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AFP/Getty Images

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Será que homens e mulheres têm cérebros diferentes?

Por que é que há pessoas que se lembram dos seus sonhos e outras não? Em que pensamos quando não estamos a pensar em nada? São 7 perguntas e respostas sobre o funcionamento do nosso cérebro.

São 85 mil milhões de neurónios, mais de cem mil milhões de outras células e muitos biliões de conexões. O cérebro, com toda a sua complexidade, é o órgão responsável por todos os nossos comportamentos e emoções. Sim, mesmo aqueles para os quais não encontramos, à partida, explicação.

No livro “Por que é que as bailarinas não ficam com a cabeça a andar à roda? … e outras 59 perguntas sobre o cérebro e o seu funcionamento”, as jornalistas de ciência Filomena Naves e Teresa Firmino apresentam as respostas a um conjunto de questões e curiosidades, tendo por base estudos feitos por neurocientistas de todo o mundo. Nem sempre é preto no branco. Há explicações ainda provisórias ou incompletas, mas que nos permitem perceber um pouco melhor certas questões. O Observador publica sete das 60 perguntas e respostas.

Já agora, sabe por que é que as bailarinas conseguem rodopiar sem parar e não ficar tontas no final? É porque a estrutura do cérebro dos bailarinos é alterada devido aos anos de treinos, de tal forma que o seu sentido de equilíbrio fica adaptado a todas aquelas voltas. Basicamente, são anulados os sinais que o sistema vestibular — no ouvido interno — envia ao cérebro sobre o desequilíbrio do corpo causado pelas voltas.

“Por que é que as bailarinas não ficam com a cabeça a andar à roda?”, de Filomena Naves e Teresa Firmino (A Esfera dos Livros)

Cmoo é que o crberéo cnosgeue ler etsa farse?

Mesmo com as letras trocadas, conseguimos perceber o que está escrito nesta frase. Uma das razões é esta: a primeira e a última letra de cada palavra mantêm‐se no lugar certo, apesar de as outras estarem baralhadas. Esse não é o único segredo para se compreenderem palavras com gralhas ortográficas – há algumas regras simples.

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Em Setembro de 2003, um texto que começou a circular pela Internet tornou‐se viral. Estava escrito em inglês, com letras trocadas, e contava que um investigador tinha dito que a ordem das letras numa palavra não importava desde que a primeira e a última estivessem no sítio correto. O resto, dizia ainda o texto, podia ser uma confusão total que, mesmo assim, conseguiríamos lê‐lo sem problema e que isto acontecia porque a mente humana não lia todas as letras individualmente mas as palavras como um todo.

Logo nessa altura, um investigador da Unidade de Ciências Cognitivas e do Cérebro do Medical Research Council britânico, Matt Davis, deu‐se ao trabalho de ir ver se a história era mesmo como a contavam, à luz do que já tinha sido publicado sobre o cérebro e o processamento da linguagem. Nalgumas partes da mensagem há um fundo de verdade, noutras não é bem como lá se dizia, concluiu Matt Davis, que estuda o que ocorre no cérebro quando processamos a linguagem verbal e escrita, e divulgou os resultados da sua pesquisa na página pessoal na Unidade de Ciências Cognitivas e do Cérebro, em Cambridge.

Manter a primeira letra e a última tem importância, mas a ordem pela qual as letras do meio da palavra aparecem não é irrelevante. Pode ser difícil perceber frases com palavras que tenham letras misturadas se, por exemplo, com as mesmas letras se puderem formar palavras diferentes (como preto e perto).

Quais são então as regras para que o crberéo sjea cpaaz de ler etsa farse? Além de palavras cujas letras não formem outras palavras, as palavras pequenas são mais fáceis de ler, uma vez que assim há duas ou três letras que não mudam e as do meio não fazem tanta mossa na compreensão da leitura.

Quais são então as regras para que o crberéo sjea cpaaz de ler etsa farse? Além de palavras cujas letras não formem outras palavras, as palavras pequenas são mais fáceis de ler, uma vez que assim há duas ou três letras que não mudam e as do meio não fazem tanta mossa na compreensão da leitura.

Geralmente, as palavras funcionais ou gramaticais – artigos (o, um…), pronomes (eu, tu…), preposições (em, com, por…) ou conjunções (mas, e…) –, que servem de elementos de ligação na frase, mantêm‑­se quase na mesma, até porque também são pequenas. «Isto ajuda realmente o leitor a preservar a estrutura gramatical do original, ajudando a perceber a palavra que se segue», explica Matt Davis. «Isto é particularmente crucial na leitura de textos baralhados – as palavras previsíveis são mais fáceis de ler nesta situação.»

A troca de letras adjacentes é mais fácil de ler do que a troca de letras mais distantes, exemplifica Matt Davis (porbelma em vez de pbrolema). Tentar manter o som da palavra original e ter um texto que seja relativamente previsível são outros segredos de uma leitura facilitada nestas condições.

Num aspecto, o investigador diz que a mensagem que circulou na Internet estava correcta: geralmente, não lemos individualmente cada letra de uma palavra, excepto numa forma de dislexia rara, a leitura letra‑­a‑­letra ou alexia pura.

Seguindo estas regras, é fácil ao cérebro interpretar o que devia estar escrito numa frase com as letras baralhadas. Agora que já sabemos as regras básicas, por que não deitar mãos à obra e inventar um texto? Boa srote!

Por que é que há pessoas que se lembram dos seus sonhos e outras não?

Durante o sono, os sistemas de memória que usamos no estado de vigília não estão activados e, por causa disso, não podemos lembrar‑­nos dos sonhos. Apenas se acordarmos a meio de um sonho, ou logo a seguir, pode haver memória dele. Mas esta é só a ideia geral, que não conta a história toda. A verdade é que há pessoas que se lembram com frequência dos seus sonhos, enquanto a outras isso só acontece muito raramente, ou mesmo nunca, o que as leva a acreditar que não sonham – o que não é verdade.

Curiosa acerca desta diferença, para a qual não havia uma boa explicação, a investigadora francesa Perrine Ruby, do Centro de Investigação em Neurociências de Lyon, decidiu mergulhar na questão e idealizou uma experiência que lhe permitiu olhar para dentro do cérebro de uns e de outros, enquanto dormiam, utilizando a tomografia por emissão de positrões.

O que a investigadora e a sua equipa verificaram foi que as pessoas que se lembram com frequência dos seus sonhos acordam o dobro das vezes das outras a quem isso raramente acontece e, também, que há coisas diferentes a acontecer no cérebro de uns e de outros.

A chave está em duas zonas cerebrais específicas: o córtex pré­‑frontal interno e a junção temporoparietal, esta última associada à atenção orientada para os estímulos externos. Estas duas regiões estão mais activas – tanto a dormir, como no estado de vigília – nas pessoas que tendem a lembrar­-se dos seus sonhos, descobriram os investigadores franceses, que publicaram os resultados do seu trabalho no início de 2014, na revista Neuropsychopharmacology. Por acordarem mais vezes durante o sono, estas pessoas lembrar­-se‑iam mais dos seus sonhos.

As pessoas que se lembram com frequência dos seus sonhos acordam o dobro das vezes das outras a quem isso raramente acontece e, também, que há coisas diferentes a acontecer no cérebro de uns e de outros.

«Isto poderá explicar por que as pessoas que se lembram muitas vezes dos seus sonhos são mais reactivas aos estímulos do ambiente, acordam mais vezes durante o sono e, por causa disso, inscrevem melhor os seus sonhos na memória, em relação às outras pessoas que pouco se lembram deles», diz Perrine Ruby. «O cérebro adormecido não consegue memorizar informação nova, precisa de estar acordado para poder fazer isso», sublinha ela.

Em aberto, os investigadores deixam, no entanto, a hipótese de esta não ser ainda a história toda. «Os nossos resultados não excluem de modo algum que também haja diferenças na própria produção de sonhos», sugerem. «É bem possível que as pessoas que se lembram mais dos seus sonhos também sonhem mais», conclui a equipa.

Estes resultados poderiam ajudar, aliás, a explicar por que é que às vezes conseguimos lembrar­-nos mais facilmente dos sonhos ao acordar de manhã: antes de despertar, a fase de sono paradoxal, durante a qual acontecem geralmente os sonhos, é também mais intensa e, provavelmente, mais povoada de sonhos.

O que acontece no cérebro dos apaixonados?

Quando Romeu, já a meio da peça, e perdidamente apaixonado, avista Julieta (e vice­‑versa), é tomado pelo estado emocional que corresponde à sua paixão (e vice­‑versa). Esse é um estado, dizem hoje os neurocientistas, que acontece em menos de um segundo: mais precisamente num quinto de segundo. O estado de paixão é tão poderoso porque activa em todos os Romeus e Julietas várias zonas do cérebro que estão envolvidas em processos e funções tão diversas como a libertação de químicos, a imagem do corpo ou a memória. Entre as regiões cerebrais convocadas pela paixão estão, por exemplo, o núcleo caudado e o putâmen, localizados no interior do cérebro. O primeiro está associado, entre outras funções, à representação de objectivos, à detecção de recompensas e expectativas, e à preparação para agir num determinado sentido. O segundo está principalmente ligado à parte motora, e os dois têm uma curiosa particularidade: também são activados por substâncias como a cocaína, com a euforia que acompanha o seu consumo – tal como a paixão induz a sua própria euforia.

Foram investigadores de várias universidades norte‑­americanas e de um hospital suíço que desvendaram esta neurobiologia da paixão, quando decidiram responder a esta pergunta em 2009. Para o fazer, tiveram de passar em revista todos os estudos feitos até então nessa área com recurso à imagiologia cerebral por ressonância magnética funcional, uma técnica para visualizar as áreas cerebrais activadas em diferentes situações de relação amorosa, como o amor apaixonado, o amor compassivo (entre um casal não apaixonado, por exemplo) ou o amor incondicional, que caracteriza o amor maternal.

12 zonas diferentes do cérebro estão envolvidas em rede na emoção complexa do amor apaixonado. Essas 12 áreas são as que estão ligadas às emoções, à motivação, à recompensa, e também a funções cognitivas superiores, como a atenção, a auto‑­imagem ou a auto‑­representação.

A investigação foi coordenada pela neuropsicóloga Stephanie Ortigue, da Universidade de Syracuse, nos Estados Unidos, e os resultados, que foram publicados em Agosto de 2010 na revista Journal of Sexual Medicine, mostraram que 12 zonas diferentes do cérebro estão envolvidas em rede na emoção complexa do amor apaixonado.

Essas 12 áreas são as que estão ligadas às emoções, à motivação, à recompensa, e também a funções cognitivas superiores, como a atenção, a auto‑­imagem ou a auto‑­representação. Todas elas se «acendem», numa complexa rede de interacções neuronais, quando esse estado é desencadeando, o que mostra que o amor «não é uma emoção básica, como tem sido descrita, mas complexa, envolvendo motivações direccionadas para objectivos, imagens do corpo, cognição e apreciação», escreveram os autores.

Mas não é tudo. Nos cérebros das pessoas apaixonadas também acontece uma diminuição significativa de actividade em áreas como a amígdala, que, pelo contrário, se «iluminam» (mostram mais actividade) quando as pessoas sofreram recentemente, ou estão ainda a sofrer, um desaire amoroso, como uma separação.

A equipa avaliou também o amor compassivo e o amor maternal e incondicional, que não espera retribuição, e verificou que eles convocam diferentes redes neuronais, incluindo a região central do cérebro, em relação às que estão envolvidas na paixão. Este último nasce na área cerebral responsável pela sensação de recompensa, e estende-­se a todas as outras, incluindo as que estão envolvidas em funções cognitivas, como a produção de imagens do corpo, num verdadeiro incêndio apaixonado, que em casos como o de Romeu e Julieta, em que o amor é contrariado pelas famílias, pode acabar muito mal.

Por que temos uma sensação estranha quando pisamos uma escada rolante que está parada?

As escadas rolantes (e as passadeiras) já entraram há muito no nosso quotidiano, mas às vezes avariam‑­se e param – tantas vezes, não é? E por isso é bem possível que já todos tenhamos experimentado uma ou outra vez aquela sensação estranha quando pisamos uma escada rolante que está parada. Não dura mais do que umas fracções de segundo, mas o facto é que acontece. Vimos bem que a escada rolante estava parada mas, mesmo assim, não podemos evitar uma curiosa sensação de movimento em falso.

Intrigado com o fenómeno, um grupo de psicólogos e de neurocientistas japoneses – pelos vistos não é só cá que as escadas rolantes têm a mania de avariar – decidiu, em 2009, levar a questão muito a sério e concebeu uma experiência com escadas rolantes paradas e escadas de madeira com degraus da mesma dimensão, e convidou uma série de pessoas a subi‑­las, perguntando‑­lhes depois se tinham tido a tal sensação estranha. Para terem dados mais objectivos e um termo de comparação, mediram também os movimentos do corpo das pessoas no momento em que começavam a subir as escadas.

O que acontece, na prática, é que o cérebro registou e aprendeu nas suas experiências anteriores que as escadas rolantes estão em movimento, por isso, no momento em que a pessoa se prepara para as pisar, põe em marcha o programa motor adequado à escada rolante. A activação de forma automática e inconsciente deste programa motor específico induz um comportamento motor desadequado à situação e isso acaba por causar a tal sensação estranha.

A conclusão do estudo pode ser resumida assim: a sensação estranha é causada por uma partida que o cérebro nos prega. O que acontece, na prática, é que o cérebro registou e aprendeu nas suas experiências anteriores que as escadas rolantes estão em movimento, por isso, no momento em que a pessoa se prepara para as pisar, põe em marcha o programa motor adequado à escada rolante. A activação de forma automática e inconsciente deste programa motor específico induz um comportamento motor desadequado à situação e isso acaba por causar a tal sensação estranha.

A medição dos movimentos das pessoas ajudou a confirmar que é isso que se passa. Para podermos pisar uma escada rolante em movimento, temos de compensar a velocidade a que ela se move, pelo que antes de isso acontecer aceleramos o passo e fazemos um movimento para a frente com o corpo. Se a escada rolante estiver parada, saímo­-nos mal. Mas é assim que o cérebro funciona. Produto de milhões de anos de evolução, é um sistema extremamente complexo que utiliza a informação que lhe chega para construir o presente e para prever o futuro. No caso das escadas rolantes paradas, o cérebro antecipou automaticamente o movimento, passando por cima do input sensorial imediato, cuja informação era a de que não havia ali qualquer movimento.

«Os resultados sugerem que existe aqui uma dissociação entre a percepção consciente e o controlo motor subconsciente: o primeiro torna‑­nos perfeitamente conscientes da situação real, mas o segundo entra em acção automaticamente em resultado de uma informação visual aprendida anteriormente, independentemente de ser inadequado na situação», concluem os cientistas. É só uma das muitas partidas que o nosso cérebro nos prega de vez em quando.

Por que temos sensações de déjà vu?

São momentos raros, mas causam­-nos sempre uma intensa estranheza. Estamos à mesa, num animado jantar com um grupo de amigos e aquilo acontece, a sensação vívida e poderosa de que já passámos por aquilo. Ou estamos a chegar de carro a uma cidade onde nunca estivemos e, vinda do nada, surge aquela impressão de já termos estado ali, que dura apenas uns segundos e depois se desvanece. Em ambos os casos, sabemos que aquilo não é possível e, no entanto, está a acontecer.

O fenómeno é real e reconhecido como tal desde há séculos. Santo Agostinho referiu‑­se‑­lhe, no ano 400, chamando‑lhe falsae memoriae, escritores como Charles Dickens, Lev Tolstói ou Marcel Proust evocaram esses momentos impressivos e fugazes, mas só em 1844 o fenómeno ganhou atenção médica, pela mão do psiquiatra britânico Arthur Ladbroke, que se lhe referiu como «um sentimento de pré­ ‑existência». E, claro, foi um francês que cunhou a expressão, embora haja diferentes versões sobre a paternidade da designação. Uns garantem que foi o neurologista F. L. Arnaud, que em 1896 propôs durante um encontro científico que se unificasse sob a expressão déjà vu um conjunto vasto de designações que estava então muito em voga, como fantasmas da memória, miragem mental ou memória antecipada, entre muitas outras.

Outros defendem, no entanto, que a expressão já tinha sido usada anteriormente por um outro francês, Émile Boirac (1851‑­1917), um professor universitário estudioso dos fenómenos psíquicos e republicano convicto, defensor do esperanto como língua universal, numa carta publicada na revista Review Philosophique, em 1876.

Seja qual for a verdade, o fenómeno também chegou a atrair a atenção de Sigmund Freud, que o considerou, sem grande surpresa, diga‑­se, como uma manifestação inconsciente de um desejo sexual reprimido.

A natureza subjectiva do déjà vu, o facto de ocorrer quando menos se espera e a emergência de uma série de explicações mais ou menos esotéricas, como a de serem memórias de vidas passadas, tornou o tema difícil para a ciência, que por isso o ignorou durante grande parte do século xx. Até que, em 1983, o neuropsiquiatra americano Vernon M. Neppe resolveu debruçar‑­se sobre ele. Definiu o fenómeno como «qualquer impressão inapropriada de familiaridade de uma experiência presente, relativamente a um passado indefinido» e com isso operacionalizou um conceito passível de ser utilizado por psicólogos, psiquiatras e neurologistas.

Hoje sabe‑­se que 60 a 70 por cento das pessoas já passaram por esta sensação, o que significa que ela ocorre naturalmente sem estar ligada a nenhuma perturbação neurológica, que é mais frequente durante a juventude, tornando­‑se depois progressivamente mais rara, e que também pode estar associada a momentos de maior fadiga.

Outros estudos mostraram que pessoas que sofrem de epilepsia relacionada com o lobo temporal têm episódios de déjà vu mais frequentes que, por vezes, prenunciam um ataque epiléptico. Além disso, a estimulação directa dessa zona do cérebro com eléctrodos pode ter exactamente esse efeito também, mas a verdade é que não há ainda uma explicação consensual para o fenómeno. Não se sabe sequer se há uma única causa, ou várias. Os especialistas dividem‑­se entre várias hipóteses. Uma delas é a de que um inesperado curto­‑circuito entre o sistema sensorial e a memória leva o cérebro a tomar por memória algo que é apenas uma percepção do momento, devido a um desfasamento entre os sinais de ambos os sistemas.

A verdade é que não há ainda uma explicação consensual para o fenómeno. Não se sabe sequer se há uma única causa, ou várias. Os especialistas dividem‑­se entre várias hipóteses. Uma delas é a de que um inesperado curto­‑circuito entre o sistema sensorial e a memória leva o cérebro a tomar por memória algo que é apenas uma percepção do momento.

Outra hipótese propõe que tudo acontece na própria memória: um curto­‑circuito (mais um) de alguma forma mistura momentaneamente os circuitos da memória de curto prazo com os da memória de longo prazo, causando a incorrecta sensação de familiaridade de uma determinada situação.

Uma terceira hipótese, ainda, diz que uma percepção fugaz de algo que apenas ficou registado a nível subconsciente numa determinada situação, porque a pessoa tem a atenção focada noutra coisa, quando volta a ser percepcionada desencadeia então a sensação de uma cena já vivida. Esta última hipótese foi testada pelo grupo da psicóloga cognitiva Anne Cleary, da Universidade do Estado do Colorado, que construiu dois cenários idênticos, embora com elementos diferentes entre si, e pediu a um grupo de estudantes que explorasse primeiro uma das salas e, em seguida, a outra. Uma parte dos participantes relatou depois momentos de déjà vu. «As pessoas têm um aumento de sensações de déjà vu quando o cenário é idêntico, mas não conseguem aperceber‑­se do que causa essa familiaridade», explica a psicóloga.

Como dizem os próprios especialistas, é preciso continuar a estudar a questão. Se o leitor faz parte dos 70% da população a quem ocorre naturalmente esta sensação, pode ficar descansado, não há qualquer problema consigo e um déjà vu é sempre um momento com algum frisson. Se pertence àquela minoria que não tem a mínima ideia do que estamos a falar, deixe lá, há coisas piores.

Em que pensamos quando não estamos a pensar em nada?

Este é um velho mistério e, como acontece em relação a muitas outras questões sobre o cérebro, antes de existirem as tecnologias que permitem observar o seu funcionamento em directo, como a imagiologia por ressonância magnética, ou a tomografia de emissão de positrões, os investigadores só podiam basear-­se nos electroencefalogramas (EEG), que medem as ondas eléctricas cerebrais, para tentar adivinhar o que acontece quando a mente vagueia, entregue a si própria e aos seus devaneios. Hoje sabe­‑se que há ali muita coisa a acontecer, mesmo quando estamos só a sonhar acordados, a pensar nas compras do supermercado ou a lembrar­‑nos de uma qualquer conversa do dia anterior, à mesa do café.

Na verdade, o cérebro nunca pára, nem mesmo enquanto dormimos, embora a sua actividade seja diferente durante esse período. Os circuitos que controlam funções vitais como a respiração ou as batidas cardíacas, por exemplo, têm de estar sempre a trabalhar, dia e noite. Mas, desde os anos de 1990, depois da entrada em cena da imagiologia cerebral, os neurocientistas sabem que há muito mais a acontecer. Mesmo quando não estamos a pensar em nada, isto é, quando sonhamos acordados, sem nenhuma tarefa intelectual em mãos, existe sempre uma actividade cerebral de fundo, que é permanente, e à qual os especialistas se referem como o cérebro em estado de repouso durante o período de vigília.

«No modo stand by, o cérebro não está parado», diz Lynn Nadel, psicólogo e neurologista da Universidade do Arizona. «Começamos a perceber que há sempre alguma actividade no cérebro. Quando pedimos às pessoas durante uma ressonância magnética que não façam nada, e estejam só ali, acontece vermos activadas as zonas que ajudam a evocar memórias de cenas e acontecimentos e que também estão associadas ao imaginar do futuro.»

Nesse modo de funcionamento cerebral, em que o afluxo sanguíneo é apenas cinco a 10% menor do que nas situações em que há uma tarefa intelectual a cumprir, como resolver um puzzle ou um problema no trabalho, várias zonas do córtex estão em comunicação entre si, com circuitos neuronais activos. Algo que se assemelha a uma espécie de ruído de fundo, como uma sala cheia de gente que conversa entre si antes do início de um concerto, ou como um carro que fica a trabalhar durante uns minutos, antes de o condutor o pôr em marcha.

«No modo stand by, o cérebro não está parado», diz Lynn Nadel, psicólogo e neurologista da Universidade do Arizona. «Começamos a perceber que há sempre alguma actividade no cérebro. Quando pedimos às pessoas durante uma ressonância magnética que não façam nada, e estejam só ali, acontece vermos activadas as zonas que ajudam a evocar memórias de cenas e acontecimentos e que também estão associadas ao imaginar do futuro.»

Para os neurocientistas, porém, não é muito claro para que serve exactamente esse estado dito de repouso, em que o cérebro parece estar a meio gás, em modo de espera. Há várias hipóteses possíveis para justificar este tipo de funcionamento cerebral, mas não existe uma ideia clara que reúna o consenso da generalidade dos cientistas. Como dizia à revista Nature, em Agosto de 2012, o especialista em imagiologia cerebral Amir Shmuel, da Universidade McGill, em Montreal, no Canada, «estamos ainda muito no princípio, o que temos são sobretudo algumas hipóteses».

Quando se descobriu, em meados dos anos de 1990, esta actividade de fundo que nas imagens obtidas por ressonância magnética funcional se traduzia em flutuações de baixa frequência no cérebro, houve quem pensasse que aquela podia ser a assinatura da actividade cerebral da consciência, mas a ilusão não durou muito. «Quando comecei a observar esta rede de comunicação [no estado de repouso], convenci­‑me de que tínhamos tocado na corrente de consciência e que aquilo era o processo da consciência a acontecer em tempo real», confessou à revista Nature o neurocientista Michael Greicius, da Universidade de Stanford, na Califórnia, que começou a trabalhar nesta área do funcionamento cerebral em estados de repouso em 2002. Mas cedo se percebeu, com a continuação dos estudos, que aqueles padrões de actividade cortical afinal também estão presentes em estados de consciência alterada ou sob o efeito de anestesia. Não se tratava, portanto, da consciência, ou pelo menos, não da sua essência.

Sem uma resposta definitiva para explicar estes padrões de actividade no cérebro que surgem quando não estamos a pensar em nada, os cientistas têm outras hipóteses entre mãos. Uma delas é que o modo de stand by mantém o cérebro preparado para responder rapidamente a qualquer tipo de estímulo, como já vimos.

Marcus Raichle, da Universidade de Washington, em Saint Louis, nos Estados Unidos, em 2001 descreveu este estado de repouso: «É como um padrão de base organizado do funcionamento do cérebro, que se suspende durante comportamentos específicos orientados para um objectivo», explicou. Para este autor, isso poderá ajudar o cérebro a manter a organização no meio das mudanças constantes de novos circuitos neuronais, que a aprendizagem de novos conhecimentos ou a experiência da vida induzem em permanência. Essa actividade de base, que põe diferentes áreas do cérebro a conversar entre si, ajudaria assim a manter uma continuidade do todo.

A consolidação de memórias, com a transferência das mais recentes para o arquivo de longo prazo, é outra possibilidade. Sabe­‑se que uma boa parte destas tarefas de arquivamento são processadas durante o sono, mas há provas de que nos cérebros dos ratinhos isso ocorre também durante a vigília, sempre que o cérebro tem uma aberta para se entregar a esse processamento. É possível, portanto, que isso também ocorra com os seres humanos.

Para alguns cientistas, como Eugenio M. Rothe, um psiquiatra da Universidade Internacional da Florida, é bem possível que este seja um dos mecanismos da criatividade, ao pôr em contacto ideias, memórias e pedaços de informação que estão em diferentes pontos e circuitos neuronais e que de outra maneira não se encontrariam uns com os outros.

Outra possibilidade ainda, como sugere Alfred Kaszniak, psicólogo e investigador da Universidade do Arizona, é a de que o cérebro esteja a fazer a sua própria computação, ou a organização do self, cuidando de manter a continuidade da própria identidade, lembrando o passado, imaginando o futuro, passando em revista as coisas próprias.

Seja qual for a hipótese verdadeira, uma delas, uma mistura de todas ou de algumas, ou até a de ser apenas uma espécie de produto colateral do funcionamento do cérebro, sem nenhuma função especial, mesmo quando não pensamos em nada, há sempre algo a acontecer no nosso cérebro: uma conversa de fundo entre as várias zonas cerebrais, algumas bastante afastadas entre si. E para alguns cientistas, como Eugenio M. Rothe, um psiquiatra da Universidade Internacional da Florida, é bem possível que este seja um dos mecanismos da criatividade, ao pôr em contacto ideias, memórias e pedaços de informação que estão em diferentes pontos e circuitos neuronais e que de outra maneira não se encontrariam uns com os outros. «É uma ajuda à criatividade, e podem surgir assim novas soluções para um problema que a pessoa não tinha considerado antes», afirmou Eugenio Rothe à National Geographic, em Julho de 2013. Muitas vezes, é nessas alturas, quando não estamos a pensar em nada, que nos surgem as melhores ideias. Quando mais nada nos ocorre, sonhar acordado pode ser a melhor fonte de ideias.

Os homens e as mulheres têm cérebros diferentes?

Há quem jure a pés juntos que sim, que são distintos, e há quem diga que não, que é a educação que desencadeia as diferenças.

Os estudos das neurociências que têm olhado para esta questão mostram que há diferenças, mas também que a resposta a esta pergunta não é a preto e branco – parece haver sobretudo diferenças na dimensão de algumas estruturas cerebrais específicas, ou na forma como os cérebros deles e delas organizam os seus circuitos, o que depois se repercute em diferenças no comportamento. Mas as certezas ficam­-se essencialmente pela constatação dessa realidade, e não faltam sequer vozes a contestar que isso seja produto da natureza, defendendo que poderão ser apenas resultado da educação. Certo, certo é que esta é uma questão sobre a qual as neurociências ainda só estão a dar os primeiros passos.

Se falarmos, por exemplo, daquelas ideias tão em voga, segundo as quais os homens praticamente têm mapas na cabeça, enquanto as mulheres, comparadas com eles, são umas pobres desorientadas que se perdem se as deixam sozinhas, ou que elas são umas barras em multitasking, e conseguem fazer uma data de coisas ao mesmo tempo (pôr a roupa a lavar enquanto fazem o jantar, dar banho aos filhos e preparar mentalmente as aulas do dia seguinte, uff… cansa só de enumerar), enquanto os homens só conseguem fazer uma coisa de cada vez, tudo isto tem mais que se lhe diga.

Há estudos sobre a orientação espacial, por exemplo, que mostram que esse desempenho pouco varia em função do género e que algumas mulheres até conseguem melhores resultados do que alguns homens em tarefas de orientação. E há também os que dizem o contrário. Por exemplo, as conclusões de uma investigação publicada em Dezembro de 2015 por cientistas da Universidade Norueguesa de Ciência e Tecnologia sobre este tema da orientação espacial apontam para que homens e mulheres usam diferentes estratégias que recrutam regiões cerebrais também diferentes. Segundo esse trabalho, os homens baseiam a sua noção de direcção nos pontos cardeais, enquanto as mulheres usam sobretudo referências familiares ou visuais para encontrar o caminho para um determinado sítio.

Os estudos das neurociências que têm olhado para esta questão mostram que há diferenças, mas também que a resposta a esta pergunta não é a preto e branco – parece haver sobretudo diferenças na dimensão de algumas estruturas cerebrais específicas, ou na forma como os cérebros deles e delas organizam os seus circuitos, o que depois se repercute em diferenças no comportamento.

Nas imagens obtidas por ressonância magnética, enquanto os voluntários (18 homens e 18 mulheres) jogavam um jogo de orientação em 3D, o grupo de investigação coordenado pelo médico e neurocientista Carl Pintzka, daquela universidade norueguesa, verificou que tanto eles como elas recrutam uma parte substancial do cérebro quando estão a realizar esse tipo de tarefas, mas algumas das regiões não são as mesmas. Os homens usavam mais o hipocampo, por exemplo, enquanto as mulheres utilizavam mais as áreas do córtex frontal. Nada que surpreendesse Carl Pintzka, uma vez que «o hipocampo é necessário para seguir direcções segundo os pontos cardeais», como ele próprio afirmou, citado num comunicado da sua universidade.

Um dado objectivo, comprovado e incontestável, é o do tamanho do cérebro. Em média, o cérebro humano pesa entre 1,3 e 1,4 quilos, o que corresponde grosso modo a 2% do peso total de uma pessoa, e o cérebro dos homens é em geral entre 8 e 13% maior do que o cérebro das mulheres. Mas o que é que isto significa exactamente?

Na prática, terá algo a ver com a proporcionalidade corpo­ ‑cérebro – os homens tendem, em média, a ser maiores do que as mulheres, mas dizer isto parece pouco, até porque esta é uma característica comum a todos primatas, sejam eles humanos, macacos, gorilas ou chimpanzés.

Em média, o cérebro humano pesa entre 1,3 e 1,4 quilos, o que corresponde grosso modo a 2% do peso total de uma pessoa, e o cérebro dos homens é em geral entre 8 e 13% maior do que o cérebro das mulheres.

Um estudo realizado em 2015 por investigadores da Universidade de Cambridge que seguiu esta pista chegou à conclusão de que haverá aqui uma influência hormonal durante a gestação: aqueles poucos gramas de diferença estarão relacionados com o estrogénio que, tal como descobriu a equipa de Cambridge, diminui a actividade dos genes que determinam o tamanho do cérebro. O motivo pelo qual a selecção natural fez esta escolha continua, no entanto, a ser um grande mistério.

Não é o único, claro. Parece fazer sentido que durante o desenvolvimento do feto as condições de gestação, incluindo as hormonais, influenciem o desenvolvimento do cérebro. Isso poderia, por outro lado, ajudar a explicar algumas tendências marcadas que se observam na predisposição para diferentes patologias do foro neurológico e neuropsiquiátrico entre rapazes e raparigas, e entre homens e mulheres. Como explica o neurocientista espanhol Óscar Marín, director do Centro de Perturbações do Neurodesenvolvimento do King’s College de Londres, «existem facetas do desenvolvimento do cérebro que são dimórficas», ou seja, diferentes para os dois sexos.

«Há células que durante o desenvolvimento do cérebro respondem de forma diferente, por exemplo, a hormonas, ou a outro tipo de influências externas», explicou o especialista em entrevista ao diário espanhol El País, em Fevereiro de 2017. Na sua opinião, isso poderia até estar na origem da diferente incidência nos dois sexos de problemas como o autismo, logo na primeira infância, ou de doenças como a de Alzheimer, muito mais tarde na vida. O primeiro atinge cinco vezes mais os rapazes, enquanto a doença de Alzheimer afecta duas vezes mais as mulheres, em comparação com os homens. Não há ainda nenhuma boa explicação para estas diferenças, mas Óscar Marín pensa que isso pode radicar nessa fase precoce da gestação, em que «há janelas de vulnerabilidade», como lhes chama.

No caso do autismo, por exemplo, «talvez as mulheres estejam protegidas por alguma das hormonas que se expressam apenas nos seus cérebros e não nos dos homens», sugere o neurocientista, defendendo que «deverá existir uma vulnerabilidade em certos períodos que são especialmente críticos no desenvolvimento do cérebro e que fazem com que, de alguma maneira, o cérebro dos rapazes esteja exposto a mais influências» no caso do autismo.

Para Óscar Marín, «não há», de resto, «qualquer dúvida» de que os cérebros dos homens e das mulheres são diferentes. «Há certas estruturas que são maiores no cérebro de uma mulher do que no cérebro do homem», diz, sublinhando, que «no hipotálamo, por exemplo, há núcleos que controlam alguns dos nossos comportamentos primários que são diferentes, e nas amígdalas cerebrais também há certas diferenças». Sobre o alcance dessas diferenças, no entanto, Óscar Marín não se alonga muito. Quando muito, diz, «isso explica em certa medida por que nos comportamos de uma maneira ou de outra». As coisas «são como são», resume. «Homens e mulheres têm ambos mamas, mas desenvolvem‑­nas de maneira diferente.»

Numa tentativa de lançar mais luz sobre esta questão complexa e multifacetada, um grupo de investigadores da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, decidiu olhar para o funcionamento cerebral e para a forma como os circuitos neuronais se organizam nos cérebros deles, e nos delas. Seriam diferentes, perguntaram‑­se.

Usaram uma técnica de imagiologia chamada «imagem por tensores de difusão», que permite visualizar a difusão da água nos tecidos e dessa forma traçar as vias de conexão entre as diferentes regiões do cérebro, no que os cientistas designam como conectoma. Lançaram­‑se ao problema e acabaram por ter uma enorme surpresa.

Com um total de 949 voluntários (521 do sexo feminino e 428 sexo masculino, de idades entre os oito e os 22 anos), o grupo coordenado pela investigadora Ragini Verma fez o mapeamentos dos respectivos circuitos neuronais – uma espécie de mapa das estradas através das quais se faz o tráfego da informação – e descobriu que esses mapas são mesmo diferentes nos homens e nas mulheres. Enquanto elas têm, em média, mais interligações entre os hemisférios esquerdo e direito, eles apresentam mais conexões entre as áreas frontais e posteriores do cérebro, dentro de cada hemisfério, o que, para surpresa dos próprios autores, parece ir ao encontro dos estereótipos comuns sobre o funcionamento do cérebro nos dois sexos.

Os resultados, escrevem os autores nas conclusões do artigo que publicaram em Dezembro de 2013, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, «sugerem que os cérebros masculinos estão estruturados para favorecer a conectividade entre a percepção e as acções coordenadas, enquanto os cérebros femininos estão desenhados para facilitar a comunicação entre os modos de processamento analítico e intuitivo».

Citada num comunicado da sua universidade, Ragini Verma explica que «estes mapas mostram uma diferença marcada – e complementar – na arquitectura do cérebro humano, que fornece uma base neuronal potencial para explicar por que os homens são exímios em algumas tarefas e as mulheres noutras».

Os resultados, escrevem os autores nas conclusões do artigo que publicaram em Dezembro de 2013, na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences, «sugerem que os cérebros masculinos estão estruturados para favorecer a conectividade entre a percepção e as acções coordenadas, enquanto os cérebros femininos estão desenhados para facilitar a comunicação entre os modos de processamento analítico e intuitivo».

Exemplos? Em média, os homens são potencialmente melhores a aprender e a executar uma tarefa de orientação no espaço, enquanto as mulheres têm em geral melhor desempenho na memória e na cognição social, o que parece dar‑­lhes maior facilidade para encontrar soluções em situações de grupo, explicam os autores.

«Olhando para os estudos funcionais», dizia a coordenadora do trabalho, «o hemisfério esquerdo está mais dedicado ao pensamento lógico e o direito ao pensamento intuitivo». Portanto, «se uma tarefa envolve as duas coisas, parece que as mulheres estão programadas para fazer isso melhor», uma vez que «são melhores no pensamento intuitivo e a lembrar­-se de coisas, e estão emocionalmente mais envolvidas quando ouvem os outros».

Já no cerebelo, que tem um papel determinante no controlo motor, as conexões intra‑­hemisféricas são, pelo contrário, mais numerosas nas mulheres, ao passo que as inter‑­hemisféricas são mais fortes nos homens. Todas estas diferenças, no entanto, só se observam a partir dos 13, 14 anos, de acordo com o estudo. Antes disso, observam os autores, há muito poucas diferenças entre o processamento cerebral dos meninos e das meninas.

É claro que estas observações não dizem nada sobre se estas diferenças são determinadas biologicamente ou pela educação… ou por uma mistura de ambas. Esse debate, de resto, está ainda longe de terminado e, sendo o cérebro muito plástico, o uso que lhe damos acaba por influir de forma decisiva na maneira como ele se organiza e funciona. Os homens poderiam, portanto, ter uma programação cerebral mais adaptada à orientação espacial por serem encorajados desde muito cedo a praticar desportos, e as mulheres poderiam ser mais emocionais e facilmente empáticas porque, afinal, é isso que se espera delas.

O debate está ainda longe do fim e, como resume a investigadora Margareth McCarthy, do Programa de Neurociência da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, «no fim, as diferenças no cérebro entre os dois sexos são mais numerosas do que alguns gostariam, mas também menos numerosas do que outros acreditam ser». Espaço para novos estudos é o que não falta.

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