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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Sem "figura de proa", sem deputados e sem dinheiro. O que sobra da Aliança e como está a voltar às origens

Em 2018 Santana Lopes regressou à política com tudo, criou um partido e não se coibiu de dizer ao que vinha, sem medir o dia seguinte. Menos de três anos depois, a Aliança é um partido bem diferente.

“A Aliança não se conseguiu libertar da sua figura de proa.” Quem o diz é Ana Pedrosa-Augusto, ex-vice-presidente do Aliança, que deixou o partido ainda antes de Pedro Santana Lopes, logo depois do congresso em que houve uma mudança de direção. Desilusão é “uma palavra muito forte”, mas admite ter “pena” do que aconteceu ao partido, de não ter sido o projeto com que sonhou. Percebe quem se desfiliou, por acreditar que muitas pessoas foram “à procura de algo novo” e “não era aquilo que procuravam”.

Agora, depois da saída do fundador, ainda mais. “A partir do momento em que a figura de proa do partido deixa de estar presente claro que muitas pessoas também terão sentido que lhes faltava aquela figura em que acreditavam e perceberam que afinal não era ali que queriam estar.”

Em pouco mais de dois anos muito mudou. Após fundação do partido em outubro de 2018, o ponto alto aconteceu no congresso fundador, em Évora, a 9 de fevereiro do ano seguinte. A emoção tomava conta de Pedro Santana Lopes por sentir que estava a construir “algo de novo”, empenhado em estar do “lado bonito da política”.

Mais de 700 dias separam o “momento especial sem pieguices” em que entrou na Arena d’Évora, onde estiveram presentes 600 delegados, e o dia em que abandonou o partido, certo de que não iria desistir da intervenção política. “Não há nada melhor do que ser independente”, despediu-se Santana Lopes.

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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Foi Paulo Bento que assumiu a presidência da Aliança em setembro de 2020. Tal como Santana Lopes, também foi militante do PSD, trabalharam juntos na Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e foi vereador da câmara de Torres Vedras.

O líder do Aliança afasta a ideia da debandada de militantes após o congresso e assegura que houve de facto saída de militantes, ainda que a maioria tenha tomado a decisão antes desse momento de viragem no partido. Chegaram a ser 2100 militantes, “mais de 500 saíram antes do último congresso”. Depois da reunião “saíram perto de 100 militantes e entraram mais ou menos o mesmo número”.

“É a vida normal dos partidos, teve a sua origem com uma figura que impulsionou a sua fundação e que entendeu dar outro rumo à forma de fazer política, é o percurso normal das instituições, uns saem, outros entram”
Paulo Bento, presidente da Aliança

O líder do partido afasta a ideia de uma rutura com o passado, admite que “há sempre sobretudo mudanças de estilo”, contudo considera que “o espírito com que o partido foi fundado é exatamente o mesmo”, das convicções, aos princípios e aos valores. Não esquece o fundador como sendo um “líder carismático”, como tendo sido “à volta dele” que a Aliança nasceu mas crê que se construíram “ramificações por todo o país”, o que permitiu que “o partido esteja pujante, organizado e preparado para os desafios futuros”.

“É a vida normal dos partidos, teve a sua origem com uma figura que impulsionou a sua fundação e que entendeu dar outro rumo à forma de fazer política, é o percurso normal das instituições, uns saem, outros entram”, remata.

A advogada de Madonna e os “aliados” de um homem com uma “lábia filha da mãe”

Bruno Ferreira Costa concorda e sentiu que tinha de abandonar o partido depois de ter entrado uma “nova linha e novos protagonistas”. Justifica a opção com a “ideia de deixar espaço para quem acredita nessa linha” e para que as novas caras “pudessem afirmar politicamente o projeto”.

O ex-militante do PSD foi vice-presidente de Santana Lopes no Aliança e admite que havia uma “identificação” com o fundador e com o “caminho de afirmação de um novo partido no centro direita”. Aliás, hoje está certo de que esse espaço existia no espetro político português: Havia espaço para afirmação de um partido político novo que pudesse representar uma alternativa a um conjunto de eleitores e isso confirmou-se, não foi com o Aliança, foi com outros partidos.”

Não foi o caso de Bruno Ferreira Costa, mas muitos dos nomes que saíram da Aliança acabaram ligados a outros partidos. Uns procuraram diferentes alternativas, outros tiveram convites e há até casos de quem esteja ligado a outros partidos mas sem a ficha de militante assinada.

É o caso de Ana Pedrosa Augusto, advogada de Madonna, que estava num “período de luto” da política desde que saiu da Aliança e, há uns meses, aceitou ser a número dois da lista da Iniciativa Liberal à Câmara Municipal de Lisboa. Vê no partido algo “irreverente”, com “sangue novo” e uma “forma de estar diferente”. “Preenche quase todos os requisitos” que a fizeram mergulhar na Aliança e não consegue apontar o que falta à IL por serem partidos “muito diferente” e o facto de não estar dentro do partido também torna “difícil comparar” as duas realidades.

Cláudia Gonçalves esteve nove meses na Aliança e chegou a ser coordenadora do Algarve. Sentiu-se “um bocadinho defraudada” por perceber que o partido “era mais do mesmo” que a tinha levado a sair do PSD. Tinha esperança numa “lufada de ar fresco daquilo que pensava que poderia ser o PSD de Sá Carneiro” mas acabou desapontada e acabou por, mais tarde, encontrar essa diferença no Chega e em André Ventura.

A ex-militante do Aliança olha para o passado e atribui algumas culpas a Pedro Santana Lopes, acredita que “deveria ter feito das bases o seu maior apoio, ouvir mais, falar mais com as bases e sentir os problemas do terreno”. Para Cláudia Gonçalves, Santana Lopes é um “bom político, bom orador”, mas nos projetos “não pode haver pessoas que estejam lá só para cargos”, o que acabou por sentir enquanto esteve na Aliança, onde sentiu “falta de liderança”. “Acho que a Aliança pecou e fez com que as bases saíssem”, reforça.

Apesar de gostar de Paulo Bento e de o considerar uma “pessoa de terreno”, Cláudia Gonçalves está certa de que “desde que Santana Lopes saiu o Aliança está condenado a desaparecer porque falta aquela figura de proa, todos sabemos que tem de haver um navegador em que as pessoas se revejam”.

Trajeto idêntico assumiu Rui Roque, que chegou a ser diretor de campanha na Aliança, esteve desde a fundação do partido e assume que o objetivo com o partido era conseguir “algo novo”, uma “alternativa no centro-direita, que saísse da esfera do PSD quase como uma cisão”. Acreditou que era o “partido certo”, mas hoje considera que “entre a IL e o Chega há muito pouco espaço para o Aliança poder ter alguns resultados”.

Das eleições à mensagem, o que falhou?

A opinião de que a Aliança tinha tudo para correr bem é quase unânime, bem como as justificações para que não tenha sido assim. Bruno Ferreira Costa assume que “o caminho que o partido se predispôs a fazer não foi conseguido” e aponta como “data marcante” as eleições legislativas, em que o partido “não consegue a representação parlamentar, a projeção mediática e o financiamento que advém disso”.

Ana Pedrosa Augusto junta ainda as eleições europeias à lista de momentos difíceis, já que havia um “marco muito grande em acreditar que era possível”. A ex-vice da Aliança recorda essa altura como de “muito difícil digestão”. “Mas fez-se”, afirma enquanto recorda que o partido se levantou para enfrentar as eleições legislativas, que se tornaram em mais um balde de água fria. “Foi mesmo muito mau não ter entrado”, relembra.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Bruno Ferreira Costa aponta para um “impacto elevado”, já que “a Aliança foi criada para ser um partido de média, grande dimensão” e não como um projeto de “eleição de um deputado”. Sem ter entrado sequer um representante na Assembleia da República, o ex-vice de Santana Lopes considera que o caminho atual “já não é de continuidade”, trata-se mais, realça, de “uma segunda vida para o partido”.

Para trás, fica um sentimento de alguma desilusão por o projeto não ter sido compreendido num espectro político mais amplo”, mas também a certeza de que se falhou na mensagem. “Pode-se definir como um erro de comunicação de não ter sido percebido que era necessária uma maior rutura na mensagem para se atingir um determinado número de população”, admite.

“O nosso partido cresceu um pouco pelo telhado e depois foi-se fazendo o prédio. O que está a acontecer neste momento é que estamos a criar as nossas estruturas, a nossa base, os caboucos, como se diz na construção civil, e vamos conseguir, a partir de baixo, a criar representatividade que nos permita crescer para que em futuras eleições possamos ter representantes no Parlamento”
Paulo Bento, presidente da Aliança

O atual líder da Aliança não aponta “críticas a ninguém”, mas afirma que “a ter havido erros” apenas se pode olhar para dentro. “Provavelmente não conseguimos fazer chegar ao eleitorado a nossa mensagem, as nossas propostas e os caminhos que queremos trilhar”, ressalva.

Contudo, os olhos estão postos no futuro e Paulo Bento está convicto de que a Aliança terá “os seus primeiros eleitos” nas autárquicas, “um pouco por todo o país”, já que tem confirmado a presença em várias coligações a nível nacional, com partidos como PSD, CDS, IL, Nós, Cidadãos, PPM e PPT. O presidente do partido é ainda cabeça de lista à Câmara Municipal de Torres Vedras. “Só se houvesse uma catástrofe eleitoral” é que não seria eleito ninguém da Aliança, insiste Paulo Bento, frisando que foram negociados lugares elegíveis em várias listas.

Apesar da esperança em forma de certeza, o líder do partido não quer os louros para si. “Não é pelo facto de o partido ter uma nova liderança que vai eleger este número de pessoas, são eleições específicas e estou convicto de qualquer que fosse o presidente o partido iria eleger”, explica.

Apesar disso, admite que foi preciso uma “reorganização interna muito grande” quando chegou à direção. O partido “cresceu pelo telhado” e só depois foi sendo feito “o prédio”. Foi preciso um passo atrás.

“O que está a acontecer neste momento é que estamos a criar as nossas estruturas, a nossa base, os caboucos, como se diz na construção civil, e vamos conseguir, a partir de baixo, a criar representatividade que nos permita crescer para que em futuras eleições possamos ter representantes no Parlamento”, explica.

Sem financiamento e a viver das quotas dos militantes, a “receita é muito baixa” e foi preciso “tomar opções drásticas”. A Aliança abdicou da sede nacional por ser uma “despesa muito grande” e dos funcionários. Nesta fase, a pandemia até veio ajudar porque “passou tudo a ser online”.

É quase um regresso às origens, como que um renascimento de um partido (ainda) novo, agora sem uma figura como Pedro Santana Lopes, capaz de, por si só, captar a atenção até dos menos atentos à política portuguesa. A atual direção do partido está disposta a fazer esse caminho, mesmo depois de ter perdido mais do que um líder.

A questão que se impõe é como o fará, se as ambições de eleger nas autárquicas se vão tornar uma realidade e qual o caminho que será feito para o ataque à Assembleia da República nas próximas legislativas.

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