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Telma é medalha de bronze? A culpa é da Ana

Ana Monteiro já competia quando levou a irmã para o judo, quando esta estava frustrada com o futebol. "Vivemos muitas coisas boas e outras menos boas, sempre uma com a outra. Na vitória e na derrota."

— Telma, o que se passa?
— Nada… estou cansada de jogar futebol, nunca compito…
— Vem para o judo. Vais gostar, é muito giro, podes viajar, porque é que não experimentas?

Foi assim que a Telma Monteiro de 14 anos foi levada para o judo. Foi seduzida pela irmã, Ana, que tem mais um ano do que ela e que já competia naquela modalidade. Telma já tinha experimentado, mas sentiu-se ainda mais desafiada por ter sido a irmã a lançar a corda. E o timing era perfeito: a frustração das experiências no atletismo e futebol pediam um momento messiânico. No dia 1 de abril de 1998, a menina que gostava de Backstreet Boys e Jean-Claude Van Damme foi assistir a um torneio. Gostou. Dois dias depois foi treinar. Assim entrou o judo na vida de Telma…

“Lembro-me de eu chegar muito entusiasmada do judo, quando a Telma ainda não praticava, e dizer ‘Telma, não vais acreditar, hoje já aprendi mais quatro técnicas'”, começou por recordar ao Observador, no Rio de Janeiro. “E pensava muito nisso, dizia lhe isso, transmitia-lhe que o judo era uma oportunidade. Dizia lhe: ‘Telma, se andarmos no judo e formos boas, podemos viajar, é uma grande coisa…'”

Cerimonia na Sagres. Jogos Olímpicos Rio 2016.

Ana Monteiro, à direita (COP)

E foi precisamente assim que Telma foi conquistada. Ela sonhava com a Ásia, nomeadamente com a China e Japão, o país do judo. Tinha dificuldades em imaginar aquilo tudo, explicou ao Observador, numa entrevista no Rio de Janeiro, já depois de conquistada a medalha de bronze. Queria saber como viviam as pessoas, como eram, queria sair da bolha e respirar. “Inicialmente o judo era uma oportunidade, depois tornou-se numa forma de vida, uma filosofia mesmo”, explica Ana Monteiro.

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"Durante muitos anos viajámos juntas e partilhámos muitas emoções nas competições. Vivemos muitas coisas boas e outras menos boas, mas sempre acompanhadas uma da outra. Na vitória e na derrota"
Ana Monteiro

A relação entre ambas foi sempre muito próxima, fruto também dos muitos estágios e viagens na seleção nacional de judo. “Durante muitos anos viajámos juntas e partilhámos muitas emoções nas competições. Vivemos muitas coisas boas e outras menos boas, mas sempre acompanhadas uma da outra. Na vitória e na derrota. Acho que esse caminho tornou-nos mais ligadas, por termos a mesma paixão, o judo.”

O humor de Telma é, para Ana, um ás de trunfo, mas nem sempre essa cartada é puxada. “Ao contrário do que ela transmite, há coisas na personalidade dela que só mostra a pessoas íntimas. Ela tem um sentido de humor incrível, como pudemos presenciar hoje.” Ana refere-se ao episódio no Escola Sagres, que recebeu o ministro da Educação e Desporto, Tiago Brandão Rodrigues, e o presidente do Comité Olímpico português, José Manuel Constantino. Na altura de agradecer a homenagem, Telma chamou Tiago ao ministro e arrancou umas gargalhadas aos presentes.

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“Já estou a quebrar todos os protocolos. O senhoooooor miniiiiiiiistro… (com direito a vénia). Eu costumo dizer uma coisa, na brincadeira: o Tiago foi adido olímpico da Missão nos JO de 2012 e conhecemo-nos daí. Eu digo sempre que em quatro anos subimos os dois na vida: eu ganhei a medalha e ele tornou-se ministro.” Ippon para Telma Monteiro, por humor de alto gabarito.

O lado mais relaxado de Telma estava ali, diante de todos. O olhar duro, concentrado, de quem vai para a batalha, aquele muito próprio do tatami, estava esquecido. Esta é a versão de que fala Ana.

"Ao contrário do que ela transmite, há coisas na personalidade dela que só mostra a pessoas íntimas. Ela tem um sentido de humor incrível, como pudemos presenciar hoje"
Ana Monteiro

“É uma pessoa muito lutadora”, continua a irmã. “Muito resiliente. Perante uma adversidade, ela tenta logo pensar numa solução e não se agarra à mágoa ou às derrotas. Nem às vitórias!”

Ana lamenta que no passado a irmã nunca tenha tido sucesso nos JO. “Todo esse percurso de muitas vitórias e algumas amarguras fez com que se tornasse ainda melhor.” Telma Monteiro, em entrevista ao Observador, admitiu que a ausência de glória nos Jogos tornava mais pequenos os outros grandes feitos, como as medalhas em Europeus e Mundiais, ou o tempo em que esteve estacionada em número 1 do mundo. Não chegava. Até que Telma fez uma tatuagem para sacudir a pressão: “Para de pensar nisso, já ganhaste muito! Agora vamos ver o que está para a frente”, explicou. Tatuou os anéis olímpicos. Agora completará a tatuagem: “Vou meter a data por baixo: 08/08/2016”.

From L: Mongolia's Sumiya Dorjsuren (silver), Brazil's Rafaela Silva (gold), Portugal's Telma Monteiro (bronze) and Japan's Kaori Matsumoto (bronze) pose with their medals on the podium of the women's -57kg judo contest of the Rio 2016 Olympic Games in Rio de Janeiro on August 8, 2016. / AFP / Jack GUEZ (Photo credit should read JACK GUEZ/AFP/Getty Images)

(JACK GUEZ/AFP/Getty Images)

“Eu estava no grupo na bancada”, conta Ana, com um sorriso revelador da emoção que viveu durante a prova. “Durante muito tempo visualizei que ela ia ganhar, eu queria muito. Eu queria tanto. Sentia-me muito emocionada antes da competição. Aquele combate contra a francesa era o combate do tudo ou nada, foi muita emoção mesmo.” Foi nesse combate que Telma berrou “eu vim para ficar”, com os indicadores a apontar para o tatami: “Eu acho que ela gritou aquilo para todos nós, para toda a equipa”.

"Durante muito tempo visualizei que ela ia ganhar, eu queria muito. Eu queria tanto. Sentia-me muito emocionada antes da competição. Aquele combate contra a francesa era o combate do tudo ou nada, foi muita emoção mesmo"

Ana sente o judo de uma maneira especial, modalidade na qual venceu várias medalhas a nível nacional, tendo até representado uma equipa na Alemanha (-52kg). Nunca o deixou de sentir, apesar de ter investido num percurso académico virado para o serviço social. “Hoje estou ligada ao judo. Talvez naquele momento, em que estava de saída, não me consegui visualizar logo no desporto, mas com o tempo percebi que não ia ser uma pessoa feliz no escritório. Tinha de estar naquilo que me deu as maiores alegrias da minha vida. Não podia desviar o caminho.”

Quem não se desviou do seu caminho foi também Telma, que teve de ir buscar ao arquivo mental a lição do passado. Quando o ouro é obsessão, combater na repescagem para lutar pelo bronze pode ser tarefa quase impossível. Aconteceu no passado. Desta vez Telma admitiu que pôs isso para trás das costas e que lutou por um dia histórico para o seu país. E assim foi.

Judo. Combate de atribuição da medalha de bronze. Jogos Olímpicos Rio 2016.

(COP)

“Eu acho que isso foi uma das mudanças em relação aos outros Jogos Olímpicos. Desta vez teve essa capacidade de dizer ‘okay, não vou lutar pelo ouro, mas o bronze salva o ouro. Há uma nova competição, um novo caminho, agora bola para a frente!'”

O desfecho desta lengalenga já todos sabemos qual é. De cor e salteado. Como se sente, então, a irmã que convenceu a benjamim do clã Monteiro a entrar no judo? É um bocadinho responsável pela medalha? “Sinto a medalha como minha, eu queria muito. Nunca queremos tanto como a própria pessoa, mas sinto-a como se fosse minha…”

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