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Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR
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TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Saúde mental nas crianças. A associação que faz a ponte entre famílias que precisam e terapeutas que ajudam

Ana, Afonso, Artur, Catarina, Margarida, Maria, Pedro. Crianças e jovens que precisam de terapia regular de saúde mental que os pais não podem pagar. É aqui que entra a Capiti – para tornar possível.

Sete anos. Vem com a tia, que a tomou como filha, cúmplices, sorridentes, Ana (nome fictício) a contar qualquer coisa da escola enquanto espera que Maria (nome fictício) confirme a presença de ambas para as consultas de apoio ao luto que têm semanalmente no PIN – Partners in Neuroscience, centro clínico dedicado às perturbações do desenvolvimento e do comportamento, em Paço de Arcos.

A mãe morreu há três anos. Ana ficou com os avós paternos, que morreram também no espaço de um ano e meio, e com o pai – que, sozinho com ela, afundou-se no sofrimento e procurou no álcool a anestesia impossível. Um dia, às duas e meia da manhã, a tia recebeu um telefonema do cunhado. A polícia, chamada ao café onde estava com a criança, embriagado, queria falar com ela. Que viesse buscar a sobrinha, porque ele não estava em condições de a levar para casa nem de cuidar dela. Foi assim que, em junho do ano passado, Maria, família monoparental, passou a ter duas filhas: a sua, de nove anos, e a da irmã.

“O meu cunhado já tinha problemas psiquiátricos e, com a morte da mulher e dos pais num tão curto espaço de tempo, ficou perdido”, diz esta enfermeira. “Eu achei que ter a Ana poderia ser bom para ele, mas fiquei atenta. Quando recebi aquele telefonema, percebi que tinha de ficar com a minha sobrinha.”

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até à clínica PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 30 de Março de 2023 Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Ana tem 7 anos. Orfã de mãe, depois morreram os avós. Nas consultas do luto, com a psicóloga Susana Esteves, aprendeu que é normal às vezes as crianças estarem felizes e tristes ao mesmo tempo

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Ana teve apoio psicológico na escola, pedido pela tia assim que a irmã morreu. “Mas com tudo o que se passou depois, senti que era necessário um acompanhamento mais específico.” E foi aqui que se cruzou pela primeira vez com a Capiti, a associação que, graças ao mecenato de empresas e particulares, consegue ajudar famílias a encontrar ajuda na área da saúde mental, suportando parcialmente os custos.

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Sozinha com duas crianças, apesar de ter apoio financeiro por parte da família, seria muito difícil para Maria suportar o peso económico que implica um acompanhamento semanal em psicoterapia. “A comparticipação da Capiti é importantíssima para mim. E o resultado está à vista: já se nota uma evolução na minha sobrinha, sobretudo na expressão das emoções.”

Também não tem sido fácil para Maria. Nem para a filha. Muitas alterações em muito pouco tempo. “Ela estava habituada a estar só comigo e não está a reagir bem a esta situação de ter que partilhar tudo com a prima: o quarto, os brinquedos, a mãe. Daí esta necessidade de acompanhamento, para mim, para saber como gerir os meus sentimentos e estas mudanças todas na nossa vida, e para a Ana, para lidar com todas as perdas que sofreu.”

Ana é pequenina de corpo, mas tem um olhar crescido, forte, desenvolto. No consultório com a psicóloga clínica Susana Esteves, que a acompanha na consulta do luto, está concentrada num jogo de tabuleiro, ao jeito do Trivial Pursuit, cujas cartas ajudam a falar de coisas difíceis.

“O nosso trabalho na consulta do luto é não só a adaptação à perda por morte, mas também a todas as mudanças que esta implica, as ansiedades relacionais que suscita, a saudade, a perda, a adaptação a diferentes contextos”, diz a psicóloga Susana Esteves.

As crianças têm de ser sempre fortes? Verdadeiro ou Falso? “Falso”, responde a Ana. “Podem brincar para ficar felizes ou chorar quando estão tristes. Nem sempre estão felizes ou tristes, às vezes estão as duas coisas ao mesmo tempo”, completa, olhando discretamente para trás, talvez a avaliar a reação da assistência. A sessão está prestes a terminar e Ana pede as bolas de sabão. Sopra-as no ar, antes de sair. E, sem saber, resume nelas o trabalho que tem feito desde setembro com a Susana, que tem o mesmo nome da mãe e os mesmos caracóis, uma coincidência que de dificuldade passou a elemento protetor e até terapêutico.

“O nosso trabalho na consulta do luto é não só a adaptação à perda por morte, mas também a todas as mudanças que esta implica, as ansiedades relacionais que suscita, a saudade, a perda, a adaptação a diferentes contextos”, diz a psicóloga. “Quando a Ana chegou aqui parecia que não podia haver tristeza, que tinha de ser sempre forte. A resiliência e a força dela têm sido muito protetoras e com o trabalho que fazemos não quero tirar-lhe isso, mas antes transformar, para aceitar que também pode estar triste, que também pode chorar. É um trabalho contínuo, passinho a passinho, e o que a Ana tem feito é muito corajoso, muito bonito. Digo-lhe muitas vezes: ‘És muito corajosa’.”

O salto da Maria

A Maria está a moldar dentes para colocar na boca de um boneco cujo nome ficou por dizer. Os dois estranhos que entram na sala da terapeuta ocupacional Inês Caniça, com quem está a ter uma sessão, não a retraem. Pelo contrário. Posa para a fotografia. Naturalmente.

A Maria tem seis anos. Tem um diagnóstico de perturbação obsessivo-compulsiva e perturbação de ansiedade. Tudo o que diz respeito ao corpo é-lhe difícil. Pentear-se, lavar os dentes, vestir-se. Ao ponto de algumas rotinas familiares tão simples como sair de casa se terem tornado um inferno, com comportamentos violentos, físicos e verbais, dirigidos à mãe, com quem vive, só as duas.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Maria, diagnosticada com perturbação obsessivo-compulsiva, começou a ser seguida graças à Capiti. “Está mais autónoma, antecipa rotinas e a relação com o corpo melhorou”, diz a terapeuta Inês Caniça

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Aos quatro anos e meio da Maria, a mãe e a avó procuraram ajuda para uma avaliação. “Sou fã do PIN, sou lá seguida em psiquiatria de adultos e por isso foi essa a nossa escolha”, diz a avó, Isabel, que é quem leva a Maria às consultas.

Uma escolha que parece estar a ter resultados positivos. Alegre, Maria larga a moldagem dos dentes e passa para o trampolim, onde salta ao som da música do filme Frozen e sopra com força num apito quando a terapeuta para a música.

Não é uma brincadeira. Trabalha-se assim a consciência corporal e as questões sensoriais. No fim da sessão, apanhada quase a acabar, Maria lava os dentes sozinha, sem resistência.

“Está muito mais autónoma, consegue antecipar as rotinas e a relação com o corpo tem melhorado”, diz Inês Caniça.

A avó confirma. “Tem oscilações, mas tem evoluído bastante. Já se penteia e lava os dentes e a relação com a mãe melhorou. Era uma criança muito autocentrada, tinha muitos ciúmes dos primos e também aí se notou uma evolução.”

É seguida há mais de um ano em psicologia clínica (semanal) e terapia ocupacional (quinzenal) e o valor das consultas e sessões tornou-se incomportável para a mãe, família monoparental. Foi então que, tendo tido conhecimento da Capiti, se candidatou ao apoio, de que está a usufruir há quatro meses.

A entrada da Maria para o primeiro ano foi adiada. O trampolim de há pouco é capaz de ter um papel no salto que será dado em setembro deste ano.

Os sons e as letras da Margarida

Foi o salto da Margarida, nove anos, para a escola que fez os pais aprofundarem as suspeitas que já tinham. Com um filho mais velho seguido no PIN por perturbação da hiperatividade e défice de atenção (PHDA), perturbação de ansiedade e disortografia (dificuldade em escrever corretamente), era natural que estivessem mais atentos. De início, puseram a hipótese de se tratar de comportamentos de imitação, mas a agitação e a dificuldade de concentração e aprendizagem, tornadas óbvias durante os períodos de confinamento e ensino à distância impostos pela pandemia, levaram os pais de Margarida a pedir ao PIN uma avaliação da filha mais nova. As suspeitas confirmaram-se: PHDA, dislexia e disortografia.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até à clínica PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 25 de Março de 2023 Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A perturbação de hiperatividade e défice de atenção, dislexia e disortografia levaram os pais de Margarida, 9 anos, a procurar apoio para a filha – que tem sido acompanhada pela terapeuta Tânia Capaz

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A hipótese de recorrer ao Serviço Nacional de Saúde nunca foi colocada pelos pais. “Na altura tínhamos condições de pagar os tratamentos e a ideia de que no público tínhamos de esperar fez-nos optar pelo PIN”, diz a mãe, Teresa.

Margarida passou a ser seguida semanalmente, online, por Tânia Capaz, técnica de Educação Especial e espécie de anjo da guarda desta família que durante a pandemia viu o caos instalar-se na vida. Teresa, que sempre trabalhou na área da restauração, perdeu o emprego, assim como o marido, programador informático. Com dois filhos a precisar de acompanhamento especializado e sem meios de custear as consultas semanais, de Educação Especial (no caso da Margarida) e de Psicologia e Educação Especial (no caso do Francisco, 14 anos), Tânia insistiu com a família que recorresse à ajuda da Capiti. Teresa resistiu, resistiu e resistiu. “Acho sempre que há outras pessoas que precisam mais do que nós. Nós aguentávamo-nos, tínhamos comida, tínhamos ajuda da família, íamos conseguindo, mas a Tânia insistiu e de facto o apoio da Capiti tem sido uma dádiva. Só o facto de não termos que contar todos os tostões para garantir que os nossos filhos podiam continuar a ter as consultas no mês seguinte é um descanso.”

“Os textos dela no início era incompreensíveis", diz a mãe de Margarida. "Não só pela dislexia como pela forma como os construía: começava uma palavra, o cérebro já ia muito à frente, continuava a frase e aquilo não tinha ligação. Agora dá menos erros e conseguimos perceber um texto. É muito bom ver estas conquistas.”

Um descanso que toma corpo na evolução que tanto a mãe como a técnica observam na Margarida. Extrovertida, faladora, irrequieta, consegue hoje concentrar-se melhor nas tarefas escolares, já consegue ler, já consegue escrever.

“Quando começámos o trabalho, há dois anos, a Margarida, que está agora no quarto ano, não conseguia identificar letras nem sons”, diz a técnica Tânia, que excecionalmente hoje teve uma consulta presencial com a Margarida. “Mas passado pouco tempo já não parecia a mesma.”

“Por uma questão de organização e conveniência da família, as consultas são online e os resultados têm sido excelentes. Muitas vezes, por causa dos horários de trabalho dos pais e da escola das crianças, pela distância, pela falta de recursos para a deslocação ou por qualquer outro motivo, as consultas presenciais são impossíveis e esta é uma solução que resulta muito bem na maioria dos casos”.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até à clínica PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 25 de Março de 2023 Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Quando começámos o trabalho, há dois anos, a Margarida, que está agora no quarto ano, não conseguia identificar letras nem sons”, diz a terapeuta. “Mas passado pouco tempo já não parecia a mesma”

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Teresa concorda, sublinhando a evolução que a filha tem tido. “Onde se nota mais é na escrita. Os textos dela, no início, eram incompreensíveis, não só pela dislexia como pela forma como os construía: começava uma palavra, o cérebro já ia muito mais à frente, continuava a frase e aquilo não tinha ligação nenhuma. Agora dá muito menos erros e já conseguimos perceber um texto dela. É muito bom ver estas conquistas.”

Não defraudar as expectativas das famílias

“O trabalho que fazemos com estas crianças pode passar por várias valências – psicologia clínica, psicopedagogia, terapia da fala, psicomotricidade – e estende-se, quase sempre, por um período alargado, com uma frequência semanal ou quinzenal. Isto implica um esforço financeiro que muitas famílias, com mais do que um filho, por vezes imigrantes, não têm possibilidade de fazer. Por isso, é tão importante o apoio de instituições como a Capiti”, diz o psicólogo clínico do UP, Francisco Almeida.

Criada em 2016, a partir do desafio do neuropediatra Nuno Lobo Antunes, diretor do PIN, que se deparava frequentemente com a impossibilidade de muitas famílias darem continuidade aos tratamentos depois de um diagnóstico inicial, por falta de condições financeiras, a Capiti – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Infantil – baseia-se num modelo de apadrinhamento por parte de mecenas – sobretudo empresas ou outras entidades privadas, mas também particulares –, que apoiam a comparticipação (de 90, 70, 50 ou 30 por cento, de acordo com o escalão da família, que é calculado tendo em conta os rendimentos, despesas e agregado familiar) dos custos dos tratamentos de cada criança acompanhada.

“Vivemos apenas de donativos”, diz Mariana Saraiva. “Criada em 2016, a Capiti – Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Infantil – baseia-se num modelo de apadrinhamento por parte de mecenas (entidades privadas, mas também particulares), que apoiam os custos dos tratamentos das crianças. 

“Começámos em 2016, com um projeto piloto para a zona da Grande Lisboa, sendo a nossa sede o PIN, em Paço de Arcos. Hoje temos clínicas parceiras de norte a sul do país”, diz Mariana Saraiva, presidente da Capiti, que trabalhou anos em marketing e publicidade, fez parte da direção do Banco Alimentar contra a Fome e da Entrajuda e há seis anos agarrou o desafio de criar esta IPSS.  O objetivo é claro: ajudar crianças com problemas do desenvolvimento e do comportamento e cujas famílias têm poucos recursos financeiros, para que tenham acesso a acompanhamento terapêutico no setor privado, num contexto em que a sobrecarga e falta de recursos do setor público não permite uma resposta célere.

Desde setembro de 2017, e graças aos protocolos com várias clínicas (PIN do Porto, Anima em Aveiro, Psikontacto em Coimbra, UP em Almada e Montijo, SEI em Carcavelos, Inspace em Lagoa, Oficina dos Mimos em Albufeira e SAN em São Brás de Alportel), a Capiti já apoiou 379 crianças e jovens e tem atualmente 165 em acompanhamento.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Começámos com trinta famílias e já multiplicamos o número por dez”, diz Mariana Saraiva, presidente da Capiti. “É um grão de areia nas necessidades em Portugal, mas estamos a fazer o caminho certo”

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“Começámos com trinta famílias, sinalizadas pelo PIN Lisboa, e nestes seis anos conseguimos multiplicar este número por dez”, explica Mariana Saraiva. “Sabemos que é um grão de areia nas necessidades todas que há em Portugal, mas sentimos que estamos a fazer o caminho certo. Acima de tudo, queremos crescer de forma estruturada e sustentada, porque vivemos apenas de donativos e é uma grande responsabilidade dizer que sim a uma família porque temos de garantir que temos fundos para apoiar aquela criança num processo que pode demorar anos, com uma frequência semanal ou quinzenal e por vezes com várias valências envolvidas. Queremos crescer, mas devagar. Não queremos nunca defraudar as expectativas das famílias.”

Com a assinatura “Crescer para o Mundo”, a Capiti, que vem do latim capita [cabeça], tem pelo menos 15 famílias a receber apoio desde o início. “Há casos complicados, que não têm alta, pode é mudar a periodicidade dos tratamentos, mas o que é certo é que estes protocolos são anuais e temos conseguido renovar, ano após ano.”

As perturbações de ansiedade e de comportamento ganham cada vez mais peso nas crianças e jovens cujas famílias procuram o apoio da Capiti, mas a hiperatividade e défice de atenção (PHDA) e a perturbação do espectro do autismo continuam a ser as patologias mais frequentes.

“A psicoterapia implica continuidade”

Os caracóis largos tapam-lhe os olhos, baixos, como a cabeça, entre o tímido e o discretamente curioso, quando entra no consultório de Francisco Almeida, no Centro UP, em Almada.

Os dois intrusos, jornalista e fotógrafo, não o impedem, no entanto, de iniciar a sessão de psicoterapia que tem todas as semanas aqui, desde há um mês. Apresentações feitas, é como se fossem invisíveis.

Afonso, dez anos, e o psicólogo psicodramatista – que usa a representação dramática e o jogo simbólico como abordagem psicoterapêutica – sentam-se numas cadeiras de criança, com um jogo à frente. Os dados são lançados e há que ir ganhando superpoderes ligados a emoções e comportamentos. Para os conquistar, é preciso falar sobre eles ou executar tarefas que envolvem o corpo e mobilizam emoções.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A dificuldade de gestão das emoções de Afonso não se resolve numa consulta de psicologia clínica e implica uma psicoterapia (com o psicólogo Francisco Almeida), um trabalho que se estende no tempo

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A primeira carta diz: “A Hiper é tímida e tem dificuldade de fazer amigos. Como vamos ajudá-la?” A pergunta é feita pelo psicólogo. Afonso levanta ligeiramente os olhos e responde: “Dando confiança a ela”. “Muito bem. E como é que se dá confiança?” Hesitação. Silêncio. “Já sei, vamos chamá-la para brincar connosco. O que achas?”, desbloqueia Francisco. “Pode ser”, aproveita Afonso, que depois de concordar que confiança é coragem ganha o primeiro superpoder.

O jogo continua, já só entre paciente e psicoterapeuta, que, antes de Afonso chegar, explicou como as dificuldades de controlo dos impulsos e gestão das emoções que esta criança apresenta não se resolvem numa consulta de psicologia clínica e implicam uma psicoterapia, um trabalho que se estende no tempo.

“Costumo dar este exemplo: se formos uma vez por mês ao fisioterapeuta, não vamos lá fazer nada. Aqui é a mesma coisa. Numa psicoterapia tem de haver uma continuidade para que as coisas possam ser remasterizadas e integradas. No mínimo, são precisas 12 sessões, com uma periodicidade semanal, para ter resultados efetivos.”

“Se formos uma vez por mês ao fisioterapeuta, não vamos lá fazer nada” diz o psicólogo. “Aqui é a mesma coisa. Numa psicoterapia tem de haver uma continuidade para que as coisas possam ser integradas. No mínimo, são precisas 12 sessões, com uma periodicidade semanal.”

Três meses de psicoterapia custariam à mãe de Afonso 525 euros. Fátima está desempregada e tem dificuldade em encontrar um trabalho que a operação a um tumor na coluna a que foi submetida há uns anos lhe permita executar. O marido, que é soldador, atualmente de baixa, é o único sustento da família, com mais dois filhos, um deles Artur, 13 anos, que, tal como Afonso, é também seguido no Centro UP. No caso de Artur, com diagnóstico de perturbação do espetro do autismo.

Foi com ele que tudo começou.

A espera do Artur: dois anos por uma consulta

Fátima sentiu desde muito cedo que o filho Artur era diferente. Sempre no seu mundo, muito metido consigo próprio e por vezes com comportamentos desadequados e reações estranhas, não valorizadas pelos outros, mas que não passavam despercebidos ao olhar de mãe.

“Aos quatro anos chorava compulsivamente, porque não queria ser pai. Eu dizia ‘filho, você não tem idade para pensar nisso, ainda está muito longe’, mas ele não acalmava. Se fôssemos a sua casa, ele entraria e começaria a olhar para tudo, sem sequer cumprimentar. Pareceria falta de educação, mas agora sei que tem a ver com o problema dele e já posso explicar às pessoas”, conta Fátima.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Uma vez por semana, de manhã, Fátima (aqui com a filha mais nova) leva um dos filhos à psicoterapia. À tarde repete o ritual com o irmão. Duas horas de transportes mais o tempo de espera

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O diagnóstico de perturbação do espetro do autismo foi um alívio para esta mãe. Mas demorou a chegar.

“Toda a gente dizia que eram coisas da minha cabeça, que o menino era normal, que parecia que eu estava à procura de problemas. Ia à escola, ainda no pré-escolar, e diziam-me que estava tudo bem. Eu sabia que não estava, mas não sabia a quem recorrer.”

Só quando Artur chegou ao terceiro ano é que Fátima foi chamada, por causa do comportamento do filho. “Até que enfim, alguém reparou”, pensou. Estávamos em 2017. Da psicóloga da escola passou para o médico de família, que encaminhou para a psicóloga do centro de saúde, que depois referenciou Artur para o Hospital Garcia de Orta, em Almada.

Mas o tempo passava e nada. Fátima desesperava. Até que uma senhora na casa de quem fazia limpezas lhe falou do PIN e do neuropediatra Nuno Lobo Antunes.

“Toda a gente dizia que eram coisas da minha cabeça, que o menino era normal, que parecia que eu estava à procura de problemas" diz a mãe, Fátima. "Ia à escola, ainda no pré-escolar, e diziam-me que estava tudo bem. Eu sabia que não estava, mas não sabia a quem recorrer.”

“Juntei dinheiro e fui. Precisava de uma direção. Na primeira consulta, o Dr. Nuno disse que pensava que era autismo, mas era preciso mais consultas para fazer o diagnóstico. Eu não tinha dinheiro e foi então que me falaram da Capiti. Fiz a candidatura e encaminharam-me para o Centro UP, que fez o diagnóstico de perturbação do espetro do autismo ao Artur. Isto foi em 2020. Desde então tem sido acompanhado lá.”

Só em 2021, garante, foi chamada pelo Garcia de Orta. Foi à consulta e, quando disse que o filho estava a ser seguido no privado com o apoio de uma IPSS, a terapeuta reconheceu que era o melhor porque o hospital só tinha capacidade para acompanhar casos muito severos.

O diagnóstico do Afonso

Com três filhos, desempregada e só o ordenado do marido para o sustento da casa, Fátima, que veio do Brasil há 19 anos e deixou lá toda a família, diz que seria impossível suportar os mais de três mil euros anuais que gastaria nas consultas semanais de psicologia clínica e quinzenais de psicopedagogia do Artur, a que se somam agora as do Afonso, que está em avaliação.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Quando finalmente foi chamada pelo hospital, Fátima disse que o filho era seguido no privado com o apoio de uma IPSS. A terapeuta reconheceu que era o melhor: ali só conseguiam acompanhar casos graves

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“Procurei ajuda também para o Afonso porque ele é muito nervoso, explosivo, não tem controlo e eu tenho medo que se torne violento. A experiência com o Artur tem sido muito positiva. Desde que está a ser acompanhado e medicado, a vida dele mudou completamente. Na escola, os professores e os coleguinhas, a partir do momento em que houve um diagnóstico, começaram a vê-lo de outra forma e a entendê-lo. Os meninos cuidam dele — ainda hoje, quando fui buscá-lo para a consulta, disseram-me: ‘Mãe do Artur, mãe do Artur, olhe que ele tem trabalhos para casa!’”

Fátima vem todas as semanas de Foros de Amora a Almada, de manhã com Afonso e à tarde com Artur, para as consultas. Fá-lo para não perderem aulas. Uma hora de transportes de manhã (ida e volta), outra hora à tarde. Não é fácil, mas pouca coisa parece fácil na vida desta mãe, que, com uma serena energia, não baixa os braços.

As pequenas e grandes vitórias do Pedro

Seguido semanalmente desde 2021 no Centro UP, pela psicóloga Joana Silva, Pedro (nome fictício), oito anos, quase nove, já foi acompanhado em psicomotricidade e agora tem também consultas quinzenais de psicopedagogia.

Não tira os olhos do computador, em que está concentrado, a trabalhar com Joana, através de um jogo, questões como a resolução de conflitos, as dinâmicas familiares, o brincar, a higiene ou o dormir.

“Para as primeiras consultas pedimos ajuda às nossas famílias. Fomos encaminhados para a assistente social da Capiti e fizemos a candidatura. Agora o Pedro consegue ter as terapias graças à Capiti, que comparticipa 70 por cento das consultas.”

“O Pedro está no espetro do autismo. Leve. Trabalhamos a parte emocional, a concentração e também fazemos estimulação cognitiva. Atualmente, é também acompanhado em psicopedagogia para trabalhar a relação com a escola e as aprendizagens. Está no terceiro ano. Está a correr muito bem, não é, amor?”, diz Joana Silva.

Pedro concorda com a cabeça, focado na tarefa que tem em mãos.

Já a mãe diz que Joana tem sido um verdadeiro anjo da guarda. Graças ao trabalho com ela, Pedro tem vindo a ganhar autonomia, autoestima, a abrir-se mais e a conversar sobre a escola, que era o maior foco de frustração e problemas.

“Vai levar tempo a autoregular-se”, diz a mãe. “Mas está muito mais comunicativo, fala sobre a escola, já nos diz as vogais. Isto são pequenas vitórias que para nós são grandes, porque sabemos que ele tem muitas capacidades.”

Os pais sempre suspeitaram que havia um problema. As dificuldades na fala, na relação com os outros, no sono, a juntar às crises que se manifestavam quando alguma coisa o frustrava ou perturbava, como luzes ou sons mais intensos, que o faziam gritar, atirar-se para o chão ou mesmo tornar-se agressivo, morder, dar pontapés. Birras que os pais desconfiavam que não eram simples birras. Desde a creche.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A mãe de Pedro diz que, graças ao trabalho desenvolvido com a psicóloga Joana Silva, a criança tem vindo a ganhar autonomia, autoestima, a abrir-se mais e a conversar sobre a escola

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“Educadora, médico de família, psicóloga da creche, todos descartaram qualquer problema. Só que, quando o Pedro entrou para o primeiro ano, as coisas agravaram-se, com episódios de bullying, dificuldades de aprendizagem, inclusão zero. Procurámos ajuda através do Serviço Nacional de Saúde e nada. A médica de família sinalizou-o e até agora não aconteceu nada.” Passaram dois anos. “O que sentimos é que as preocupações dos pais não são ouvidas”, diz a mãe.

Apesar das poucas possibilidades financeiras – a mãe é desempregada, o pai é fiel de armazém –, recorreram ao PIN. Feito o diagnóstico de perturbação do espetro do autismo, confrontaram-se com a impossibilidade de suportar o plano de tratamento aconselhado.

“Para conseguirmos ir às primeiras consultas no PIN tivemos de pedir ajuda às nossas famílias. Quando o Dr. Nuno percebeu que não tínhamos condições financeiras, encaminhou-nos para a assistente social da Capiti e fizemos a candidatura. O Pedro passou a ser seguido no Centro UP e consegue ter as terapias graças à Capiti, que comparticipa 70 por cento do valor das consultas. Mesmo com o apoio é difícil e houve uma altura em que tivemos de interromper a psicomotricidade, mas agora está tudo estabilizado”, conta a mãe, para quem os mais de três mil euros anuais que gastaria nas terapias de que o filho necessita seriam insustentáveis para esta família com dois filhos, o Pedro e a irmã, de seis anos.

As rotinas da Catarina

Tinha seis anos quando começou a ser acompanhada na área da intervenção precoce no CADIn, uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS), pioneira na sua intervenção, e um dos primeiros centros em Portugal dedicado ao tratamento e estudo das perturbações do neurodesenvolvimento – e que tem também, à semelhança de outras instituições pelo país, uma bolsa de apoio social para famílias com dificuldades financeiras.

Catarina tem hoje 26 anos, está deprimida e tem trissomia 21. Veio para o PIN com a terapeuta que a acompanhava desde os 12 anos no CADIn, Ana Catarina Fonseca, com quem está quando a conhecemos.

Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa, Cascais, Almada, Montijo, Lagoa, Albufeira e São Brás de Alportel. Graças aos apoios conseguidos e aos protocolos com dez clínicas (e pretendem crescer), a Capiti já apoiou 379 crianças e jovens e tem atualmente 165 em acompanhamento.

Na mesa, uma série de cartas – tímido, guloso, ansioso, feliz, infeliz, teimoso, corajoso… – e à frente da Catarina um papel com duas colunas: Sou; Não Sou.

O papel está ainda em branco e a Catarina está indecisa. A pressa de completar a tarefa, talvez para despachar os intrusos, fá-la escolher cartas de que, pensando duas vezes e depois de olhar para a psicóloga, retira.

Não está muito à vontade esta jovem que se adivinha naturalmente expansiva. Não têm sido fáceis os últimos anos para ela. Cresceu saudável, adorava a escola, andava no ballet, no hip hop, nos escuteiros, e ia para todo o lado sozinha, diz a mãe, Graça. “Era muito autónoma”.

A primeira rotura deu-se quando terminou o 12.º ano e perdeu a rotina escolar. Depois, o divórcio dos pais. O cancro de mama da mãe. Mais tarde, a morte do pai, seguida pouco tempo depois pela do avô. Tudo isto num intervalo de tempo em que o acompanhamento terapêutico tinha sido interrompido, em 2018, porque a mãe, que trabalhava das nove às seis, não tinha disponibilidade para a levar.

“Era o pai que a levava sempre às consultas e, quando nos separámos, a situação complicou-se e por isso teve de haver ali um intervalo. Mas com a morte do pai e do avô, a desistência do ballet e a perda de rotinas, a Catarina começou a isolar-se e a zangar-se com o mundo. Entrou em depressão”, conta a mãe, que começou a procurar alternativas. Mas deparou-se com uma série de obstáculos.

Reportagem sobre a CAPITI, ipss que acompanha crianças e jovens com problemas mentais de forma gratuita ou conforme rendimentos. O Observador deslocou-se até às clínicas Centro Up, em Almada, e PIN, em Paço de Arcos, onde pode acompanhar sessões entre técnicos e crianças que fazem parte da CAPITI. 28 de Fevereiro de 2023 Clínica Centro Up, Almada Clínica PIN, Paço de Arcos TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

A depressão de Catarina levou-a novamente às sessões com a terapeuta Ana Catarina Fonseca, que a acompanha há vários anos. “Recorri à Capiti, porque entretanto fiquei desempregada”, diz a mãe da jovem

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

“Através do Serviço Nacional de Saúde, o acompanhamento que há é sobretudo farmacológico. De maneira que voltei ao PIN, que ela já conhecia muito bem. Mas tive de recorrer à ajuda da Capiti, porque, entretanto, fiquei desempregada”, diz Graça, que quer dedicar agora o tempo à “recuperação e formação” da filha.

“Quando voltou, em 2021, estava muito fechada, isolada, calada, triste, menos espontânea. Tinha que ver com todas as roturas por que passou, mas também por uma significativa perda auditiva. E aqui a Capiti também teve um papel fundamental porque conseguiu a doação de um aparelho auditivo para a Catarina. Foi uma viragem na vida dela”, diz a psicóloga Ana Catarina Fonseca.

Além das sessões de psicoterapia, Catarina participa agora quinzenalmente no “Eu Consigo”, uma iniciativa de aproximação ao mercado de trabalho, em que os participantes vão conhecendo várias profissões e as funções desempenhadas em cada uma delas, para explorarem as suas aptidões e vocações.

A jovem ainda não sabe em que gostaria de trabalhar, mas já fez voluntariado num lar de idosos e gostou.

De volta ao jogo do Sou e Não Sou, em que o que se pretende trabalhar é o autoconhecimento e a gestão emocional, Catarina escolhe a carta “Teimosa” para a coluna do “Sou”. Aí, não hesitou. A Catarina consegue.

Mental é uma secção do Observador dedicada exclusivamente a temas relacionados com a Saúde Mental. Resulta de uma parceria com a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) e com o Hospital da Luz e tem a colaboração do Colégio de Psiquiatria da Ordem dos Médicos e da Ordem dos Psicólogos Portugueses. É um conteúdo editorial completamente independente.

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