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A Trump 2.0 tem sido referida em várias sessões da Web Summit
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A Trump 2.0 tem sido referida em várias sessões da Web Summit

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A Trump 2.0 tem sido referida em várias sessões da Web Summit

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Trump 2.0. Mais amigo das grandes empresas, mais avesso ao escrutínio, mas na Web Summit o voto é de desconfiança

Dentro e fora de palco, há questões no ar sobre o que poderá trazer à tecnologia o regresso de Trump à Casa Branca. Dúvidas há muitas, mas só uma certeza: a proximidade de Musk, o "presidente sombra".

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Antes de começar a debater as implicações de uma administração “Trump 2.0”, Katherine Maher, ex-CEO da Web Summit e agora líder da NPR, quis fazer um esclarecimento. “Quando este painel foi definido não sabíamos os resultados das eleições”, começou por dizer. “Trump ganhou, o Senado é republicano. Sabemos agora mais do que na altura.” Porém, era ponto assente que queriam ter alguém no debate que representasse uma visão mais inclinada para Trump e o Partido Republicano. “Mas ninguém quis participar”. O debate fez-se na mesma.

Não foi só o palco principal da cimeira que se manteve como ‘zona livre de Trump’. Nos corredores e pavilhões, vários empreendedores com startups nos EUA foram manifestando ao Observador sobretudo dúvidas e desconfianças sobre a transição no poder e o que poderá acontecer nesta nova era da administração do empresário.

É especialista no Médio Oriente e já mandou na maior enciclopédia do mundo. Quem é Katherine Maher, a nova CEO da Web Summit?

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“Ninguém sabe o que vai acontecer”, constata o norte-americano Mike Ward, que está na Web Summit em representação de uma startup chamada Singular.Live. “Nem o próprio” Donald Trump. “Ele diz muitas coisas que não vão acontecer, o que vai ser interessante é perceber o que realmente vai acontecer”, continua, mostrando não ter dúvidas de que o Presidente eleito vai continuar a “seguir uma agenda que coloca a América em primeiro lugar” e a ser “muito protetor” das empresas e dos trabalhadores americanos.

Uns metros atrás está Pavlo Talaychuk, cofundador da startup Pibox, uma plataforma de colaboração para a produção de conteúdo (redes sociais, música, vídeos). É ucraniano e vive há cerca de um ano em Los Angeles, nos EUA. “Não sou cidadão dos EUA e não teria capacidade para votar”. Mas, em termos económicos, “seria mais republicano”, apesar de não ser fã de Donald Trump. “Quando estão no governo investem na economia, os negócios crescem, há mais pessoas a gastar dinheiro…”, enumera. “Mas Trump é uma pessoa super imprevisível. Não dá para perceber como é que ele vai decidir nestes temas.”

Ainda assim, se pudesse votar, nestas eleições teria optado “por dar o voto a Kamala Harris”. “Não era o Trump, não é? É por isso. Ele pode fazer muitas coisas más à democracia.” Já sobre o que poderá acontecer na guerra da Ucrânia com Trump no poder, que já mostrou não ser fã de Zelensky, tem menos capacidade para antecipar cenários. “É um contexto difícil, há muitas questões em curso.”

Enquanto estrangeiro a residir nos EUA, acompanhou a campanha e acredita que há lacunas por preencher de ambos os lados do espectro político. “Alguma coisa tem de mudar no futuro, estão super polarizados. Não gosto da área mais esquerda dos democratas.” Por isso, acredita que os dois lados tão opostos do espectro político norte-americano “estão a desequilibrar todo o sistema”. “É preciso haver algo mais central.”

Musk, o “presidente sombra”

Doou milhões à campanha, apareceu nos comícios, esteve ao lado do candidato republicano na noite das eleições. Que Elon Musk teria lugar junto de Trump era um dado quase adquirido. E, na madrugada desta quarta-feira, ficou a saber-se qual será o papel do multimilionário fundador da Tesla. Na prática, não fará parte do governo. Vai chefiar um novo departamento de “eficiência governamental”, em conjunto com o empresário republicano Vivek Ramaswamy, para, segundo Trump, “desmantelar a burocracia governamental, reduzir a regulamentação excessiva, cortar nas despesas desnecessárias e reestruturar as agências federais”.

Trump nomeia Elon Musk para liderar novo “departamento de eficiência governamental”. Multimilionário quer cortar 1/3 dos gastos do governo

Na Web Summit, Musk é um nome omnipresente quando se fala de Donald Trump. “Não sou um tipo tecnológico e não sei o que faço aqui, mas a tecnologia deverá ser o novo petróleo e vai afetar a política, porque o dinheiro e o poder estão lá. Vimos isso à nossa frente — a pessoa mais importante da tecnologia tornou-se agora no ‘presidente sombra’, se não mais”, afirmou Richard Schiff, que durante sete anos foi diretor de comunicação da Casa Branca na ficção. Desempenhou o papel de Toby Ziegler na série Os Homens do Presidente (1999-2006). E foi à cimeira tecnológica falar, justamente, da “Nova era Trump”.

DeRay Mckesson, Katherine Maher e Richard Schiff

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Entre os empreendedores que circulam no Parque das Nações (e que falaram com o Observador antes do anúncio do cargo de Musk), as opiniões dividem-se. Há quem ache que ter Musk no governo é “de loucos”. Mas também há admiradores do homem que “acha que pode salvar o mundo”. É o caso de Aisha Makara, relações públicas da Decentryk, uma empresa de blockchain com sede em Miami. Admite que Musk “tem uma ideia divina de si próprio” mas “está a fazer o seu melhor e está a tentar, na sua perspetiva, salvar a economia, porque faz parte dela”.

E faz cada vez mais parte dela. Menos de uma semana depois de Trump se ter sagrado vencedor das eleições, as ações da Tesla avançaram mais de 40%. Na passada sexta-feira, o valor de mercado da empresa de Musk ultrapassou o bilião de dólares (trillion, na numeração americana). E o homem mais rico do mundo ficou ainda mais rico. A fortuna do também dono da rede social X tinha disparado, à data desta segunda-feira, 70 mil milhões de dólares para mais de 300 mil milhões. “Esta subida impressionante captou as atenções dos analistas e acionistas, que veem a Tesla como uma oportunidade para capitalizar medidas que podem beneficiar a empresa”, destaca Antonio Di Giacomo, analista sénior da XS.com, numa nota enviada ao Observador.

O mesmo analista admite que há “expectativas” no mercado relacionadas com a proximidade entre Musk e Trump. Não será estranho, refere, que a nova administração decida, por exemplo, eliminar barreiras regulatórias que, neste momento, limitam o desenvolvimento de veículos autónomos. Ou que crie incentivos fiscais ou outro tipo de apoios para tecnologias com base em IA. O terreno poderá ainda ser fértil para a Tesla entrar noutros setores, como as energias renováveis ou o armazenamento de energia, onde a empresa já tem investimentos. Como será com Musk junto do Governo?

“Sem dúvida que vai tentar beneficiar-se a si próprio”, defende Trevor Standish, cofundador da empresa Do Bother Me. Mas nem todos pensam assim. Mike Ward, responsável da Reality Check Solutions, de Los Angeles, não gosta de “muitas coisas que Elon Musk faz”, mas reconhece-lhe valor. “Lidera algumas empresas muito grandes e muito bem sucedidas. Acho que foi bom para Donald Trump tê-lo como apoiante”. E a trabalhar próximo da futura administração? “Acho que é boa ideia ter pessoas da indústria envolvidas no governo. Para que não seja só o governo, quer seja o Elon Musk ou outras pessoas”. A resposta vai chegar nos próximos anos.

Zuckerberg, a “pessoa sã” em Silicon Valley?

Ao contrário de Elon Musk ou do conhecido investidor Peter Thiel, vários CEO das big tech evitaram assumir publicamente o apoio a Trump ou Kamala Harris durante as eleições. Mark Zuckerberg, o líder da Meta, é um desses casos. Após as eleições, Zuckerberg fez o mesmo que os líderes de empresas como a Apple, publicando nas suas redes sociais uma mensagem diplomática de felicitações a Trump.

“Parabéns ao Presidente Trump pela vitória decisiva. Temos grandes oportunidades à nossa frente enquanto país. Estou expectante para trabalhar consigo e com a sua administração”, escreveu na semana passada na rede social Threads.

Ao contrário de outras edições, a Meta tem uma presença discreta nos palcos da Web Summit — noutros tempos, a cimeira contou com a participação de Nick Clegg, o chefe de assuntos globais da tecnológica. Mas, mesmo sem porta-vozes do topo da hierarquia, a liderança da Meta foi mencionada durante uma sessão sobre “a era nova Trump”.

Afinal, Nick Clegg, vice-presidente do Facebook, não veio à Web Summit

“Acho que vai ser interessante ver o que Zuckerberg vai fazer”, lançou o norte-americano DeRay Mckesson, ativista pelos direitos civis e autor do podcast Pod Save the People. “Ele foi o vilão durante tanto tempo em Silicon Valley e agora parece ser a pessoa sã que restou.” Após o escândalo da Cambridge Analytica, que foi tornado público em 2018, e as acusações de interferência russa e desinformação na plataforma, a aura de prodígio da tecnologia de Zuckerberg esfumou-se. Noutra vertente, também lhe foram feitas críticas à falta de escrutínio à Meta, que recorreu a uma estratégia de aquisições para criar um império de redes sociais, através da compra do WhatsApp e Instagram.

Threads, uma “aventura de verão” que deu em romance ou uma “experiência falhada” que nem os anti-Musk conseguem salvar?

Agora, os tempos são outros, salientou o ativista, e Zuckerberg e os seus produtos parecem ser uma alternativa ao cada vez mais politizado X, salientou o ativista. “Vai ser interessante ver o que é que ele faz com o WhatsApp, Instagram e Facebok, esses sítios que estão no ecossistema [digital] e que não são o Twitter.”

Na prática, DeRay Mckesson reconheceu que o que se passa na rede social de Musk até poderá funcionar como oportunidade de crescimento para uma das redes de Zuckerberg, a Threads. “Parece um pouco mais sã, estou a ver muitas pessoas que estão a sair do Twitter [agora X] para o Threads, que não era bem uma resposta quando apareceu.”

Acho que Zuckerberg vai ser um grande ‘player’. É ver o que Peter Thiel e Musk vão fazer… Vai ser assustador, vão ter muito poder.”

No fim de outubro, Zuckerberg revelou que o Threads tinha “quase 275 milhões de utilizadores ativos mensais e mais de um milhão de inscrições diárias”. Há já algum tempo que se fala de um êxodo de utilizadores do X para outras plataformas: além do Threads, também a Bluesky parece estar a beneficiar de um aumento de utilizadores. Os números mais recentes dão conta de um aumento de 700 mil utilizadores na Bluesky desde as eleições dos EUA. Agora, totaliza 14,5 milhões de utilizadores, muito acima dos 9 milhões que tinha em setembro.

Um céu azul pelo pássaro azul? A Bluesky quer competir com o Twitter, mas ainda é “mais pequena do que muitas cidades”

Um “populista” que vai ser mais avesso ao escrutínio do que Biden?

A Meta, a Google, a Amazon e a Microsoft. São quatro das gigantes tecnológicas que ficaram na mira da justiça norte-americana durante a presidência de Joe Biden. Mas a mudança de Presidente nos EUA, com Donald Trump a regressar ao cargo que ocupou entre 2016 e 2020, pode não significar o fim da tentativa de luta contra potenciais monopólios no setor da tecnologia.

Afinal, o republicano, várias vezes descrito pela imprensa como alguém que gosta de se insurgir contra elites, é um “populista em todos os sentidos da palavra, incluindo a política anti-monopólio”, afirma Matthew Cantor, advogado da firma Shinder Cantor Lener. Em declarações ao jornal The Hill, o especialista defende que Trump vai continuar a exercer uma “pressão contínua sobre as empresas” e que terá como prioridade a aplicação da legislação que visa o combate de posições dominantes no mercado.

Os participantes da Web Summit têm dúvidas sobre o impacto da futura administração Trump nas tecnológicas

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Já Rebecca Haw Allensworth, reitora adjunta da Faculdade de Direito da Universidade de Vanderbilt, no Tennessee, diz ao The Guardian que apesar de Trump ter “um historial de ser duro com a tecnologia em termos de questões de concorrência”, o que se viu durante o seu primeiro mandato (em que, por exemplo, investigou a Google), têm-se vindo a aproximar de líderes do setor, como é o caso de Musk, o que pode indicar uma mudança de posição.

Os empresários norte-americanos ouvidos pelo Observador na Web Summit acreditam nessa alteração e defendem que o escrutínio às gigantes tecnológicas vai diminuir — mas não veem essa possibilidade como sendo necessariamente positiva. Trevor Standish crê que a administração Biden era “mais contra as big tech” enquanto a nova presidência será “menos exigente e permitirá um pouco mais de liberdade no mercado”.

“Penso que na nova administração poderão ver-se muitos dos processos contra tecnológicas a desaparecer. Mas é só uma hipótese”, afirma, acrescentando que o possível fim do escrutínio seria uma “má decisão” numa altura em que se vê uma “consolidação maciça das grandes tecnológicas”, que se estão a tornar “extremamente monopolistas”.

Mike Ward também acredita que Trump vai aliviar a pressão, mas opta por salientar a incerteza sentida pelos negócios neste momento de transição do poder norte-americano: “Qualquer empresa, não apenas as tecnológicas, quer ter certezas. Quer saber o que está a acontecer e o que está para vir, para poder planear [o futuro].”

Além da incerteza sentida no mundo dos negócios, os empresários mostram-se “perdidos” quanto ao futuro do país e acusam Donald Trump de não estar a ser “muito transparente sobre os seus planos”. “Toda a gente está numa onda de ‘vamos esperar para ver’. Quer se trate da área das Finanças, quer se trate de tecnologia, quer se tratem de assuntos militares ou de inteligência artificial… é tudo um grande ponto de interrogação neste momento”, argumenta o norte-americano Trevor Standish.

Num argumento a favor de Trump, Ashley Galanti, norte-americana que fundou uma plataforma para detetar convulsões antes de acontecerem,  aponta a idade de Joe Biden como um problema. Tinha uma “mente um pouco fechada”, diz a empresária, enquanto Trump “aceita melhor” as novas tecnologias e as ideias inovadoras dos empreendedores.

A empreendedora adianta que nem ela nem os seus amigos queriam votar em Trump, mas também não queriam pôr a cruz em Kamala Harris por considerarem que os dois candidatos à Casa Branca não representavam “o que a América queria”. “Gostaria de ter alguém [a concorrer] que visse os dois lados. O mundo não é preto e branco. E sinto que, na política, todos os candidatos o descrevem dessa forma. Preciso de um candidato ‘cinzento’”, acrescenta, segundos antes de voltar a explicar o modelo de negócio da sua startup aos curiosos que vão passando pelos corredores da FIL.

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