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O ministro da Saúde, Manuel Pizarro (C), intervém na sessão de apresentação sobre a "Situação epidemiológica da covid-19 em Portugal", esta manhã no Infarmed, em Lisboa, 11 de novembro de 2022. MIGUEL A. LOPES/LUSA
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Esta foi a primeira reunião no Infarmed de Manuel Pizarro enquanto ministro da Saúde

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Esta foi a primeira reunião no Infarmed de Manuel Pizarro enquanto ministro da Saúde

MIGUEL A. LOPES/LUSA

Sem medidas "obrigatórias" e com foco na lição aprendida com a pandemia (e na vacina). O que saiu da primeira reunião de Pizarro no Infarmed

Primeira reunião no Infarmed de Manuel Pizarro terminou sem recomendações para mais medidas, sem debate à porta fechada entre cientistas e peritos mas com uma certeza: a vacinação "faz a diferença".

“Vacinar, vacinar, vacinar e vigiar”. Foi assim — com uma mensagem em tudo semelhante à que saiu da reunião de há um ano — que Manuel Pizarro sumarizou as intervenções dos especialistas na primeira reunião no Infarmed a que assistiu enquanto ministro da Saúde: a situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal está sob controlo e, por isso, o Governo não tenciona implementar medidas obrigatórias para conter o vírus.

A estratégia é confiar na “literacia em saúde” dos portugueses, defendeu o governante, em declarações aos jornalistas à saída do auditório do Infarmed, já depois da reunião desta sexta-feira — que terminou sem debate à porta fechada entre cientistas e decisores políticos porque as apresentações foram suficientemente “esclarecedoras”: “Temos todos a obrigação de ter aprendido alguma coisa com a pandemia.”

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Novas linhagens têm capacidade de fuga ao sistema imunitário “muito superior”

As novas linhagens da variante Ómicron têm uma capacidade “muito superior” às mais antigas para fugirem ao sistema imunitário, avisou na mesma reunião o microbiologista João Paulo Gomes, cientista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) que monitoriza a evolução genética do vírus SARS-CoV-2.

Os estudos mais recentes apontam que, pelo menos no que toca aos anticorpos — que são a primeira linha de defesa do organismo —, uma infeção prévia por outras linhagens do vírus é mais protetora contra a BQ.1.1. e a XBB do que a vacinação bivalente, dirigida às formas originais das variantes BA.4 e BA.5.

Um dos avisos foi dado pelo microbiologista João Paulo Gomes, cientista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA): As novas linhagens da variante Ómicron têm uma capacidade "muito superior" às mais antigas para fugirem ao sistema imunitário.

“O reforço com as bivalentes parece potenciar apenas ligeiramente a resposta imune”, apontou João Paulo Gomes, enquanto “a infeção natural parece ter um efeito protetor mais vincado”. As vacinas, tanto as de primeira geração como as bivalentes (desenhadas para oferecer maior proteção contra duas variantes do novo coronavírus), são “muito eficazes”, mas “menos contra estas linhagens emergentes”.

A BQ.1.1 e a XBB são linhagens da subvariante BA.5 da Ómicron. Os dados apontam que, em Portugal, 27,5% das sequenciações genéticas já correspondem à BQ.1.1. A frequência continua a aumentar e, segundo João Paulo Gomes, isso só tem uma justificação: “É mais transmissível”, embora não pareça ser mais severa.

Quanto à XBB, que é uma “quimera genética” por ter resultado do cruzamento de dois subtipos da BA.2 num indivíduo infetado com ambos os vírus, a frequência aumentou significativamente em Singapura, a ponto de, a meio de outubro, ser responsável por 50% dos novos casos.

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No entanto, o Ministério da Saúde do país esclareceu rapidamente que “não houve evidência de que a subvariante XBB cause doença mais grave do que as variantes anteriores”. Na realidade, “apresentam um risco estimado de hospitalização 30% inferior, em comparação com os casos das variantes Omicron BA.5”.

Task Force quer dar doses de reforço a toda a população acima dos 50 anos até ao fim do ano

A task force para a vacinação contra a Covid-19 vai aumentar a capacidade de trabalho em 10% para que a população elegível para a dose de reforço esteja toda vacinada até ao fim do ano. Carlos Penha-Gonçalves, coronel que coordena o núcleo da vacinação, anunciou que vai ser possível vacinar 322 mil pessoas por semana, quando neste momento são vacinadas 290 mil.

Este aumento não vai implicar uma alteração no tecido de estruturas que efetuam a vacinação contra a Covid-19. Há 395 pontos de vacinação em Portugal Continental, dos quais 322 são estruturas de saúde, 65 são estruturas municipais e oito são estruturas de outro tipo.

Há 395 pontos de vacinação em Portugal Continental, dos quais 322 são estruturas de saúde, 65 são estruturas municipais e oito são estruturas de outro tipo. Carlos Penha-Gonçalves, coronel que coordena o núcleo da vacinação, anunciou que 71,6% da população acima dos 80 anos (cerca de 454 mil pessoas) já recebeu a segunda dose de reforço.

Neste momento, 71,6% da população acima dos 80 anos (cerca de 454 mil pessoas) já recebeu a segunda dose de reforço, 80,1% da população adulta (6,65 milhões de pessoas) já foi vacinada com a primeira e 52,6% das pessoas com 60 anos ou mais (1,9 milhões de pessoas) já receberam a vacina sazonal contra a Covid-19.

Essa “dose de outono” já chegou a 69% dos idosos com 80 anos ou mais, a 68% das pessoas com 70 a 79 anos e a 31% dos indivíduos na faixa etária dos 60 anos. No total, 94,7% das pessoas já receberam pelo menos uma dose da vacina contra a Covid-19. Entre a população infantil, com cinco a 11 anos, quase 371 mil crianças (59,2%) já iniciaram também a vacinação.

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No total, contabilizam-se 597 mil não vacinados em Portugal. A maioria, esclarece o coronel, são crianças abaixo dos cinco anos, que não são elegíveis para a vacinação contra a Covid-19. De resto, 2,6 milhões de pessoas só tem o esquema vacinal primário cumprido. A maior parte dos vacinados já recebeu uma dose de reforço: são 4,7 milhões de pessoas. A elas juntam-se 1,4 milhões que também já aceitaram a segunda dose.

Carlos Penha-Gonçalves fez também um balanço da vacinação contra a gripe e adiantou que quase 1,9 milhões de portugueses (61,5% da população elegível) já estão vacinados contra a doença. O processo está mais avançado na faixa etária acima dos 80 anos, com 72% de vacinados. Há 67% de pessoas vacinadas na casa dos 70 anos e 42% na dos 60.

Estratégia na vacinação não deverá ser “ir atrás” de cada variante, mas criar “mecanismos mais abrangentes”

Também a propósito da vacinação, a intervenção de Carlos Alves, médico infecciologista e membro do Infarmed, ajudou a perceber como é que se deverá lidar com a vacinação face às inúmeras variantes deste vírus que surgem quase diariamente. “Estar vacinado faz a diferença”, sublinhou, reconhecendo que “as medidas não farmacológicas são importantes, mas as medidas farmacológicas tiveram um papel consensual e fizeram a grande diferença na pandemia”.

Desde ontem, temos uma nova vacina proteica. Foi feita a recomendação de aprovação pela EMA (Agência Europeia do Medicamento) e foi aprovada uma vacina de vírus inativados, que está autorizada para esquema de vacinação primária, mas que ainda não foi utilizada em Portugal.”

Sabendo que as vacinas fazem parte da “medida que mais impacto teve na pandemia”, o médico infecciologista explicou que a vacinação é importante em qualquer período, mesmo naqueles em que o risco é menor. E, além disso, é crucial ter a noção de que, tendo em conta as variantes existentes, “não é possível ir atrás da vacina que tem a variante do dia”. “As vacinas mantêm a eficácia para aquilo que é importante, que é prevenir a severidade da doença”, acrescentou.

Carlos Alves, médico infecciologista e membro do Infarmed, explicou que é necessário aumentar a resposta nos idosos e em pessoas com algum grau de imunodepressão e que deverá procurar-se aumentar a durabilidade das vacinas, impedindo assim que seja necessário, em caso de picos de infeções muito próximos, a administração de mais vacinas num curto período.

No contexto atual, que considera não ser preocupante, Carlos Alves explicou aos decisores políticos presentes na sala do Infarmed que é necessário aumentar a resposta nos idosos e em pessoas com algum grau de imunodepressão e que deverá procurar-se aumentar a durabilidade das vacinas, impedindo assim que seja necessário, em caso de picos de infeções muito próximos, a administração de mais vacinas num curto período. Por último, “procurar vacinas que atuem localmente”, para “evitar a infeção e não apenas as consequências, reduzindo a propagação”, deverá ser outra das estratégias.

DGS quer reforçar redes de vigilância sentinela para acomodar a Covid-19

A Direção-Geral da Saúde (DGS) pretende reforçar as redes de vigilância sentinela utilizadas para monitorizar a gripe e outras doenças respiratórias e intensificar a vigilância laboratorial, que foi perturbada nos últimos dois anos por causa da pressão que a Covid-19 exerceu sobre o Serviço Nacional de Saúde.

Em declarações na reunião no Infarmed, Pedro Pinto Leite, especialista em saúde pública da Direção-Geral de Saúde, considerou necessário o reforço dessa vigilância, sobretudo para a gripe, Covid-19 e do vírus sincicial respiratório. 

Pedro Pinto Leite, especialista em saúde pública da DGS, apontou que houve "uma estabilização da infeção e impacto nos serviços e mortalidade reduzido", mas alertou para um aumento dos internamentos em enfermaria que está a ser alimentado pela faixa etária dos 50 anos.

Num balanço à situação epidemiológica da Covid-19 em Portugal, o investigador apontou que houve “uma estabilização da infeção e impacto nos serviços e mortalidade reduzido”, mas alertou para um aumento dos internamentos em enfermaria que está a ser alimentado pela faixa etária dos 50 anos.

Segundo Pedro Pinto Leite, assiste-se agora a um aumento da atividade de infeções respiratórias “com um padrão semelhante ao período pré-pandémico”, o que está a causar mais pressão sobre os serviços de saúde. O grande responsável está a ser o vírus sincicial respiratório, mas ainda não se observa um impacto importante na mortalidade.

70% dos portugueses não estão preocupados com a Covid-19

Sete em cada 10 portugueses estão pouco ou nada preocupados com a pandemia, revelou o inquérito que a Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa realizou e que a investigadora Sónia Dias apresentou na reunião no Infarmed.

Os dados sugerem “alguma normalização da Covid-19 e relativização do risco face a outras áreas da saúde e da vida da população”, interpreta Sónia Dias, mas essa é uma perceção “coerente com a fase atual da pandemia, com a experiência acumulada ao longo dos últimos anos e com o contexto socioeconómico
atual”.

De acordo com o inquérito feito pela Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, os portugueses demonstram-se mais preocupados para o impacto da pandemia na saúde mental (55%), no acesso a cuidados de saúde de rotina (50,9%) e no acesso às urgências (60%).

Aliás, os portugueses demonstram-se mais preocupados para o impacto da pandemia na saúde mental (55%), no acesso a cuidados de saúde de rotina (50,9%) e no acesso às urgências (60%). Mesmo assim, “a maioria das pessoas reporta estar confiante na capacidade de resposta dos serviços de saúde”, avançou a investigadora.

Apesar de a Covid-19 não estar no topo das preocupações dos portugueses, 80% dos inquiridos disseram estar disponíveis para usar máscara e 73% para manter distanciamento físico. Mas pouco mais: 62% não querem medidas que condicionem as relações com família e amigos. Faz sentido, sublinha Sónia Dias: “A dimensão das relações sociais foi precisamente aquela em que foram reportados mais impactos negativos da pandemia, com potenciais efeitos a médio-longo prazo.”

Centros de Saúde ainda não recuperaram impacto negativo da pandemia

Focando a análise nos impactos negativos da pandemia, as pessoas com menores rendimentos são quem reportou mais aspetos negativos — quer em relação à saúde física, à situação económica ou à situação profissional. E são avançados casos: redução do orçamento familiar, perda de emprego, medo e isolamento. Por exemplo, na questão da situação profissional, o inquérito da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa refere que 30% das pessoas cujo salário não ultrapassa os 650 euros reportaram impactos negativos, mas a percentagem é menor, de 19%, nas pessoas que ganham mais de 2.000 euros.

As cinco lições que esta pandemia nos trouxe: da discriminação à importância de tomar decisões transparentes

“A pandemia atual é um exemplo clássico daquilo que os economistas chamam ‘incerteza radical’, que descreve um mundo demasiado complexo para ser adequadamente capturado em modelos”, considerou Henrique Barros, epidemiologista, logo no início da reunião no Infarmed. Este especialista focou o seu discurso nas questões que a pandemia veio mostrar e resolver, definindo então cinco lições que podem ser retiradas destes quase três anos de pandemia em Portugal.

Primeiro, sabemos agora, e de forma detalhada e comprovada, “a resposta deve dar prioridade às desigualdades”. Existe, aliás, um “risco aumentado nos migrantes, com casos graves” identificados.

"A vigilância eficaz é a chave para uma resposta eficaz", referiu Henrique Barros, epidemiologista, logo no início da reunião no Infarmed. E acrescentou que "é preciso investir na melhoria" da aplicação StayAway Covid, que está, aliás, indisponível. 

Outra das lições que pode ser retirada é a que “as vacinas são indispensáveis, mas não suficientes”. Ou seja, existem ainda algumas limitações se olharmos para a vacinação como a única estratégia de resposta às infeções e ao aumento do número de casos. Por exemplo, se a vacinação for a única medida, existe a “possibilidade de escape imunitário”, explicou o epidemiologista, acrescentando que pode acontecer também, no limite, uma hesitação vacinal, assim como a perda de imunidade, quer individual, quer comunitária.

Continuando nas lições aprendidas, Henrique Barros considerou que existe, neste momento, a garantia de que “decisões transparentes, informadas por evidências, geram confiança”.

Além disso, e falando numa quarta lição, “a vigilância eficaz é a chave para uma resposta eficaz”. E foi neste contexto que foi referida a importância da aplicação StayAway Covid, que foi, aliás, muito criticada quando foi criada — quer pelas limitações que tinha quer pelo investimento que o seu desenvolvimento implicou.

Fim da linha para a aplicação StayAway Covid: responsáveis aconselham a desinstalação

Aqui, Henrique Barros comparou a resistência que milhares de portugueses tiveram em relação à instalação da aplicação StayAway Covid, para rastrear as infeções em Portugal, com a Revolução Industrial. “Parece que as pessoas tinham medo que a máquina lhes tirasse o lugar”, referiu. E acrescentou, enquanto António Costa, que assistia à reunião, acenava em jeito de confirmação: “É preciso investir na melhoria desta aplicação.” No entanto, apesar da recomendação, esta aplicação ficou indisponível em setembro deste ano, pelo que não poderá ser utilizada, pelo menos para já, para vigilância.

Por último, e já no fim da sua intervenção, o epidemiologista sublinhou que “a pandemia não será resolvida isoladamente” e que estas lições deverão servir “como orientação estratégica a seguir”, tal como, aliás, indicaram outros especialistas que falaram na reunião desta sexta-feira.

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