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Chris Ware/Keystone Features/Getty Images

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Uma veterinária com medo de galinhas, uma pessoa que não toca no umbigo e outras fobias

Joana Marques Alves reuniu 41 histórias de pessoas reais que aprenderam a viver com o medo. E, a estes relatos, juntou uma lista de mais de 250 fobias, algumas delas bem inesperadas.

“Todos temos pelo menos um medo, seja um receio inexplicável do escuro, pânico das alturas, medo da morte. Coisas que não se explicam, que nos deixam num estado de ansiedade tal que chegamos a soltar um grito, a arregalar os olhos ou a dar um salto.” É assim que Joana Marques Alves começa a falar de medos, fobias, ataques de pânico e ansiedade em “O pequeno livro das grandes fobias”, trabalho em que a jornalista reúne histórias reais e enumera, não apenas os receios mais comuns, mas também os mais surpreendentes.

Talvez conheça pessoas que têm fobias de animais, como aranhas, ratos ou aves — estas são comuns. Também frequente são as pessoas que reagem mal a espaços fechados às alturas. Menos frequente será a fobia a umbigos ou a padrões irregulares. “As fobias podem parecer descabidas a quem as vê de fora, mas quem as vive sabe bem como são assustadoras. Em alguns casos, a pessoa que sofre sabe explicar o porquê de ter desenvolvido aquele medo, mas, em muitas outras situações, trata‑se de algo aparentemente ilógico, sem uma explicação plausível para o que parece ser um medo sem sentido.

No livro, das Edições Desassossego, a jornalista e escritora conta histórias de quem chora, grita e paralisa por causa das suas fobias, que vive em função do medo e que tudo faz para evitar situações de pânico. O Observador apresenta-lhe excertos de algumas destas histórias, começando com uma que talvez lhe seja familiar: uma iguana em cima da cabeça de um concorrente do programa “Agora ou Nunca”.

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‘O pequeno livro das grandes fobias’, de Joana Marques Alves, das edições Desassossego.

Ponha! Ponha! Ponha!

Herpetofobia – medo de rétpteis ou animais rastejantes

João Muge não estava à espera de ser “apanhado” neste programa — na verdade, a sua filha é que estava inscrita para participar no Agora ou Nunca. “Foi uma fase em que a minha filha queria uma iguana e insistia muito no assunto. Como ela era uma miúda e na altura este programa estava a ser transmitido, resolvi enviar uma carta à produção para que ela fosse “apanhada” e perceber se estava mesmo à vontade com aqueles animais. Mas caí na asneira de escrever na carta que este era um dos bichos com os quais não simpatizava… Por isso é que a produção decidiu inverter os papéis e fazer um “jogo duplo”: ora falava comigo para combinar pormenores, ora falava com ela.”

João acabou mesmo por participar no programa. O apresentador Jorge Gabriel queria colocar-lhe uma iguana na cabeça. João estava nervoso, mas aceitou o desafio. “Isso tem unhas e tudo! Vai arranhar-me a careca toda!”, gritava. Quando o apresentador se aproximou com o animal na mão, João não aguentou: “Ponha! Ponha! Ponha!”, exclamava em pânico. “Na altura, juro que nada me passou pela cabeça. Nem no dinheiro pensei. Só queria sair daquele filme. Eu fui ao programa com uma direta em cima. Tinha estado de prevenção toda a noite na manutenção de um sistema numa fábrica em Oliveira do Hospital. Estava muito cansado não só por não ter dormido, mas também por ter feito as viagens, por isso estava mais vulnerável a qualquer situação. Lembro-me de que, quando senti a iguana na minha cabeça, o corpo começou a tremer, estava todo arrepiado. Só queria despachar aquilo e acabou por me sair o ‘Ponha! Ponha! Ponha!’, que bem poderia ser ‘Mande-me embora!’”

João diz que não foi o prémio monetário que o fez aguentar aquela situação, mas sim o seu papel enquanto progenitor: “Aguentei-me porque comecei a pensar nas minhas filhas, que estavam a assistir ao programa. Não queria dar parte de fraco.”

Se fosse uma fobia a algo mais assustador, sempre dava mais pinta

Ailurofobia – medo de gatos

A mãe de Gonçalo [nome fictício] tem dois cães. Desde miúdo que Gonçalo gosta de brincar com eles e considera-se um amigo dos animais — daí que considere a sua situação “esquisita”. Gonçalo tem fobia a gatos. Garante que não se trata apenas de um medo: é um pavor que o paralisa, que o deixa fora de si. “Desde pequeno que não consigo estar ao pé de gatos. As suas garras fazem-me confusão, o pelo, o miar, a forma como se movimentam sorrateiramente… Tudo aquilo me deixa nervoso, arrepiado, às vezes até com suores. É uma sensação terrível — parece que, se não sair dali naquele momento, vou “apagar”.”

Não se lembra de qualquer episódio que possa ter dado origem a esta fobia — supostamente, até tinha tudo para se dar bem com estes animais: “A minha mãe gosta muito de gatos, a minha avó viveu sempre com vários. Detestava ir a casa dela, não conseguia estar na mesma divisão. Só de vê-los a passar no corredor, ficava arrepiado. Lembro-me até de, uma vez, estar sozinho na sala da minha avó e um dos gatos aparecer. Paralisei. Não sabia o que fazer. Coitado do animal, provavelmente só queria brincar, mas quando o vi a aproximar-se, gritei, chorei, corri, fiz tudo o que não tinha feito até ali.”

Desde essa altura, vários episódios caricatos ocorreram: “Convenhamos: é muito fácil gozar com um homem bem constituído, cheio de si, que depois foge do passeio quando vê um gatinho bebé… Ou que entra numa loja a correr porque vê dois a correrem na sua direção… Ou que começa a ficar enervado e a gritar quando os amigos lhe põem um gato em cima de propósito… Eu próprio, mais tarde, rio-me das figuras que faço. Mas na altura é algo completamente incontrolável. Se fosse uma fobia a algo mais assustador, sempre dava mais pinta”, diz na brincadeira.

Gonçalo não consegue explicar o porquê desta fobia. Não sabe se tem que ver com estes “encontros” ou se pode haver algo mais por detrás deste medo. “Sempre ouvi dizer que a fobia vai muito além da fobia em si. Ou seja, que o nosso medo não está diretamente relacionado com aquele objeto, mas com algo mais profundo. Já dei voltas e mais voltas, mas não consigo mesmo perceber qual o significado por detrás do meu caso”, confessa. Essa é a única razão que o leva a ponderar procurar ajuda profissional: “Tenho curiosidade. A verdade é que sei perfeitamente contornar este problema — até já tive namoradas que viviam com gatos, e a solução foi sempre não ir a casa delas… Ou seja, eu consigo lidar bem com isto. Mas acho interessante essa parte do inconsciente, do que estará por detrás do gato…”

Quando a fobia nem deixa dormir

Aracnofobia – medo de aranhas

“Não me assustes, que fico dias e dias sem dormir!” Pode ser uma força de expressão, mas no caso de Mariana foi mesmo verdade. Felizmente só aconteceu uma vez, a fobia que tem a aranhas fez com que não conseguisse pregar olho durante vários dias.

“Há uns anos saiu uma notícia que dizia que durante uma noite as pessoas comiam, em média, sete aranhas por noite… Pois bem, nessa altura estive cinco noites sem dormir. Tive de tomar algo para dormir porque já não aguentava mais”, recorda Mariana. Desde pequena que tem esta fobia — diz que, quando era mais nova, achava que era só um medo, mas, com a idade, percebeu que o que sentia ia muito além disso. “Não me lembro de nada que tenha desencadeado esta fobia. Mas tenho algumas recordações: lembro-me de que, em miúda, enquanto fazia zapping na televisão, me deparei um filme em que as aranhas devoravam uma pessoa. Acredito que, a partir desse dia, a minha fobia cresceu.”

Desde pequenina que se lembra de ter pavor destes animais. Um medo que a deixava fora de si e que a levava aos extremos: “Lembro-me de um episódio, quando tinha uns 6 anos de idade e vivia numa aldeia. O meu quarto tinha uma janela muito grande, que a minha mãe abria todas as manhãs para arejar a divisão. Um dia, à noite, lá estava uma aranha no parapeito. Estive quinze dias sem dormir no meu quarto, não conseguia estar lá e adormecer descansada.”

Algumas pessoas têm medo de aves em geral, outras basta verem penas para terem um ataque de ansiedade - Chris Jackson/Getty Images

Chris Jackson/Getty Images

O meu pai pôs-me no meio de galinhas. Não resultou

Alectorofobia – medo do contacto com galinhas

“Eu sabia que tinha de lidar com galinhas durante o curso [Medicina Veterinária]. Lidei com elas e consegui acabá-lo, mas não foi fácil. Sempre que podia, evitava o contacto com estes animais. Às vezes não era possível e, nessas alturas, tentava desligar e fazer com que aquele momento passasse rapidamente.”

Esta fobia a galinhas surgiu quando Maria do Carmo [nome fictício] ainda era uma miúda, sem qualquer razão aparente. A verdade é que o único episódio que pode explicar este medo irracional envolve uma outra ave. “Eu era muito pequenina e estava num parque, perto de Lisboa, com os meus pais. Decidi começar a perseguir os pavões que por lá habitavam, até que tive a brilhante ideia de arrancar uma pena de um deles. O animal não me atacou, mas abriu a sua grande cauda. Eu assustei-me muito, e aquele episódio, como se pode ver, deixou uma marca.”

A verdade é que Maria do Carmo tem fobia a galinhas, mas não lida bem com as restantes aves: as texturas das penugens fazem-lhe confusão, a presença de pombos nas esplanadas incomoda-a, o sobrevoar das gaivotas nas praias não a deixa descansar. “No geral, não gosto de aves. Mas com as galinhas é diferente… Principalmente com aquelas que têm os pescoços depenados. Não consigo olhar para elas, sinto algo inexplicável. Até os pintainhos, que tantas pessoas encaram como sendo as crias mais queridas que por aí andam, me fazem confusão”, explica. “O meu pai tentou sempre pôr um fim aos meus medos. Eu tinha receio de cavalos, por isso pôs-me na equitação; tinha medo de cães, por isso pôs-me a passear os que estavam em casa dos meus avós. Quanto às galinhas, também tentou fazer esta terapia de choque: uns familiares tinham um grande galinheiro em casa e o meu pai decidiu, quando eu tinha uns 4 anos, fechar-me lá dentro. Pânico. Fiquei lá dentro, sem saber o que fazer, a ver aqueles animais todos à minha volta. Como é óbvio, não resultou”, recorda Maria do Carmo.

Cada vez que fala neste episódio, a sua cara transforma-se, parece que regressa àquela capoeira, que, de alguma forma, continua a “assombrá-la”: “Esses familiares ainda têm essa capoeira e quando vou lá, tenho de passar mesmo à frente das galinhas. A verdade é que ainda hoje, com 28 anos, semicerro os olhos e passo a correr. Não consigo estar ali.”

“O meu pai tentou sempre pôr um fim aos meus medos.”

Descobri que tinha isto com o famoso “calcanhar de maracujá”

Tripofobia – medo de padrões irregulares ou de agrupamentos de buracos ou saliências

“Acredito que este medo represente algo natural, li em algum lugar que grande parte da população também sofre de tripofobia. Talvez seja algo defensivo. Coisas podres, larvas e elementos perigosos costumam ter este aspeto. O que me causa repulsa são muitos buracos muito próximos entre si. Se forem furos com algo no meio, causa-me ainda mais impressão. Descobri que tinha esta fobia com a imagem que, na brincadeira, os amigos nos mandam procurar na Internet — o famoso “calcanhar de maracujá” [nome dado a uma doença em que larvas negras circundam uma ferida arredondada, dando um aspeto semelhante ao de um maracujá]. A partir daí, descobri que existia esta fobia e todas as outras imagens que vi do tipo causaram-me uma reação igual.”

Tentando evitar ao máximo este estímulo fóbico, Miguel acaba por, ocasionalmente, se deparar com estes padrões. Sente uma sensação estranha cada vez que tem de lidar com um objeto que tenha o aspeto descrito. “É estranho. Sinto uma curiosidade mórbida, mas ao mesmo tempo, depois de ver estas imagens, levo algum tempo a esquecê-las. Persistem na minha mente. Não me sinto em perigo, nem nada desse género, pois são imagens estáticas no computador e geralmente são doenças que não virei a ter. Raramente vejo algo que me cause tripofobia fora do ecrã. É mais o nojo extremo, e como fica na minha mente durante algum tempo. Uma vez, na Fnac, vi um cartucho de impressora da HP que mostrava uma imagem verde em alta definição… Um elemento natural… A textura da imagem causou-me uma sensação semelhante à que tive ao ver as imagens com os buracos. Afastei-me com raiva de ter visto aquilo contra a minha vontade.”

Pode ser que quanto menos fale sobre o assunto, mais depressa ele desapareça

Aicmofobia – medo de agulhas de injeção ou de objetos pontudos

As vacinas, os soros, tudo isso deixa Maria de Fátima [nome fictício] nervosa. “Fico num estado inexplicável. Só de pensar que me vão picar com aquilo, choro muito, entro em pânico, tenho de ter duas pessoas a agarrarem-me, senão desmaio. Sofro mesmo muito.”

Recentemente, Maria de Fátima teve de levar uma injeção. Foi um dos momentos mais difíceis da sua vida: “Por questões de saúde, tive mesmo de levar uma injeção. Eu não queria, dias antes já estava a chorar. Não conseguia dormir só de pensar no que me ia acontecer. Mal entrei, o medo era tal que desmaiei. Acabei por levar a injeção, mas no meio de muitos gritos de desespero, de me agarrar com toda a força ao meu marido e de sentir um pânico terrível, uma sensação de que o coração ia saltar do peito, que não ia aguentar e ia começar a vomitar com os nervos.”

Depois da reação extrema, chega a vergonha: “Após este “espetáculo”, tenho de lidar com a vergonha de ter as pessoas a olharem para mim. Começo logo a pensar no que poderão estar a comentar, o que acham de mim. Nessa altura, escondo-me e volto a chorar. Desta vez, são lágrimas de vergonha e de angústia.”

Felizmente, foram raros os momentos em que Maria de Fátima teve de lidar com este problema, mas já passou por situações confrangedoras. Uma delas foi um dos momentos mais importantes da sua vida. “Era o dia em que ia conhecer os pais do meu namorado — que, mais tarde, passou a ser meu marido. Tinha sido convidada para ir lanchar a casa deles e estava muito nervosa, queria que tudo corresse bem. Quando entrei, a mãe dele estava a coser umas meias. Eu só via aquela agulha, muito afiada, a baloiçar na mão dela...”

“Sabia que tinha de me baixar e cumprimentar a senhora, que estava sentada no sofá, mas não estava a conseguir sequer aproximar-me. Comecei a suar, a entrar em pânico, não sabia como sair daquela situação, mas, felizmente, a mãe dele antecipou-se e levantou-se para me cumprimentar. Melhor ainda: posou a meia e a agulha. Se tivesse vindo direita a mim com aquilo na mão, não sei qual teria sido a minha reação”, recorda.

Há quem não goste de ver umbigo, mas também há quem não seja sequer capaz de tocar no seu próprio umbigo – George DeSota/Liaison

Se tocassem no meu umbigo, acho que morria

Onfalofobia – medo de tocar no umbigo

“Se tocassem no meu umbigo, acho que morria.” Não se lembra de um episódio que tenha desencadeado este problema, mas confessa que até tem pesadelos relacionados com esta questão: “Já sonhei várias vezes que estava amarrado a uma cama e alguém me tocava insistentemente no umbigo. Acordo a meio da noite assustado.”

André não se lembra de quando é que este medo surgiu, mas garante que foi algo que aconteceu já na adolescência. “Tenho ideia de que, em criança, este não era um problema que me afetasse. Não tenho presente o momento em que os umbigos me começaram a fazer confusão, mas sei que já sinto isto há, pelo menos, uns dez anos e ultimamente cada vez mais.”

Quando fala com alguém sobre este problema, a primeira reação é de espanto. Os amigos pedem-lhe que explique o que sente, mas tem dificuldades em verbalizar o que experiencia naqueles momentos. “Eu não tenho qualquer problema em ver o meu umbigo, nem em ver umbigos em geral. O meu problema é só mesmo o toque. Se toco (ou algo me toca) na zona do umbigo, sinto um enorme desconforto, um incómodo que não sei explicar. É uma sensação física, apesar de ter a noção de que deve ser algo apenas psicológico. Ver outras pessoas a tocarem nos seus umbigos também é muito desconfortável para mim, tenho de desviar sempre o olhar quando vejo umbigos a serem tocados. Perturba-me bastante.”

Queremos ser um exemplo de coragem para os nossos filhos

Coulrofobia – medo de palhaços

“É uma sensação muito complicada de explicar, mas, simplesmente, não consigo lembrar-me de que por baixo de tudo aquilo, são pessoas normais. Vendo um palhaço ou um mimo, o meu primeiro pensamento é que me vão fazer mal.” É desta forma que Bruna, de 24 anos, descreve o que sente quando vê estas personagens, os dois objetos fóbicos com os quais tem de lidar.

Desde os 6 ou 7 anos que se lembra de ter medo destas figuras, mas não consegue atribuir um episódio concreto ao desencadear desta fobia: “O que sei é que sempre tive medo de frequentar circos e coisas do género.” Com o passar dos anos, começou a saber controlar este medo, mas nunca o conseguiu ultrapassar completamente. “Há uma ou duas semanas, estava num centro comercial e dei de caras com um mimo. Mudei imediatamente de rota, tremia por todo o lado e estava com muita dificuldade em respirar”, recorda.

Bruna tem uma filha de 2 anos e outra ainda com meses. A mais velha, ao contrário da mãe, gosta de máscaras, fantasias, palhaços, mimos e todas as figuras associadas à animação. Isso faz com que Bruna tenha de reunir todas as suas forças para não passar esta ansiedade à filha. Agora que tenho crianças em casa, torna-se um pouco mais complicado evitar estas personagens. Já aconteceu ela estar a ver um palhaço na televisão, chamar-me e eu tremer por todo o lado. Mas a verdade é que queremos ser um exemplo de coragem para os nossos filhos, perante as mais diferentes situações que nos possam surgir ao longo da vida.”

De resto, este medo irracional pouco interfere com o dia a dia de Bruna. No entanto, torna-se claro que algo de grave se passa quando as suas noites são “assombradas” com palhaços e mimos. “Há pelo menos quinze anos que tenho exatamente o mesmo sonho. Há uns anos, o anúncio de uma empresa de telecomunicações tinha como protagonista um mimo e, desde essa altura, que essa personagem me aterroriza durante o sono. Acordo sempre em pânico”, afirma.

“Há pelo menos quinze anos que tenho exatamente o mesmo sonho.”

Aranhas, balões e um ataque de nervos

Globofobia – medo de balões

Um simples balão deixava Susana à beira de um ataque de nervos. Por mais divertida que fosse a festa, por muito feliz que estivesse naquele momento, brincar com um balão estava fora de questão. E acredita que esta fobia teve origem numa brincadeira do seu irmão. “Tenho esta fobia desde criança e tem vindo a diminuir ao longo dos anos. Penso que foi desencadeada pelo meu irmão mais velho, que tinha o hábito de rebentar balões literalmente na minha cara. O som do balão a rebentar é o que me causa mais impressão. Hoje em dia, essa fobia já se dissipou — até porque tenho sobrinhos e isso é sinónimo de festas. Tive de aprender a ultrapassar este medo.”

Quando este problema ainda não estava controlado, principalmente quando ainda era uma criança, Susana fugia a sete pés destes objetos. Só a ideia de que alguém lhe poderia pregar uma partida deixava-a nervosa e, por isso, o mais fácil era manter-se distante dos balões pendurados nos jardins ou nos vários locais de festas. “Era impossível para mim aproximar-me de um balão. Começava a sentir calafrios e fugia das pessoas que estivessem a mexer num”, recorda.

Com o tempo, Susana acabou por ir controlando o seu problema, “tentando manter a calma e, aos poucos, forçando aproximações” destes objetos. Por isso, nunca sentiu necessidade de recorrer a ajuda profissional e muito menos a medicação. Hoje em dia ainda não consegue ter uma “relação” confortável com balões e confessa que, sempre que sente que pode estar “em perigo”, evita-os: “Tento não me aproximar muito deles porque tenho a sensação de que vão rebentar a qualquer momento. A verdade é que, hoje em dia, até tocar em objetos de borracha me faz confusão.”

Não estou curado, mas consigo viver a minha vida normalmente

Claustrofobia – medo de espaços confinados, apertados ou fechados

“Eu era uma criança normal, não vivia com medo. Até costumava aventurar-me por grutas estreitas e escuras, algo que, anos mais tarde, seria impensável”, recorda. Isto porque, anos depois, foi-lhe diagnosticada claustrofobia, uma fobia que impede uma pessoa de estar em locais fechados. Mas este problema só foi detetado vários anos depois de uma vida condicionada por um medo petrificante.

Rui não se recorda ao certo do momento em que se apercebeu de que tinha um problema, nem sabe o que poderá estar na origem do mesmo. “Não consigo atribuir uma causa. O único episódio de que me lembro que muito provavelmente está relacionado com este problema passou-se quando eu tinha 11 ou 12 anos. Na altura jogava futebol e tinha de fazer exames médicos com regularidade. Por isso, fui com a minha mãe a Lisboa para fazer um exame ao coração. Normalmente, uma pessoa entra e sai de um elevador pela mesma porta e, por isso, assim que entra, vira-se para a saída. Mas este elevador era diferente.”

Este era um elevador antigo, em que a pessoa entrava por uma porta e saía por outra, do lado oposto. Habituado aos elevadores mais comuns, Rui e a mãe entraram e viraram-se para a porta por onde tinham acabado de entrar. Chegados ao andar desejado, apanharam um grande susto.

Este era daqueles elevadores mais antigos, com portas de correr, através das quais é possível ver o exterior. Por isso, quando chegámos ao piso que queríamos, ficámos virados para uma parede. Pensámos que o elevador tinha parado a meio do caminho e que estávamos presos entre dois andares“, recorda Rui, agora com 35 anos. O momento de pânico durou apenas alguns segundos, pois rapidamente se aperceberam de que existia uma saída no lado oposto. “Lembro-me de que fiquei muito assustado. Ninguém gritou, chorou ou entrou em pânico, mas tive mesmo medo”, explica.

Rui não sabe se este episódio provocou um problema fóbico, mas acredita que está relacionado. “É a única hipótese que consigo conceber. De resto, não me lembro de nada que possa estar na origem deste problema de claustrofobia.”

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