789kWh poupados com a
i

A opção Dark Mode permite-lhe poupar até 30% de bateria.

Reduza a sua pegada ecológica.
Saiba mais

Em Espanha, sobretudo na Catalunha, Joana e Mireia tornaram-se estrelas do dia para a noite no início dos 2010s, por causa de uma série para adolescentes, “Polseres Vermelles”
i

Em Espanha, sobretudo na Catalunha, Joana e Mireia tornaram-se estrelas do dia para a noite no início dos 2010s, por causa de uma série para adolescentes, “Polseres Vermelles”

Em Espanha, sobretudo na Catalunha, Joana e Mireia tornaram-se estrelas do dia para a noite no início dos 2010s, por causa de uma série para adolescentes, “Polseres Vermelles”

"Selftape". Irmãs e atrizes à beira de um ataque de nervos: “Os nossos pais diziam-nos ‘se não tiveres trabalho, cria o teu próprio’”

Joana e Mireia Vilapuig dão um twist em “Selftape”, série de seis episódios que se estreia esta terça-feira no Filmin. E se, de repente, a fama não se concretiza e o trabalho também não aparece?

Há mais de um ano que o Filmin se tem afirmado como sendo algo mais do que uma plataforma de streaming alternativa às outras. Por “alternativa” assuma-se neste caso como uma programação menos comercial. Ainda bem que existe, porque tem sido o lugar onde encontrar séries que não têm lugar nas outras plataformas: e, espante-se, algumas delas bem comerciais e de qualidade. Em paralelo, começou a criar conteúdos próprios. Há uns meses “Autodefesa” foi uma ótima surpresa, esta semana é a vez de “Selftape”, série de seis episódios de trinta minutos, criada pelas irmãs Joana e Mireia Vilapuig.

Os nomes não serão familiares para os portugueses, mas em Espanha, sobretudo na Catalunha, Joana e Mireia tornaram-se estrelas do dia para a noite no início dos 2010s, por causa de uma série para adolescentes, “Polseres Vermelles”. Foi um fenómeno, ninguém estava preparado para que o fosse. Normalmente as histórias em volta de adolescentes que conseguem a fama muito cedo é sobre como lidam com o sucesso e como isso corre mal. O caso de Joana e Mireia é diferente, acabou a série, e não colheram frutos do sucesso. Não se tornaram famosas como aquele sucesso momentâneo faria esperar, pior, não conseguiam arranjar trabalho. Viam-se muitas vezes a enviar selftapes para os mesmos papéis, ou seja, lutavam pelas mesmas personagens.

Anos neste marasmo até encontrarem a solução: falar dos seus problemas, das suas vidas. Ou algo parecido. Assim nasceram Joana e Mireia Vilapuig personagens e protagonistas de “Selftape”, a série que ambas criaram e onde se colocam numa situação semelhante: irmãs, atrizes, que estão num impasse.

O contexto é diferente da realidade. Joana vive em Barcelona e está a passar um mau bocado, não arranja trabalho. Quando a conhecemos está prestes a começar uma série para, no derradeiro momento, ser descartada pelo realizador porque, palavras do próprio, “não é suficientemente sexy para a personagem”. A carreira de Mireia está uns niveizinhos acima, mudou-se para Oslo, onde é protagonista numa série de relativo sucesso, mas que foi cancelada. O fim de uma relação e um período atribulado a caminhar para a autodestruição faz com que volte para casa.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Pela situação em que estão, as duas começam a dar-se muito mal. Ainda pior quando Mireia fica com o papel que era para Joana. A meio da série  há um episódio brilhante – o terceiro -, onde as duas atrizes expõem as vulnerabilidades das suas personagens através do sexo. Há aqui um twist, não o fazem apenas enquanto atrizes – ou seja, pessoas famosas – mas também enquanto mulheres.

Mireia, na espiral de autodestruição, acorda na casa de um desconhecido e toda a situação leva-a a crer que foi violada. O modo como toda a situação vai sendo desmontada é dilacerante. Por outro lado, Joana infiltra-se num hotel por acaso e no envolvimento com um empregado simpático, Marc (Lluís Marquès), deixa-se levar até perceber que ele é mais agressivo do que parece e só está ali porque é famosa, há um vídeo íntimo dela na internet e tem uns seios grandes (não é a primeira, nem última vez, que isso é assunto na série). A situação é ainda mais pesada porque é o primeiro momento em que se vê Joana para lá de atriz e irmã.

O episódio quebra o gelo de “Selftape” e a tensão entre as duas irmãs. E, com isso, vai-se revelando como um bom testamento geracional em sintonia com o seu tempo: o carácter autobiográfico e a situação (duas irmãs / duas atrizes) é um começo para uma história bem maior (e que cabe nuns bem espremidos seis episódios). Em paralelo ao presente da série, há muitas imagens de arquivo das irmãs, seja de família, ou da sua carreira passada na televisão. Estes últimos questionam frontalmente o lugar dos jovens atores, o que representam e o que isso faz às suas vidas. Por vezes, é chocante. Falámos com as duas atrizes e criadoras de “Selftape” via Zoom há uns dias, as duas lado a lado, em casa, num ambiente bem informal. Como seria de esperar.

Ainda não têm trinta anos. Porque é que decidiram olhar para a vossa carreira?
Joana: Eu e a Mireia tornámo-nos em atrizes famosas muito jovens, por causa dos nossos papéis no “Polseres Vermelles”. Isso mudou a nossa relação e a nossa vida. As expectativas que tínhamos, sobre a carreira, sobretudo, não se cumpriram. E vimo-nos sozinhas em casa, a competir pela mesma personagem, a fazer selftapes para as mesmas personagens e aí percebemos que havia uma histórias destas duas miúdas, estas irmãs, que tinham vivido um momento de fama. A série, além de contar a história de duas atrizes, também conta a de duas irmãs, que estão em competição, porque as duas são atrizes.

Sempre quiseram ser atrizes?
Mireia: A Joana sim, eu não. Eu tornei-me atriz porque a dado momento encaixava num perfil para um filme. Foi em 2009, tinha 10 anos. Bom, é algo que se foi enraizando à medida que vais crescendo, mesmo percebendo que é uma profissão dura e muito difícil.

Tornaram-se famosas numa série para adolescentes. Havia essa expectativa?
J: Não, porque era uma série catalã e era a primeira que havia uma série do género na Catalunha, com tantos adolescentes fanáticos por uma série. Quando a série foi lançada, percebemos que houve um boom e ninguém estava preparado para isso. Nem a produção, nem nós, nem a estação de televisão. Foi de loucos.

No segundo episódio há uma competição pouco saudável para o mesmo papel. Isso já vos aconteceu?
M: Não, nunca tivemos nessa situação. Foi por isso que escrevemos essa situação, queríamos que a Joana e a Mireia estivessem nessa posição.

J: Uma situação extrema, que obriga as duas irmãs a competir.

M: Mas já fizemos selftapes para audições para o mesmo papel. Isso é verdade, é por isso que a série se chama “Selftape”. Começou nesse momento, quando estávamos a competir para os mesmos papéis.

No terceiro episódio não há a perspetiva apenas como atrizes, mas também a vulnerabilidade das mulheres. Alguma vez aconteceu homens olharem para vocês daquela forma, como acontece com a Joana?
J: Queríamos mostrar a vida sexual, enquanto mulheres. Como às vezes experienciamos sexo e como experienciamos este tipo de situações. Eu e a Mireia não vimos muitas séries onde nos sintamos representadas a nível sexual. Creio que muitas mulheres quando virem aquele episódio podem sentir-se identificadas e empatizar com a Joana ou com a Mireia. E queríamos mostrar isso, duas situações onde elas estão vulneráveis. Muitas mulheres sofreram abusos sexuais e, bom, queríamos mostrar isso… por vezes pode parecer que vai tudo bem, mas um homem, que aparentemente parece ser empático, não agressivo, de repente pode ser muito agressivo durante o sexo.

M: Sendo atrizes, famosas, há algo… quando te convertes a uma figura pública, as pessoas mudam a forma de te ver, a forma como…
J: Como te sexualizam.

M: E te tornas como um objeto público e as pessoas tratam-te como elas querem. Queríamos ter essa cena entre a Joana e o Marc, como tudo muda, quando ele sabe que a Joana é atriz daquela série. Toda a situação torna-se mais maquiavélica.

Mireia, a sua cena nesse episódio reflecte um pouco todo o momento de autodestruição que vive. Como atriz, experiencia aquele tipo de frustração?
M: Penso que é um trabalho difícil e torna-se mais difícil quando estás a trabalhar muito mas é também difícil quando não estás a trabalhar. Queríamos mostrar estas personagens diferentes. A Joana tem boas relações, mas o trabalho dela não é assim tão bom. A Mireia tem sucesso na sua carreira, mas a sua vida pessoal não é boa. Queríamos que funcionasse como um espelho.

São atrizes, que estavam em dificuldades. E agora criaram uma série para vocês. Foi uma forma de saírem da situação?
J: Sim, os nossos pais diziam-nos: se não tiveres trabalho, cria teu próprio trabalho. Estávamos a fazer audições e a não conseguir os papéis, e tentámos…  vamos tentar fazer uma série.

M: Não foi fácil, parece que é fácil dizer, vamos escrever uma série. Mas foi muito difícil, estivemos quase seis anos a pensar nisto e a tentar…

J: Fazê-lo acontecer. Mas estamos muito felizes que isto tenha acontecido, porque estávamos sem conseguir trabalhar como atrizes. Foi uma forma de criarmos o nosso trabalho.

Tornam tudo muito pessoal ao mostrar filmagens de vocês quando são novas. Como foi expor a vida desta forma?
M: Quando decidimos que seriam a Joana e a Mireia, percebemos que…

J: Foi importante para o programa, porque tínhamos essas filmagens, em que dizemos, “olá o meu nome é Joana” ou “Olá, o meu nome é Mireia”, então assumimos que as personagens tinham que se chamar Joana e Mireia. Mas isso foi um passo enorme para nós. Para ser honesta, corremos todos os riscos que a série precisava. E estávamos a tomar conta uma da outra…

M: Sabíamos todas as linhas que poderíamos atravessar.

J: Por exemplo, na montagem, havia imagens da nossa família e isso era uma linha que  não queríamos atravessar, não queríamos expor a nossa família também. No final, estamos confortáveis com o que mostramos de nós próprias, até porque ninguém sabe o que é verdade ou não.

M: E tivemos sorte com a realizadora, a Bàrbara Farré, foi incrível connosco. Ela nunca nos perguntou o que era real ou não era. Isso foi importante para nós, porque não queremos ter esse tipo de conversa.

J: Porque tornaria a coisa em pornografia. Ela tornou tudo em ficção, o que foi ótimo para nós.

E parece mesmo ficção.
J: As pessoas vão pensar no que é verdade ou não. Esse tipo de linha, colocar a audiência nessa situação, era algo que queríamos. Por exemplo, nas redes sociais andamos a criar as nossas histórias falsas, as pessoas acreditam ou não. A dado momento pensámos, porque não fazemos isso também? [risos]

M: Vimos a Joana e a Mireia como personagens. Tentamos falar da Joana e da Mireia na terceira pessoa. Era uma maneira de correr a distância e não estarmos metidas nesta… nesta terapia, acaba por ser uma sobre exposição, como terapia, para nos protegermos.

Os vossos pais gostavam de filmar tudo?
M: Não, sabes, nós achamos que não temos muitas imagens. Gostávamos de ter mais.

J: Sim, gostávamos. Aliás, as imagens que vês não são dos nossos pais, mas da restante família e amigos. Não existe nenhum vídeo filmado pelos nossos pais.

Nessas imagens de arquivo mostram presenças vossas na televisão, a promoverem a série de adolescentes. E falam do vosso primeiro beijo, que foi na televisão. Como é olharem para essas imagens?
M: É de loucos. Descobrimos estas imagens no processo de perceber que tipo de série queríamos fazer. Foi absurdo, quando estávamos a montar algo para vender o projeto, e começámos à procura de entrevistas, mesmo antigas, e vimos aquelas imagens, ficámos estupefactas… estávamos sempre numa zona muito desconfortável. E decidimos usar essas imagens para mostrar às pessoas que era a situação que vivíamos na altura. Foi interessante combinar isso com a vida da Joana e da Mireia no presente, quando estão a tentar encontrar-se de uma forma sexual. Faz sentido… adoramos.

J: Sim, ficámos chocadas quando revimos essas imagens.

Fazer “Selftape” foi catártico?
J: Aprendemos muito, a nossa a relação mudou também. Sabemos agora que trabalhamos bem juntas, isso é fantástico. Mas agora não sabemos o que queremos fazer.

M: E agora o que fazemos?

J: Fazemos outra coisa do género ou esperamos se alguém nos ofereça trabalho?

M: Alguém nos vai ligar a oferecer trabalho? Não queremos esperar tanto. Acho que percebemos que…

J: Que gostamos de criar e criar um mundo numa série. Tenho a sensação de que há mais portas abertas agora.

Assine por 19,74€

Não é só para chegar ao fim deste artigo:

  • Leitura sem limites, em qualquer dispositivo
  • Menos publicidade
  • Desconto na Academia Observador
  • Desconto na revista best-of
  • Newsletter exclusiva
  • Conversas com jornalistas exclusivas
  • Oferta de artigos
  • Participação nos comentários

Apoie agora o jornalismo independente

Ver planos

Oferta limitada

Apoio ao cliente | Já é assinante? Faça logout e inicie sessão na conta com a qual tem uma assinatura

Ofereça este artigo a um amigo

Enquanto assinante, tem para partilhar este mês.

A enviar artigo...

Artigo oferecido com sucesso

Ainda tem para partilhar este mês.

O seu amigo vai receber, nos próximos minutos, um e-mail com uma ligação para ler este artigo gratuitamente.

Ofereça artigos por mês ao ser assinante do Observador

Partilhe os seus artigos preferidos com os seus amigos.
Quem recebe só precisa de iniciar a sessão na conta Observador e poderá ler o artigo, mesmo que não seja assinante.

Este artigo foi-lhe oferecido pelo nosso assinante . Assine o Observador hoje, e tenha acesso ilimitado a todo o nosso conteúdo. Veja aqui as suas opções.

Atingiu o limite de artigos que pode oferecer

Já ofereceu artigos este mês.
A partir de 1 de poderá oferecer mais artigos aos seus amigos.

Aconteceu um erro

Por favor tente mais tarde.

Atenção

Para ler este artigo grátis, registe-se gratuitamente no Observador com o mesmo email com o qual recebeu esta oferta.

Caso já tenha uma conta, faça login aqui.

Assine por 19,74€

Apoie o jornalismo independente

Assinar agora