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A apresentadora está ao leme do programa "Praça da Alegria" há 25 anos e confessa que este é o projeto que mais a realiza profissionalmente
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A apresentadora está ao leme do programa "Praça da Alegria" há 25 anos e confessa que este é o projeto que mais a realiza profissionalmente

Octavio Passos/Observador

A apresentadora está ao leme do programa "Praça da Alegria" há 25 anos e confessa que este é o projeto que mais a realiza profissionalmente

Octavio Passos/Observador

Sónia Araújo: “Penso muitas vezes como teria sido a minha vida se tivesse ido trabalhar para Lisboa”

Há 25 anos que apresenta a “Praça da Alegria”, o programa que a levou para a ribalta. Em entrevista, Sónia Araújo fala da opção em permanecer no Porto, do peso da idade e do desejo em fazer cinema.

Sorri em quase todas as perguntas, como se nada a incomodasse ou a deixasse insegura na conversa, confiante, decidida e com um lado menina – mulher, Sónia Araújo balança entre a gargalhada espontânea e a seriedade na voz. Aos nove anos descobriu a dança, mais precisamente o ballet clássico, e o palco, as luzes, as coreografias e os ensaios passaram a fazer parte da sua rotina. Depois de gravar dois anúncios publicitários, chegou à televisão à boleia da magia e foi como assistente do ilusionista Luís de Matos que a RTP a conheceu.

Mudou-se para Lisboa e integrou grupos de bailado de concursos como o “Um, Dois, Três”, “Quem é o quê?” ou “Chuva de Estrelas”, até que regressa ao Porto para terminar o curso de direito. Desiste da ideia de ser advogada para se dedicar ao pequeno ecrã e em 1996 é convidada para ser assistente da “Praça da Alegria”, programa apresentado por Manuel Luís Goucha. “Recebia os convidados, entregava as flores e os presentes no fim das entrevistas, fazia um resumo das notícias do dia e apresentava os artistas musicais. Só mais tarde é que comecei a fazer reportagens no exterior.”

O projeto tornou-a conhecida do grande público e obrigou-a a crescer profissionalmente, quando em 2002 Goucha migra repentinamente para a TVI. “Olhando para trás sinto que foi uma loucura. De um dia para o outro, literalmente, tive de apresentar um programa de três horas, em direto e sozinha. Trabalhei sete anos com o Manuel e não soube por ele que se ia embora, mas pelo meu diretor. Fui completamente apanhada de surpresa e ainda bem que não pensei muito.”

Com 32 anos, Sónia Araújo segura o leme do programa que apresenta até hoje, apesar dos nervos, das dúvidas e da certeza de que gostaria que as coisas tivessem acontecido de forma diferente. “Naquela altura não tive a plena consciência do salto que estava a dar, só mais tarde é que me apercebi disso e claro que a aprendizagem não foi imediata. Durante vários anos observei o Manuel e outros colegas a trabalhar, mas ainda não me sentia preparada para o desafio.”

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Passaram 25 anos e atualmente a apresentadora é uma das principais caras da RTP, sendo ao mesmo tempo uma das figuras mais consensuais do meio televisivo. “Não sou uma pessoa conflituosa, gosto que as pessoas se sintam bem à minha volta e não gosto de fazer muito fretes.” Sónia também não esconde os convites que teve para regressar a Lisboa como apresentadora de um canal generalista, mas no momento da decisão a vida familiar falou mais alto. Nem por isso deixa de pensar como teria sido a sua vida se tivesse embarcado na aventura.

Longe de polémicas e dos exageros nas redes sociais, é na discrição que se movimenta e vive sem sentir o peso que os 50 anos podem ter numa mulher. Ainda que a dança continue a ser uma das suas grandes paixões, no futuro, confessa que gostaria de ter uma experiência como atriz na televisão ou no cinema.

Nasceu e cresceu no Porto, passou por Lisboa, onde trabalhou em televisão como bailarina. Anos mais tarde, teve a oportunidade de voltar à capital como apresentadora mas recusou o convite

Octavio Passos/Observador

Qual é a primeira coisa que lhe passa pela cabeça quando olha para esta vista?
Adoro o Porto, é uma cidade linda e por vezes não lhe damos o devido valor. Só quando os turistas chegam aqui e dizem ‘uau’ é que olhamos com calma e atenção para o casario e percebemos que parece um quadro desenhado à mão, um postal, está tudo no sítio certo. Claro que há fachadas que precisam de ser reabilitadas, há edifícios que estão devolutos, mas é uma tela viva. Vejo isto e sinto-me em casa, nasci e cresci aqui, o meu pai é do Porto e a minha mãe transmontana. Só saí daqui dois ou três anos quando fui trabalhar para Lisboa.

Em miúda, o que aspirava ser?
Estudei direito, mas a minha vontade não era ser advogada, a dança foi a minha primeira paixão, surge quando tenho uns 9 anos. Não tenho artistas na família, mas a meu pedido os meus pais inscreveram-me no ballet, comecei muito cedo a ver espetáculos e séries de dança, como o “Fame” por exemplo, e tudo aquilo mexia comigo e vibrava sempre que via algo relacionado com esta arte. Lembro-me perfeitamente que tinha os livros da “Anita no Ballet” e aquelas imagens eram tão românticas e tão bonitas que foi uma descoberta para mim.

Os seus pais acharam piada a esse interesse?
Não cederam logo, naquela altura não havia muito o hábito de as crianças terem uma atividade paralela aos estudos. No início resistiram um bocadinho, mas depois tanto insisti que eles lá me inscreveram no ballet clássico, avisando-me logo que a escola seria a minha prioridade, joguei nas duas frentes e cumpri bem a missão. Como gostava tanto daquilo, achava mesmo que a minha vida profissional podia passar pela dança, mas vamos crescendo, passamos a adolescência, que é uma fase de grandes mudanças, definições e descobertas, e aí percebo que ser bailarina em Portugal é capaz de não ser muito fácil. Nós não temos essa cultura de dança, os bailarinos não têm propriamente uma carreira, direitos, estabilidade ou segurança. Então comecei a pensar num plano b, os meus pais também me incutiam muito a necessidade de tirar um curso superior, achei que eles tinham toda a razão, que deveria ter uma formação e uma base porque a dança não ia durar para a vida toda.

Porque escolheu licenciar-se em direito?
Sempre gostei muito mais de letras do que de números, cheguei a equacionar jornalismo, mas televisão não estava nada nos meus planos. Cheguei a terminar o curso, ainda fiz o estágio e o exame de admissão à Ordem dos Advogados, mas depois não cheguei a exercer, tive que desistir porque entretanto já tinha surgido a televisão na minha vida e comandou a minha rota.

"Gostava imenso de experimentar representação em cinema ou até mesmo numa série televisiva, embora não tenha formação de atriz. Também não tenho formação em televisão e faço-a há anos, aprendi fazendo e vendo os outros fazer."

Como foi parar ao pequeno ecrã?
Comecei por fazer dois anúncios de televisão, um para o Instituto de Emprego e Formação Profissional, e outro para a Compal, com o ator Pedro Lima. Não estava inscrita em nenhuma agência, acho que alguém que me conhecia se lembrou que podia fazer aquilo, fui a um casting e fiquei. Eu gostava era de dançar e do palco, nunca pensei fazer televisão na vida, mas a verdade é que achei piada a essa coisa de comunicar através das câmaras. Em 1993, uma colega do ballet, que era assistente do Luís de Matos, disse-me que ele precisava de mais assistentes e ia abrir audições. Fui fazer e fiquei, ainda trabalhei com ele alguns anos, pois além dos projetos televisivos, fizemos também muitas turnés em palco. O primeiro programa de televisão chamava-se “Isto é Magia”, na RTP 1, e nessa altura fascinava-me a magia e os truques propriamente ditos, mas também as luzes e o movimento das câmaras. Aprendi muito.

Ainda mantém contacto com o Luís de Matos?
Sim, claro, somos amigos, acompanho com muito orgulho o trabalho dele. Cheguei a estar com ele no Mónaco, onde vi a princesa Stéphanie e até me armei um bocado em paparazzi atrás dela. Lembro-me que ela era convidada do Luís para um truque de carta, as assistentes nesse espetáculo não interagiram muito com ela, mas estava nos bastidores, completamente fascinada.

Depois disso, nunca mais saiu da televisão?
Não, o programa do Luís foi todo gravado no Porto, mais tarde, passado mais ou menos um ano, soube de um outro casting para bailarinos para o concurso “Um, dois, três”, em Lisboa, é aí que me mudo para lá. Nesse trabalho pertencia ao grupo de baile do programa e era também assistente, apresentava os prémios dos concorrentes. Não estava mesmo a contar ficar porque cheguei lá e eram mesmo muitos candidatos, não conhecia de todo aquela realidade, estava habituada ao meu percurso em ballet clássico no Porto, no verão fazia uns cursos em jazz, mas a minha vida era aulas, casa, casa, aulas. Só em Lisboa é que tive a oportunidade de trabalhar em dança, cá essa oferta era ainda muito reduzida.

Gostou de viver em Lisboa?
Gostei imenso, tinha 21 anos e era tudo uma novidade para mim. Já estava no curso de direito e não era nada fácil conciliar as duas, até cheguei a pedir transferência para uma faculdade em Lisboa, assistia às aulas em pós laboral ou vinha ao Porto só para fazer os exames. Estive três anos assim, em regime de trabalhadora estudante, depois do “Um, dois, três”, foram surgindo outros trabalhos, dançava em galas e fui bailarina no “Chuva de Estrelas”. Quando se está no meio as coisas acabam por acontecer, os bailarinos comunicavam uns com os outros, não havia esse lado da competição, tinha um grupo muito coeso e encontrávamo-nos todos nos castings e nas audições.

Mãe de três filhos, Sónia Araújo não sente que tem 50 anos e recusa o peso que a idade tem nas mulheres que trabalham em televisão

Octavio Passos/Observador

Em que contexto regressa depois ao Porto?
Faltava-me uma cadeira para terminar o curso, já tinha terminado os trabalhos que estavam agendados em Lisboa e pedi novamente transferência para terminar o curso cá. O primeiro projeto que faço na RTP do Porto, integrando o grupo de bailarinos, é um programa chamado “Avós e Netos”, apresentando pelo Manuel Luís Goucha em 1995. Um ano depois, integro a equipa da “Praça da Alegria” que era curiosamente no mesmo estúdio.

Quando decide desistir do direito e apostar na televisão, os seus pais renderam-se às evidências?
Os projetos foram surgindo, gostava muito do palco, mas aos poucos fui-me apercebendo que também gostava de estar em televisão, até porque chegou uma altura em que fui obrigada a optar entre a televisão e o direito e sinceramente não pensei muito. Claro que os meus pais desconfiaram um pouco no início, acho que é normal, eles querem sempre o que é mais seguro para os filhos, pensavam sempre a televisão como algo efémero, mas depois tiveram que se render às evidências. Aquilo começou a correr bem, tive a minha independência económica cedo, estudava numa universidade privada e já conseguia pagar o curso, isso era um motivo de orgulho para mim, tal como tirar a carta e pagar o meu primeiro carro a prestações, era um Volkswagen pólo branco, o chamado frigorífico.

Em 1996, integra a equipa da “Praça da Alegria” com que papel?
O programa existia há um ano, começou com o Manuel Luís Goucha e a Anabela Mota Ribeiro, quando ela sai, convidam-me para entrar, até porque o Manuel já me conhecia do outro programa que tínhamos feito. Entro para ser assistente do programa, não tínhamos dança, mas recebia os convidados, entregava as flores e os presentes no fim das entrevistas, fazia um resumo das notícias do dia e apresentava os artistas musicais. Só mais tarde é que comecei a fazer reportagens no exterior.

Foi com esse projeto que sentiu mais o feedback do público na rua?
Sem dúvida, era um programa diário e lembro-me de lidar muito bem com a reação do público. As pessoas sempre foram simpáticas comigo, recebia cartas de emigrantes de todo o mundo a dizer que gostam de mim e do programa, aí percebi que o projeto tinha um sucesso enorme lá fora. Acho que nessa altura entendi a verdadeira dimensão de fazer televisão, o valor que pequenas conversas que temos podem ter na vida de alguém. Nos outros programas, tive a oportunidade de aprender e de me divertir, na “Praça” já era um pouco mais a sério. É muito evidente o impacto e o poder que o meu trabalho tem realmente nas pessoas.

"Sei que posso agradar a uma grande franja do público, caso contrário não estaria aqui há tantos anos, mas também faço por isso. Não sou uma pessoa conflituosa, gosto que as pessoas se sintam bem à minha volta e não gosto de fazer muito fretes."

Em 2002, o Manuel Luís Goucha sai para a TVI. A esta distância, como recorda esse momento?
Olhando para trás sinto que foi uma loucura. De um dia para o outro, literalmente, tive que apresentar um programa de três horas, em direto e sozinha. Trabalhei sete anos com o Manuel e não soube por ele que se ia embora, mas pelo meu diretor. Fui completamente apanhada de surpresa e ainda bem que não pensei muito. Na realidade, não havia outra hipótese, não iam arranjar ninguém da noite para o dia, aliás, a pessoa que eles tinham pensado era o Jorge Gabriel, mas estava de férias, fora de Portugal. O Manuel já tinha assinado contrato com a TVI e a partir desse momento o canal anunciou o nome dele. Penso que a intenção do Manuel era apresentar o programa até ao fim da semana, ou até ao fim do mês, mas quando ele é anunciado noutro canal, a RTP achou que não faria sentido ele continuar. Quando me ligam, o primeiro impulso foi logo dizer que sim, não os podia deixar na mão.

O que foi mais difícil de gerir nessa altura?
Os nervos, antes, durante e depois do programa. Acho que estive a pairar durante três horas, só no final é que me caiu a ficha, não me lembrava de nada, só queria sair e fugir dali. Naquela altura não tive a plena consciência do salto que estava a dar, só mais tarde é que me apercebi disso e claro que a aprendizagem não foi imediata. Durante vários anos observei o Manuel e outros colegas a trabalhar, mas não ainda não me sentia preparada para o desafio. Agora tenho noção do que é necessário para se fazer um programa destes, na época fi-lo com a melhor das intenções, com tudo o que tinha e tentei preparar-me o melhor possível. Achei que tinha os mínimos para poder aceitar, mas foi muito aquela loucura inconsciente de alguém que tem 32 anos e não quer deixar mal uma equipa. Não me arrependo de nada.

Desiludiu-a de alguma forma a maneira como as coisas aconteceram?
Sim, achei que poderia ter sabido por ele e não por outra pessoa, não éramos dois estranhos. Também entendo que nestas coisas há que fazer segredo e obviamente se o Manuel me pedisse segredo, teria respeitado isso, era o trabalho e a vida dele que estavam em causa. Nestas coisas, a decisão é sempre uma coisa muito pessoal e não fico nada chateada pelo facto de ele ter ido embora, certamente fez o que era melhor para ele, mas poderia tê-lo feito de outra forma, penso eu.

Mudar de canal não está fora dos seus planos, mas admite que se sente verdadeiramente em casa na RTP

Octavio Passos/Observador

Ao longo dos anos tem tido a oportunidade apresentar inúmeros programas, concursos e festivais na RTP. Como se mantém a motivação após tanto tempo no ar?
Há uma aprendizagem constante, nunca ninguém sabe tudo, aliás, no dia em que acharmos que sabemos tudo está tudo estragado. Temos de ter a humildade de perceber que estamos sempre a aprender, que devemos querer sempre de fazer mais e melhor. Não saio do trabalho satisfeita todos os dias, às vezes quero fazer diferente, mas as coisas não dependem só de nós. O que depende de mim, tento cumprir ao máximo e a “Praça da Alegria” dá-me prazer fazer, gosto de comunicar, de me sentar e falar com pessoas, conhecer projetos e histórias novas. É um trabalho tão enriquecedor que estou sempre grata por poder fazê-lo. A longevidade depende muito da nossa postura perante as coisas, claro que há uma rotina e o cansaço existe, as coisas saem-nos do corpo e da cabeça, mas o resto compensa. Continuo a gostar imenso do que faço e é também importante por vezes diversificar o meu trabalho, dar uma perninha de dança, apresentar uma gala ou um concurso como o “Cosido à Mão”. É essencial não ficar agarrada apenas a um projeto e, ao mesmo tempo, mostrar que sei fazer outras coisas.

Tornou-se uma figura mediática praticamente consensual, não há um perigo nisso?
Não me importo nada de ser consensual, mas tenho noção que nem toda a gente gosta de mim, mas paciência, não é possível agradar a toda a gente. Sei que posso agradar a uma grande franja do público, caso contrário não estaria aqui há tantos anos, mas também faço por isso. Não sou uma pessoa conflituosa, gosto que as pessoas se sintam bem à minha volta e não gosto de fazer muito fretes. Isso faz-se quando somos mais jovens, a maturidade traz-nos essa capacidade de selecionar o que queremos fazer e com quem queremos fazer.

Sente que já tem esse estatuto no meio?
Não gosto muito da palavra estatuto, prefiro maturidade e crescimento. Sinto que consigo fazer escolhas e posso dizer ‘não’ a certas coisas. Conquistei isso, mas foi algo gradual.

Faz parte de uma geração televisiva pré redes sociais. Foi fácil adaptar-se?
Vejo as redes sociais como algo muito positivo, lidar com elas permitiu-me uma grande aprendizagem. De facto, as coisas agora são muito diferentes, mais rápidas, mais mediáticas. O que estou a fazer agora, se eu quiser, daqui a cinco segundos já todo o mundo sabe. Por um lado isso é bom, mas se não nos soubermos controlar também pode ser mau. Sei controlar aquilo que exponho nas minhas redes sociais, só mostro aquilo que quero, obviamente que tenho ajuda da minha agência, que me pode guiar, é um trabalho conjunto, mas em ultima análise termos de ser nós a tomar as rédeas da nossa vida e das nossas decisões, mesmo nas redes sociais.

Fazer televisão numa era em que as redes sociais imperam é melhor ou pior?
É muito melhor agora, hoje é impensável fazer televisão ignorando o que se passa nesse tipo de plataformas. Aliás, estou sempre a defender que é importantíssimo haver essa harmonia, acredito mesmo que as redes sociais são o presente e o futuro da comunicação.

Não tem a sensação que antigamente as coisas eram mais autênticas, espontâneas ou até mesmo verdadeiras?
Isso é outro assunto. Nas redes sociais pode-se criar a imagem de uma pessoa que não existe, mas em televisão também se pode criar uma imagem cor de rosa que não corresponde à realidade. Para quem faz televisão, as redes sociais facilitam muito, é mais um veículo de informação que pode orientar para onde queremos ir, onde podemos divulgar ainda mais o nosso trabalho, os nossos parceiros comerciais, penso que acaba por ser algo construtivo.

"Se não mantivermos um ar jovial e fresco, somos muito mais facilmente ultrapassadas por alguém que chega com esse aspeto. Há essa noção, claro que não nos é dito claramente, mas a pressão existe."

Não a vemos a partilhar muitas posições políticas ou sociais, faz parte de uma estratégia sua?
É quase inevitável não partilhar aquilo que também sou, as minhas rotinas por exemplo, mas nunca gostei de me meter na política. Já me convidaram várias vezes para dar a cara a várias campanhas, até de partidos diferentes, mas prefiro manter-me à margem disso pela posição que tenho. Já estou tão exposta diariamente na televisão que estar a tomar partido por A, B ou C não faz sentido, não me parece bem misturar as coisas, gosto de me manter mais isenta relativamente a esses assuntos.

Também não é associada a grandes polémicas ou a fotos ousadas, por exemplo. Essa imagem constrói-se?
Bem, já tirei fotos em biquíni nas férias e publiquei-as, mas não o faço todos os dias ou de forma gratuita. Não faço questão de vincar isso, não ajo de forma controlada, tento que isso aconteça naturalmente.

Mas tem noção que no mundo televisivo segue um caminho bastante discreto e low profile?
Talvez o meu percurso seja pautado exatamente por isso, o que me agrada.

Ganha ou perde mais por ser assim?
Acho que se ganha quando somos naturais e fiéis às nossas convicções. Se já sou assim na vida pessoal, o meu trabalho é uma continuidade. Claro que gosto que os meus programas tenham sucesso e audiências, que as pessoas valorizem o que eu faço, gosto de lançar alguma coisa e ter lá os holofotes em cima de mim, mas isso é outra coisa. Não necessito de ter essa atenção na minha vida permanentemente, mas sim no meu trabalho.

Há uma transparência entre aquilo que é em casa e na televisão ou não necessariamente?
Há sempre uma ligeira capa porque não posso estar em televisão como estou em casa no sofá com os pés em cima da mesa, é mais uma questão de postura. Agora, aquilo que sou e todas as minhas convicções são as mesmas, sinceramente, acho que não se consegue criar um boneco falso durante muito tempo, dá demasiado trabalho.

O mercado televisivo ainda continua muito concentrado em Lisboa, porque é que nunca escolheu trabalhar fora do Porto?
Já me surgiu essa oportunidade, mas não aceitei. Recebi um convite de outra estação, mas isso obrigava-me a mudar de vida, tinha de ir para Lisboa e na altura o que pesou foi a minha vida familiar. Não estava a  equacionar que todos fossem comigo e também não me queria separar deles e nem queria ter uma família só de fim de semana. Os meus filhos eram ainda muito pequenos, achei que eles iam precisar muito de mim e eu deles, por isso acabei por não aceitar. Não foi uma decisão nada fácil, demorei algum tempo até responder, até porque insistiram bastante, mas não me arrependo. Penso muitas vezes como teria sido a minha vida se tivesse ido para Lisboa. Não fico muito tempo a pensar no assunto, tomei a decisão, passou, está resolvido, está arrumado.

E como seria a sua vida se tivesse ido para Lisboa?
Se calhar não teria sido muito diferente do é hoje, provavelmente voltaria depois daquele projeto.

O facto de na RTP não se sentir a pressão das audiências, foi algo que também pesou nessa decisão?
Sim, pesa sempre. Do outro lado há mais essa questão do efémero, num dia somos muito bons, mas, se o programa que estamos a apresentar não tiver audiência, no outro dia somos muito maus e podemos ficar sem esse projeto. Numa estação pública, como a sobrevivência de um determinado projeto não depende tanto das audiências, acabamos por ter mais estabilidade, mais consistência, mais tempo para trabalhar e mais liberdade também.

Nunca lhe apeteceu perceber como se trabalha nos outros canais?
Sim e eu vou sabendo, não estou completamente ceguinha [risos]. Apesar de tudo, Portugal é pequeno e este meio também o é, todos nos conhecemos. Tenho amigos e colegas da minha agência que trabalham na TVI e na SIC, acabamos por ficar a saber a forma como cada um trabalha, é normal.

Não é, portanto, um cenário que exclua?
Está sempre tudo em cima da mesa. Sinto-me muito bem na RTP, sinto-me reconhecida, mas se amanhã o canal não arranjar projetos para mim, disser que não conta mais comigo ou eu própria não me sinta acarinhada na minha casa, procurarei outra. Neste momento isso não acontece, sinto-me bem na RTP, por isso gostaria de continuar.

Começou a sua carreira como assistente do ilusionista Luís de Matos, com quem ainda hoje mantém uma relação de amizade e admiração

Octavio Passos/Observador

Fez 50 anos, como lida com a idade?
Não me sinto nada com esta idade [risos]. A verdade é que um homem de 50 anos é charmoso, uma mulher de 50 anos já está a entrar num declínio e isso é muito triste. Não concordo nada com esta visão, acredito que a vida de uma mulher pode perfeitamente começar ou recomeçar aos 50, há mulheres que começam vidas novas porque se separam e se apaixonam, porque mudaram de emprego ou porque começaram a viajar. É perfeitamente possível recomeçar uma vida aos 50 ou continuar a vida que sempre teve com qualidade, com entusiasmo e com objetivos. A sociedade é que nos impõe este peso e obviamente para quem trabalhar com a imagem diariamente, como é o meu caso, essa pressão torna-se ainda maior. Se não mantivermos um ar jovial e fresco, somos muito mais facilmente ultrapassadas por alguém que chega com esse aspeto. Há essa noção, claro que não nos é dito claramente, mas a pressão existe.

Como lida com ela?
Não encaro isso como um sacrifício, até porque gosto imenso de cuidar de mim, como não sinto o peso que as pessoas dão aos 50 anos, tento não me lembrar disso. Acho que ninguém gosta de perder faculdades, de perceber que está a envelhecer, e é isso que tento contrariar fazendo exercício físico e tendo uma boa alimentação. Nem é tanto pelas rugas, é mais por não conseguir subir um lanço de escadas ou contrair as doenças. Assusta-me a ideia de não conseguir estar tanto anos cá para viver a vida, para ver os meus filhos crescer, quero estar cá ainda muito tempo para ver isso tudo.

O que ainda gostaria de fazer profissionalmente?
Continuo a gostar muito de dança, um projeto que esteja relacionado com isso é sempre algo que me entusiasma muito, não tenho necessariamente que dançar, até porque já não tenho tanto treino quanto isso. Depois gostava imenso de experimentar representação em cinema ou até mesmo numa série televisiva, embora não tenha formação de atriz. Também não tenho formação em televisão e faço-a há anos, aprendi fazendo e vendo os outros fazer.

O que gosta de fazer quando não está a trabalhar?
Às vezes é muito bom não fazer rigorosamente nada, não pensar, só pasmar. Adoro cozinhar e gosto muito de viajar, apesar de agora ser mais complicado.

Já pensou na sua próxima viagem?
Com isto da pandemia, os nossos sonhos estão um bocadinho na gaveta, sinto que não posso pensar em grandes voos porque ainda está tudo muito complicado. Há tantos sítios onde ainda tenho de ir. Adorava voltar à Austrália, porque só estive lá em trabalho, e depois gostava muito de conhecer o Japão, por exemplo.

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