.

[“Bons Bocados”, mais um tema instrumental do novo disco de Sam the Kid, ‘Caixa de Ritmos’:]

Há pouco referias que vais lançar uma média-metragem sobre este álbum. A tua cinefilia e interesse por cinema já foram muito mencionados em entrevistas e conversas. Associas a alguns destes temas mais instrumentais, cenas e históricas específicas, concretas, visuais, fílmicas? Ou só te transportam para emoções menos concretas?
Aí é outra parte que tenho estado a exercitar. Os temas que estão isolados no Youtube, e que não são o mini-filme, têm a sua linguagem: carrega-se no play e está algo em movimento. Isso também é uma expressão artística: por exemplo, ‘esta música para mim é estrelada, é noturna, e imagino estrelas cadentes a passarem; nesta já imagino pessoal à porrada; nesta imagino pessoal a correr; esta leva-me para um universo de criança, infantil…’

Exercitei isso nesses pequenos vídeos dos temas, que estão no Youtube. Mas o mini-filme é outra coisa. Algumas cenas e ideias podem coincidir entre o mini-filme e estes pequenos vídeos, a maior parte até coincide — o que se passa na imagem quando começa determinado beat tem elementos semelhantes às imagens do vídeo feito só para esse tema —, mas há casos em que a ideia muda. Porque às vezes não é só uma ideia que resulta.

Sam The Kid. “Ligo ao meu pai para corrigir rimas, como no Quem Quer Ser Milionário”

Já andamos todos a desconfinar, mas no período de quarentena e confinamento a música esteve muito presente no teu dia-a-dia? Ou esse confinamento deu-te para te afastares um pouco daquilo que fazias habitualmente, para desligar?
A mim não me mudou muito as coisas, tirando os concertos que ficaram sem efeito. Tenho feito bastantes coisas. Agora tenho feito mais uma coisa que é a Flawless Radio.

Seleções musicais de temas de hip-hop, uma espécie de rádio personalizada…
Oiço centenas e centenas de músicas e depois filtro no meu gosto, neste caso num conceito flawless radio, que é muito subjetivo mas é o meu. Não é que goste só daquele tipo de música, às vezes faço DJ sets com outro tipo de músicas de que também gosto. E faço-os com o mesmo foco de escavador, o estilo de música é diferente mas também gosto de ser aquele DJ que faz os outros DJs fazerem Shazam à procura de saber que tema é que estou a passar. DJ sets ao vivo faço com a vertente de estar a passar música numa discoteca, num bar, tenho em conta isso — mas faço na mesma com a vertente de curador, de dar a conhecer música.

"Sei que muitas vezes vamos sair para celebrar aquilo que já conhecemos — também faço isso —, mas também gosto muito de ter trunfos, de mostrar algo novo: 'olha esta música que não conheces'. Gosto disso, sempre fui esse gajo. Hoje faço 41 anos e ainda continuo a ser esse gajo da frescura."

Sei que muitas vezes vamos sair para celebrar aquilo que já conhecemos — também faço isso —, mas também gosto muito de ter trunfos, de mostrar algo novo: ‘olha esta música que não conheces’. Gosto disso, sempre fui esse gajo. Hoje faço 41 anos e ainda continuo a ser esse gajo da frescura. Mesmo que seja uma frescura que no caso da Flawless Radio a meu ver passa por músicas timeless [sem tempo], são sons deste ano, que saíram na semana passada. Não são sons tipo trap, ainda que não tenha nada contra o trap, se calhar nos DJ sets já passo mais trap. Já partilhava essas listas Flawless Radio com amigos, o Black Mastah [de Filhos de 1 Deus Menor] já me chegou a dizer: ‘hoje é sábado, vou ouvir; agradeço mesmo, tem-me ajudado muito nesta altura da Covid”. Para mim isso é… fico muito feliz de contribuir para a felicidade de algumas pessoas. Dá-me força para fazer mais coisas, puxa por mim.

Perguntava se mantiveste a mesma ligação à música porque lembro-me de ouvir o António Zambujo dizer, a dada altura do confinamento, que já não pegava na guitarra há muito tempo, que se sentia um pouco distanciado do ambiente em que normalmente criava e tocava. Isso não te aconteceu?
Nem por isso. Tenho aí beats, grandes ideias… acabei os beats para o Blasph, lancei a remistura de Bling Projekt — o beat que saiu era novo — e fiz mais remisturas que ainda não saíram, tenho andado a fazer umas quantas. A produtividade a meu ver está igual. Tenho videoclips na gaveta que estão para sair, por exemplo meus com o Mundo Segundo. A meu ver não me deu quebra nenhuma.

Também os temas que estou a escrever são temas que são de tal forma transversais… estou agora a escrever um tema que anda em volta de se ser eterno, da morte, da eternidade, por aí. Não me afeta muito escrever sobre isso nesta altura ou noutra altura. Se calhar, até me pode inspirar mais, posso colocar na letra alguma coisa relacionada com o que se está a passar. Agora, se for um rapper que esteja a escrever sobre ‘estou a viver e estou no club‘ se calhar vou estar um bocado com falta de inspiração, porque não estou a viver isso na minha vida e vai soar um bocado forçado.

"Acho que se tornaria chato se todo o rap fosse dez álbuns iguais ao do ProfJam com o Benji ou dez álbuns iguais ao do Tchapo ou dez álbuns iguais ao 'Sinceramente, Porto'. Acho que o grande ponto forte do hip-hop é a variedade."

Só neste ano, antes deste teu álbum, já tinham saído em Portugal discos como o Madrepérola da Capicua, o Meia Riba Kalxa do Tristany — que muita gente aliás ficou a conhecer por o teres referenciado num podcast —, o disco do ProfJam com o Benji, o disco do Dino D’Santiago (que, não sendo artista de hip-hop, tem ligação ao hip-hop) e a compilação Sinceramente, Porto, entre muitos outros. Parece-te um sinal de que o hip-hop português está de boa saúde e está com variedade? Tens ouvido alguns desses discos ou nem por isso?
Por acaso, ainda não os ouvi com a merecida atenção. Ouvi mas ainda não com a atenção necessária. Mas por acaso ainda agora no último Flawless Radio incluí um som do Mundo Segundo que faz parte dessa compilação, Sinceramente, Porto. Gostei muito.

Mas também saiu agora um álbum de um amigo meu aqui de Chelas que é o Tchapo, chama-se Turbulência. Finalmente saiu um álbum duplo de rap. É rimado em crioulo, é hip-hop tuga. É super bem-vindo para todo esse leque de variedade. Acho que se tornaria chato se todo o rap fosse dez álbuns iguais ao do ProfJam com o Benji ou dez álbuns iguais ao do Tchapo ou dez álbuns iguais ao Sinceramente, Porto. Acho que o grande ponto forte do hip-hop é a variedade.

Vêm aí mais concertos com orquestra: "Fiz aqueles concertos com orquestra e com produção própria. Agora, a ideia seria as pessoas que tivessem dinheiro para isso [promotores] comprarem esse espectáculo. Iria fazer umas exceções, cinco ou seis vezes, talvez em festivais."

Quão afetado foste pela pandemia, em termos de atuações de verão, de planos para concertos? Fossem com o Mundo Segundo, com o Beware Jack [projeto Classe Crua]…
Isso é o que me dá mais pena. Tinha uma lista de concertos previstos, uns quantos mais seletivos, porque é uma coisa bastante cara… fiz aqueles com orquestra e com produção própria. Agora, a ideia seria as pessoas que tivessem dinheiro para isso [promotores] comprarem esse espetáculo. Iria fazer umas exceções, cinco ou seis vezes, em festivais.

Ias atuar com orquestra novamente? 
Sim, sim. Para aí umas cinco ou seis datas, uma coisa desse género, com esse formato de espetáculo.

Sam The Kid e Mundo Segundo: “Quem diz que trap não é hip hop está a ser Rui Veloso”

Também com os [membros dos] Orelha Negra?
Sim, sim, tudo igual. Concertos só de Orelha Negra é que não estavam nos planos. Para Mundo Segundo & Sam the Kid tínhamos muitas datas marcadas. Mas Classe Crua é o que me dá mais pena: tínhamos muitas datas e neste caso específico de Classe Crua o timing ainda seria importante para celebrar algo que ainda é mais ou menos fresco e novo. Por exemplo, Sam the Kid com orquestra posso fazer daqui a dois ou três anos, as músicas do concerto são antigas…

E não há um álbum recente para apresentar…
Sim, é diferente. Com Mundo Segundo & Sam the Kid acontece o mesmo, também é algo distinto. Classe Crua era outra coisa. Atenção, foi tudo adiado, não foi cancelado. Mas pronto, perde-se um pouco do timing ideal.

"A próxima compilação [sucessora de Mechelas] em que vou trabalhar terá como primeiro tema eu a rimar, sozinho. Tenho ideia de na próxima compilação estar muito mais presente em termos vocais. Será quase como um álbum meu, mas vou dizer que é uma compilação [risos] porque ainda não decidi tudo. Mas tenho essa vontade e essa intenção. Não é um processo de desenferrujamento porque não estou enferrujado, mas é um processo gradual de poder ir eventualmente partindo para um trabalho sucessor do 'Pratica(mente)'."

Pode ser injusto perguntar isto quando acabas de lançar um disco, mas a “Sendo Assim” teve o impacto que teve, a vários níveis — pela letra que muita gente andou a analisar ao pormenor, pela popularidade e números que atingiu, por tudo. Portanto cá vai: há algum tema teu sozinho e com rimas para sair em breve ou isso não é um plano por agora?
Não, não, é [um plano], é. Só quero estar livre, acabar uma letra de uma participação que me está a custar um bocadinho, porque é uma zona de conforto ligeiramente… tem uns BPMs ligeiramente desconfortáveis [mais rápidos], mas está a dar-me muito prazer. Não consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo em termos de rimas, portanto enquanto não acabar esta não parto para outra. Mas a seguir, quero partir para isso: uma música sozinho. E será o início da próxima compilação [sucessora de Mechelas]. A próxima compilação em que vou trabalhar terá como primeiro tema eu a rimar e sozinho.

Ao contrário do que aconteceu na última, em que esse tipo de tema terminava a compilação…
Sim. Tenho ideia de na próxima compilação estar muito mais presente em termos vocais. Será quase como um álbum meu, mas vou dizer que é uma compilação [risos] porque ainda não decidi tudo. Mas tenho essa vontade e essa intenção.

Isto é tudo para ter um processo. Não é um processo de desenferrujamento porque não estou enferrujado, mas é um processo gradual de poder ir eventualmente partindo para um trabalho sucessor do Pratica(mente). Quero picar aqui, ali… pode ser que as coisas vão saindo de outra forma.

O rapper e produtor musical pretende voltar a fazer concertos, entoando dos seus temas "clássicos" de rimas aos mais recentes, acompanhado por orquestra e músicos dos seus Orelha Negra

FILIPE AMORIM/OBSERVADOR

Os próprios concertos com orquestra também podem ter ajudado a isso, o voltar aos concertos em teu nome, com os teus temas e ‘a solo’, embora acompanhado por músicos e orquestra. Já percebi que te deram vontade de fazeres mais concertos nesse formato, porque tinhas ideia de os voltar a fazer este verão.
Sim, sim. Obviamente não iria ser o privilégio de estar a tocar só para o meu público, porque numa produção minha foi a única vez na vida em que estive a tocar só para pessoas que foram lá para me ver, de propósito. Alguma dessas datas poderia estar inserida num festival, mas pronto, iríamos lá enfrentar as pessoas.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora