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DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

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The Kim Kardashian Principle: "A falta de vergonha vende porque significa que não tens medo"

O fenómeno Kim Kardashian, novas celebridades, a fama moderna e o influenciador digital "brilhante" que Portugal é. Jeetendr Sehdev, autor do best-seller "The Kim Kardashian Principle", em entrevista.

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São seis regras que prometem descortinar o sucesso das novas celebridades. Ponto de partida: Kim Kardashian, a socialite, empreendedora, influenciadora, milionária, estrela maior do reality show “Keeping Up With the Kardashians” e mulher do rapper Kanye West; Kim Kardashian, o fenómeno social e comercial que Jeetendr Sehdev transformou em livro para mostrar “a quantidade enorme de poder e autenticidade que existe na definição de desavergonhado/a”. Publicado em 2017, o “The Kim Kardashian Principle transformou-se num best-seller do The New York Times e foi considerado pelo The Huffington Post como “um dos livros mais influentes do ano”. Na visão do autor, tudo isto acontece porque, agora, “precisamos de mais autenticidade do que alguma vez precisámos”.

Kim Kardashian: como ganhar a vida a viver

As regras de autenticidade e intimidade de Jeetendr Sehdev levaram a Nike a fazer a campanha publicitária “Dream Crazy” com Colin Kaepernick, que há-de ficar para a história pela mensagem política que passou e pelas reações extremadas que causou nos fãs da marca desportiva.

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Em entrevista exclusiva ao Observador, numa passagem por Lisboa, o autor britânico que vive em Los Angeles explicou porque é que as marcas hoje querem criar fanáticos, porque é que os YouTuber são as novas celebridades e porque é que a fama moderna veio redefinir o talento. “A falta de vergonha vende porque significa que se não tens vergonha — e eu vejo esta falta de vergonha de uma forma positiva –, não tens medo de viver a vida que queres e de ser a pessoa que queres.” Defensor de que ódio online é símbolo de status, diz que Portugal é  um sítio”brilhante” para aplicar as regras que levaram Kim Kardashian ao fenómeno que é hoje.

“Há uma quantidade enorme de poder e autenticidade na definição de desavergonhado/a”

Por que é que a falta de vergonha vende?
Porque as pessoas precisam de viver as suas vidas de forma autêntica. O que é descarado para algumas pode não ser para outras. Hoje, é muito perigoso julgar as pessoas de acordo com a moralidade, porque toda a gente tem a sua própria moral e o direito de viver a vida que quer. Por isso, a falta de vergonha vende porque significa que se não tens vergonha — e eu vejo esta falta de vergonha de uma forma positiva –, não tens medo de viver a vida que queres e de ser a pessoa que queres. Há uma quantidade enorme de poder e autenticidade na definição de desavergonhado/a. E acho que hoje toda a gente responde à autenticidade. Precisamos de mais autenticidade do que alguma vez precisámos.

Na era das redes sociais, como podemos detetar a diferença entre a verdadeira autenticidade e a autenticidade forçada?
Acho que hoje lidamos com uma geração que é mais salvadora do que as anteriores. Os millennials, no geral, e a Geração Z foram criados em organizações e com pessoas que diziam todas as coisas certas, vestiam todas as roupas certas, tinham os cortes de cabelo certos e estavam a ser expostos, atrás de portas fechadas, por fazerem ou serem alguém muito diferente. Acho que estas gerações mais novas desenvolveram uma espécie de detetores de autenticidade, que são capazes de diferenciar com sucesso quem está a fingir autenticidade de alguém que é verdadeiramente autêntico.

Pode dar um exemplo de algo que denuncie que estamos perante uma autenticidade falsa?
Sim, por exemplo, as táticas de relações públicas para as celebridades já não são autênticas. Hoje, quando a Madonna tenta divulgar um comunicado que lhe daria publicidade nos anos 1990 esse comunicado já não vai funcionar. Porque as pessoas podem dizer que se tratou apenas de um truque. A verdadeira autenticidade, para mim, é a Kim Kardashian, que escolhe viver a sua vida. O que a torna autêntica é o facto de viver a sua vida em frente à câmara, partilhando-a com toda a gente. Acho que seriam essas as diferenças.

"Há muitas celebridades tradicionais que entretanto foram expostos como sendo muito diferentes de quem reclamavam ser. Namoraram com pessoas muito diferentes das que anunciavam, vestiam roupas diferentes das marcas que publicitavam"

Mas a fama da Kim Kardashian também vem com um custo. Que custo é esse?
Acho que um dos custos é o julgamento que os outros fazem. Hoje, com as redes sociais todas as pessoas têm uma plataforma à sua disposição na qual podem ter uma opinião. E toda a gente tem o direito a ter uma opinião também. Acho que o custo é teres pessoas a expressarem a sua opinião sobre ti e a exercerem essa potencial negatividade sobre ti, porque não concordam com a forma como estás a viver a tua vida. Mas acho que a recompensa, por outro lado, também é incrivelmente valiosa.

Mas voltando ao exemplo da Madonna, se ela publicar uma foto no Instagram a dizer que se está a divertir com os filhos, como sabemos que é mesmo ela, que não é um assistente, e que aquele momento é mesmo autêntico?
Se for um assistente a pôr a foto está tudo bem, porque há um entendimento no marketplace de que há muitas figuras públicas que têm assistentes para as redes sociais e não acho que isso faça delas menos autênticas. Acho que faz parte da natureza do negócio, se isso for realmente aquilo que ela está a fazer e como se quer apresentar, então isso, para mim, é uma forma prática de implementar e partilhar a sua vida com o mundo. Ela não pode fazer tudo.

Diz que os YouTubers são as novas celebridades.
Sim, os YouTubers são as novas celebridades. E os influenciadores digitais.

Como explica este fenómeno?
Os influenciadores digitais são mais autênticos do que as celebridades tradicionais e têm uma ligação emocional muito mais forte com os fãs. Os fãs sentem que foram identificados por eles, que ajudaram a criá-los e que participam deles, que os fizeram. Lembram-se deles desde que tinham 10 seguidores até terem centenas de milhares de seguidores. Passar por essa relação com uma estrela, construir esta relação entre um fã e uma celebridade é totalmente diferente da relação que constróis quando vês alguém num filme ou num programa de televisão, quando não sabes de onde vêm, o que estiveram a fazer. Acho que há muitas celebridades tradicionais que entretanto foram expostos como sendo muito diferentes de quem reclamavam ser. Namoraram com pessoas muito diferentes das que anunciavam, vestiam roupas diferentes das marcas que publicitavam… Hoje há muito conhecimento no marketplace da fama, as pessoas sabem que as celebridades tradicionais não são tão influentes por tudo isto.

As marcas estão também a mudar de direção para estes influenciadores, sem exceção?
Absolutamente. As marcas estão a olhar para influenciadores digitais que possam ajudá-los a construir capital social na sua marca. Não acho que os influenciadores digitais sejam necessariamente bons para todas as marcas, como também não acho que as celebridades encaixam em todas as marcas, mas podem ser, sem dúvida, um componente eficiente de um portefólio de marketing.

Qual é a receita para ser um YouTuber de sucesso?
No livro falo de seis novas regras para um melhor desempenho e essas são as regras que os YouTubers, influenciadores digitais e pessoas como a Kim Kardashian e outros líderes que estão a emergir contra todas as expectativas e a todo o custo estão a usar. Uso o acrónimo S.E.L.F.I.E para sumarizar as novas regras.

Como descreveria o “Kim Kardashian Principle” numa frase?
Foca-te no que acreditas e no que queres criar independentemente da reação [dos outros].

“Nenhuma transparência é transparente o suficiente, nenhuma intimidade é suficiente”

Mas quando é que sabemos que já chega? Não deveria existir um limite para esta exposição?
Não, acho que uma das novas regras para teres um melhor desempenho é sobreexpores-te. Essa é a regra número 2. Hoje, para as audiências, nenhuma transparência é transparente o suficiente, nenhuma intimidade é suficiente e a verdadeira intimidade vem da exposição em demasia. Sê verdadeiramente corajoso o suficiente para mostrar quem és, o que defendes, quais são os teus valores.

Mas isso também tem um lado negro. Quais são os perigos dessa sobreexposição?
Bem, podemos falar sobre a Nike, que adotou o Kim Kardashian Principle e expuseram-se demais ao mostrarem-nos quais eram os seus verdadeiros valores. O slogan da campanha era, tal como digo: “Se acreditares nalguma coisa, sacrifica tudo [por ela]”. A desvantagem disto é que houve consumidores a queimar produtos, mas costumo dizer que a Nike não perdeu clientes, a Nike despediu clientes, mostrando-lhes a sua proposta de valor, dizendo-lhes exatamente aquilo em que acreditavam e aquilo que defendiam.

Eles estavam a capacitar os seus fãs e audiências para decidirem se concordavam ou se discordavam e isto é uma mensagem com muita força, uma mensagem muito autêntica. As marcas, celebridades e personalidades de hoje precisam de ser corajosos o suficiente para realmente se exporem. Já nada se resume àquele que é o denominador comum, porque as audiências vão pensar “Sabes uma coisa? Sei que tens uma perspetiva política, uma perspetiva sobre o ambiente, que tens opinião e quero que exponhas essas opiniões para que as conheça e me capacites para decidir se quero concordar contigo ou não.

https://www.youtube.com/watch?v=Fq2CvmgoO7I

A propósito dessa campanha publicitária da Nike com Colin Kaepernick, disse numa entrevista que 60% das audiências mais jovens querem relacionar-se com as marcas ao nível dos valores. Parece que já não há fronteiras entre política, empresas privadas, celebridades, influenciadores. É isso?
As marcas são famosas por se relacionarem com as audiências a um nível emocional e esse é o valor, o valor tangível.

Mas agora há mais uma relação, a política.
Não é apenas a política, os valores vão além da política. Agora temos uma geração que quer interagir mais com as marcas e com as celebridades de uma forma mais autêntica. E o que quero dizer com isso é que eles querem interagir não com a imagem que é apresentada, mas com quem a marca e a pessoa realmente são, aquilo em que realmente acreditam e que realmente defendem. Para que isso aconteça, essa celeridade e essa marca tem de ser honesta e aberta sobre aqueles que são os seus valores.

A campanha teve por base um dos seus princípios: “Sacrificar tudo quando acreditas nalguma coisa”. Mas é mesmo suposto sacrificarmos tudo? Não há nada que deva ser protegido?
Essa ideia é muito baseada naquela que é a tua autenticidade. É uma decisão pessoal e se há coisas que queres proteger, tudo bem, mas se te sentes com muita força em relação a algo, então quero capacitar as pessoas para que tenham coragem [de ação] sobre as suas convicções, para se sentirem livres de dizerem as coisas em que acreditam e não se sentirem silenciados nem sufocados. Para viverem as vidas que merecem viver sem medo de julgamentos ou de se sentirem diminuídos.

Por que é que esta geração se rege por conceitos como a intimidade e a proximidade?
Acho que os millennials e a Geração Z viram as gerações mais velhas crescerem com esta mentalidade de que não se consegue nada sem trabalho, viram casamentos a acabar e que muitas das estruturas tradicionais começaram a desaparecer. Acho que agora andam à procura de um significado [para a vida] e de intimidade noutros sítios. Acho que é uma necessidade humana… Toda a gente se quer sentir amado e toda a gente vai procurar sê-lo de várias formas. Talvez as gerações mais velhas tenham procurado isso através da propriedade e agora as gerações mais novas procuram isso através das experiências. De uma forma ou de outra, não se trata apenas de um concerto de rock, não é apenas a mala que se compra ou o par de sapatos. Trata-se da tua vida.

DIOGO VENTURA/OBSERVADOR

“Quando constróis uma marca, queres criar fanáticos”

É a autoobsessão, como escreve, essencial na era digital? Quem não for obcecado por si próprio já não tem lugar?
Acho que não se trata disso. Quando utilizo essa expressão estou a falar deste facto que é não termos de agradar os outros, mas agradarmo-nos a nós próprios. Procurar apaixonarmo-nos por nós próprios. É sobre seres verdadeiro com a pessoa que és, por oposição à pessoa através da qual queres cativar e agradar aos outros. Uma das regras do livro fala de como as ideias, produtos, serviços e pessoas mais eficientes são aquelas que são centradas nas pessoas, naquilo que elas defendem e acreditam. É isso que quero dizer com a expressão autoobsessão.

Mas quando és um influenciador, também podes correr o risco de os teus seguidores ficarem obcecadas por ti e não por eles próprias, que era o que querias. Como se faz este equilíbrio para passar a mensagem certa?
É esse o poder de uma marca. Quando constróis uma marca, queres criar fanáticos, pessoas que estão conectadas emocionalmente à marca. O jogo já não tem nada a ver com criar fãs, mas com criar fanáticos, pessoas que estão pré-dispostas a ouvir o que estás a dizer e percebem qual é a intenção por detrás do que dizes. É este o nível de ligação emocional das marcas, é por aqui que as marcas e as grandes celebridades precisam de ir. O meu livro é, em parte, um guia de marketing, em parte um manual de autoajuda e gostaria que toda a gente que o lesse ficasse mais capaz de gostar mais de si própria. É esse o meu objetivo: capacitar as pessoas para se sentirem livres e viverem de forma mais autêntica.

"As pessoas que estão a pôr cá para fora este discurso de ódio têm de questionar porque é que precisam de o fazer. É nossa responsabilidade"

Falando de amor, diz várias vezes que o ódio é símbolo de um status. Porquê?
Porque toda a gente tem o direito de ser ouvido e, com as redes sociais, toda a gente tem uma plataforma para ser ouvido. Não precisas de ter um diploma das universidades de Oxford ou de Harvard para teres este direito. Tem havido uma democratização da fama e da igualdade, que dá voz às pessoas, mas com estas plataformas vem também o direito de as pessoas se expressarem da forma que escolherem. E nós não queremos silenciá-las. Não queremos calar as pessoas ou fazê-las dizer as coisas que queremos ouvir. Por isso, naturalmente que quando tens uma figura pública ou uma marca que se está a expor vão haver pessoas que podem muito bem dizer coisas negativas sobre ti. E está tudo bem. É por isso que o ódio é símbolo de um status, porque tens sempre pessoas que pensam sobre ti, que te levam em consideração. E algumas vão gostar de ti, outras podem não gostar e vão dizer coisas negativas sobre ti, mas o que isto quer dizer é que te estão a ter em consideração.

Mas isso não é uma tarefa fácil.
Claro. E é por isso que o amor tem de ser interno. É por isso que se tiveres coragem de ir em frente com as tuas convicções, se tens crenças fortes o suficiente, [o ódio] não vai importar verdadeiramente, não vai deteriorar as tuas tarefas. As opiniões das outras pessoas são menos importante do que as tuas opiniões e do que aquilo em que acreditas. E precisas de te manter fiel a isso. Não tenhas medo do ódio.

Porque é que na Internet há mais discurso de ódio do que de amor?
As pessoas que estão a pôr cá para fora este discurso de ódio têm de questionar porque é que precisam de o fazer. É nossa responsabilidade. As pessoas que têm este discurso de ódio nas redes sociais precisam de questionar o que está a levá-las a comportar-se daquela forma. E as pessoas que estão a receber esse ódio devem permanecer absolutamente fortes e seguir em frente com aquilo que acreditam que é verdade. Não devem ser intimidados nem ser alvo de bullying, deviam aprender com esse ódio, entender que isso significa que estão a impressionar bastante as audiências e que as pessoas estão a prestar atenção e a desenvolver as suas opiniões.

"Se a Kim Kardashian se tivesse conformado com aqueles que eram os padrões sociais do que é um sex symbol, nunca se teria enquadrado: não era loira, não tinha olhos azuis, não tinha a forma corporal de uma mulher tradicional e não se conformou"

Nas empresas, como devem os líderes lidar com todos este novos conceitos. Como se aplica o “Kim Kardashian Principle” à liderança?
Acho que é a mesma coisa. Os líderes mais eficientes de hoje são aqueles que vão atrás das coisas únicas, que não estão à procura de se conformarem, são aqueles que defendem a autenticidade. Se a Kim Kardashian se tivesse conformado com aqueles que eram os padrões sociais do que é um sex symbol, nunca se teria enquadrado: não era loira, não tinha olhos azuis, não tinha a forma corporal de uma mulher tradicional e não se conformou. Ela reclamou a sua herança da Arménia, reclamou os seus aspetos tão únicos e não os reclamou apenas, ela amplificou-os. E como consequência disso, conseguiu redefinir a categoria.

As pessoas em cargos de liderança devem ser transparentes, não devem projetar uma imagem de perfecionismo, devem projetar imperfeições, porque a perfeição hoje é passado. Os líderes que são vulneráveis, que têm imperfeições são aqueles que se vão relacionar com as audiências hoje. Porque as audiências mais jovens não acreditam que haja alguém perfeito. Não vale a pena projetar essa imagem. Hoje, é o mercado que decide quem tem e quem não tem talento. E o talento também está a ser redefinido.

Mas há líderes que têm vergonha de mostrar vulnerabilidade, porque acham que é um sinal de fraqueza.
Absolutamente. Mas a vulnerabilidade hoje é um sinal de força na liderança.

E como se muda esta mentalidade?
Têm de ler o livro [risos], foi para isso que o escrevi. Para dizer que as sensibilidades estão a mudar. Os líderes de negócios que estão a mostrar-se mais humanos, que estão a relacionar-se com as audiências são aqueles que vão ter sucesso. O que estamos a ver agora é cada vez mais e mais e mais humanos a desenvolverem startups tecnológicas, com todos estes tipos de diferentes líderes que, de uma forma ou de outra, se estão a revelar aquém desta ideia da perfeição. E isso é redesenhar a paisagem.

Mas nas startups têm havido bastantes problemas com estilos de liderança mais agressivos. Estão os novos negócios, dos millennials, a fazer os mesmos erros que as outras gerações fizeram?
Líderes diferentes vão criar ambientes culturais diferentes. Por isso, se um líder de uma stratup cria uma organização com uma cultura em particular, a pessoa que vai juntar-se a essa cultura pode ser informada, para saber se quer trabalhar naquele tipo de ambiente ou não. Há algumas pessoas que gostam de trabalhar num ambiente de alta performance e agressivo e está tudo bem. Mas também há pessoas para as quais isso não vai resultar e isso também está perfeitamente bem.

Quando olhas para uma startup na Califórnia e para um banco de investimento ou uma empresa de consultoria, percebes que são fundamentalmente diferentes. É a pessoa que decide, porque há espaço para todos os tipos de cultura nas organizações, para todos os tipos de liderança. Acho que se torna perigoso quando começamos a rotular homens e mulheres fortes como sendo difíceis ou exigentes ou o que quer que sejam sem verdadeiramente aceitarmos que há vários estilos de liderança.

"Portugal está tão certo e alinhado com as regras do "Kim Kardashian Principle". A marca Portugal pode romper. Portugal é um país incrivelmente autêntico e ligado ao resto do mundo. E tem aqui uma oportunidade de se reinventar como uma cidade única para o futuro"

“Portugal é um sítio brilhante para se ser um influenciador. E um brilhante sítio para aplicar este princípio”

E um país como Portugal? É possível aplicar estas regras para promover um país como o nosso?
Absolutamente. É uma das razões pelas quais vim a Portugal, porque Portugal está tão certo e alinhado com as regras do “Kim Kardashian Principle”. A marca Portugal pode disparar. Portugal é um país incrivelmente autêntico e ligado ao resto do mundo. E [Lisboa] tem aqui uma oportunidade de se reinventar como uma cidade única para o futuro. E já estamos a ver isso acontecer a um certo nível. Vemos que se está a tornar num hub tecnológico, que é um sítio convidativo para desenvolver produtos de alta tecnologia. E o incrível talento que Portugal tem… Tem um ambiente com uma mente muito aberta.

O que é que temos andado a fazer de errado na nossa autopromoção?
Acho que, obviamente, Portugal passou por uma altura muito difícil a nível financeiro, mas sinto que agora há oportunidade para serem mais corajosos, para terem mais coragem em relação às vossas convicções, para realmente tomarem uma posição sobre qual é a opinião para o país. Qual é a perspetiva do país sobre o resto do mundo? E acho que há uma oportunidade de fazer mais isto.

Lisboa pode tornar-se mesmo num hub tecnológico?
Absolutamente, têm a Web Summit cá com um acordo de 10 anos, três unicórnios no país e empresas como a Farfetch. Por isso, claro, porque não? E também tens uma enorme habilidade para influenciar o mundo, porque o que estão a exportar não é apenas para os locais, é para o mundo.

Farfetch. A história do “unicórnio” que nasceu no pico da crise e hoje vale 8 mil milhões

Então, Portugal também pode ser um influenciador?
Sim, Portugal é um sítio brilhante para se ser um influenciador. E um brilhante sítio para aplicar este princípio.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Diga-me duas ou três coisas que façam de Portugal um influenciador assim tão incrível. 
As três razões para que Portugal esteja talhado para ser mais influenciador do que outros ambientes são estas. Primeiro: há algo de muito único e diferente na imagem de Portugal e na experiência que se tem. E as audiências de hoje movem-se em direção à diferença e não em direção às semelhanças. Vão ao encontro daqueles que não se conformam e que amplificam as suas diferenças e não em direção aos que se conformam e que tentam ser o mesmo. A segunda é que Portugal se tem mantido verdadeiro à sua cultura e parece estar menos influenciado pelo ambiente global homogeneizado do que outros países. E, como sabemos, as audiências são muito sensíveis a esta autenticidade. A terceira razão é que Portugal tem um espírito muito empreendedor e uma mente muito aberta.

Estas pessoas que julgam menos os outros, que não estão à procura de agradar a toda a gente e que estão à procura de implementar novas coisas são um tipo de cultura que é um influenciador para o futuro. Isto é exatamente o que os influenciadores fazem. Eles são empreendedores e têm a mente aberta. Eles criam o seu próprio conteúdo, escrevem-no e fazem tudo isto de uma forma muito autêntica e fiel ao que são, sem filtros, são mais crocantes, não se limitam a ser uma espécie de bolacha padrão.

A Kim Kardashian é o seu exemplo, mas deve ter feito alguma coisa de errado pelo caminho, porque todos cometemos erros. Consegue identificar um erro que ela tenha feito?
Não acho que esteja na melhor posição para falar sobre a Kim Kardashian, ela seria a melhor pessoa para falar sobre os seus erros. Ela é a protagonista do livro, é alguém que simboliza o livro, mas o livro não é sobre ela.

Mas consegue recordar-se de erros que outros influenciadores tenham feito e que não devem servir de exemplo?
Sim, lembro-me de influenciadores como Logan Paul ou o PewDiePie, que podem ter sido insensíveis. Por exemplo, o Logan Paul criou um vídeo no qual se via o corpo de um morto e o PewDiePie foi insensível em relação a alguns grupos minoritários e acho que eles se desculparam, mas isto faz parte… Cometer erros é humano, está tudo bem com o facto de se cometerem erros desde que se aprendas com eles. Faz parte de sermos imperfeitos. Não podemos projetar uma imagem de falsidade e perfeição. As audiências, hoje, mais do que alguma vez na vida, compreendem as marcas que cometem erros. Repara no que aconteceu com a United Airlines. Lembras-te do que se passou com aquele passageiro ensaguentado? A primeira declaração que o CEO fez foi para afirmar que não ia acarretar com nenhuma responsabilidade sobre o incidente. E isso foi um erro. Depois, fez uma segunda declaração dizendo que, afinal, a empresa acarretava com todas as responsabilidades, porque a primeira declaração não pegou, as audiências não acreditaram que aquilo fosse verdade. A segunda foi muito mais humana, depois de ele assumir total responsabilidade sobre aquilo e de admitir que tinham de ser melhores. Isto é um bom exemplo de alguém que pode ter feito um erro, mas que depois o corrigiu.

Quais são os três maiores influenciadores do mundo?
Fazer estes top é sempre complicado. Mas quando olho para os novos líderes mundiais e para as novas forças culturais diria que a Kim Kardashian é uma enorme influenciadora, com muitos seguidores, que está a partilhar connosco uma visão do que será o futuro, quer gostemos ou não. E está a mudar o mundo. Depois, alguém como o PewDiePie, que é um enorme influenciador. É um jogador que criou um negócio com um incrível sucesso e que partilha como se pode converter uma paixão num produto comercialmente viável. Isto é incrível para uma geração de millennials que não quer trabalhar para viver, quer viver para trabalhar. E, finalmente, recentemente a Forbes mencionou as críticas e brinquedos do Ryan, a criança de 7 anos que ganhou 20 milhões, no ano passado, com o YouTube. Acho que isto é muito influenciador. As pessoas querem ouvir o que ele acha de diferentes brinquedos.

E a idade dele não é um problema?
Não é um problema, claro que não. É algo que não é fácil, mas é algo que devemos reconhecer como um talento legítimo. E devemos aplaudir esta pessoa. Só porque não foste para uma escola de bateria ou para Oxford ou Harvard, isso não faz de ti menos pessoa. Acho que a fama moderna está a redefinir o talento e acho que há espaço para todo o tipo de talentos diferente hoje. Precisamos é de ter uma mente aberta e de pensar: “Sabes uma coisa? Se calhar tirar selfies é mesmo um talento, principalmente se tens 21 anos e és multimilionária, como vimos acontecer com a Kylie Jenner. Tirar selfies e criar um negócio de maquilhagem de sucesso a partir daí é hoje um talento. Kylie Jenner fez isso com a sua linha de maquilhagem. O que foi interessante foi que foram os próprios fãs que abriram uma conta para ajudarem a financiar isto e a fazer com que ela chegasse ao estatuto de mil milhões.

É um novo ambiente no qual vivemos. Precisamos de ter maior empatia com esta audiência e não podemos continuar a chamar aos millennials e à Geração Z preguiçosos ou estúpidos. Se queremos interagir com eles, temos de captar a sua atenção e se queremos que eles comprem os nossos produtos, temos não apenas de compreendê-los, mas de empatizar com eles também. E com o seu novo sistema de valores. Venha lá isso daí: mais empatia para toda a gente e menos julgamentos.

"Acho que toda a gente se sente atraída pela fama e pelo reconhecimento porque, em última instância, queremos ser amados. Acho que é mesmo este o fator e acho que não sou diferente. Quero influenciar, quero ser amado, quero ser recordado"

Sempre teve esta obsessão com os famosos e a fama. Porquê?
Acho que toda a gente se sente atraída pela fama e pelo reconhecimento porque, em última instância, queremos ser amados. Acho que é mesmo este o fator e acho que não sou diferente. Quero influenciar, quero ser amado, quero ser recordado, todas estas coisas, e ter um impacto positivo.

Já é famoso o suficiente?
Sem duvida que reconheço que o que digo influencia as pessoas à volta do mundo, reconheço que a indústria do entretenimento tem sido influenciada pelas coisas que digo e, por isso, há milhões de pessoas no mundo que foram influenciadas pelas coisas que digo. Acho que essa fama e reconhecimento vêm com um grande nível de responsabilidade também. E é por isso que trabalho de perto com as Nações Unidas para acabar com a escravatura moderna. Por isso, sim, acho que tenho uma responsabilidade que vem com este privilégio.

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