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André Ventura com Rocío Monasterio, presidente do Vox Madrid
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André Ventura com Rocío Monasterio, presidente do Vox Madrid

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

André Ventura com Rocío Monasterio, presidente do Vox Madrid

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

Como o sonho europeu do Chega pode ser golpe para Montenegro

Ventura não se compromete com números mágicos, mas no Chega vai-se fazendo contas a dois e três eurodeputados - o que poderia ser uma catástrofe para o PSD. Parceiros falam em novo D. Afonso Henriques

Um encontro com a história marcado para maio de 2024. Depois de uma primeira tentativa falhada em 2019, quando o Chega era ainda um embrião do que se viria a tornar, André Ventura terá uma oportunidade única para entrar no Parlamento Europeu: numas eleições de voto tendencialmente mais livre e num contexto que se perspetiva que venha a ser de grande penalização para o PS e de forte contestação social, o Chega pode conseguir eleger dois ou mais eurodeputados. A concretizar-se este cenário, pode estar em causa uma reconfiguração da direita em Portugal e do papel do Chega na Europa.

De resto, o tema das eleições europeias – tal como o da Madeira – foi peça fundamental nas quatro intervenções de André Ventura durante os três dias em que decorreu a 5.ª Convenção do Chega. “Vamos ter o melhor resultado da nossa história”, prometeu várias vezes o líder do partido. Não é, de todo, uma missão impossível. Nas várias conversas que destacados dirigentes do partido foram tendo com o Observador, ninguém se comprometeu com um número mágico, mas a bitola está alta: eleger três eurodeputados, acredita-se no Chega, é perfeitamente possível.

Ao contrário do que acontece em legislativas, os votos nas europeias, tal como nas presidenciais, são contabilizados num único grande círculo nacional – que tende a favorecer os partidos mais pequenos. Sendo o Chega um partido que é tradicionalmente prejudicado porque muitos dos seus votos são contabilizados em distritos onde se elegem dois ou três deputados (que vão caindo para PSD e PS por causa do método de Hondt) as próximas europeias permitirão aferir a sua verdadeira força em todo o território nacional.

Basta olhar para os fenómenos que se foram registando em europeias recentes para perceber a imprevisibilidade deste tipo de eleições, que se prestam a variadíssimas leituras, algumas delas até contraditórias quando comparadas com sufrágios realizados no mesmíssimo ano. O exemplo de Marinho e Pinto é o mais paradigmático: em 2014, conseguiu ser eleito com estrondo; desapareceu nas legislativas do ano seguinte, sendo um parênteses na história da política portuguesa.

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No mesmo ano, João Ferreira, do PCP, conseguiu inverter o ciclo de maus resultados do partido e chegou aos 12,68% dos votos, elegendo três eurodeputados. Em 2009, o Bloco de Esquerda teve um dos melhores resultados eleitorais da sua história com 10,73% e conseguiu três eurodeputados. Na mais recente sondagem, o Chega tem mais de 14% nas intenções de voto, o que significa que a estratégia de André Ventura tem tudo para ser bem sucedida.

“O resto da Europa precisa hoje de um grande rei como Afonso. As nossas nações herdaram os valores judaico cristã e não da barbaridade do Islão”, pediu Geert Wilders, presidente do PVV (Partido para a Liberdade), nos Países Baixos

A primeira eleição sem Ventura

Apesar do contexto favorável, este desafio terá uma particularidade: será a primeira eleição verdadeiramente nacional sem ter André Ventura como protagonista do Chega. Num partido que, por muito que os próprios continuem a jurar o contrário, continua a ser de um homem só, a escolha do próximo cabeça de lista às europeias será de enorme risco para o Chega.

Afinal, basta ver o que aconteceu nas autárquicas de 2021 em Lisboa, que poderiam servir para testar outras figuras num universo eleitoral considerável. Correu tão mal que Nuno Graciano, candidato escolhido pessoalmente por Ventura, passou grande parte dessa campanha sozinho, sem apoio do partido. Mesmo numas eleições em que o PSD, apesar de vitorioso, não cresceu particularmente, mesmo numas eleições em que o PS foi fortemente penalizado, mesmo numas eleições em que a Inciativa Liberal esteve muito longe de ser brilhante, o erro de casting do Chega teve apenas 6,39% dos votos.

Excluída a hipótese de o próprio vir a encabeçar uma candidatura ao Parlamento Europeu (“faz falta aqui, ao pé de nós”, cortou Pedro Pinto, líder parlamentar do Chega), Ventura terá de escolher um candidato à sua altura – algo que num partido que se habituou a viver à custa da marca Ventura é muito difícil. Voltando às autárquicas: a dificuldade de atrair talento e a falta de quadros competentes foi reconhecida internamente como uma fragilidade; resta saber se será diferente nas europeias.

A hipótese de decepar Montenegro

Seja como for, qualquer resultado do partido liderado por André Ventura vai influenciar o futuro político de Luís Montenegro e do PSD. Num cenário mais do que provável, Chega e Iniciativa Liberal conseguirão eleger dois a três deputados, pelo menos. E os votos terão de fugir de algum lado, no caso, da cesta do PSD.

Se é certo que os sociais-democratas – que elegeram apenas seis eurodeputados em 2019 – podem crescer à custa do PS (que conseguiu uns surpreendente nove eurodeputados), não é de excluir que o PSD venha a perder eleitos para os seus adversários à direita. Mesmo que os astros se alinhem e os sociais-democratas consigam manter, por exemplo, cinco eurodeputados, e a menos que o PS faça uma péssima figura nessas eleições, o resultado será vendido como uma enorme derrota para o PSD.

A acontecer, Luís Montenegro terá um partido virado do avesso no dia seguinte. Para alguém que se afirmou sempre como um líder capaz de vencer eleições, por oposição a Rui Rio, que somou derrota atrás de derrota, falhar o primeiro grande objetivo do seu mandato seria um grande golpe nas aspirações do líder social-democrata.

A única saída de Montenegro é mesmo derrotar o PS nessas eleições. O presidente do PSD vai alimentando o tabu sobre o que fará no day-after caso as piores perspetivas se confirmem, e tem evitado comprometer-se com meta a atingir nessas eleições. Mas os seus adversários internos vão fazendo contas e não é por acaso que, no partido, há já quem vá apostando que Montenegro não ficará para contar a história depois de maio de 2024 – o que deixaria Ventura ainda mais confortável à direita e o PSD novamente de pantanas.

Os amigos europeus do Chega

A preocupação pela aposta no reforço da imagem internacional foi uma evidência no terceiro e último dia da 5.ª Convenção do partido. Com relevância e dimensão políticas diferentes, oito representantes dos partidos-irmãos do Chega intervieram na reunião magna do partido, apresentaram bandeiras que são, com as devidas distâncias, semelhantes às do Chega e não pouparam elogios ao português.

De resto, as intervenções dos parceiros europeus de Ventura centraram-se em três grandes temas: a defesa da “família tradicional”, os perigos que a imigração representa para a segurança de cada país e a perda daquilo que consideram ser a identidade europeia: ocidental europeia, branca e cristã.

Jordan Bardella, o presidente do Rassemblement National de França, Rocío Monasterio, presidente do Vox Madrid, e Geert Wilders, presidente do PVV (Partido para a Liberdade), foram de longe os mais aplaudidos da tarde, com destaque para o controverso neerlandês. “Da próxima vez que estiver aqui, prometam-me que não apenas serão o maior partido como André Ventura será primeiro-ministro”, Wilders aos militantes do Chega.

Nesste capítulo, o presidente do PVV disse ainda que Portugal era um “exemplo” para outros países europeus que “se parecem com África”. “É tempo de reclamarem as suas próprias terras”, exortou. “O resto da Europa precisa hoje de um grande rei como Afonso. As nossas nações herdaram os valores judaico cristã e não da barbaridade do Islão”, rematou.

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