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verificou-se um aumento de área de Portugal continental em classe de seca fraca
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Todo o território continental de Portugal está em situação de seca severa ou extrema

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Todo o território continental de Portugal está em situação de seca severa ou extrema

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Um país a conta-gotas. De norte a sul de Portugal, câmaras fecham as torneiras para enfrentar uma das secas mais graves do último século

Por todo o país, uma das situações de seca mais graves da história obriga as autarquias a adotar medidas para poupar. Interrompem-se regas, sobem-se preços e até se abastecem aldeias com autotanques.

Medidas de emergência, campanhas de sensibilização, aumento de preços e, sobretudo, muita preocupação com o futuro a médio e longo prazo. Uma viagem de norte a sul pelo território de Portugal continental mostra um país a conta-gotas, com as autarquias locais a esforçarem-se por garantir as necessidades básicas de abastecimento numa altura em que se vive uma das piores situações de seca de que há memória.

“Vivemos momentos particularmente difíceis”, admitia no final de agosto a ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, durante uma conferência de imprensa no final de mais uma reunião da comissão permanente do Governo que está a acompanhar os efeitos da seca em Portugal. De acordo com a ministra, Portugal encontra-se sob os efeitos de um dos períodos de seca “mais graves do último século” — concretamente, o segundo episódio mais grave desde 1931, quando começaram os registos.

Na origem desta situação de exceção está um verão especialmente quente (em toda a história meteorológica registada em Portugal, só o de 2016 teve temperaturas mais elevadas), associado à profunda escassez de chuva que marcou o inverno e que já no início do ano fazia antever um ano muito difícil para os agricultores portugueses, como mostrava o Observador numa reportagem junto de vários produtores da região Norte do país.

Carne de vitela, maçãs e queijo da Serra. Como a seca ameaça os agricultores portugueses

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Os números são preocupantes. De acordo com o Governo, 60% do território nacional encontra-se em seca extrema (o grau mais elevado de seca), enquanto os restantes 40% se encontram em seca severa (o segundo grau mais elevado). As regiões mais afetadas, de acordo com os mapas do IPMA, são o nordeste transmontano, as Beiras, o Alentejo e ainda uma parte significativa do Ribatejo e do Centro do país.

A partir de Lisboa, o Governo central tem implementado gradualmente um conjunto de medidas de combate à seca e de poupança de água, em consonância com o agravamento da situação. No final de agosto, quando o Governo fez o último balanço, Portugal tinha 49 albufeiras com os níveis de armazenamento abaixo dos 40% — e dez albufeiras em situação crítica, ou seja, com níveis abaixo dos 30%. No total, 43 concelhos portugueses estavam no final de agosto a ser abastecidos por sistemas em situação crítica.

2022 está a ser um ano de seca extrema em Portugal — com efeitos a sentirem-se de norte a sul. Este era o estado da albufeira do Vilar, Moimenta da Beira, em fevereiro

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Foi especialmente para estes 43 concelhos que o Governo anunciou recentemente novas recomendações, incluindo a instalação de torneiras redutoras de consumo em fontanários, escolas, hospitais e outros edifícios públicos, a instalação de redutores de caudal para as torneiras da população, a instalação de contadores para reduzir o volume de água não faturada, a suspensão temporária da rega de jardins, enchimentos de piscinas, fontes decorativas, lavagens de ruas e outros “usos não essenciais”.

Além disso, o Governo recomendou também o aumento da tarifa da água para os grandes consumidores, a rega agrícola durante a noite e a imposição de penalizações para usos indevidos da água da rede. São recomendações dadas aos 43 concelhos em situação crítica, mas que, para o ministro do Ambiente, Duarte Cordeiro, são igualmente recomendadas a “qualquer município do país”. Estas novas medidas somaram-se a várias outras que têm vindo a ser anunciadas pelo Governo ao longo dos últimos meses. Em junho, o Governo anunciara a mobilização de 5 milhões de euros do Fundo Ambiental para medidas de contingência de combate à seca — um valor que foi reforçado em agosto com mais 3 milhões de euros.

Todavia, num país em que os serviços de abastecimento de água estão sob alçada dos municípios, as câmaras municipais estão a ter o papel central no combate à seca e na aplicação de medidas de poupança de água. De norte a sul, os municípios estão a implementar medidas variadas, fechando por completo a torneira dos fontanários públicos, reduzindo a rega dos jardins, aumentando preços, abastecendo as povoações mais isoladas com camiões-cisterna quando a água da rede não chega e lançando campanhas de sensibilização.

Norte. Trás-os-Montes e Beira Alta são a maior preocupação

Na região Norte do país, a grande preocupação centra-se no Alto Douro e em Trás-os-Montes, onde as autarquias se têm estado a organizar no sentido de dar resposta à falta de água em várias povoações. É o caso dos municípios transmontanos de Carrazeda de Ansiães, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé, Mogadouro, Vimioso e Alijó, onde cerca de oito mil pessoas em 50 localidades estão a ser abastecidas durante o verão com a ajuda de autotanques devido à falta de água nos sistemas de abastecimento, como noticiava a agência Lusa no final de agosto.

Simultaneamente, os 19 municípios que compõem a Comunidade Intermunicipal do Douro — que abrange parte dos distritos de Bragança, Vila Real, Viseu e Guarda — articularam-se para dar resposta à seca. Os presidentes das 19 câmaras estiveram reunidos em meados de agosto no Peso da Régua com o secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, João Paulo Catarino, para debater uma estratégia concertada numa das regiões mais afetadas pela seca. Entre as medidas anunciadas pelos autarcas contam-se a reativação de captações de água e a aquisição de novos autotanques — medidas para as quais as autarquias pedem apoio financeiro ao Governo. Presente nessa reunião, João Paulo Catarino garantiu que o Governo está disponível para ajudar os municípios através do Fundo Ambiental.

Igualmente na região do Alto Douro, quatro municípios contíguos já se tinham articulado entre si num projeto para dar uma resposta conjunta à seca. Em fevereiro, os autarcas de Mêda, Vila Nova de Foz Côa (Guarda), São João da Pesqueira e Tabuaço (Viseu) apresentaram um plano de ação para a gestão do abastecimento de água naqueles quatro concelhos, que são servidos pela barragem de Ranhados, situada em Mêda (e atualmente uma das barragens em situação mais crítica no país).

Na ocasião, os quatro autarcas anunciaram a implementação de uma campanha de sensibilização das populações, com cartazes e comunicações nos meios regionais, e comprometeram-se também a interromper a rega de jardins públicos com água potável, a desligar os chafarizes, fontes e fontanários dos concelhos e a promover ações de formação sobre a poupança de água nas escolas. Em maio, três meses depois da entrada em funcionamento do plano de ação, as autarquias faziam um “balanço muito positivo”, já que, “com base nos dados apresentados, se verificou uma melhoria da situação face à que se verificava anteriormente”.

Contudo, estes esforços podem não chegar, uma vez que a manutenção dos hábitos de elevado consumo de água por parte dos cidadãos continuavam a ameaçar a sustentabilidade da região no final de agosto. Nessa altura, o vice-presidente da câmara de Foz Côa, Pedro Duarte, disse à Lusa que o ponto de rutura da albufeira de Ranhados seria atingido “já no mês de setembro”, caso se continuassem a registar os consumos diários que então se verificavam, de “640 litros/dia, de água por pessoa, quando o desejável deveria ser 200 litros/dia”.

“Caso não chova nem se registem alterações ao consumo, as previsões para o mês de setembro [são de que] a água não chegará às torneiras dos habitantes do concelho de Foz Côa”, avisou ainda.

Também em Trás-os-Montes, a câmara municipal de Alfândega da Fé, no distrito de Bragança, anunciou em agosto que as duas barragens do concelho se encontravam em níveis críticos — a barragem de Sambade com apenas 27% da sua capacidade e a da Esteveínha com 35%. Por isso, a autarquia revelou que iria de imediato “parar a rega em alguns jardins públicos”, mas também “aumentar a fiscalização da utilização da água de consumo humano para outros fins”, como a rega e as lavagens, e implementar um “racionamento da água de consumo humano”. Em jeito de aviso, e reconhecendo que o abastecimento de água para consumo humano estava “severamente comprometido” devido à seca, a autarquia anunciou: “Se os consumos de água não baixarem poderá haver aumento dos tarifários.”

A seca está a deixar o país com graves dificuldades no abastecimento de água de norte a sul

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Já a câmara de Boticas, no norte do distrito de Vila Real, juntou-se aos apelos aos cidadãos para a poupança de água. Apesar de a situação se encontrar relativamente controlada naquela região, a autarquia pediu aos munícipes que sejam “prudentes e contidos no consumo de água, usando-a apenas para o fundamental”.

No Minho, as câmaras estão igualmente preocupadas. Veja-se o exemplo da câmara de Ponte da Barca, que no final de agosto anunciou um plano de gestão de água com 33 medidas para combater a seca na região. Além da campanha de sensibilização da população, a autarquia minhota criou uma equipa de fiscalização preventiva com inspetores empenhados na deteção de captações ilegais e pôs em funcionamento uma linha telefónica dedicada através da qual os cidadãos podem informar a câmara da existência de fugas de água na via pública.

Em Braga, a empresa municipal que gere o abastecimento de água no concelho descansava os bracarenses, garantindo que as reservas não faziam antever a falta de água nas torneiras, mas deixava o aviso: é necessário um uso racional da água. Segundo dizia o responsável da empresa municipal ao Correio do Minho, a captação de água no rio Cávado é segura e poderá inclusivamente ser usada para abastecer outros concelhos vizinhos, caso haja necessidade.

Também no distrito de Braga, a câmara de Vila Nova de Famalicão tem desde fevereiro deste ano em vigor um plano de poupança de água que passa pela desativação de perto de 100 sistemas de rega automáticos instalados em “parques, jardins, praças, rotundas e edifícios da cidade e das freguesias”, segundo um comunicado da autarquia. Em alternativa, estes espaços estão a ser regados de modo manual e controlado, o que já permitiu poupar 63 milhões de litros de água, o suficiente para “abastecer mais de 100 mil habitações familiares num dia normal de consumo”.

Ainda a norte, no distrito do Porto, a câmara municipal de Felgueiras está por estes dias a levar a cabo um conjunto de medidas para reduzir as perdas de água no abastecimento. O projeto, que inclui obras de reparação e reabilitação dos reservatórios de água do concelho e a aquisição de equipamentos para detetar fugas, passou por um investimento de mais de 1,3 milhões de euros, com origem em fundos europeus, através do Programa Operacional de Sustentabilidade e Eficiência no Uso dos Recursos (POSEUR).

Por outro lado, em agosto, os vários municípios do Grande Porto implementaram medidas de gestão da água, incluindo a desativação dos sistemas de rega automática e a criação de furos artesianos, como noticiou a agência Lusa. Por exemplo, em Gondomar foram desligados todos os chafarizes, foram feitos furos artesianos nos parques urbanos e o uso de água nos bebedouros e fontanários foi reduzido e sujeito e fiscalização mais apertada.

Em Matosinhos, por outro lado, praticamente todos os sistemas de rega foram desativados, admitindo-se apenas exceções para os canteiros com plantas de época e as plantações recentes — uma medida que poderá poupar mais de 20 mil metros cúbicos de água por mês. Algo semelhante está a ser feito em Santo Tirso, onde a câmara está a diminuir o caudal de água usado para regar os jardins e os parques e a instalar temporizadores nas torneiras dos bebedouros e casas-de-banho públicas. Em Vila Nova de Gaia, a autarquia está essencialmente focada na diminuição das fugas de água nos sistemas de abastecimento, mas não está ainda a tomar medidas de racionamento da água. O mesmo sucede na Maia, onde o problema da seca não se faz sentir especialmente, pelo que a aposta tem sido a sensibilização dos cidadãos.

Nos locais onde a seca se faz sentir com maior intensidade, as medidas estão a ser igualmente mais pesadas. É o caso de Viseu, onde a autarquia decidiu encerrar as piscinas municipais por tempo indeterminado, antecipar o fim de um desconto de 20% no preço da água que estava em vigor até agora como medida de apoio pós-Covid e ainda fechar as torneiras das fontes ornamentais. A câmara suspendeu também a lavagem das ruas para não gastar água na rede em usos não urgentes.

Também no distrito de Viseu, a câmara de Mangualde está preocupada com os efeitos da seca e, no início de agosto, revelou que estava “a levar a cabo um conjunto de ações reduzindo os gastos com água na rega dos espaços verdes, na reativação de furos e poços para o uso de água com origem em diferentes sistemas de abastecimento e na monitorização de toda a rede com vista à mitigação de perdas e fugas”. “A autarquia está a acompanhar o evoluir da situação de seca que assola o território e não descarta a possibilidade de serem implementadas mais medidas corretivas bem como, em último caso, medidas restritivas que contribuam para o eficiente uso da água”, acrescentou o município.

Na Guarda, a câmara decidiu suspender de imediato a rega de 33% dos jardins da cidade. Em Matosinhos, praticamente todos os sistemas de rega foram desativados.

No mesmo distrito, em Tondela, a câmara determinou o fim da rega dos pequenos espaços públicos para poupar água — embora o parque urbano continue a ser regado — e deu início a uma campanha de sensibilização da população, com apelos ao consumo responsável da água.

Ainda a norte, a Beira Alta está a ser especialmente afetada pela seca e no distrito da Guarda multiplicam-se as autarquias que estão a implementar medidas de contingência. Por exemplo, no próprio concelho da Guarda, a câmara decidiu suspender de imediato a rega de 33% dos jardins da cidade. “Se nós queremos água para beber, que saia na torneira, não a podemos continuamente desperdiçar nos jardins”, disse recentemente o presidente da câmara municipal, acrescentando ainda que a falta da água está a obrigar a câmara a abastecer as localidades de Avelãs de Ambom, Rocamondo e Traginha com recurso a camiões cisterna.

Na região, as câmaras municipais de Seia e de Gouveia também já se juntaram aos apelos feitos por várias autarquias para que os cidadãos poupem água nas utilizações diárias.

Mas a seca deste ano também fez ressurgir questões antigas. Na semana passada, o presidente da câmara de Celorico da Beira, Carlos Ascensão, veio defender publicamente a construção da barragem da Cabeça Alta, lembrando que aquela é uma luta antiga no concelho e garantindo que a construção resolveria os problemas de falta de água no concelho. “Já é uma questão velha”, disse o autarca à agência Lusa, explicando que a construção na ribeira da Cabeça Alta resolveria o problema da falta de água tanto em Celorico como em Fornos de Algodres, muito dependentes do rio Mondego. Antes, o presidente da câmara da Guarda, Sérgio Costa, tinha defendido igualmente que era “mais do que tempo para voltar a colocar em cima da mesa, 40 anos depois, a barragem da Cabeça Alta, em Celorico da Beira, para abastecimento de água àquele concelho e a parte do concelho de Fornos de Algodres”. A defesa da barragem por Sérgio Costa foi bem recebida por Carlos Ascensão, que afirma agora que a posição do autarca da Guarda “legitima mais” a posição do município.

Discussão semelhante surgiu no concelho de Pinhel, também no distrito da Guarda, onde o autarca, Rui Ventura, disse já este mês que a solução para as dificuldades no abastecimento de água passa pela construção de paredões — em vez de barragens — em vários cursos de água do concelho, incluindo a ribeira das Cabras e o rio Côa. Atualmente, o concelho depende da barragem do Caldeirão (na Guarda) e da barragem de Vascoveiro (em Pinhel) para o abastecimento de água, mas a criação de vários paredões em diferentes pontos dos cursos de água do concelho ajudaria a diversificar as fontes de água.

No litoral norte, também há sinais de alerta. Em Anadia, no distrito de Aveiro, a falta de água está a refletir-se também na qualidade da água que chega às torneiras dos cidadãos. Numa das captações que abastecem o município, a seca está a obrigar a que a água seja captada em maior profundidade, o que se está a traduzir numa água com qualidade abaixo dos padrões de referência. Segundo a SIC Notícias, há até pessoas a queixarem-se da cor e do cheiro da água — o que levou a autarquia a aconselhar a população a ferver a água da rede antes de consumir, para eliminar as bactérias.

Centro aposta no fim do desperdício de água nas regas de jardins públicos

No centro do país, a seca também está a forçar as câmaras municipais a tomar medidas para mitigar os efeitos da falta de água. A situação é especialmente crítica no interior centro, nas regiões da Serra da Estrela e da Beira Baixa. Na Sertã, por exemplo, a câmara municipal está a usar camiões cisterna da autarquia e dos bombeiros voluntários para abastecer excecionalmente vários reservatórios de água do concelho, depois de ter também adotado medidas restritivas incluindo o desligamento dos fontanários, a interrupção da rega dos jardins públicas e o uso de água não-potável para as lavagens. Os constrangimentos provocados pela seca levaram também a Sertã a apelar aos munícipes que reduzam os seus gastos com a água, uma vez que continuam a ser registados consumos excessivos no concelho.

Ao lado, em Oleiros, a câmara municipal estabeleceu uma parceria com a EPAL e com os bombeiros voluntários para monitorizar em permanência o abastecimento de água no concelho e emitiu uma norma recomendando que seja evitado “o uso de água para consumo humano, principalmente no enchimento de piscinas particulares, lavagem de carros e rega de jardins”, sendo dada “prioridade à captação de água para abastecimento público”.

Na Serra da Estrela, os concelhos de Seia, Oliveira do Hospital e Gouveia uniram-se numa campanha conjunta com a EPAL, as Águas do Vale do Tejo e APdSE (Águas Públicas da Serra da Estrela) e publicaram um conjunto de recomendações e conselhos para ajudar os cidadãos a poupar água nos seus usos quotidianos.

Por outro lado, a Câmara Municipal de Coimbra implementou um conjunto de medidas para poupar a água da rede, incluindo uma “diminuição significativa dos tempos de rega” dos jardins públicos. Segundo o jornal As Beiras, a câmara está igualmente a estudar a alteração das espécies vegetais que povoam os jardins públicos, pretendendo que sejam escolhidas espécies mais apropriadas para o clima mediterrânico — e, consequentemente, impliquem um menor consumo de água.

No mesmo distrito, a câmara de Tábua foi mais longe e promoveu a realização de um estudo interno para identificar medidas locais que possam ser tomadas pela autarquia com o objetivo de poupar água e mitigar os efeitos da seca. A primeira medida tomada foi a redução do número de regas diárias nos jardins públicos, de cinco para uma, a que se junta uma redução da duração da rega. Em alguns locais, foi mesmo instalado um sistema de rega gota-a-gota e reforçado o sistema de monitorização do desperdício de água. De acordo com a autarquia, o estudo continua e as próximas medidas poderão passar pela substituição gradual das árvores dos jardins públicos por espécies que precisem de menos água, pela instalação de torneiras redutoras de consumo e de redutores de caudal na rede, e ainda a possibilidade de suspender temporariamente os usos não essenciais da água da rede. Neste último caso, a medida será articulada com a empresa multimunicipal Águas do Planalto e deverá afetar não só o concelho de Tábua, mas também os concelhos de Carregal do Sal, Mortágua, Santa Comba Dão e Tondela.

Mais a sul, no litoral centro, há várias autarquias a apelar à poupança de água no distrito de Leiria e na região Oeste.

Na praia fluvial de Foz de Alge, na confluência da ribeira de Alge com o rio Zêzere, no distrito de Leiria, este era o cenário em fevereiro

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Em Porto de Mós, a câmara municipal anunciou em agosto que iria reforçar a fiscalização dos usos indevidos de água da rede, com “uma equipa de fiscalização especialmente atenta às ligações diretas de contadores e utilização indevida das bocas de incêndio e fontanários públicos”. O vice-presidente da câmara, Eduardo Amaral, disse na altura que a autarquia tinha “conhecimento de situações em que durante a noite pessoas enchem os tanques que transportam em tratores ou camiões de água de fontanários ou bocas de incêndio situados em locais mais recônditos, para evitar a sua deteção”. Esta medida mais radical seguiu-se a um conjunto de medidas preventivas já implementadas pela câmara, incluindo a redução para metade dos tempos de rega dos jardins públicos e o reforço da monitorização das perdas de água.

Na capital de distrito, Leiria, a câmara municipal apresentou recentemente um plano de poupança de eletricidade e água na cidade, que inclui o desligamento da iluminação pública em fontes e monumentos municipais, mas também a transferência da rega dos jardins públicos para o período noturno e com recurso à água do rio Lis. Simultaneamente, vai ser proibido o uso da água da rede para fins não potáveis, incluindo a lavagem das ruas.

Foi igualmente neste contexto de seca extrema que a câmara municipal da Nazaré, também em Leiria, anunciou em agosto que vai construir um novo depósito de água com o objetivo de abastecer toda a zona alta da vila. O investimento, superior a 800 mil euros, é um desígnio antigo da Nazaré e vai resolver os problemas de abastecimento na água daquela zona, mas, naturalmente, a obra não estará pronta a tempo de ajudar neste período de seca extrema. O depósito terá uma capacidade de armazenamento de 2.000 metros cúbicos.

Em Torres Vedras, já no distrito de Lisboa, a câmara municipal alertou em julho para a existência de “consumos excessivos” na água da rede e avisou para a possibilidade de “perturbações” no abastecimento. Por isso, deixou aos munícipes um conjunto de conselhos para poupar água, incluindo a recomendação para que não se lavem carros e quintais, não se encham tanques e piscinas e não se reguem plantas durante o dia.

Em Vila Franca de Xira e Mafra, as autarquias apostaram na instalação de redutores de caudal em vários pontos da rede pública de água. Já na própria cidade de Lisboa, a autarquia tem desde o início do ano implementado um projeto pioneiro de reutilização da água para rega dos jardins municipais.

Os esforços de mitigação dos efeitos da seca chegam também à região da capital portuguesa, com os vários municípios da Grande Lisboa a implementarem diferentes medidas de poupança de água, como noticia a agência Lusa. Por exemplo, em Odivelas foi implementado um projeto-piloto de controlo da rega dos espaços públicos por Wi-fi. Em Loures, por outro lado, foram reforçadas as equipas de piquete que estão em prontidão para resolver problemas na rede de água. Em Cascais, a transformação de vários espaços públicos em prados de sequeiro, que não necessitam de rega, já tinha sido colocada em marcha, estando agora a contribuir para a poupança de água no concelho.

Em Vila Franca de Xira e Mafra, as autarquias apostaram na instalação de redutores de caudal em vários pontos da rede pública de água. Já na própria cidade de Lisboa, a autarquia tem desde o início do ano implementado um projeto pioneiro de reutilização da água para rega dos jardins municipais. A região da Grande Lisboa vai buscar a maioria da água que consome à barragem de Castelo de Bode, no rio Zêzere, a norte de Constância. Embora esta não seja uma das albufeiras portuguesas em estado mais crítico, a verdade é que no final de julho se encontrava a 68,1%, abaixo dos 80% em que costuma estar nesta altura do ano.

Precisamente na zona do Zêzere e do Médio Tejo, as autarquias também estão preocupadas com a seca. Em declarações à Rádio Hertz, o presidente da câmara de Ferreira do Zêzere, Bruno Gomes, mostrou-se recentemente apreensivo e triste com o estado das reservas de água na região, não só pelo que a falta de água no rio significa para o turismo, mas também pelas dificuldades que se registam no abastecimento de água do concelho. Em resposta à crise, a autarquia já passou a controlar de modo mais rigoroso a rega dos jardins municipais e o uso de água em infraestruturas como escolas e piscinas.

Em Abrantes, por outro lado, apesar de o concelho não estar a ser especialmente afetado pela falta de água, a câmara municipal decidiu implementar um conjunto de medidas de poupança de água preventivamente. Entre as medidas anunciadas recentemente pela autarquia, incluem-se a redução dos tempos de rega nos espaços verdes, a instalação de contadores inteligentes e o recurso a temporizadores para reduzir o desperdício em fontanários e bebedouros. Além disso, a autarquia planeia alargar a fiscalização dos usos indevidos da água.

Sul. Baixo Alentejo e Algarve temem cortes de água no próximo ano

É no sul do país que a seca está a ter os efeitos mais problemáticos — e já há várias autarquias a admitir mesmo que a resposta ao momento atual poderá passar por cortes no abastecimento de água às populações. A barragem do Alqueva, maior reserva de água de Portugal, encontrava-se neste verão no segundo nível de armazenamento mais baixo em 15 anos. Dados recentes do Sistema Nacional de Informação de Recursos Hídricos mostram que a albufeira do Alqueva estava, no final de agosto, nos 65,4% da sua capacidade — o que, não colocando a barragem em situação crítica, é um alerta para a situação que se vive no Alentejo.

No distrito de Setúbal, a situação ainda não é crítica e as autarquias estão, para já, focadas na sensibilização. Na cidade de Setúbal, a autarquia associou-se à campanha nacional “Vamos Fechar a Torneira à Seca” e tem estado a difundir junto dos cidadãos informação sobre a necessidade de poupar água. Em Santiago do Cacém, mais a sul, a câmara também está a apostar essencialmente na prevenção, através de uma campanha de sensibilização, mas também já avisou que podem vir a registar-se alguns problemas em localidades onde os poços usados para a rega começaram a secar, motivo pelo qual os cidadãos que recorriam pouco à água da rede estão a colocar mais pressão sobre os sistemas públicos. Se a situação se verificar, pode ser necessário recorrer aos bombeiros para o transporte de água para aquelas populações, admitiu a câmara.

Em vários municípios do Alentejo, multiplicam-se as campanhas de sensibilização dirigidas à população. Em Vila Viçosa, no distrito de Évora, a câmara está a distribuir mensagens sobre o consumo racional da água e o presidente da autarquia já deixou um aviso: os consumidores excessivos poderão ver a sua fatura aumentada em 200%, “para que as pessoas percebam que não podem estragar água”. Em Mértola, a câmara também já iniciou uma campanha para “reforçar o alerta para a urgência da redução do consumo de água”. O mesmo aconteceu já em Castro Verde, onde a autarquia reduziu em 50% o número de regas nos espaços verdes e lançou uma campanha de sensibilização para apelar à poupança de água. Em Ourique, a autarquia também já veio apelar ao uso eficiente da água.

Mais a sul, em Almodôvar, a preocupação é maior. A barragem do Monte da Rocha, que abastece o concelho, está em níveis críticos e a autarquia já admitiu que poderá ter de haver cortes no abastecimento de água durante o inverno caso não chova em setembro e outubro. “Estamos preocupadíssimos com a seca”, disse à Lusa o presidente da câmara, António Bota, assegurando que para já não há necessidade de cortar o abastecimento. “No caso de não chover em setembro/outubro, eventualmente, nos meses de inverno, teremos de estar a proceder a alguns cortes mais significativos.” Entre as medidas implementadas pela autarquia encontra-se a disponibilização de todos os poços e furos públicos que não se destinam a consumo humano para que os agricultores possam usar essa água não controlada para os animais.

Indicadores do nível da água, no paredão da barragem do Caia, que tem atualmente um volume de 91.935 mil metros cúbicos de água, o que representa 48,39%, em relação à cota de descarga da barragem (190 milhões de metros cúbicos). De acordo com o índice PDSI, no último mês agravou-se a situação de seca meteorológica em todo o território, com um aumento muito significativo da área em seca severa, estando agora grande parte do território nessa classe. Elvas, 21 de junho de 2022. NUNO VEIGA / LUSA

Na barragem do Caia, em Elvas, a albufeira está abaixo dos 50%

NUNO VEIGA/LUSA

O mesmo sucede em Castro Marim, já no Algarve, onde a preocupação com a seca que se está a abater sobre a bacia do Guadiana já levou a autarquia a admitir cortes de água no próximo verão. “Penso que temos água para um ano, agora, imagine-se que este inverno não chove: eu penso que vai haver cortes substanciais no próximo verão e acho que a economia do Algarve corre riscos”, disse à Lusa o presidente da câmara, Francisco Amaral.

Naquele concelho, o debate tem sido em torno de uma central de dessalinização que está prevista para a região. “Estamos há um ano nisto”, lamenta o autarca. “Começámos com cinco ou seis possibilidades, agora vamos em duas, e ainda não se achou a localização. Isto é tudo muito, muito lento — é o projeto, o anteprojeto, depois o Estudo de Impacte Ambiental — e eu não vislumbro que, nos próximos três a quatro anos, possa haver uma central de dessalinização.” Devido à seca, as aldeias de Corte do Gago, Marroquil, Alcarias e Cortelha, no concelho de Castro Marim, estão a ser abastecidas diariamente com recurso a um camião cisterna com capacidade para 6 mil litros.

Nos pontos mais turísticos do Algarve, a grande afluência de turistas intensifica ainda mais os efeitos da seca. Vários municípios estão articulados na implementação de medidas para poupar água, como é o caso do concelho de Loulé, onde a câmara determinou que as piscinas interiores de Loulé e Quarteira se vão manter encerradas — e as piscinas exteriores de Loulé e de Salir passariam a encerrar às segundas, terças e quartas. No total, o concelho espera poupar mais de 4 milhões de litros de água, com medidas que incluem ainda a suspensão da rega em vários espaços verdes. A medida de encerramento das piscinas estende-se a todo o Algarve, por decisão recente da Comunidade Intermunicipal Algarvia.

No final de agosto, a Comissão Europeia mostrou-se preocupada com a possibilidade de a Península Ibérica registar até novembro “condições mais quentes e secas do que o habitual”, como prevê o mais recente relatório do Observatório Europeu da Seca — um relatório que também aponta para a possibilidade de a atual seca ser a pior desde há 500 anos.

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