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As forças russas tomaram controlo da central nuclear de Zaporíjia em março, poucos dias depois da invasão à Ucrânia
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As forças russas tomaram controlo da central nuclear de Zaporíjia em março, poucos dias depois da invasão à Ucrânia

Getty Images/iStockphoto

As forças russas tomaram controlo da central nuclear de Zaporíjia em março, poucos dias depois da invasão à Ucrânia

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Situação na central nuclear de Zaporíjia está controlada? Estamos em "território completamente desconhecido"

Rússia admite ter minas espalhadas pela central nuclear. Maiores preocupações estão nos armazéns de lixo radioativo. "Situação pode escalar" com prolongar do conflito.

Cinco meses depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia e de as centrais nucleares do país terem sido transformadas em campos de batalha, Zaporíjia volta a concentrar todas as atenções por causa dos novos ataques aéreos que se estão a registar junto à estrutura.

Os problemas em Zaporíjia são anteriores à guerra: desde 2020 que os observadores internacionais apontam problemas de segurança na central nuclear por causa da falta de peças sobressalentes para renovar o material e garantir a redundância dos sistemas. Mas a invasão à Ucrânia veio adensar as preocupações. E os últimos quatro dias demonstram que o risco na região é tão elevado como em março, quando as forças de Moscovo assumiram o controlo da maior fonte energética do país.

Quão preocupados devemos estar com os ataques em Zaporíjia?

É real, “muito real”, o risco de um desastre nuclear em Zaporíjia, a maior central da Europa e uma das maiores do mundo, se os ataques aéreos na região prosseguirem. E esse risco está a revelar-se maior a cada relatório que chega à secretária de Rafael Mariano Grossi, o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atómica: “Estou extremamente preocupado”, assumiu no último fim de semana. Há uma “longa série de relatórios cada vez mais alarmantes” vindos de ambos os lados do conflito entre a Rússia e a Ucrânia.

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Rafael Grossi avisou que “qualquer armamento militar direcionado para ou a partir da instalação equivaleria a brincar com fogo, com consequências potencialmente catastróficas”.  As últimas informações dizem que as operações na central nuclear estão a ser asseguradas por apenas duas linhas de energia.

Acompanhe aqui o liveblog do Observador sobre a guerra na Ucrânia.

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Mesmo assim, a Agência Internacional de Energia Atómica afirma que “a atual segurança nuclear na central de Zaporíjia parece estável, sem nenhuma ameaça imediata”. E di-lo porque pelo menos é isso o que sugerem os dados preliminares enviados da Ucrânia para a sede da agência em Viena; e sobretudo porque nenhum dos reatores terá sido atingido durante os ataques aéreos e não se encontraram quaisquer indícios de libertação de radiação.

Mas os dados já estiveram errados no passado — em março, por exemplo, quando o diretor-geral afirmava que os reatores nucleares de Zaporíjia não tinham sido alvos diretos de ataques, mas as imagens de videovigilância, reveladas dias depois dessas declarações, vieram revelar outra realidade.

Agora, Rafael Grossi admitiu à Associated Press que a situação está novamente “fora de controlo” e que “todos os princípios de segurança nuclear foram violados” no local. António Guterres, secretário-geral das Nações Unidas, confirmou que qualquer ataque em Zaporíjia é “uma coisa suicida”.

Qual é o ponto de situação na central nuclear?

O sistema externo de fornecimento de energia está inoperacional desde os bombardeamentos de sexta-feira passada, um dos três reatores ativos da central nuclear foi desconectado, o sistema de proteção de emergência foi acionado e uma estação de armazenamento de azoto e oxigénio ficou danificada por causa de um incêndio que deflagrou durante um ataque aéreo.

O comando militar à frente da central nuclear de Zaporíjia já veio admitir que colocou minas em alguns dos espaços mais críticos da infraestrutura: “Não escondemos isto do inimigo, nós avisámo-lo”, diz um comunicado assinado pelo major general Valery Vasiliev, responsável pela central desde que foi tomada aos ucranianos em março, e enviado aos soldados no local.

Porque é que Zaporíjia é tão importante para a guerra?

O Instituto para o Estudo da Guerra disse também há menos de uma semana que “as forças russas provavelmente estão a usar a central nuclear Zaporíjia para aproveitar os temores ocidentais de um desastre nuclear na Ucrânia” e para “degradar a vontade ocidental de fornecer apoio militar a uma contra-ofensiva ucraniana”.

Um bluff, portanto? Não é só isso. É que o próprio comando militar à frente da central nuclear de Zaporíjia já veio admitir que colocou minas em alguns dos espaços mais críticos da infraestrutura: “Não escondemos isto do inimigo, nós avisámo-lo”, diz um comunicado assinado pelo major-general Valery Vasiliev, responsável pela central desde que a instalação nuclear foi tomada aos ucranianos em março, enviado aos militares no local.

Administração pró-russa de Zaporíjia anuncia referendo sobre integração na Rússia

O inimigo sabe que a central ou é da Rússia ou não é de ninguém”, prossegue o documento: “Estamos prontos para as consequências deste passo. E vocês, guerreiros, libertadores, devem entender que não há outra opção. E no caso de receber a ordem mais severa, devemos cumpri-la com honra.”

A central nuclear, que alimenta quatro milhões de casas em toda a Ucrânia, está a ser utilizada como arma de chantagem: desde que tomaram controlo da infraestrutura que os russos transformaram Zaporíjia num armazém para o armamento vindo do Kremlin e em barricada para disparar contra a resistência ucraniana na região — tudo porque sabem que Kiev pensaria duas vezes antes de responder, com receio de expor o lixo nuclear ou as águas de arrefecimento, libertando a radioatividade.

Mas o edifício onde fica armazenado o combustível nuclear já consumido — o lixo que sobra da produção de energia —, não tem o mesmo nível de proteção que um reator nuclear, que está coberto por um escudo de aço e paredes de cimento com dezenas de metros de espessura.

Mas ainda no último fim de semana caiu nas proximidades da infraestrutura que armazena o lixo nuclear um míssil do tipo Grad. Quem a disparou, não se sabe: apontam-se culpas em ambas as direções.

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A central nuclear aguentaria o ataque direto de um míssil?

Poucos dias depois do início da guerra na Ucrânia, em março, Pedro Vaz, especialista em radioproteção do Instituto Superior Técnico, explicou ao Observador que as paredes dos reatores nucleares são concebidas para sobreviver a uma agressão exterior tão significativa como a queda de um avião comercial. Em relação a um míssil, tudo dependerá da sua potência.

Esta foi uma preocupação levantada sobretudo após o atentado de 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos. Zaporíjia, apesar de ter sido construída nos anos 80, já tem uma infraestrutura robusta o suficiente para suportar um ataque como a queda de um avião.

Mas o edifício onde fica armazenado o combustível nuclear já consumido — o lixo que sobra da produção de energia — não tem o mesmo nível de proteção de um reator nuclear, que está coberto por um escudo de aço e paredes de cimento com dezenas de metros de espessura.

Em declarações à Reuters, Kate Brown, historiadora ambiental do Instituto de Tecnologia de Massachusetts que estudou a evolução do nível de risco em Chernobyl, explicou que “as bacias de combustível usado são como grandes piscinas com barras de combustível de urânio” e são “muito quentes”.

Por isso, “se a água fresca não for colocada, a água evaporará”. Nesse caso, o revestimento de zircónia aquece e pode incendiar e “temos uma má situação, um incêndio de urânio irradiado que é muito parecido com o de Chernobyl”, assumiu a perita.

Central nuclear de Zaporíjia foi campo de batalha — e os russos já controlam as instalações. Qual o pior cenário possível e como evitá-lo?

Foi isso que aconteceu em Fukushima, em 2011, quando a libertação de hidrogénio de uma dessas bacias fez explodir um dos reatores. O fenómeno pode repetir-se em Zaporíjia em caso de ataque aéreo: se o circuito da água para arrefecimento for cortada e os geradores — que garantem a redundância do sistema — falharem, as altas temperaturas libertariam o hidrogénio do revestimento de zircónia e o reator começará a derreter.

Qual é o pior cenário possível em caso de ataque aéreo na central nuclear?

Nesse caso, uma nuvem radioativa espalhar-se-ia por toda a atmosfera, contaminando os solos e os corpos de água. A radiação libertada poderia ultrapassar os 16 mil milésimos de Sievert (a medida que quantifica os efeitos biológicos), que foi atingida em Chernobyl — 1.600 vezes aquela a que uma pessoa está exposta quando faz uma tomografia computadorizada e 24 vezes a dose de radiação mais elevada detetada após o acidente de Fukushima.

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Ferenc Dalnoki-Veress, cientista residente do Instituto de Middlebury para os Estudos Internacionais em Monterey (Estados Unidos) disse ao Grid que a situação atual em Zaporíjia é pelo menos tão grave como em março, quando houve ataques diretos para os reatores nucleares: “É o derradeiro terrorismo nuclear baseado num Estado”.

Um desastre destas dimensões poderia tornar uma grande parte da Europa inabitável por várias décadas. Incluindo a Rússia, que seria das primeiras atingidas à conta da proximidade à Ucrânia. E é por isso que um cenário destes é, apesar de tudo, prejudicial para ambos os lados da barricada.

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Qual é a probabilidade de o pior cenário possível se vir a confirmar?

É difícil apurar a verdadeira probabilidade de um cenário destes vir mesmo a acontecer porque as informações não têm origem numa fonte independente — são normalmente cedidas pela Ucrânia e depois refutadas pela Rússia. Tudo porque a Agência Internacional de Energia Atómica não tem acesso às centrais nucleares ucranianas desde o início do conflito: “Tenho estado pronto para liderar uma missão de segurança na maior central nuclear do país, Zaporíjia.  Seria crucial para estabilizar a situação”, considerou Rafael Grossi, prometendo recolher apenas informação “imparcial” no local.

Mas “esta missão vital ainda não aconteceu e não é por causa da agência”: “Apesar dos esforços, [essa deslocação] ainda não foi possível”, alegadamente pelos entraves colocados pela Rússia — que se diz preparada para abrir portas a uma equipa da agência, apontando culpas à Ucrânia.

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Ferenc Dalnoki-Veress, cientista residente do Instituto de Middlebury para os Estudos Internacionais, em Monterey (Estados Unidos), disse ao Grid que a situação atual em Zaporíjia é pelo menos tão grave como em março, quando houve ataques diretos sobre os reatores nucleares. “Sim, os reatores estão contidos e de resto estão protegidos, mas há sempre a possibilidade de a situação escalar”, avisou o especialista, sublinhando que se está em “território completamente desconhecido”: “É o derradeiro terrorismo nuclear baseado num Estado”.

O “terror nuclear” em Zaporíjia

Jan Vande Putte, analista nuclear da Greenpeace, também considerou em entrevista à Fortune que esta é uma “ameaça nuclear única”: “Pela primeira vez na história, uma grande guerra está a ser travada num país com vários reatores nucleares e milhares de toneladas de combustível irradiado altamente radioativo”.

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