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Ghana v Uruguay: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022
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Suárez, o rosto da desilusão uruguaia provocada pela surpresa Coreia do Sul

Maja Hitij - FIFA/FIFA via Getty Images

Suárez, o rosto da desilusão uruguaia provocada pela surpresa Coreia do Sul

Maja Hitij - FIFA/FIFA via Getty Images

"Tranquilidade" coreana, derrocada alemã, velhice belga. As surpresas, as desilusões e o crescimento de África nesta fase de grupos

A paciência do Japão deu frutos: quem apostava em vitórias frente a Espanha e Alemanha? Dos feitos da Austrália e Coreia do Sul às desilusões Bélgica e Alemanha: as grandes surpresas do Qatar.

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Do volte-face da Coreia do Sul, que se apurou sem a “tranquilidade” de Paulo Bento mas com enorme emoção, ao desespero do Uruguai que venceu e foi para casa, passando pelo adeus da Alemanha, aos primeiros lugares de Japão e Marrocos, sem esquecer a despedida da geração de ouro da Bélgica e a inesperada passagem da Austrália.

Foram várias as surpresas da fase de grupos do Mundial do Qatar. E há tendências que saltam à vista. Uma delas é o crescimento das seleções africanas: se em 2018, no Mundial da Rússia, nenhuma passou da fase de grupos, desta vez Senegal, mesmo sem a estrela Sadio Mané, e Marrocos, que até venceu o grupo que partilhava com Croácia e Bélgica, chegaram aos oitavos de final.

Em contraponto, a predominância das seleções europeias na fase do mata-mata decresceu: se em 2018 foram dez as que chegaram aos oitavos de final, este ano foram oito as que atingiram esta fase da competição. Há mais uma seleção asiática nos ‘oitavos’ (além do Japão, também a Coreia do Sul), mais uma seleção da Oceania (Austrália) e o crescimento da América do Norte e dos EUA (que em 2018 nem sequer estiveram no Mundial).

Os maiores derrotados

Uma derrocada alemã que não é “só mais uma”, mas que lembra 2018

Quando uma desilusão se repete, ainda se pode falar em ilusão? Esta será uma das grandes dúvidas em torno da eliminação prematura da Alemanha do Mundial do Qatar, ainda na fase de grupos da competição.

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No plano teórico, trata-se, é claro, da maior surpresa até ao momento. A equipa orientada por “Hansi” Flick até estaria no lote de sete a oito principais candidatos a vencer o Mundial, juntamente com Brasil, França, Espanha, Portugal, Argentina, Inglaterra e eventualmente (como joker) os Países Baixos.

Não faltavam, é certo, motivos para alimentar as esperanças germânicas, embora também existissem sinais suficientemente preocupantes para não colocar a Mannschaft como uma das grandes favoritas. No apuramento para o Mundial, a Alemanha foi avassaladora: ao contrário de Portugal, que precisou de ir ao playoff por ficar atrás da Sérvia no grupo A, apurou-se em primeiro lugar, com nove vitórias e uma derrota em dez jogos, e com 36 golos marcados e apenas quatro sofridos. Foi mesmo o segundo melhor ataque dessa fase de apuramento, logo a seguir à Inglaterra (que marcou mais três golos).

É certo que o grupo de apuramento era, em teoria, acessível, com Macedónia do Norte, Roménia, Arménia, Islândia e Liechtenstein como adversários. Mas o apuramento facilmente conseguido, com mais nove pontos do que o segundo classificado do grupo (Macedónia do Norte), gerou esperanças.

Mannschaft precisava de contas alinhadas como estrelas. Não aconteceu e no fim foram 3 mulheres a brilhar (a crónica do Costa Rica-Alemanha)

A própria composição da equipa alemã, não estando ao nível dos tempos áureos (como no Mundial de 2014, conquistado após o famoso 7-1 à Seleção do Brasil), não indiciava uma eliminação tão precoce. O setor defensivo não poderia, é certo, ser comparado ao da época de Philipp Lahm, Hummels e Boateng — só Antonio Rudiger, defesa-central do Real Madrid, partia para esta competição com estatuto de estrela. Mas na baliza continuava o experiente Manuel Neuer e, do meio-campo para a frente, não faltava qualidade, com uma base forte muito do Bayern de Munique (Goretzka, Kimmich, Musiala, Gnabry e Sané) a que se somava um experiente Thomas Muller, um Kai Havertz (Chelsea) à procura de afirmação na seleção e um Gundogan vindo de duas épocas de alto nível no meio-campo do Manchester City de Guardiola.

Bastou, porém, a primeira jornada da fase de grupos do Mundial do Qatar para a seleção germânica cair como um castelo de cartas. Uma derrota frente à Seleção do Japão, por 2-1, ainda sem a “estrela” Leroy Sané, fazia soar os alarmes na comitiva alemã, sobretudo porque se seguia um confronto com a poderosa Espanha. Na segunda jornada, a Mannschaft não foi além de um empate frente à seleção espanhola (1-1). E um desfecho que se poderia ter precipitado logo aí, se o Japão tivesse vencido a Costa Rica (perdeu por 0-1), aconteceu mesmo à terceira jornada: a surpreendente (e polémica) vitória nipónica frente à seleção espanhola (por 2-1) eliminou a Alemanha do Mundial do Qatar.

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A desilusão alemã após a eliminação

Getty IRico Brouwer/Soccrates/Getty Imagesmages

Por esta altura, talvez seja preciso repensar as próprias ilusões em torno da prestação da Alemanha neste Mundial do Qatar. É certo que a fase de apuramento foi um sucesso, mas a oposição era acessível. E as últimas prestações da Mannschaft em grandes competições sugerem que a eliminação na fase de grupos talvez não seja a “bomba” que noutras circunstâncias poderia ser.

No último Europeu, há pouco mais de um ano, depois de passar a fase de grupos em 2.º lugar à frente de Portugal — que os germânicos castigaram com uma vitória por 2-4 —, a Alemanha não foi além dos oitavos de final, tendo sido derrotada pela Inglaterra (finalista) por 0-2. Três anos antes, no Mundial de 2018, a seleção germânica fez ainda pior: foi eliminada na fase de grupos e em último lugar do seu grupo, com os mesmos pontos que a República da Coreia (4, em três jogos) e atrás de Suécia e México, que, com seis pontos, avançaram para a fase seguinte. Agora, quatro anos depois, a equipa germânica volta a não passar da fase de grupos. Surpresa, sim. Choque, nem por isso.

“Tenho medo de cair num buraco.” Kimmich fala em “pior dia” da carreira após eliminação da Alemanha do Mundial

O desespero do Uruguai, que “acordou tarde” no Mundial

Tic-tac. À hora a que este texto é escrito, 17h08, uma bomba-relógio espera o selecionador do Uruguai Diego Alonso. O que parecia impensável aconteceu: a reviravolta da Coreia do Sul frente a Portugal nesta última jornada da fase de grupos levou à eliminação do Uruguai no grupo H. E é previsível que um coro de críticas espere o selecionador do país.

O problema não esteve nesta última jornada. O Uruguai pode queixar-se da sorte, nomeadamente devido à inesperada derrota de Portugal (líder do grupo) esta sexta-feira. Mas num primeiro plano tem de se queixar de si mesmo: depois de um único ponto conquistado nos dois primeiros jogos, uma vitória por 2-0 frente à seleção do Gana não chegou. Faltou um golo neste jogo. Mas faltou muito mais nos dois jogos anteriores.

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A desilusão uruguaia depois de uma vitória amarga contra o Gana (2-0)

Maja Hitij - FIFA/FIFA via Getty Images

Diego Alonso “inventou” — pelo menos era esta a opinião predominante entre os adeptos uruguaios, à entrada para a última jornada do grupo. Inventou na primeira jornada, quando arrancou a competição com o veterano Godín (Vélez Sarsfield) como titular, em detrimento de Sebastián Coates (Sporting), e com o também veterano defesa Martín Cáceres (LA Galaxy) a lateral-direito, num jogo em que o Uruguai podia e devia vencer mas em que não passou de um empate sem golos, frente à Coreia do Sul. E inventou na segunda jornada quando, para enfrentar Portugal, mudou o sistema tático, passou a jogar com três centrais mantendo os três médios principais (Vecino, Bentancur, Valverde), retirando a imprevisibilidade no meio-campo ofensivo que De Arrascaeta, Pellistri ou até De La Cruz poderiam oferecer.

No terceiro jogo, foi tarde de mais. Alonso mudou: voltou ao 4x4x2 inicial, deixou Godín no banco, tirou o médio-defensivo Vecino para dar mais capacidade ofensiva à equipa e lançou Pellistri e De Arrascaeta no meio-campo ofensivo, permitindo a Valverde (principal figura da equipa) ter mais influência na construção de jogo desde trás e libertando os avançados (Darwin e o regressado Suárez, que “sentou” Cavani) para procurar mais a área e os últimos metros. Até resultou, mas o provérbio “à terceira é de vez” não chegou. E a seleção uruguaia, que partia com esperanças de fazer um brilharete, volta para casa mais cedo.

Coates a ponta de lança só salva o Sporting (a crónica do Gana-Uruguai)

Bélgica: a despedida amarga de uma geração de ouro

A entrevista explodiu como uma bomba: ao jornal britânico The Guardian, o médio e estrela da seleção belga e do Manchester City, Kevin de Bruyne, punha gelo nas expectativas dos adeptos do país descartando grandes feitos neste Mundial do Qatar. Ganhar a competição? Nem pensar. “Estamos muito velhos”, dizia De Bruyne.

É uma daquelas coisas que se pode pensar, mas que não se diz. Muito menos publicamente. Muito menos por um dos líderes da equipa, em campo e no balneário. Muito menos quando, por essa altura, a Bélgica ainda lutava pelo apuramento para os oitavos de final do Mundial.

Quando a entrevista (ao jornal britânico The Guardian) saiu, no dia 26 de novembro, a seleção belga tinha disputado apenas um jogo no Mundial do Qatar. E até o vencera, mas sem grandes motivos para festejar: o 1-0 frente ao Canadá tinha sido um resultado enganador, surpreendendo a debilidade belga evidenciada ao longo do jogo frente a um adversário que ninguém consideraria favorito a passar o grupo.

Depois da publicação da entrevista, a seleção belga continuou em queda livre. Na segunda jornada, foi derrotada pela seleção de Marrocos, por 0-2. Na última jornada, não foi além de um empate sem golos frente à Croácia. Resultado: terceiro lugar do grupo, atrás de Marrocos (líder) e Croácia (2.º lugar) e um bilhete de regresso prematuro do Mundial 2022.

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O desalento de uma geração belga em fim de linha

Tnani Badreddine/DeFodi Images via Getty Images

Correu tudo mal. É verdade que a análise de Kevin de Bruyne até se veio a revelar correta: ancorada numa geração envelhecida e em declínio, a de Toby Alderweireld (33 anos), Jan Vertonghen (35 anos), Axel Witsel (33 anos), Mertens (35 anos), Eden Hazard (31 anos, mas em clara queda física), o grupo capitaneado por De Bruyne, 31 anos, não chega sequer aos oitavos de final, por incapacidade ofensiva e por se ter revelado defensivamente permeável, em particular no jogo frente a Marrocos.

Fica a impressão que, por exemplo Wout Faes, defesa-central do Leicester, teria garantido outra solidez defensiva que Alderweireld e Vertonghen já não garantem. Ou que, na frente, De Ketelaere (Milan) poderia ter contribuído de outra forma, por mais que, como De Bruyne também disse, a nova geração não tenha chegado a este Mundial com força suficiente para a necessária renovação.

A ausência de um Lukaku em boa forma física e confiante, que não viesse de lesão, também poderia ter dado outra força à seleção da Bélgica. São muitos “ses” para as certezas tão sombrias da Bélgica: o selecionador Roberto Martínez já caiu, o Mundial já terminou e a nova geração do futebol belga, que será chamada para a renovação etária que aí vem, está ainda longe de provar poder chegar ao plano futebolístico a que este grupo chegou nos seus tempos áureos.

Este país não é para velhos nem para golos de Lukaku (a crónica do Croácia-Bélgica)

Dinamarca: a grande desilusão no regresso de Eriksen

No plano oposto ao de Marrocos, está a equipa da Dinamarca. Inserida num grupo com um favorito declarado ao primeiro lugar, a seleção francesa, o conjunto dinamarquês tinha teoricamente tudo para poder chegar pelo menos aos oitavos de final do Mundial do Qatar, já que as restantes equipas do grupo, Tunísia e Austrália, não eram exatamente gigantes.

Os motivos para acreditar na passagem dinamarquesa eram muitos. No plano emocional, o Mundial marcaria o regresso de Cristian Eriksen às grandes competições, depois do enorme susto de há pouco mais de um ano, quando colapsou em campo no jogo que opôs a Dinamarca à Finlândia e, inanimado, chegou a ”estar morto” durante cinco minutos no relvado, fazendo temer o pior.

Os piores prognósticos não se confirmaram: Eriksen não só venceu o jogo mais importante, o da luta pela vida, como continuou a jogar futebol. Mais do que isso: após uma passagem pelo Brentford, foi contratado este verão pelo Manchester United e chegou ao Mundial em bom plano, com seis assistências e um golo em 20 jogos disputados pela poderosa equipa inglesa.

A motivação não poderia ser maior. E a seleção orientada por Kasper Hjulmand tinha jogadores de qualidade para poder acreditar no apuramento: Andreas Christensen (Barcelona) no centro da defesa, muitas opções nas laterais (do benfiquista Alexander Bah a Rasmus Kristensen do Leeds United e sobretudo Joakim Maehle dos italianos da Atalanta), Hojbjerg (Tottenham) a fazer companhia a Eriksen no meio-campo e muitas soluções ofensivas, entre a principal figura Skov Olsen (Club Brugge) e opções como Braithwaite (ex-Barcelona), Jesper Lindstrom (Eintracht Frankfurt), Cornellius (Copenhaga), Poulsen (Leipzig) e Kasper Dolberg (Sevilha) para o ataque.

Um canguru a dar saltos com o espião que veio do frio (a crónica do Austrália-Dinamarca)

Mas nada correu bem à seleção dinamarquesa, que começou logo mal com um empate sem golos frente à modesta Tunísia. No jogo seguinte, uma derrota pela margem mínima frente a França (2-1) não corrigiu as coisas, mas a última jornada ainda trouxe esperanças: era preciso vencer a Austrália para passar o grupo e isso não parecia de modo algum impossível.

Nada feito: não só o grupo não venceu, como precisava para carimbar a passagem aos oitavos de final, como ainda foi derrotada pela seleção da Austrália, graças a um golo solitário de Mathew Leckie aos 60 minutos. Contas feitas: apenas um ponto conseguido e nenhum golo marcado frente a Tunísia e Austrália, duas seleções teoricamente acessíveis.

Qatar: um golo marcado, 7 sofridos, 3 derrotas, o pior anfitrião de sempre

Não será bem uma desilusão, mas é uma semi-desilusão. Ninguém tinha grandes esperanças na prestação da Seleção do Qatar, neste Mundial de futebol, mas essa prestação foi ainda pior do que se imaginava.

O balanço é este: em três jogos, frente a Equador, Senegal e Países Baixos, três derrotas, zero pontos, um golo marcado (na derrota por 1-3 frente ao Senegal) e sete golos sofridos. É a pior prestação de sempre de um país anfitrião num Mundial de futebol.

Os grandes vitoriosos

Coreia do Sul: com “tranquilidade”, mandar o Uruguai para casa

Os candidatos a passar o grupo H eram, sem sombra de dúvidas, Portugal e Uruguai. Poucos acreditavam na passagem da República da Coreia, sobretudo depois de um ponto em dois jogos, e com Gana e Uruguai aparentemente mais bem colocados para chegar aos oitavos de final. Mas a surpresa aconteceu — e a Coreia do Sul, com o português Paulo Bento como selecionador, chegou ao mata-mata com toda a “tranquilidade”, para usar a expressão a que o antigo técnico do Sporting ficou associado.

A passagem premeia uma equipa que, mesmo com menos recursos do que os principais candidatos a passar o grupo, jogou com menos medos, por exemplo, do que o Uruguai. Isso foi visível no confronto entre as duas equipas, logo na primeira jornada, com uma Coreia taticamente disciplinada a não ser inferior aos uruguaios. Foi visível na segunda jornada: mesmo perdendo, a seleção de Paulo Bento procurou incessantemente o empate quando perdia 2-3, asfixiando o Gana nos últimos minutos. E foi notório esta sexta-feira, quando não se deu por derrotada e virou uma desvantagem contra Portugal.

Korea Republic v Portugal: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022 Korea Republic v Portugal: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022 Korea Republic v Portugal: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022 Korea Republic v Portugal: Group H - FIFA World Cup Qatar 2022

Lágrimas, sorrisos e saltos nos festejos da passagem da Coreia do Sul aos oitavos de final

Alex Livesey - Danehouse/Getty Images

As principais figuras serão Kim Min-jae, defesa do Nápoles que nem sequer jogou neste último jogo contra Portugal, e Son Heung-min, capitão e avançado do Tottenham. Um dos talento a aparecer é Lee Kang-in, pequeno canhoto do Maiorca que traz imprevisibilidade e agita o jogo sul-coreano. Mas foi outro dos talentos sul-coreanos a aparecer no futebol europeu, Hwang Hee-chan, do Wolverhampton, que entrou esta sexta-feira para garantir o apuramento da sua seleção, com um golo aos 90+1 que consumou a reviravolta iniciada por Kim Young-gwon (defesa do Ulsan Hyundai).

Austrália: 1-0 a 1-0, os socceroos estão nos oitavos

O grupo, é verdade, não era um “grupo da morte”: à exceção da França, que em princípio ficaria em primeiro lugar, as restantes equipas do grupo da Austrália (Dinamarca e Tunísia) estavam longe de ser potências futebolísticas. Mas quem visse as casas de apostas antes do início do Mundial, por exemplo, perceberia com facilidade uma coisa: eram muito poucos os que apostavam na Austrália para passar o grupo e muitos mais aqueles que punham as fichas na Dinamarca.

O Mundial até começou mal, para a equipa orientada por Graham Arnold. O primeiro jogo era o mais difícil, mas a dimensão da derrota frente a França (4-1) assustou. Só que a seleção da Austrália superou-se e conseguiu o improvável, vencer os dois jogos seguintes da fase de grupos, ambos por 1-0, e passar aos oitavos de final do Mundial do Qatar. Os nomes sonantes são poucos, para não dizer nenhuns. Mas a surpresa aconteceu. Venha a Argentina. E Messi.

As melhores imagens da festa da Austrália. Matthew Leckie foi o herói que carimbou a segunda passagem aos “oitavos” dos socceroos

Marrocos deixou a Croácia e a Bélgica a olharem para cima

Mais uma surpresa do Mundial, desta vez pela positiva, mais uma surpresa que pode afinal ser apenas uma “semi-surpresa”. Quem olhasse para o nome “Marrocos” de uma perspetiva histórica, dificilmente veria uma seleção poderosa. Mas quem olhasse para o nome “Marrocos” mais minuciosamente, e para a força de uma seleção como esta em 2022, tinha motivos para acreditar numa surpresa. Até porque quer a Bélgica quer a própria Croácia, as principais candidatas a passar o grupo F, parecem não ter a força de outros tempos e depender ainda de gerações que já viveram dias melhores.

Individualmente, as soluções à disposição de Hoalid Regragui, selecionador franco-marroquino que assumiu o comando técnico depois de treinar o WAC (clube marroquino) e o Al-Duhail (Qatar), permitiam sonhar. Porque na baliza há Yassine Bono (Sevilha), porque a dupla de laterais não deve nada às das seleções candidatas a este Mundial (Hakimi do PSG e Mazraoui do Bayern) e porque Romain Saiss dá garantias no eixo defensivo, porque o meio-campo conta com um experiente Amrabat e porque, à frente dos operários do meio-campo há artistas para a equipa criar perigo na frente: o craque é Hakim Ziyech (Chelsea), mas Sofiane Boufal (Angers) e En-Nesyri (Sevilha) não o acompanham mal.

O Mundial de Marrocos começou com um empate a zero que soube a vitória: afinal, do outro lado estava a Croácia de Gvardiol, Brozovic, Kovacic, Modric e Perisic, a quem pareceu faltar, nessa partida, irreverência e desequilíbrio nos últimos 30 minutos para desmontar a defesa marroquina. Mas o melhor estava para vir: uma vitória por 2-0 frente à Bélgica (golos de Saiss e de Zakaria Aboukhlal) punha Marrocos na rota da qualificação e, depois, uma vitória por 2-1 frente ao Canadá (golos de Ziyech e En-Nesyri) permitiu à equipa marroquina somar sete pontos e terminar em 1.º do grupo, à frente da Croácia e à (eliminada) Bélgica.

Marrocos sem empatia por sonhos canadianos só parou no primeiro lugar do grupo (a crónica do Canadá-Marrocos)

Estados Unidos da América: o soccer começa a fazer frente ao football

Outra semi-surpresa. Num grupo com Inglaterra, Irão e País de Gales, não surpreenderia ninguém se os EUA passassem à fase seguinte da competição. Conseguiram-no, o que não deixa de evidenciar a força crescente de uma seleção que há alguns anos pouco contava mas que tem vindo a ganhar capacidade nos últimos anos, chegando a este Mundial com força.

As soluções eram muitas à partida. Com uma dupla de laterais fortes — Sergiño Dest, ex-Barcelona, à direita e Antonee Robinson, a fazer uma boa época nos britânicos do Fulham, à esquerda —, com Tim Ream, também orientado pelo português Marco Silva no Fulham (e também a fazer uma boa temporada) a comandar o eixo defensivo, os EUA prometiam solidez atrás. A qualidade do meio-campo “europeu”, com McKennie (Juventus), Musah (Valência) e Adams (Leeds), também evidenciava o crescimento dos jogadores norte-americanos fora de portas. E no ataque estava o trunfo: Christian Pulisic, 24 anos, antigo jovem prodígio do Borussia Dortmund contratado pelo Chelsea que procurava neste Mundial um espaço para brilhar que não tem tido no clube inglês.

Estes americans vão mesmo à procura do dream (a crónica do Inglaterra-Estados Unidos)

A passagem, conseguida com uma vitória arrancada a ferros na última jornada frente ao Irão (1-0), não é uma grande surpresa. Mas a prestação da Seleção norte-americana frente à Inglaterra (0-0), no segundo jogo da fase de grupos (após um empate a uma bola frente ao País de Gales de Ben Davies, Neco Williams, Ramsey, Harry Wilsson, Dan James e Gareth Bale), sugere que os norte-americanos podem conseguir competir com as Seleções candidatas à vitória neste Mundial. Segue-se agora, nos oitavos de final, um confronto com os Países Baixos.

E o inesperado primeiro

A paciência do Japão deu frutos

Quem estivesse atento à evolução da seleção do Japão, e sobretudo dos jogadores japoneses no futebol mundial ao longo dos últimos anos, já estaria alerta para a possibilidade dos nipónicos não serem pera doce neste Mundial do Qatar — e trazerem dores de cabeça quer à Espanha quer à Alemanha. O que não era tão previsível era o que aconteceu: duas vitórias contra as duas seleções teoricamente mais poderosas do grupo (2-1, em ambos os casos) e a passagem em primeiro lugar no grupo E.

Orientado por Hajime Moriyasu, um antigo futebolista japonês que como treinador teve as suas principais experiências no país (em clubes, nas Seleções jovens e como adjunto da seleção principal) antes de assumir o comando da equipa sénior japonesa, o Japão apresentava-se este ano no Mundial do Qatar com uma fornada interessante de jogadores.

Com Shuichi Gonda, um guarda-redes experiente (32 anos, 37 internacionalizações) e com passagem recente pelo Portimonense, na baliza, a defesa nipónica é capitaneada por Maya Yoshida, defesa-central de 34 anos que passou pelo futebol inglês e italiano antes de chegar ao seu atual clube, o Schalke 04. Mas há mais valores a jogar no futebol europeu na defesa, como Ko Itakura, defesa-central com qualidade a sair a jogar de trás que procura o seu espaço no Borussia M’gladbach — depois de épocas bem sucedidas no Schalke 04 e nos holandeses do FC Groningen —, e Takehiro Tomiyasu, que, vindo de lesão, até não tem sido titular, mas por quem o Arsenal pagou há pouco mais de um ano perto de 20 milhões de euros.

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A felicidade da Seleção do Japão após o apuramento em primeiro lugar no grupo da Espanha, Alemanha e Costa Rica

ANP via Getty Images

É do meio-campo para a frente, porém, que a seleção do Japão apresenta mais soluções, o que até sustenta a tese — defendida por alguns analistas de futebol — de que é jogando menos na expectativa (como tem feito nas primeiras partes) e jogando mais desinibida e ao ataque (como tem feito nas segundas partes) que o Japão se dá melhor e mais pode crescer no que resta desta competição.

No meio-campo, no coração do relvado, a equipa nipónica conta com uma dupla experiente e à altura da competição, formada por Wataru Endo (Stuttgart) e Hidemasa Morita (Sporting) — ainda que no último jogo, frente à Espanha, tenha jogado Ao Tanaka, do Fortuna Dusseldorf, que até marcou. Daí para a frente, as soluções ainda abundam mais: Daichi Kamada chega ao Mundial quando está a fazer uma grande época pelo Eintracht Frankfurt (22 jogos, 12 golos e 4 assistências pelo clube alemão esta temporada), o jovem canhoto Takefusa Kubo (Real Sociedad) traz irreverência e imprevisibilidade, Junya Ito chega com créditos no futebol belga e a afirmar-se na Liga francesa (Stade de Reims) e Daizen Maeda, ex-Marítimo e atualmente a jogar nos escoceses do Celtic, tem sido opção preferencial para ponta-de-lança.

A alimentar a capacidade que a equipa tem mostrado de se superar nas segundas partes dos jogos, transformando desvantagens em vantagens, Ritsu Doan (Freiburg, depois de uma boa temporada no PSV), Kaoru Mitoma (Brighton) e Takuma Asano (Bochum) têm-se destacado. E ainda há outras soluções, que têm sido menos utilizadas mas que ainda podem ser úteis numa segunda fase desta competição: Ayase Ueda, avançado de 24 anos que leva este ano oito golos em 18 jogos no futebol belga (Cercle Brugge), foi utilizado em apenas 45 minutos mas vive um bom momento de forma, e Takumi Minamino, do Monaco, que ainda só jogou 7 minutos mas que aos 27 anos tem já um CV invejável na Seleção japonesa (64 golos marcados pelo Red Bull Salzburg e 14 pelo Liverpool), pode vir a ser um trunfo saído do banco. É essa, aliás, a grande dúvida para a fase do mata-mata: até onde pode chegar a disciplina tática do Japão?

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