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Eleições decididas à primeira, sem grandes dúvidas, mas novas surpresas. Marcelo Rebelo de Sousa superou os votos de 2016 e conseguiu o terceiro melhor resultado de um presidente eleito em eleições presidenciais, com 60,70% dos votos (fica atrás apenas de Mário Soares em 1991 e de Ramalho Eanes em 1976). Já Ana Gomes, que conseguiu o segundo lugar, teve metade dos votos de Sampaio da Nóvoa, o segundo classificado, nas últimas presidenciais (o candidato contava com mais apoios no PS do que a ex-eurodeputada).

Grandes números à parte, talvez lhe tenham escapado alguns detalhes: sabia que Tino não ganhou na freguesia que o celebrizou (Rans)? E que Marcelo perdeu quase 3.000 votos no concelho onde vota, em Celorico de Basto? Ou que Marisa Matias perdeu o primeiro lugar na terra onde cresceu? E nos concelhos com menor poder de compra, quem se destaca?

Pela primeira vez, um candidato ganha todos os concelhos

Foi um feito histórico para Marcelo Rebelo de Sousa. O candidato apoiado pelo PSD, pelo CDS e por vários socialistas conseguiu pela primeira vez na história das presidenciais ganhar em todos os concelhos. Marcelo também pintou de laranja praticamente todas as freguesias. As exceções foram poucas: Póvoa de S. Miguel (Moura), Sobral da Adiça (Moura), Mourão (no concelho com o mesmo nome), S. Vicente e Ventosa (Elvas) — todas no Alentejo, que foram roubadas por Ventura a várias cores políticas — e Pias (Serpa), Alcórrego e Maranhão (Avis) e S. Martinho (Alcácer do Sal) — que mantiveram a preferência pelo candidato do PCP. Já Ana Gomes ficou em primeiro em Morgade e Negrões (ambas em Montalegre).

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Numa perspetiva mais geral, Marcelo Rebelo de Sousa reforçou a sua votação em todos os distritos (exceto Bragança), de tal forma que em nenhum ficou abaixo dos 50% dos votos. Os melhores resultados deram-se em Aveiro (65,66%), Viseu (65,25%) e na Guarda (64,04%). E os piores no Alentejo: Beja (51,3%), Évora (54,7%) e Portalegre (55,71%).

Nalguns dos distritos onde Marcelo Rebelo de Sousa teve os piores resultados (ainda assim, como vimos, acima dos 50%), foi o candidato do Chega que mais se destacou: Ventura teve melhor nota em Portalegre (20%), Bragança (17,6%), Évora (16,8%), Faro (16,7%) e Beja (16,2%). Por outras palavras, ficou em segundo lugar em onze distritos do continente (Vila Real, Bragança, Viseu, Guarda, Castelo Branco, Santarém, Leiria, Beja, Faro, Portalegre e Évora) e na região autónoma da Madeira. Já Ana Gomes chegou ao segundo lugar em sete distritos do continente (Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa e Setúbal) e na região autónoma dos Açores.

Marcelo é estrela na Madeira e nos Açores, mas não é protagonista no Alentejo

As votações mais elevadas de Marcelo Rebelo de Sousa foram nos arquipélagos dos Açores e da Madeira: na Calheta e em Santana (ambos os concelhos na Madeira) chegou aos 79% dos votos; na Calheta e no Nordeste (Açores) atingiu 78%.

Em sentido inverso, como vimos, os piores resultados foram nos distritos alentejanos. Mais concretamente, Marcelo Rebelo de Sousa não fez sucesso em Moura, onde teve o pior resultado nestas eleições (39%), seguido de Mourão (41%), Serpa (42%) e Avis (43,5%). Ainda assim, estes resultados estiveram acima da melhor votação conseguida por Ana Gomes. Ou seja, o pior resultado de Marcelo nestas eleições foi, mesmo assim, acima do melhor resultado da candidata num concelho (o Porto, onde teve 20,1%).

Em Lisboa, Ana Gomes teve quase metade dos votos de Sampaio da Nóvoa em 2016

Ana Gomes teve, nestas presidenciais, o apoio de alguns socialistas, menos do que Sampaio da Nóvoa em 2016, que entre os apoiantes tinha António Costa. A candidata conseguiu os melhores resultados no litoral do país (destaque para o Porto, como vimos), assim como em Portalegre.

Na capital, Ana Gomes não foi além dos 14,5%, muito atrás de Marcelo com 57,8%. A ex-eurodeputada somou 139.629 votos em todo o distrito, quase metade dos que Sampaio da Nóvoa conseguira em 2016 (257.593, o que representou 25,8%).

Porto foi o único distrito onde Ventura não ficou em segundo lugar em nenhum concelho. E onde Tino ficou em quarto

André Ventura reforçou a posição no Alentejo, onde ganhou quatro freguesias (Póvoa de S. Miguel, Sobral da Adiça, Mourão e S. Vicente e Ventosa). Comparado com as legislativas de 2019, Ventura conseguiu mais 21.753 votos em Portalegre, Évora e Beja em conjunto (num total de 26.118 votos). O candidato não teve tanto sucesso no Porto, o único distrito em que não ficou em segundo lugar em nenhum concelho. Por outro lado, Vitorino Silva (conhecido como Tino de Rans) conseguiu nesse distrito o seu melhor resultado: ficou em quarto lugar, com 4,5% dos votos (33.427).

Em termos globais, André Ventura contou sete vezes mais votos do que nas legislativas de 2019. Se olharmos para os concelhos, destacou-se em Mourão (34%), Monforte e Moura (31%) e Elvas (29%). O pior resultado foi no Corvo, Açores, com 4,9% dos votos. Ventura, que viabilizou o Governo do PSD nos Açores, ficou em terceiro lugar nesse arquipélago.

Tino sem Rans, Marcelo perde força em Celorico

Marcelo Rebelo de Sousa mora em Cascais, mas vota em Celorico de Basto (mais concretamente na freguesia de Veade, Gagos e Molares). Nesse concelho, ainda que tenha perdido força, voltou a sair vencedor. Nas eleições de 2016, Marcelo tinha conseguido 81,9% dos votos (8.219 apoiantes), um valor acima dos 76,1% (5.654) registados nas eleições deste domingo. Ou seja, perdeu mais de 2.500 votos. Sublinhe-se, no entanto, que o número de votantes nesse concelho também desceu entre as duas eleições — de 10.008 para 7.430.

Ana Gomes ficou em segundo lugar no concelho de Marcelo, muito atrás do presidente reeleito: apenas conseguiu 7,2% (539 votos). Marisa Matias, que também foi a eleições em 2016, perdeu quase metade dos votos desde então, de 329 para 178.

Já quanto a Vitorino Silva, se nas presidenciais de 2016 tinha sido rei na sua terra-natal (Rans), nestas eleições perdeu o primeiro lugar para Marcelo Rebelo de Sousa, ainda que a margem entre os dois candidatos seja curta (apenas 20 votos os separam). Ainda assim, não deixa de ser notória a queda de Vitorino Silva (Tino de Rans), que perdeu quase 20 pontos percentuais. Vejamos em 2016: Vitorino Silva (conhecido como Tino de Rans) tinha conseguido uns expressivos 60,9% (616 votos) e Marcelo ficou atrás com 27,3% (276 votos). Em 2021, esta ordem alterou-se: Marcelo ascendeu aos 44,3% (389 votos) e Vitorino Silva ficou-se pelos 42% (369 votantes).

Ana Gomes, por sua vez, vota na União de Freguesias de Cascais e Estoril, mas aí ficou em terceiro lugar (atrás de Ventura e Marcelo, que ganhou), concentrando apenas 11,7% dos votos. E André Ventura, que foi criado em Algueirão, Sintra, teve aí o segundo lugar, com 14,2% dos votos (Marcelo teve 58,8%).

Marisa Matias perde mais de metade dos votos na freguesia onde cresceu — e Marcelo passa à frente

Marisa Matias nasceu em Alcouce, Coimbra, que hoje pertence à freguesia de Vila Seca e Bendafé. Nas eleições de 2016, não restaram dúvidas: venceu por larga margem, com 49,1% dos votos (272). Marcelo tinha ficado atrás, com 31,1%. Desta vez, o jogo mudou, e Marisa Matias perdeu mais de metade dos votos que tinha conquistado há cinco anos (conseguiu 28,2%, ou seja, 120).  Já Marcelo ascendeu aos 46,6% (198 votos).

A melhor classificação de Marisa Matias num concelho não foi além do quarto lugar, posição que ocupou em 109 concelhos. Só ocupou o último lugar num local — Armamar, em Viseu (2,6% dos votos).

Já no Lumiar, onde João Ferreira votou, o candidato do PCP apenas conseguiu um quinto lugar, atrás de Marcelo, Ana Gomes, André Ventura e Tiago Mayan Gonçalves. Olhando para o mapa nacional, o candidato comunista foi segundo em 13 concelhos e as melhores votações foram no Alentejo: Avis (28,5%), Aljustrel (25,2%), Serpa (24,1%), Cuba (23%) e Mértola (21,8%).

Tiago Mayan, à semelhança de Ana Gomes, também teve os melhores resultados no litoral do país, mais concretamente em Lisboa e no Porto. Na freguesia onde votou, chegou ao segundo lugar: na União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde teve 15,9% dos votos, apenas atrás de Marcelo Rebelo de Sousa.

Ventura ficou em segundo lugar em sete dos 10 concelhos com menor poder de compra

Nos dez concelhos onde o poder de compra é menor, Ventura ficou em segundo em sete deles: Ponta do Sol (Madeira), Tabuaço (Viseu), Porto Moniz (Madeira), Vinhais (Bragança), Santana (Madeira), Câmara de Lobos (Madeira) e Penalva do Castelo (Viseu). Ana Gomes ocupou a segunda posição em Celorico de Basto (Braga), Cinfães (Viseu) e Baião (Porto). Marcelo ganhou em todos.

Ana Gomes, a mulher com mais votos de sempre

Ana Gomes ficou em segundo lugar com 536.236 votos e tornou-se, assim, a mulher com mais votos de sempre numas presidenciais. Antes dela, tinham-se candidatado Maria de Lourdes Pintassilgo, que, em 1986, conseguiu 7,38% dos votos (418.961). Nesse ano, as eleições foram ganhas por Mário Soares. Foi preciso esperar 30 anos para que houvesse nova candidata: em 2016, foi a vez de Marisa Matias e Maria de Belém. Nessas eleições, a candidata do Bloco de Esquerda chegou aos 10,11% dos votos e ao terceiro lugar — votaram nela 455.691 eleitores.

… e que ganhou na Hungria de Orbán

O recenseamento automático fez aumentar em cerca de cinco vezes o número de portugueses inscritos no estrangeiro. Mas o número de votantes não subiu na mesma proporção: foi apenas o dobro (de 13.542 votantes para 26.808).

Lá fora, Marcelo também tem maioria (52,03% e 14.200 votos), ainda assim, um recuo em termos percentuais face a 2016: 57,76%. No entanto, teve mais votos este ano (porque, lá está, há mais recenseados). Ana Gomes ficou em segundo (18,72% e 5.109 votos), à frente de Ventura por 1.168 votos. O candidato do Chega ficou-se pelos 12,79% (3.491).

Mas Marcelo não leva a melhor em todos os países. É o caso da Hungria. Ana Gomes, que tem sido crítica da governação do presidente húngaro Viktor Orbán, conseguiu aí o primeiro lugar com 30,61%, o que equivale a 15 votos, mais um do que Marcelo e mais sete do que Ventura.

Ana Gomes também foi a favorita dos eleitores em Timor-Leste, com 35 votos, mais 15 do que Marcelo. A candidata foi embaixadora de Portugal em Jacarta, na Indonésia, aquando do referendo de independência de Timor-Leste, em 1999.

Ventura ficou em segundo na Suíça

Na Suíça também há diferenças a registar. Aquela que é uma das maiores comunidades portuguesas no mundo dá o segundo lugar a Ventura, que tem praticamente a mesma percentagem de votos do que Sampaio da Nóvoa em 2016 (Nóvoa tinha ficado em segundo com 25,75%, e 218 votos; Ventura ficou com 24,50% e 841 votos). Ana Gomes não vai além do terceiro lugar, com 17,59% (604 votos).

Já em França, o país com a maior comunidade portuguesa, Marcelo reforçou a liderança — teve mais 904 votos (para 1.724) e passou de 48,26%  para 57,28% dos votos. Em 2016, Sampaio da Nóvoa tinha ficado em segundo lugar e Marisa Matias em terceiro: desta vez, foi Ana Gomes a seguir-se na lista e a candidata bloquista perdeu terreno. André Ventura, que teve o apoio da líder da extrema-direita Marine Le Pen, foi o terceiro mais votado: com 375 votos, o que representa 12,46%.

Tiago Mayan Gonçalves e Ana Gomes empatados em Madrid

Um dos melhores resultados para Tiago Mayan Gonçalves foi em Madrid, Espanha. Ainda assim, o candidato teve exatamente os mesmos votos do que a socialista Ana Gomes (122 boletins escolheram o candidato da Iniciativa Liberal, ou seja, 15,46% dos votantes). Marcelo Rebelo de Sousa ficou em primeiro lugar, com 50,06%.