Num momento, apresenta-se como “socialista, laica e republicana”. No momento seguinte, social-democrata é o termo que escolhe para se definir. Marisa Matias lá reconhece que dizer de si mesma que o seu espaço ideológico é o da social-democracia — ela que é dirigente do Bloco do Esquerda — pode gerar alguma confusão junto do eleitorado. Mas a candidata insurge-se contra o que diz ser uma originalidade portuguesa: estarmos “num país que tem esta coisa única no mundo que é ter um partido de direita que se chama social-democrata”. E o eleitorado, onde posiciona Marisa Matias? Será social-democrata, socialista ou de esquerda radical?

Marisa Matias: «Sou socialista, laica e republicana e vou à luta pelas minhas ideias, ao lado de quem não desiste de Portugal

Marisa Matias: «Sou socialista, laica e republicana e vou à luta pelas minhas ideias, ao lado de quem não desiste de Portugal»«Marcelo quer um regime político assente em mais do mesmo, eu quero um regime que responda à pandemia social e que acabe com os privilégios. Eu venho a esta campanha pelo entusiasmo e confiança na força que podemos dar a Portugal»▶️ Assiste ao inspirador discurso de anúncio de candidatura da Marisa Matias.#Marisa2021

Posted by Esquerda Net on Wednesday, September 9, 2020

O tema andou pela agenda de pré-campanha logo no início de dezembro, depois de Marisa Matias formalizar a sua candidatura a Belém — nesse momento, o termo era “socialista” — e quando começou a dar as primeiras entrevistas já nessa qualidade. Foi numa dessas entrevistas, à TVI, que optou por se definir como “social-democrata”. A questão haveria de marcar, também, o arranque da entrevista de Marisa Matias ao Observador, a meio do mês de dezembro. Aí, e confrontada com as posições que assumiu na formalização da sua campanha, primeiro (na versão “socialista”), e na entrevista à TVI, depois (então já como “social-democrata”), a eurodeputada respondeu assim:

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“Eu sou socialista, mas já não é a primeira vez que me defino como social-democrata. E a razão é muito simples. Obviamente, sou socialista, mas partilho e defendo hoje as conquistas históricas da social-democracia.”

O tema também teve direito a espaço próprio na mais recente sondagem Observador/ TVI/ Pitagórica.  Mas quase não há inquiridos que reconheçam fundamento a essa ideia de Marisa como social-democrata. Na sondagem, 52% dos inquiridos manifestam discordância. E apenas 6% admitem que, sim, a eurodeputada do Bloco de Esquerda tem toda a propriedade para se posicionar como social-democrata. Há um grupo de 3% de eleitores ouvidos neste estudo de opinião que acabam por não assumir posição contra nem a favor.

Nesta franja de inquiridos relativamente indiferentes a esta controvérsia, note-se que a maioria (39%) são eleitores que confiaram o seu voto ao Bloco de Esquerda nas últimas legislativas. Entre os eleitores do BE, 36% “discordam” ou “discordam totalmente” de Marisa Matias. Mas a reação mais frontal a essa posição da eurodeputada vem do outro lado do espectro político: há 31% de eleitores centristas e, lá está, social-democratas que discordam totalmente do posicionamento de Marisa Matias como “social-democrata”.

Ora, se não é percecionada como estando enquadrada na social-democracia, onde é que os eleitores posicionam ideologicamente a candidata do Bloco de Esquerda às presidenciais?

Para 21% dos inquiridos (que dão corpo ao maior grupo de respostas), o pensamento político de Marisa é consentâneo com o da “esquerda radical”. Quanto a “socialista”, apenas 16% consideram que será a classificação mais adequada. Mas bem menos ainda são aqueles que a veem como social-democrata: não vão além dos 7% dos inquiridos. Pelo meio, ainda há 14% de inquiridos que optam pela ideia de “extrema esquerda” e outros tantos que consideram que “comunista” é o posicionamento ideológico mais adequado às posições da eurodeputada.

Nota para os 28% de respostas ao estudo de opinião que não sabem o que responder ou preferiram não responder de todo a esta questão.

Mas para que tipo de eleitor é que Marisa Matias se constitui como elemento da “esquerda radical” da política portuguesa? Sobretudo, os eleitores da CDU (uma vez que 44% deles escolheram este termo) e do CDS (com 34% de respostas nesta opção). Socialista foi a escolha de 37% de eleitores do Bloco de Esquerda (a maioria) e “social-democrata” é um termo válido para definir a eurodeputada na opinião de 28% dos eleitores comunistas. No PS, a maior parte das respostas (19%) vão no sentido de considerar Marisa como uma “socialista”.

Ficha técnica

Durante 6 semanas (10 Dezembro 2020 a 21 de Janeiro 2020 ) vai ser publicada pela TVI e pelo Observador uma sondagem em cada semana com uma amostra mínima de 626 entrevistas. Em cada semana a amostra corresponderá a 2 sub-amostras de 313 entrevistas. Uma das sub-amostras será recolhida na semana da publicação e a outra na semana anterior à da publicação. Cada sub-amostra será representativa do universo eleitoral português (não probabilístico) tendo por base os critérios de género, idade e região.

Semana 3 Publicação: O trabalho de campo decorreu entre os dias 17-20 e 22,23,26 e 27 Dezembro 20202. Foi recolhida uma amostra total de 629 entrevistas que para um grau de confiança de 95,5% corresponde a uma margem de erro máxima de ±4,0%. A seleção dos entrevistados foi realizada através de geração aleatória de números de “telemóvel” mantendo a proporção dos 3 principais operadores identificados pelo relatório da ANACOM, sempre que necessário são selecionados aleatoriamente números fixos para apoiar o cumprimento do plano amostral. As entrevistas são recolhidas através de entrevista telefónica (CATI – Computer Assisted Telephone Interviewing).

O estudo tem como objetivo avaliar a opinião dos eleitores Portugueses, sobre temas relacionados com as eleições, nomeadamente os principais protagonistas, os momentos da campanha bem como a intenção de voto nos vários partidos.

A taxa de resposta foi de 54,84% . A direção técnica do estudo é da responsabilidade de Rita Marques da Silva.

A taxa de abstenção na sondagem é de 55,9% a que correspondem os entrevistados que aquando do momento inicial se recusaram a responder à entrevista por não pretenderem votar nesta eleição.

A ficha técnica completa bem como todos os resultados foram disponibilizados junto da Entidade Reguladora da Comunicação Social, que os disponibilizará oportunamente para consulta online.