Numa investigação sobre o destino dado a smartphones e tablets em fim de vida, em Portugal, 45% dos inquiridos afirmam que guardam os dispositivos obsoletos, ainda que funcionais. Os equipamentos avariados são também guardados pelos utilizadores, em 36% dos casos. Esta propensão para manter e guardar, em vez de encaminhar estes resíduos com vista à sua valorização, salvaguardando o ambiente, foi uma das conclusões do estudo apresentado durante a primeira e-Waste Summit.
O fórum decorreu na 4ªfeira, 22 de maio, nas Carpintarias de São Lázaro, em Lisboa, numa parceria que juntou a LG e a ERP Portugal na promoção de uma estratégia de compromisso que deve ser assumida por todos os stakeholders em geral, entidades reguladoras e outros decisores na área da reciclagem de Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrónicos, em particular.
O tema da “Tecnologia Sustentável na Era Digital – Realidade e Desafios” foi o ponto de partida para o encontro que reuniu diversos especialistas e contou com dois debates, visando a análise da situação atual e a projeção de soluções que permitam colocar Portugal nos lugares cimeiros da valorização e reciclagem do chamado lixo eletrónico.
O Secretário de Estado do Ambiente, João Ataíde, presidiu à sessão de abertura do evento referindo-se ao atual quadro regulatório do sector da reciclagem e da gestão de resíduos, apelando ao compromisso de todos os intervenientes, públicos e privados. A sustentabilidade e a economia circular. “A gestão correta dos resíduos perigosos passa por manter os equipamentos íntegros, de modo a poderem ser removidos posteriormente os materiais e substâncias que os compõem, por operadores devidamente habilitados”, referiu o governante. A propósito da passagem da meta de recolha de REEE, de 45% para 65% já em 2019, João Ataíde mostrou-se otimista, mas consciente de que tal objetivo apenas será alcançável “se os produtores e empresas do sector se comprometam com este desígnio.”
O panorama nacional da gestão de REEE deu mote à comunicação de Rosa Monforte, Diretora Geral da ERP Portugal, que admitiu não haver condições, no atual cenário, para alcançar a meta de 65% de recolha prevista para o final deste ano. Uma das maiores dificuldades neste processo está relacionado com o desvio destes resíduos para circuitos paralelos e não licenciados, logo não contabilizados para as metas nacionais,
Na intervenção de Javier Cervera, Diretor Financeiro da LG Espanha e Presidente da ECOTIC, ficamos a conhecer a Estratégia de Sustentabilidade da LG no mundo. Eficiência energética, durabilidade dos equipamentos, recuperação de gases e o estabelecimento de uma cadeia logística sustentável, juntam-se à expansão dos negócios ecológicos na área da energia solar e dos componentes para veículos elétricos.
O cenário da Sustentabilidade no mercado nacional pontuou a comunicação do Diretor Geral da LG Portugal, Ruy Gil Conde, que salientou o facto de já terem sido recicladas 18 mil toneladas de REEE desde 2011. Referindo-se à iniciativa Geração Depositrão, destacou a dinâmica de “900 entidades, 40 mil professores e 420 mil alunos, que já permitiu encaminhar mais de 3 mil toneladas de REEE e RP&A.”
A estratégia de sustentabilidade da LG passa pelo desenvolvimento de produtos mais silenciosos, que produzam menos vibração e consumam menos energia. Além da conceção idealizada para facilitar o desmantelamento e reciclagem.
Ruy Gil Conde anunciou o compromisso de atingir a reciclagem de 95% dos resíduos provenientes das unidades de produção até 2030, ano em que prevê alcançar a neutralidade carbónica, isto é, neutralizar as emissões de CO2 em todas as operações.
O Presidente da Agência Portuguesa do Ambiente, Nuno Lacasta abordou algumas vantagens que a investigação nesta matéria pode trazer aos Sistemas de Gestão e Reciclagem de REEE, deixando claro que apesar disso, “as componentes da sensibilização e da educação são decisivas para alcançar as metas de reciclagem”, afirmando que é necessário investir mais do que até aqui na informação das pessoas.
Na sequência, as novas tecnologias e serviços inovadores para a reciclagem ilustraram a intervenção de Graça Martinho, Investigadora na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa, que se fez acompanhar por Ana Pires, investigadora no MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente. Antes da pausa para almoço, houve ainda tempo para o debate que juntou Nuno Lacasta, Graça Martinho e Hugo Jorge, Diretor de Marketing da LG Portugal, para uma conversa moderada por Francisco Teixeira, Diretor Geral da Hill+Knowlton Strategies
A preocupação com o ambiente deve abranger todo o ciclo de vida dos produtos, desde a conceção até à facilidade de desmantelamento com vista ao maior aproveitamento dos materiais a valorizar. Hugo Jorge aproveitou para frisar “a importância de não se olhar para o tema da sustentabilidade como ferramenta de marketing.”
À tarde os trabalhos prosseguiram com a apresentação da visão de sustentabilidade no meio académico, preconizada por Ricardo Zózimo, Professor Auxiliar da Nova School of Business and Economics. Trata-se de uma “aula experiencial em que os alunos ao longo de 12 semanas desenvolvem projetos nesta área, tendo alcançado 400 alunos por ano que ficam a dominar os objetivos de desenvolvimento sustentável.”
A inovação e sustentabilidade económica, social e ambiental não são incompatíveis, aliás devem ser consonantes, é uma ideia que resume a alocução de Pedro Norton de Matos, gestor e coach. É necessário simplificar também ao nível da linguagem, por isso o mentor do GREENFEST propõe que se fale em economia ecológica, afirmando a propósito que “a obsolescência programada é uma coisa perversa”.
Carmen Lima, Coordenadora do Centro de Informação de Resíduos da Quercus mostrou-se animada ao verificar que as gerações mais novas são bastante participativas e mais capazes de mobilização na preparação do futuro. “Precisamos de envolver as pessoas e motivar comportamentos responsáveis”, disse durante o debate em que também participaram Ricardo Zózimo e Norton de Matos, com a moderação do advogado José Eduardo Martins.
No encerramento, Ricardo Neto, Presidente da ERP Portugal e da Novo Verde, congratulou-se com o êxito desta primeira e-Waste Summit e aproveitou para afirmar, sem rodeios, que “é preciso começar a olhar para a sustentabilidade como um negócio”, referindo-se ao modelo alemão e ao inglês, onde a gestão de resíduos é uma atividade com fins lucrativos.
Esta foi a primeira e-Waste Summit, uma parceria entre a LG Portugal e a ERP – European Recycling Platform que visa estimular o debate sobre sustentabilidade da economia digital e a promoção da economia circular, para melhorar o aproveitamento dos recursos naturais, reciclando os resíduos provenientes do ciclo de produção e assegurando, ao mesmo tempo, a recolha dos dispositivos eletrónicos em fim de vida.
Se não teve oportunidade de assistir em direto, veja agora algumas das principais intervenções.