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O Observador acompanhou Passos na estrada e falou com o líder social-democrata em Faro
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O Observador acompanhou Passos na estrada e falou com o líder social-democrata em Faro

LUSA

O Observador acompanhou Passos na estrada e falou com o líder social-democrata em Faro

LUSA

Passos Coelho. Um líder em digressão para recuperar o que perdeu

Passos entre o mundo real e o imaginário. Na estrada, o recandidato a líder do PSD incendeia partido com ataque ao PS, faz mea culpa (q.b.) e garante fazer tudo para voltar.

O telemóvel dera sinais de vida durante o discurso do líder. A caixa de mensagens estava mais cheia. No ecrã, as letras formavam palavras e as palavras uma interrogação: “O que é que vocês deram ao homem?”, relia em voz alta um dos responsáveis pela campanha. E sorria satisfeito, com o discurso incendiário que Pedro Passos Coelho acabava de fazer naquela noite, em Faro.

Como recandidato à liderança do partido, o líder do PSD anda na estrada para incendiar as hostes sociais-democratas contra o Governo de uma convergência inédita à esquerda. Em três dias, por exemplo, corre quilómetros. Desde Bruxelas, Santarém, até Faro e Caldas da Rainha. A estratégia parece ser, por esta altura, clara: oferecer o PSD, interna e externamente, como sinónimo da estabilidade e de confiança. Isto, por oposição aos socialistas. Encavalitado entre Bloco de Esquerda e PCP, o PS radicalizou-se, vai repetindo Passos. O destino deste Governo e do país é, a este ritmo, quase certo: de novo o precipício. E só os sociais-democratas podem evitar essa fatalidade, jura o presidente do partido e o homem que quer voltar a ocupar o lugar que foi seu durante quatro anos.

Mas Passos é, por ora, um homem ríspido, às vezes azedo, que ainda não despiu o fato de primeiro-ministro. “Quando Pedro Passos Coelho se vê ao espelho não vê um derrotado”, declara ao Observador o psicanalista Carlos Amaral Dias.

“Uma pessoa que perde da maneira que Pedro Passos Coelho perdeu” e que ainda assim mantém o apoio do partido “só pode reagir desta forma: com uma estratégia de confrontação e de resiliência“, continua o professor universitário. “Dentro do próprio partido há a convicção de que Pedro Passos Coelho ganhou as eleições. O que lhe dá autoridade e o direito de tomar a posição que tomou”.

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Carlos Amaral Dias, de resto, considera que Passos, versão “líder do maior partido da oposição”, encara o atual momento político com um pensamento que o assalta em cada intervenção: “‘Houve alguém que destruiu aquilo que eu ganhei‘”. E isso tolda-lhe o discurso. “É muito mais fácil ter este tipo de atitude imaginária e política” do que aceitar que perdeu ganhando.

"Quando Pedro Passos Coelho se vê ao espelho não vê um derrotado"
Carlos Amaral Dias, psicanalista e professor universitário

O mesmo se aplica a quem ganhou perdendo, ressalva Carlos Amaral Dias. Refere-se, por exemplo, à “gafe de António Costa”. No Parlamento, em pleno debate, o líder socialista dirigiu-se a Passos – por duas vezes – como “senhor primeiro-ministro”. Um “lapso freudiano” do socialista que “revela qualquer coisa que está subjacente à política portuguesa”, mergulhada que está numa realidade em que “ninguém assume que perdeu”, sugere o psicanalista.

Passos não o assume, de todo. A cada oportunidade, pede um novo mandato para concluir o que ficou por fazer. Chega a reconhecer que o seu Governo, juntamente com a troika, cometeu alguns erros. Mas, agora, quer protagonizar “uma segunda vaga de reformas estruturais”, sem os condicionamentos da anterior.

A cada intervenção, ataca o Governo socialista e o Orçamento do Estado para 2016, com António Costa e Mário Centeno como alvos preferenciais. Só não pede eleições. Não vai dar esse prazer ao PS, que, diz, faz tudo a pensar nelas.

Aos militantes, Passos dirá que quer voltar a ter oportunidade de colocar o país no trilho certo. Não é movido por um desejo de vendetta ou por uma fome particular pelo poder. Pelo menos, é isso que garante.

psd, PEDRO PASSOS COELHO,

O presidente do PSD em Faro, na apresentação da candidatura

Não tenho a mania que tenho de estar sempre à frente do PSD ou de ser primeiro-ministro. Há muitas coisas que quero fazer na vida. Não me decidi recandidatar por falta de imaginação. [Fi-lo] porque aquilo que tinha prometido aos portugueses não estava concluído. A dimensão das transformações que temos de fazer [obriga] a um segundo mandato”.

“Foram quatro anos de berros e insultos”

Pedro Passos Coelho sobe ao palco montado à medida, corpo estranho numa sala pintada de longas cortinas de veludo castanho. Durante sensivelmente 40 minutos – tempo médio de cada discurso de Passos, nunca menos do que isso – vai testando alguns soundbytes, para gáudio da plateia.

“Foram quatro anos de uma fanfarronice total da então oposição – PS à cabeça. Insistiam que a austeridade não era solução. Dizia o roto ao nu: se não tens dinheiro, gasta mais. Uma conversa demagógica e infantil”. O primeiro golpe estava dado.

Este Governo faz tudo a pensar em eleições. Porque acha que as vai ter ou porque quer provocar”. E iam dois.

Os socialistas não sabem criar riqueza. Só sabem distribuí-la e nem sempre bem”. Mais um gancho e os militantes pediam mais. Os aplausos, pontuados por algumas gargalhadas, interrompiam amiúde o líder social-democrata.

Os outros partidos não têm o nosso ADN. Não são reformistas e gradualistas”. Defendia, como que a ganhar balanço.

“Os riscos que corremos são muitos. Já vi este filme a passar à minha frente enquanto líder do PSD e enquanto primeiro-ministro, na Grécia“, atirava decidido, antes da apoteose.

“Não preciso de fazer aos outros o que me fizeram a mim. Andaram quatro anos aos berros e aos insultos e agora nós não podemos dizer que este caminho vai dar mau resultado? Nós não somos cobardes. Não é por andarem às pedradas que a gente se encolhe.”

"No futuro, o discurso não será tão agressivo. De outra forma, podia até jogar contra ele"
Luís Marques Mendes, ao Observador

À distância de alguns dias, e na qualidade de quem tem assistido às últimas intervenções do antigo primeiro-ministro, Luís Marques Mendes reconhece que, de facto, existe uma “diferença” no discurso do ex-primeiro-ministro. “Conjuntural”, espera o comentador.

“Pedro Passos Coelho enfrenta um processo eleitoral suis generis. Não tem adversários, mas tem de mobilizar as hostes. Esta radicalização do discurso é também reflexo disso“, sublinha Marques Mendes, em declarações ao Observador.

No futuro, prevê o ex-líder social-democrata, Pedro Passos Coelho tenderá a refrear o discurso, acredita o comentador. “No futuro, o discurso não será tão agressivo. De outra forma, podia até jogar contra ele“.

Pedro Passos Coelho vai a votos a 5 de março. Depois disso, acredita Marques Mendes, os machados de guerra vão ser semienterrados. Até porque esta estratégia de guerrilha permanente seria de “grande desgaste” para a imagem do ex-primeiro-ministro.

Não há vendetta

Em conversa com o Observador, Passos Coelho faz o discurso de quem não está ansioso por eleições. “Estou preparado para elas, se elas vieram a acontecer”.

Ao mesmo tempo, reconhece que o partido “tem muito que aprender e muitas lições a retirar sobre o que se passou nestes últimos anos”. Admite não ter sido “perfeito” durante o tempo em que ocupou o cargo de primeiro-ministro.

Nenhum de nós está em condições de dizer que tudo o que decide e tudo que faz é perfeito. Claro que devemos ter cometido vários erros, embora não me parece que nenhum possa ter sido decisivo”. Refere-se, sobretudo, ao programa de assistência financeira.

Passos é um homem que acha que cumpriu uma missão e que a cumpriu com sucesso. Deu a volta por cima e devolveu o país à superfície depois de Portugal ter batido no fundo. E lança-se ao PS. Dominado por um sentimento “revanchista” e uma boa dose de “infantilidade” e “populismo” os socialistas estão concentrados em “desfazer” tudo o que foi conseguido pelo anterior Governo, atira.

O PSD não vai ser a muleta do Governo, muito menos alinhar nesta estratégia suicida seguida pelo PS, garante. Não vai ser “oposição irresponsável”, é certo, mas não se atrevam a pedir-lhe mais.

“Seria estranho que, depois de o PS não nos ter dado sequer o benefício da dúvida, o PSD se pusesse à disposição para substituir o Partido Comunista ou o Bloco de Esquerda. Se algum dia o PS deixar de poder contar com esta maioria no Parlamento para poder governar, não está em condições de governar”. Orçamento incluído.

"Até ver, a curto prazo esta estratégia faz sentido"
António Costa Pinto, ao Observador

“Os resultados nas últimas eleições foram bastantes animadores”, apesar da perda da maioria absoluta. “Se o Governo cair na sequência de alguma infelicidade orçamental ou de uma crise que elimine os efeitos das medidas [de devolução de rendimentos] que foram adotadas” a direita vai sair reforçada e pode muito bem almejar “a maioria absoluta” nas próximas eleições, considera o politólogo António Costa Pinto. “Por isso, e até ver, a curto prazo esta estratégia [de Passos] faz sentido”.

Por essa ordem de razões, se o Governo socialista sobreviver Pedro Passos Coelho cairá? “Bem, ainda não há resposta para isso, mas…”. António Costa Pinto não concretiza. Por esta altura, no entanto, a sobrevivência política de Passos parece estar inversamente ligada à sobrevivência de António Costa. Os próximos 24 meses podem vir a ser decisivos para o futuro futuro político de ambos.

psd,

Passos recebeu (e elogiou) Guterres nas jornadas parlamentares

A câmara volta a Passos. 19 de fevereiro de 2016. O líder social-democrata fala para os militantes, em Faro, num encontro fechado à comunicação social. O ambiente está quentinho depois das críticas ao PS. O ex-primeiro-ministro gasta largos minutos a explicar a estratégia que tem para o futuro do país. E põe as cartas na mesa. Se quisermos ser bem sucedidos temos de saber responder a uma pergunta: “O que é que estamos dispostos a sacrificar hoje para termos futuro amanhã?“.

O objetivo, continua, é tornar Portugal num país capaz de garantir mais “crescimento, sem aumento da dívida”, com uma “economia mais aberta e competitiva”, “mais emprego” e “mais investimento externo”. Portugal no fato duplo de “Califórnia e a Flórida da Europa”, como chegaria a ilustrar, num encontro com empresários do turismo em Albufeira, horas antes do discurso em Faro.

Durante a volta pelo país, Passos repete as acusações de intolerância e de “falta de cultura democrática” dirigidas a Costa. Tiques de quem quer “controlar tudo e todos” e de um comportamento de “‘eu quero, posso e mando’”.

Os sinais já estão aí, prega Passos. A contrarreforma do IRC, o aumento do salário mínimo à margem do acordo alcançado pelo anterior Governo em sede de concertação social, a reversão do negócio da TAP e das subconcessões dos transportes. Portugal precisa de investidores como de pão para boca e “quem empresta, empresta uma vez, não empresta a segunda”.

É um exercício que repetiu nos três dias divididos entre Santarém, Faro e Caldas da Rainha. Durante os discursos, veste a pele de investidores externos e os óculos de quem vem a instabilidade a crescer no país. E vai recitando, com ligeiras variações: Fool me once, shame on you. Fool me twice, shame on me.

“Não estou à espera de eleições. Mas estou preparado para elas, se elas vieram a acontecer”
Pedro Passos Coelho, ao Observador

“Não sou candidato a bombeiro de serviço”

Centro de Congressos das Caldas da Rainha, 20 de fevereiro de 2016. 19h55. As palavras do líder social-democrata ainda ecoam. “Não levem a mal que eu me expresse desta maneira, porque às vezes parece que a linguagem coloquial é mais bem ouvida por aqueles que acham que nós andámos distraídos. Nós não andámos distraídos. Nós não damos é apoio a esta maneira de tratar o país e os portugueses”, atirara Passos, instantes antes.

Do lado de fora, o ambiente não podia ser mais descontraído. Militantes, jotas e alguns deputados sociais-democratas confraternizam e trocam gargalhadas depois de mais uma intervenção incendiária do líder do partdo. Estão satisfeitos com nova demonstração de força de Passos. A maior, em três dias.

“Quem viu a intervenção de Passos Coelho percebe que ele está com vontade de impedir que os resultados positivos conseguidos no país sejam postos em causa – e é bom para o país que Passos mantenha essa disponibilidade e essa vontade”, comenta Pedro Pimpão, deputado do PSD. “Quem o viu percebe que está mais do que em forma.”

Foi assim sempre. O partido – pelo menos a parte visível do partido -, cerrou fileiras em torno do líder social-democrata. Foi assim em Santarém, foi assim em Faro, foi assim também nas Caldas. “Passos sempre esteve em forma e vai continuar a estar. O partido subscreve tudo o que ele disse lá dentro. Estaremos cá para o apoiar a tornar-se o próximo primeiro-ministro”, acrescenta João Cerejo, da JSD.

À pergunta “tem Passos condições para voltar a disputar as legislativas e vencê-las” a reposta é sempre a mesma: evidentemente. “Não tenho dúvidas de que dentro do PSD haverá um forte, para não dizer esmagador, apoio, a esta recandidatura à liderança do partido. E o líder do PSD é sempre candidato primeiro-ministro”, reforça Rui Rocha presidente da Distrital de Leiria do PSD e autarca de Ansião. “E ficou bem visível hoje que Pedro Passos Coelho tem todas as condições para voltar a liderar o nosso país“.

psd, PEDRO PASSOS COELHO,

Passos terminou a intervenção nas Caldas com a habitual foto de família

Rewind. 18h35. Pedro aproxima-se do palanque. Passos firmes e decididos. Não parece cansado, mesmo depois ter feito quase 3 mil quilómetros em três dias. Ajeita os óculos, encara os cerca de 400 militantes e começa a intervenção. O tom vai crescendo. Treze minutos depois, a primeira crítica ao Governo socialista. As reformas previstas nas CCDR e nas Áreas Metropolitanas servem de pretexto para um ataque cerrado à falta de rumo do atual Executivo. Os militantes e autarcas da região aplaudem e o líder acelera o ritmo.

O discurso lembra o do dia anterior. As críticas começam a chover a uma cadência frenética. O PS, vai dizendo, está apostado “numa retórica infantilizada” sobre a austeridade e não tem “caráter” para assumir as medidas que adota.

Os socialistas, diz, garantem que “vai haver mais dinheiro para a educação, que vai haver mais dinheiro para a saúde, para a segurança social, vai haver mais dinheiro para tudo”. É falso, grita Passos. Este “orçamento é restritivo” e o que o Executivo está a fazer é “a redistribuir a austeridade, dando com uma mão e tirando com a outra“.

Passos não para. O PS, diz, recorre à “infâmia” e ao “insulto” para justificar o injustificável, refém que está de PCP e CGTP. E vai-se “ajoelhando na Europa”, às mãos de um Bloco de Esquerda que “já não se revê” no Syriza e que, por isso mesmo, quer deixar claro a todo o custo que “‘não, o BE não ajoelha. Que ajoelhe o PS que está no Governo’”.

Um último aviso a António Costa: não contem com o PSD para ser, mais uma vez, o “bombeiro de serviço”.

“Não sou seguramente candidato a uma espécie de bombeiro de última hora que o PSD tem na reserva para quando os socialistas atirarem o país para o resgate“. A plateia rompe em aplausos. “Não é para isso que eu sirvo e não é isso que eu desejo, porque fiz tudo para que isso não sucedesse antes e fiz tudo para que o país não tivesse de voltar a uma situação a passar por uma situação destas”.

Assim mesmo, com tónica no “tudo”, para deixar claro que se entregou de corpo e alma à tarefa de reverter o rumo político, traçado em novembro quando Costa apertou a mão a Catarina Martins e Jerónimo de Sousa.

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