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Octavio Passos/Observador

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Tiago Mayan pegou em 3,2% e cantou vitória. "Poucochinha" não foi, mas ainda se sonhou com mais

Entre o todo-poderoso Marcelo e um Ventura em franco crescendo, a missão de Mayan para encontrar votos era espinhosa. Mas fez crescer os 1,3% da IL em 2019 para 3,2%. Saiu feliz. Eufórico, talvez não.

Em vez da cadeira dos dias anteriores, um palanque. Em vez de auriculares e um computador, uma base para dois microfones. E em vez da compenetração, o alívio e um sorriso bem estampado na cara. Na sala do segundo andar de um restaurante na Foz do Porto onde passou boa parte da última semana a fazer “Zooms”, Tiago Mayan Gonçalves reagiu aos resultados eleitorais deste domingo com alegria: “Penso que é uma noite de vitória. Estou contente, muito contente com este resultado”.

Na sala do restaurante, além de secretárias disponibilizadas aos jornalistas estavam apenas 18 cadeiras brancas ao centro, reservadas a comitiva de campanha e apoiantes do candidato. Até às 22h30, as cadeiras ficaram vazias — os ocupantes permaneceram no primeiro piso, interdito aos jornalistas, até o presidente da Iniciativa Liberal João Cotrim de Figueiredo subir para se congratular com o resultado do seu candidato.

Durante boa parte da tarde e início da noite, nem sinal do candidato ou da sua curta comitiva de apoiantes (curta por motivos sanitários). A sala ficava só para os jornalistas, tirando quando, às 17h30, João Cotrim de Figueiredo subiu para cumprimentar os presentes e desejar-lhes um bom trabalho, ou quando o porta-voz da candidatura Rodrigo Saraiva reagiu às primeiras projeções relativas à abstenção (divulgadas às 19h) e resultados eleitorais (divulgadas às 20h).

Ao piso inferior, o candidato chegou por volta das 19h — e ali ficou reunido por umas horas com o porta-voz da candidatura (também chefe de gabinete do presidente da IL, Cotrim de Figueiredo), com o líder do seu partido, com o diretor de campanha Vicente Ferreira da Silva e com Cláudia Nogueira, uma militante de base da Iniciativa Liberal a quem internamente se atribui grandes responsabilidades pela melhoria de Tiago Mayan nas prestações mediáticas, quer em entrevistas quer em debates.

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O jantar no piso de baixo era o mesmo servido aos jornalistas no piso superior — um conjunto de salgadinhos com os clássicos rissol, croquete e mini-pizza, claro, mas também com opções mais modernaças. E o ambiente, garante quem lá esteve, era de tranquilidade: Tiago Mayan, a sua comitiva e os seus principais apoiantes aguardavam tranquilamente, sabendo de antemão que a noite lhes sorriria e reforçaria o resultado (1,3%) conseguido pela Iniciativa Liberal nas eleições legislativas de 2019.

Mayan e as folhas do discurso em que disse: "Estou muito contente com o resultado"

Octavio Passos/Observador

As sondagens não deixavam margem para grandes dúvidas, vinha aí uma vitória e só faltava saber a dimensão desse bom resultado. Rondaria apenas um ponto percentual a mais do que nas legislativas de 2019? Era pouco provável. Seria no mínimo o dobro dessa percentagem de 2019, 2,6%? Cruzando todas as sondagens, era o mais expectável até porque a abstenção o favorecia.

Faltava perceber duas ou três coisas: se Tiago Mayan conseguiria ficar à frente de algum dos candidatos mais à esquerda, Marisa Matias e João Ferreira (uma das sondagens divulgadas às 20h colocava-o à frente de um deles e outra colocava-o à frente de ambos), e se ficaria mais próximo dos 3%, dos 4% ou, mais difícil, dos 5%. A vitória confirmou-se boa, Mayan teve 3,2% quando partiu com menos de 1,5% nas sondagens, e foi reclamada com proclamações, sorrisos e palmas. Mas não foi tão épica como se chegou a sonhar — e Mayan acabou a noite eleitoral mais perto de Vitorino Silva, vulgo “Tino de Rans”, do que de Marisa Matias ou João Ferreira.

O resultado dá embalo a um político novo que dificilmente não terá um papel de protagonismo na Iniciativa Liberal nos próximos anos e dá confiança ao partido para passar as autárquicas e sonhar com o reforço do crescimento nas próximas legislativas. Já Cotrim parece ter ganho um novo parceiro mediático (não o era antes da campanha) para dançar o tango no combate por um Portugal mais liberal.

Um discurso a apontar ao futuro: do partido e talvez dele mesmo

Envio um grande abraço de agradecimento e solidariedade para todos os profissionais de saúde que estão a combater esta pandemia como todos aqueles que estão debilitados por este vírus. Deixo aqui o meu desejo de rápidas melhoras.

Mayan começou o discurso com uma nota de agradecimento aos portugueses que foram às urnas num contexto eleitoral “difícil” e a quem trabalhou nas mesas de votos para garantir a realização das eleições. E deixou uma palavra aos profissionais de saúde que combatem a pandemia — que marcou toda a campanha eleitoral — e àqueles que estão “debilitados” pela Covid-19.

Ainda agradeceria ao mandatário, o centrista Michael Seufert, que não pôde estar presente e não pôde votar por estar confinado — um dos seus contactos familiares teve um teste de diagnóstico positivo —, bem como ao presidente do seu partido, João Cotrim de Figueiredo.

João Cotrim de Figueiredo, presidente do partido que apoiava Tiago Mayan nesta corrida presencial (a Iniciativa Liberal), ficou na fila da frente a aplaudir o candidato

Octavio Passos/Observador

Quero agradecer a todos aqueles que me acompanharam nesta corrida. A verdade é que eu não tinha nada para lhes oferecer a não ser a força das minhas ideias e dos meus valores, em que acredito. Obrigado pela vossa energia e por terem feito do meu sonho o vosso sonho.

Quando correram lado a lado em Belém, numa ação simbólica de campanha para marcar a corrida à Presidência da República, João Cotrim de Figueiredo tinha Tiago Mayan Gonçalves junto a si quando assumiu que esta candidatura apoiada pela Iniciativa Liberal tinha riscos. Naquele momento, falou dos que achavam “que a a Iniciativa Liberal não deveria ter um candidato porque era um partido demasiado pequeno”, dos que consideravam que o candidato “não estava preparado, não tinha notoriedade nem experiência mediática” pelo que a aposta era um tiro no pé.

Já naquele momento, na sequência de elogios de comentadores e analistas à prestação do candidato nos debates, João Cotrim de Figueiredo acreditava que os céticos estavam enganados. E no comício online de encerramento da campanha, na sexta-feira, o presidente da Iniciativa Liberal voltava a recordar os “riscos” da aposta: o “risco de um mau resultado”, a “inexperiência da nossa estrutura de campanha”, o candidato não ser “conhecido dos portugueses”.

Tiago Mayan Gonçalves reconhece isso tudo no discurso pós-eleições: diz que não tinha “nada a oferecer” e que foi a força das suas ideias e valores que lhe deu um bom resultado. Mayan pode não estar a dizer que foram apenas as ideias que lhe valeram os 3,2% — quando se refere à “força”, pode também estar a referir-se à forma e à convicção como as defendeu nas últimas semanas.

Avancei porque percebi que havia um espaço político em Portugal que se arriscava a ficar sem voz nestas eleições. Eu não o podia permitir. A avaliar pelos resultados desta noite, parece que tomei a decisão certa. Sem esta candidatura, milhares de portugueses poderiam ter sido impedidos de validar uma alternativa liberal, humanista e tolerante e por isso valeu a pena.

Tiago Mayan puxa dos galões dos seus milhares de votos para vincar que o motivo que o levou a avançar está por demais explicado — basta olhar para os resultados. Ao todo foi o preferido de 134.427 eleitores, quando a IL nas legislativas de 2019 tivera 67.681 votos.

É verdade que desta vez, ao contrário do que aconteceu nas legislativas de 2019, o CDS não se apresentou a jogo com candidato próprio, apoiando Marcelo Rebelo de Sousa para a Presidência e dando margem a Mayan para convencer eleitorado centrista e até “laranja” desavindo com Marcelo (esse eleitorado existia). Mas também é verdade que em 2019 André Ventura e o Chega captaram “apenas” 67.826 votos, maioritariamente à direita, e o crescimento esperado nestas eleições — acabaram com quase meio milhão de votos — podia esvaziar o eleitorado que porventura existiria entre Marcelo e Ventura.

O candidato estava convencido que não: diz que “havia um espaço político em Portugal que se arriscava a ficar sem voz” e esse espaço alternativo ao socialismo e ao comunismo estava precisamente entre Marcelo e Ventura, entre o “rigorosamente ao centro” e uma direita extremada e musculada, mesmo que Marcelo ganhasse à primeira volta e Ventura tivesse mais de 10%.

Mayan diz agora que o bom resultado lhe dá a perceção que a análise foi correta. E quando diz que “sem esta candidatura, milhares de portugueses poderiam ter sido impedidos de validar uma alternativa liberal, humanista e tolerante”, pode estar a lembrar que os seus votos de eleitores insatisfeitos com Marcelos iriam ou para a abstenção ou para uma alternativa que não é nem liberal, nem humanista, nem tolerante.

Se uma maioria dos seus votos acabasse, por exemplo, no colo de André Ventura — por este ficar sozinho entre os desavindos com Marcelo que não são nem do PS nem do BE e PCP — seria o suficiente para o líder do Chega ter uma vitória ainda mais retumbante e acabar à frente de Ana Gomes. E a “reconfiguração da direita” ou do “espaço não socialista” (porque a Iniciativa Liberal não se reivindica de direita) de que se fala depois das eleições teria outros contornos.

Mayan a preparar a intervenção

Octavio Passos/Observador

Os números desta noite sinalizam o crescimento da onda liberal de que tenho vindo a falar, um crescimento sustentado do espaço liberal no contexto político português. São números que mostram que há cada vez mais gente a querer um caminho que não passa pelas opções dos últimos 40 anos mas também não alinham no discurso de quem quer colocar portugueses contra portugueses. Se depender de mim, em Portugal o extremismo, seja ele qual for e de onde venha, não vencerá e não será oposição ao socialismo que também temos de combater.

Tiago Mayan Gonçalves fala num “crescimento sustentado do espaço liberal no contexto político português” e o adjetivo não é um acaso. No partido, o objetivo traçado passa normalmente por melhorar paulatinamente, de eleição em eleição. A IL não quer ser nem um fogacho nem fogo-fátuo na política portuguesa. O objetivo é ir crescendo sem tentar dar passos maiores do que a perna.

O presidente do partido de Mayan, Cotrim de Figueiredo, deixara uma mensagem no mesmo sentido quando falara uns minutos antes. Dizia que o resultado, “notável”, tinha sido possível “sem espalhafatado, sem protagonistas messiânicos e sem depender do que possa ser uma forma mais mediática” de fazer política. E acrescentava que este “era o resultado que almejávamos ter nas nossas melhores perspetivas” e lembrava que dava sequência a um trajeto de resultados gradualmente ascendentes notado nas legislativas, europeias e nas eleições dos Açores, por exemplo.

Neste excerto, Tiago Mayan Gonçalves volta ainda a tentar fazer uma afirmação do espaço político que vincou na candidatura, que no combate ao socialismo não é nem o PSD nem o Chega, estando entre os dois e próximo do CDS (mas mais liberal nos costumes). Numa posição anti-sistema, põe-se como representante de um eleitorado que não gostou “das opções dos últimos 40 anos” divididos entre PSD e PS mas que também não gosta do discurso “de quem quer colocar portugueses contra portugueses”.

Cotrim de Figueiredo falou imediatamente antes do candidato

Octavio Passos/Observador

Este combate por um espaço político novo também se faz da demarcação aos espaços políticos tradicionais e por isso Tiago Mayan Gonçalves diz que por ele o “extremismo não vencerá”, venha de que espectro ideológico vier (esquerda ou direita), e que não alinhará agulhas com esse extremismo num também considerado necessário combate ao socialismo. Se a IL crescer e ganhar influência e importância para acordos e alianças à direita, talvez seja preciso adaptar o discurso sobre os restantes partidos, ou pelo menos suavizá-lo.

Para já, suavizar o discurso com o Chega parece estar fora de hipótese. Tiago Mayan Gonçalves foi claro quanto a isso — diz que por ele o extremismo não vencerá — e questionado pelo Observador sobre o resultado de André Ventura, Cotrim de Figueiredo alinhou no tom e diz que os dois dígitos do líder do Chega não tiram “nem motivação nem razão” na forma como a IL vê a formação de Ventura. O que se percebe é que internamente a demarcação clara face a Ventura é, nesta fase, necessária e positiva para o partido. Sê-lo-á sempre?

Vim a esta corrida como cidadão, amanhã voltarei à minha vida como cidadão mas valeu muito a pena sair do sofá e vir lutar por aquilo em que acredito. Se não ficar mais nada desta noite eleitoral depois das luzes se apagarem, que fique esta mensagem: vale sempre a pena lutarmos, livres e com coragem, por aquilo em que acreditamos. Nunca aceitem que vos digam: não consegues, não podes, não és capaz. Nunca!

Na rede social Twitter, há alguns dias, o antigo líder da Iniciativa Liberal Carlos Guimarães Pinto escrevia que a evolução “mediática” de Tiago Mayan Gonçalves tinha um grande mérito: mostrava que um cidadão comum não precisa de ser um dinossauro político, com experiência mediática, comunicacional, partidária, pública, para se afirmar politicamente. Ou seja: havendo ideias boas e estruturadas, o resto trabalha-se.

A mensagem de Mayan depois das eleições vai no mesmo sentido. Quando se dirige a quem o ouve e diz “nunca aceitem que vos digam: não consegues, não podes, não és capaz”, Mayan fala ao coração dos eleitores e diz-lhes que é alguém como eles. Também a ele diriam proventura há uns meses “não consegues, não podes, não és capaz”, mas ele avançou, “saiu do sofá”, foi à luta e saiu com um bom resultado. Esta ideia de um cidadão comum poder singrar na política sem precisar dos velhos “vícios” e do carreirismo partidário foi aliás uma das mensagens mais vincadas de Mayan na campanha, tendo-se demarcado daquilo a que chama “políticos profissionais”.

As dez palavras escolhidas para figurar atrás do candidato foram "liberdade", "moderação", "amor", "mudança", "juventude", "coragem", "iniciativa", "ética", "sonho" e "mérito"

Octavio Passos/Observador

O que tenho feito continuamente é estar sempre disponível para o partido e para o que ele representa, a proposta liberal em Portugal. Estarei sempre presente para combater nessa luta por um Portugal mais liberal. (…) Estarei sempre disponível para o que significará tornar Portugal mais liberal, nomeadamente no contexto político do meu partido.”

Quando questionado pelas televisões sobre se ponderará assumir uma candidatura à Câmara do Porto nas próximas eleições autárquicas (algo que será difícil se Rui Moreira, de quem é amigo, se recandidatar) ou a futuras legislativas, Mayan não fecha portas. Diz que tem estado e continuará a estar “sempre disponível” e “sempre presente” para lutar pelo seu partido, pelo que este representa e por um Portugal “mais liberal”.

Se o partido dele necessitar, Mayan estará disponível para dar seguimento a este protagonismo político. Se não tiver um papel de relevo já nas próximas eleições autárquicas, não surpreenderia se nas próximas legislativas fosse o cabeça de lista da Iniciativa Liberal pelo Porto — enquanto João Cotrim de Figueiredo o seria por Lisboa. Só o tempo dirá o que acontecerá a Mayan, mas num partido ainda sem os chamados “quadros”, ou pelo menos com “quadros” que os portugueses não conhecem, o capital político com que sai destas presidenciais é uma das notícias da noite.

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