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Qual é o ponto da situação em Portugal e no mundo?

No mesmo fim-de-semana em que Itália anunciou três mortes (nesta segunda-feira o número já subiu para cinco) e mais de 100 casos de infeção (são neste momento 219), foi também identificado o primeiro português infetado com o vírus Covid-19. Para já, as autoridades portuguesas estão cautelosas. Os dados mais recentes, apontam para uma subida do número de mortes devido ao coronavírus para pelo menos 2.627, e quase 80 mil infetados segundo o balanço mais recente da Organização Mundial de Saúde.

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Na Europa, o caso mais complicado é mesmo o de Itália, o que levou a que 10 municípios fossem isolados, jogos da primeira liga de futebol cancelados e locais públicos encerrados. Há ainda 16 casos detetados na Alemanha, 12 em França, nove no Reino Unido, dois em Espanha, dois na Rússia, um na Bélgica, um na Finlândia e um na Suécia. Nos EUA, foram detetados até agora um total de 35 casos, no Canadá outros nove, 21 na Austrália, 346 casos na Coreia do Sul, 105 no Japão (sem contar com o navio de cruzeiro), 86 em Singapura, 35 na Tailândia, o Irão contabilizou 50 vítimas mortais e 28 infetados.

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Além das vítimas mortais no território chinês, onde começou o surto e onde se registou, de longe, o maior número de casos e de mortes (76 310 infeções, 2345 mortes), morreram ainda três pessoas no Japão, duas na região chinesa de Hong Kong, duas na Coreia do Sul, uma nas Filipinas, uma em França e uma em Taiwan.

Portugal tem passado incólume a este surto, mas depois de 12 casos suspeitos negativos já foi noticiado o primeiro caso de um português infetado. Chama-se Adriano Luís Maranhão, é natural da Nazaré, distrito de Leiria, e estará isolado numa cabine do navio de cruzeiro japonês DiamondPrincess, onde trabalha como canalizador e está embarcado desde o passado dia 13 de dezembro. De acordo com a mulher, Emanuelle Maranhão, as análises deram positivo este sábado.

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Adriano tem 41 anos, três filhas, de 3, 5 e 8 anos, e ainda não apresentará sintomas da doença, sentindo apenas o “corpo cansado”. De acordo com a mulher, não estará a receber qualquer tipo de assistência médica: “Continua na cabine, não lhe deram de comer, não foram vê-lo, não foi nada feito, ou seja, continua lá; não foi auscultado, não foi medida a temperatura, não foi encaminhado para um hospital”.

Em reação, o Ministério dos Negócios Estrangeiros garantiu no sábado estar em contacto com as autoridades japonesas através da embaixada em Tóquio, e estar a acompanhar a evolução dos resultados dos testes que vão sendo realizados. Marcelo Rebelo de Sousa também afirmou estar a acompanhar a situação e já falou com a mulher do português infetado.

A bordo do Diamond Princess, ancorado no porto de Yokohama, no Japão, desde 3 de fevereiro, estão mais de 600 pessoas infetadas com o novo coronavírus. Duas morreram. Há quatro outros portugueses a bordo, mais três macaenses, que têm também nacionalidade portuguesa.

A Direção-Geral de Saúde conta ser informada pelas autoridades de saúde do Japão este domingo, 23, de manhã. De resto, no território nacional foram avaliados 12 casos suspeitos, mas todos deram negativo.

O que é o novo coronavírus (Covid-19)?

Cientificamente chamado de 2019-nCoV, também conhecido como coronavírus de Wuhan, ou mais recentemente Covid-19, trata-se de um vírus de pneumonia que foi detetado pela primeira vez no final do ano passado em Wuhan, província chinesa de Hubei que tem mais habitantes do que Portugal inteiro. Não há, ainda, tratamento específico para o vírus que já fez mais de 2350 mortos .

Pertence à família “coronavírus”, que engloba todos os vírus que estão na origem de várias doenças de cariz respiratório, que vão desde a gripe até à Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS) , que em 2002 fez cerca de 800 mortes mas foi rapidamente controlada, ou à Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), que também fez cerca de 800 vítimas mortais, mas da qual ainda hoje se continuam a registar casos. O novo coronavírus é uma nova estirpe que até agora ainda não tinha sido detetada em humanos. Os coronavírus são vírus transmissíveis entre animais e humanos: o SARS, também com epicentro na China, era transmitido de gatos selvagens para humanos, e o MERS de camelos dromedários. Há ainda outras estirpes de coronavírus que são conhecidas por circularem entre animais, mas nunca chegaram aos seres humanos.

Em termos de sintomas, traduz-se em dores de cabeça e enxaquecas, nariz entupido, tosse, falta de ar, dores de garganta e dores musculares, sintomas facilmente confundidos com os da gripe. Depois, a doença evolui para febres acima dos 38ºC e dificuldades em respirar que podem evoluir para uma pneumonia. Nos casos mortais, as vítimas, tinham entrado maioritariamente em septicémia.

O paciente-zero, Zeng, de 61 anos, foi a primeira vítima mortal desta nova estirpe de coronavírus, que até aqui ainda só tinha sido identificada em animais: nunca tinha sido detetada em humanos.

De onde veio o vírus?

Os primeiros casos de infeções surgiram num grupo de 41 pessoas que tinha visitado um mercado de marisco e animais selvagens em Wuhan, daí que se tenha começado a olhar para o mercado de Wuhan como o epicentro do surto, embora haja outras teorias que duvidam de que tenha sido apenas esse o início da propagação do vírus para humanos.

Foi, contudo, a partir desses 41 pacientes iniciais que a comunidade científica começou a sequenciar o material genético do vírus. A informação permitiu descobrir duas coisas: a primeira, que o vírus era muito semelhante ao 2003 SARS, que provocou um surto em 2002 que infetou oito mil pessoas e matou 800; a segunda, que era geneticamente parecido a um vírus que existe numa espécie de cobras da China, as Twain, que são muito venenosas mas com as quais os chineses fazem espetadas. Essas cobras estavam à venda no mercado onde o surto parece ter começado, daí que a comunidade científica tenha começado por fazer essa ligação.

Contudo, o aspeto físico do vírus revelou-se depois semelhante um agente infeccioso que já tinha sido detetado em morcegos. Segundo a Universidade da China, isso podia indiciar que os morcegos infetaram as cobras e que as cobras, através das fezes, transmitiram o vírus aos humanos pelo ar que circulava no mercado e que os doentes respiraram. A verdade é que havia muitos morcegos e cobras no mercado em questão.

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A hipótese da cobra, contudo, começou a perder força, mas a do morcego não. O morcego é o que a maioria dos especialistas aponta como fonte primária, já que os genomas do novo coronavírus são 96% iguais aos que circulam no organismo dos morcegos. Não é a primeira vez que estes mamíferos são apontados como “reservatórios naturais” das últimas grandes epidemias. Acredita-se que tanto o Ébola, a epidemia que matou entre 2013 e 2016 mais de 11 mil pessoas na África Ocidental, como o vírus da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV), que atingiu o continente asiático e matou quase 800 pessoas, tenham tido também origem nos morcegos.

Na semana passada surgiu ainda outra hipótese que junta os morcegos a um outro animal que pode ter servido como “intermediário”: um novo estudo aponta o pangolim, um pequeno mamífero em risco de extinção e um dos animais mais contrabandeados do mundo, como “intermediário” do vírus. Em comunicado, investigadores da Universidade de Agricultura do Sul da China afirmam que identificaram o pangolim como o “possível hospedeiro intermediário” que facilitou a transmissão do vírus, sendo que o animal pode abrigar o vírus sem adoecer e, ao mesmo tempo, pode infetar outras espécies. É designado de “reservatório”. Assim sendo, o pangolim poderá ter servido como “hospedeiro intermediário” entre o morcego e os humanos.

Um grupo de investigadores chineses concluiu entretanto que não existe nenhum “vínculo epidemiológico entre o primeiro paciente infetado e os casos posteriores”, o que pode indicar que não há ligação entre a propagação do vírus e a ida ao mercado de Wuhan: 13 dos 41 casos analisados não terão, afinal, frequentado o mercado. “Esse é um número considerável: 13, sem ligações”, disse Daniel Lucey, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Georgetown, à revista Science. À mesma revista, outro investigador, Bin Cao, especialista em pneumologia da Capital Medical University, em Pequim, partilha da ideia de que o mercado de Wuhan não é a única origem do vírus. “Mas, para ser sincero, ainda não sabemos de onde veio o vírus”, disse.

Como se comporta o vírus? Quais os sintomas?

O novo coronavírus consegue permanecer até nove dias em superfícies contaminadas como vidro, plástico ou metal. De acordo com uma investigação divulgada no “The Journal of Hospital Infection”, que se debruçou sobre dados de diferentes tipos de epidemias virais, como a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, na sigla em inglês) e a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS), o vírus pode transmitir-se de pessoa para pessoa ou por contacto com superfícies contaminadas.

No caso dos hospitais, a transmissão pode acontecer pelo simples toque em maçanetas, mesas de cabeceira, camas e outros objetos em contacto direto com os pacientes, que muitas vezes são feitos de metal ou plástico.

O estudo, feito por Günter Kampf, do Instituto de Higiene e Medicina Ambiental do Hospital Universitário Greifswald, na Alemanha, em parceria com o chefe do Departamento de Virologia Molecular e Médica da Ruhr-Universität Bochum, Eike Steinmann, analisou 22 outros estudos sobre coronavírus e concluiu que os vírus conseguem sobreviver, em média, entre quatro a cinco dias em superfícies, mas alguns podem chegar aos nove dias. A baixa temperatura e a humidade do ar ajudam à sobrevivência do vírus, que não se dá tão bem em locais mais secos e quentes. O mesmo estudo mostra que a maior parte dos coronavírus são sensíveis a desinfetantes e agentes químicos à base de etanol, peróxido de hidrogénio ou hipoclorito de sódio. Ou seja, convém limpar com esses químicos as superfícies com as quais os pacientes estiveram em contacto.

O facto de ser dado como certo que o novo coronavírus se transmite entre humanos aumenta o risco de circular na população. Mas há dois tipos de transmissão viral entre pessoas. Como Observador explicou aqui, inicialmente pensou-se que a transmissão do novo coronavírus era uma transmissão “limitada”, isto é, acontecia apenas nas situações onde havia um contacto muito próximo entre os fluidos corporais de duas pessoas, como o sémen, o sangue ou a saliva (tosse ou espirros). Isso seria positivo, querendo dizer que era mais fácil de conter a propagação, já que não se transmitia tão facilmente como a gripe. Mas, segundo David Heymann, um dos porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Covid-19 espalha-se com mais facilidade do que se pensava inicialmente. 

De acordo com o especialista, já se está a observar “difusão de segunda e terceira geração”, isto é, já se detetaram casos em que uma pessoa infetada passou o vírus a outra pessoa, que por sua vez a passou a terceiros simplesmente por tossir ou espirrar junto dela.

Numa primeira fase, o vírus parecia ter afetado sobretudo homens acima dos 60 anos e que sofriam de problemas crónicos como a hipertensão, diabetes, doenças associadas ao fígado e dificuldades respiratórias. Mas tal não significa que as mulheres, as pessoas com menos de 60 anos e que não tenham qualquer problema de saúde sejam imunes à infeção pelo vírus. Comparando este Covid-19 com o SARS ou o MERS, os especialistas garantem que, apesar de tudo, o novo vírus não parece ter uma capacidade de difusão tão forte e eficaz.

Quanto a sintomas, são semelhantes aos da gripe: os primeiros sintomas são dores de cabeça e enxaquecas, nariz entupido, tosse, dores de garganta e dores musculares. Depois, a doença evolui para febres acima dos 38ºC e dificuldades em respirar que podem evoluir para uma pneumonia.

Como pode proteger-se?

São várias as recomendações da Organização Mundial de Saúde para agir de forma preventiva face à possibilidade de infeção:

Se visitar mercados de animais, evitar contacto direto com eles e superfícies em contacto com animais;

Evitar consumo de carne crua ou mal passada;

Lavar regularmente as mãos com água e sabão ou produtos à base de álcool;

Manter distância (pelo menos um metro) de pessoas que estejam com sintomas visíveis, como tosse, espirros ou febre;

Usar máscara respiratória para evitar a propagação de qualquer doença respiratória. O uso isolado da máscara, contudo, não garante nada, uma vez que o vírus também se transmite através do contacto com superfícies infetadas. O conselho é usar máscara por precaução apenas se tiver sintomas de doença respiratória (tosse ou espirros).

Mas também há regras para usar a máscara devidamente: lavar as mãos antes de colocar a máscara, evitar tocar na máscara enquanto a usa, e, quando a tirar do rosto deve ter atenção para não tocar na parte da frente.

Uma das dúvidas mais frequentes é se é seguro receber uma encomenda vinda da China, mas a Organização Mundial de Saúde tranquiliza neste ponto: “É seguro. As pessoas que recebam encomendas da China não correm risco de ser infetadas pelo novo vírus, uma vez que, a avaliar pela experiência com outras estirpes de coronavírus, o vírus não permanece muito tempo neste tipo de objetos, como pacotes ou cartas”, lê-se no site da Organização Mundial de Saúde.

O que fazer para saber se estou infetado? O que acontece a um caso suspeito?

Ter só febre ou só tosse não é sinal de alerta. Nem ter estado na China é sinónimo de isolamento. É preciso que o caso seja validado como suspeito. Os hospitais preparados para receber doentes contagiados têm ordens para isolar de imediato os casos suspeitos de coronavírus. Mas quando é que determinado caso é considerado suspeito? Uma orientação da Direção Geral de Saúde indica que um caso só é considerado suspeito se a pessoa com sintomas de uma infeção respiratória aguda, como febre e tosse, sem uma causa que os explique, tenha estado em Wuhan, na China, nos 14 dias antes do início dos sintomas. Ou seja, tem de haver uma conjugação entre critérios clínicos (sintomas de doença respiratória) e critérios epidemológicos (contacto direto com doentes infetados ou viagem recente a locais com casos identificados).

Do alerta ao isolamento e à alta. Qual é o percurso de um doente com suspeitas de coronavírus em Portugal?

Caso preencha, aparentemente, alguns destes critérios, o primeiro passo é ligar para a linha do Serviço Nacional de Saúde (Saúde 24). Depois, com base nos sintomas que o doente relata, é feita uma validação “pela DGS com o médico designado de um dos hospitais de referência” — Curry Cabral, Estefânia ou São João. Se for validado como um caso suspeito, são acionados os mecanismos para levar o doente até um dos hospitais em alerta. O transporte é feito pelo INEM. “Se não for validado, são dadas indicações para onde se deve dirigir”, explicou o médico Fernando Maltez, diretor do Serviço de Doenças Infecciosas do Curry Cabral, ao Observador.

Se em vez de ligar para a Saúde 24, se dirigir pessoalmente a uma unidade de saúde, hospital ou centro de saúde, o procedimento é semelhante, segundo explica o mesmo médico ao Observador. “Se configura um caso suspeito, é isolado e colocado numa sala própria [daquela unidade de saúde]. É visto por um profissional de saúde, que contacta a Linha de Apoio ao Médico da DGS, e se o caso for validado, são acionados os mecanismos para o levar”, através do INEM, para um dos três hospitais referenciados: Curry Cabral, Estefânia ou São João.

Se o doente passar neste primeiro teste e for encaminhado para um dos três hospitais referenciados, é logo colocado num quarto de isolamento com pressão negativa: ou seja, um quarto onde a pressão é inferir à pressão atmosférica, o que permite que quaisquer vírus que possam existir no quarto não saiam para o exterior. No Curry Cabral, por exemplo, há 14 quartos deste tipo. Depois, são feitos exames para saber se o doente está mesmo contaminado com esta nova estirpe: análises ao sangue, análises às secreções respiratórias, recolha de amostras respiratórias do trato respiratório inferior, ou recolha de amostras de expetoração. As amostras são depois enviadas para o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que demoram cerca de cinco ou seis horas a ser analisadas. Em função disso, é que o doente sai ou não do quarto de isolamento. Se persistir com sintomas, continua a ser tratado mas fora do regime de isolamento.

Como se compara esta nova estirpe com outros casos?

A Organização Mundial de Saúde já declarou a “emergência internacional” e os vários países garantem que estão a fazer tudo o que está ao seu alcance para travar a propagação do vírus. No entanto, segundo dados compilados pelo El Confidencial, o coronavírus tem uma capacidade de propagação superior a outras epidemias recentes, como a gripe A, de 2009, ou o surto de SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), de 2002.

O jornal espanhol comparou a evolução do número de infetados no primeiro mês dos três surtos — no caso do coronavírus os cálculos foram feitos até ao 22.º dia. E, nesse dia, esta epidemia já tinha mais casos registados do que os outros dois surtos na mesma altura. A Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS-CoV) acabou por chegar aos Estados Unidos e ao Canadá: oito mil pessoas ficaram doentes e oitocentas morreram. Mais recentemente, em 2012, a Síndrome Respiratória do Médio Oriente (MERS-CoV) foi detetada na Arábia Saudita e chegou à Europa. Registaram-se 2,2 mil casos e 790 mortes. Contagiou os humanos através do contacto com camelos dromedários. E enquanto o SARS desapareceu, foi erradicado, o MERS sobreviveu e ainda hoje é detetado, até em Portugal.

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O diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou no último domingo que os casos confirmados de coronavírus em pessoas que nunca estiveram na China poderão ser “apenas a ponta do iceberg”. “Houve alguns casos preocupantes de 2019-nCoV a partir de pessoas sem histórico de viagens para a China. A deteção de um pequeno número de casos pode indicar uma transmissão mais difundida noutros países; em resumo, podemos estar a ver apenas a ponta do iceberg”, alertou Tedros Adhanom Ghebreyesus na sua conta do Twitter.

Como é que o surto está a afetar a China em termos económicos?

O surto do novo coronavírus forçou à colocação em quarentena de cidades inteiras e ao encerramento de milhões de restaurantes, hotéis e estabelecimentos comerciais, por isso, em termos de impacto económico está a afetar muito.

As receitas dos restaurantes e retalhistas, que no ano passado se fixaram mais de um bilião de yuan (131 mil milhões de euros) durante os dias de férias do Novo Ano Lunar, que costumam ser um ponto alto ao nível de receitas, caíram este ano para metade, segundo estimou Ren Zeping, economista-chefe e diretor da unidade de investigação Thinkgroup Evergrande.

Por exemplo, a maior cadeia de fondue da China, o Haidilao International Holding, ou as multinacionais MacDonalds e Starbucks, encerraram parte ou a totalidade dos seus estabelecimentos, durante o período do Ano Novo Lunar, que este ano calhou entre 24 de janeiro e 30 de fevereiro. O Jiumaojiu Group, outro operador de restaurantes listado na bolsa de Hong Kong, encerrou mais de 300 restaurantes. O grupo chinês Wanda Group, proprietário de mais de 300 centros comerciais em todo o país, renunciou a quase 4 mil milhões de yuan (523 milhões de euros) em rendas mensais para apoiar os comerciantes.

O turismo e redes de cinema estão a sofrer ainda mais, depois de as agências de viagens terem sido forçadas a suspender todos as viagens organizadas e os principais pontos turísticos do país encerrados. As estreias de oito filmes, previstas para a semana do Ano Novo Chinês, o período de maior receita para o setor, foram também adiadas.

No melhor cenário, que supõe que a epidemia possa ser contida em abril, o crescimento do PIB da China deverá desacelerar para 5,4%, este ano, depois de ter crescido 6,1%, em 2019, estimou o economista, citado pela agência Lusa. No pior cenário, supondo que a epidemia se prolonga, Ren estimou que o crescimento de 2020 poderá desacelerar para 5%.

A cidade de Wuhan, de resto, está em quarentena forçada desde 23 de janeiro, pelo que se assemelha hoje em dia a uma cidade fantasma, como se pode ver nestas imagens recolhidas através de um drone pela ABC News:

Ainda assim, este sábado a diretora-geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Kristalina Georgieva, avançou que a economia da China poderá retomar a normalidade no segundo trimestre, admitindo medidas de resposta à epidemia coronavírus Covid-19 e ao decorrente impacto económico.

“No cenário atual, com a aplicação das políticas anunciadas, [há a possibilidade] de a economia da China poder retornar ao normal no segundo trimestre. Como resultado, o impacto na economia mundial seria relativamente menor e de curta duração”, disse Kristalina Georgieva, na reunião dos ministros das Finanças do G20, que decorreu sábado e domingo em Riade, na Arábia Saudita, citada pela agência Lusa.

“As autoridades chinesas estão a trabalhar para mitigar o impacto negativo na economia, com medidas de crise, de provisão de liquidez, medidas fiscais e apoio financeiro”, garantiu Kristalina Georgieva que admitiu que o crescimento mundial vai ser inferior em 0,1 pontos percentuais por causa do surto da nova estirpe do coronavírus. “Neste cenário, o crescimento da China em 2020 vai ser de 5,6%, ou seja, menos 0,4 pontos percentuais do que o que tínhamos estimado em janeiro. Já o crescimento global vai ser inferior em 0,1 pontos percentuais.”

E acrescentou: “Ainda estamos a aprender como é que este complexo vírus se espalha e as incertezas são demasiadas para fazermos previsões com confiança. Podem surgir muitos cenários, dependendo do quão depressa o vírus é controlado e de quão depressa a economia chinesa e as outras regressarem à normalidade”.