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Polícias feridos a tiro recebem apoio psicológico da instituição
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Polícias feridos a tiro recebem apoio psicológico da instituição

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Polícias feridos a tiro recebem apoio psicológico da instituição

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Quando a vida dos polícias é salva por "sorte"

Nos últimos 6 anos, 2549 elementos da PSP sofreram ferimentos em serviço. 32 tiveram que ser internados. Associação Sindical dos Profissionais de Polícia fala em sorte. E diz que, depois, tudo muda.

A investigação durou meses e empurrara os agentes da PSP para aquele bairro na zona do Miratejo, Seixal. Seria ali que estaria um homem condenado por tráfico de droga e que não regressara à prisão após uma saída precária. Os três agentes à civil subiram de elevador até ao 11.º andar. Arrombaram a porta do apartamento e começaram a busca. Mas o inesperado aconteceu. De um dos quartos veio o disparo. E um dos agentes acabou ferido.

O agente Paulo Esteves, que levava já dez anos de polícia, vestia um colete à prova de bala, mas a munição atingiu-o na cara perfurando-lhe o maxilar. Foi imediatamente retirado do local da operação e levado para o hospital. Submetido a uma intervenção cirúrgica, acabou por ficar livre de perigo. Mas aquele dia 7 de maio de 2008 não lhe sai da memória. Paulo Esteves não voltou mais ao serviço operacional. Encontra-se agora, já recuperado, em funções administrativas ao serviço da PSP do Barreiro.

Nos últimos seis anos, 2549 polícias partilham memórias idênticas. Entre 2009 e 2014, segundo os vários relatórios anuais de Segurança Interna, foi este o número de polícias feridos. Destes, só 32 precisaram de ficar internados no hospital, como aconteceu aos três polícias atingidos com disparos de caçadeira nesta terça-feira, no bairro da Ameixoeira, na Alta de Lisboa.

Ser polícia implica correr riscos. Mas os riscos que se correm afetam de forma diferente os polícias. Quem o diz é o presidente da Associação Sindical de Profissionais de Polícia, Paulo Rodrigues. “Uma coisa é um murro. Outra é uma pessoa sair de uma ocorrência e dizer que teve sorte. E que se não tivesse sorte tinha morrido”, lembra.

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A sorte. Tantas vezes invocada pelos homens que dão o corpo à segurança. Paulo Rodrigues sublinha que quando um polícia se considera salvo “pela sorte” a sua vida muda. “Quando temos consciência que podemos ter tido o azar de perder a vida ali, isso tem um impacto diferente. As pessoas começam a pensar na família, nos filhos, na mulher e começam a questionar mais. Têm que se proteger a eles, por fazerem parte da família”, explica.

2549

Número total de polícias feridos em serviço entre 2009 e 2014. Número inclui ferimentos graves e ligeiros.

Em fevereiro de 2015 foram os elementos da Equipa de Intervenção Rápida da PSP que se transformaram em vítimas no Bairro Cova da Moura, na Amadora. Os polícias estavam ali na sequência de um carjacking feito por dois homens, que momentos antes roubaram um carro a um condutor de 50 anos sob ameaça de arma de fogo.

Os dois suspeitos tinham fugido para o bairro e a polícia tentava encontrá-los. Mas, assim que os agentes localizaram a viatura roubada foram recebidos a tiro. Os suspeitos acabaram por fugir. Os polícias ainda voltaram ao bairro, mas desta vez foram atingidos com pedras e garrafas por populares. Acabaram por recuar. Sem detidos.

Também na Amadora, mas junto ao Bairro de Santa Filomena, dois polícias guardam na memória aquela ocorrência, em julho de 2009. A patrulha da PSP tinha sido alertada para um grupo suspeito que se prepararia para um conjunto de assaltos na zona. Os dois polícias deslocaram-se ao local, mas mal a viatura da PSP chegou às portas do bairro foi recebida a tiro por homens encapuzados. Os suspeitos fugiram para o interior do bairro e foram perseguidos pelo carro policial.

O primeiro polícia a ficar ferido, na cara, foi o condutor. O outro polícia sofreu ferimentos quando tentava abandonar a viatura. O caso aconteceu em plena luz do dia, pelas 15h00. O bairro foi imediatamente cercado. Cinco suspeitos acabaram referenciados como estando ligados ao crime.

Dificilmente um polícia ferido a tiro em serviço regressa rapidamente ao trabalho operacional. A recuperação psicológica pode ser demorada.

Mas não é só em operações policiais em bairros problemáticos que a polícia se torna, muitas vezes, a vítima. No aeroporto de Santa Maria, nos Açores, um suspeito de violência doméstica também atacou a PSP quando tentava impedir que mulher e filha apanhassem o avião para Ponta Delgada. O caso aconteceu em outubro de 2011 quando o homem disparou contra dois polícias. Um deles precisou de tratamento hospitalar.

A longa lista de polícias feridos ao serviço da PSP também inclui vítimas do fervor futebolístico. Em maio de 2015, quando os adeptos benfiquistas comemoravam o título de campeão, os ânimos exaltaram-se e os festejos acabaram em confrontos. Vários polícias sofreram ferimentos, ainda que sem gravidade.

Como recuperar do trauma?

Sempre que um polícia fica ferido em serviço, a Direção Nacional da PSP aciona os seus serviços de Psicologia. A família dos polícias e os próprios elementos da PSP podem beneficiar deste apoio psicológico. Mas isso será suficiente para recuperar do trauma?

Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais de Polícia

LUÍS FORRA/LUSA

Paulo Rodrigues é perentório. A recuperação “não é fácil”. “Não se pode dizer que o elemento no dia a seguir está apto a ir para o terreno. Há muitos que acabam por ficar em serviço administrativo e de apoio. Depende muito da estrutura familiar e do apoio que têm logo a seguir ao acontecimento”, refere. Muitas das vezes, explica, é o próprio polícia que após ser pressionado pela família pede para ser mudado para um serviço menos operacional. Daí o papel fundamental do núcleo familiar.”Há quem consiga voltar rapidamente ao serviço. Mas é uma minoria”, diz Paulo Rodrigues.

O presidente da associação sindical refere ainda que os tempos que correm são diferentes. A sociedade mudou. E a forma de receber a polícia também. “Antes, quando a polícia aparecia os suspeitos fugiam. Agora disparam. Lidamos cada vez mais com o imprevisto“, refere. E isso provoca “incerteza”, nas suas palavras.

Quando as balas matam

Os relatórios anuais de segurança interna publicados entre 2009 e 2014 dão conta de apenas um PSP morto em serviço durante este período. O relatório referente a 2015, que deverá ser conhecido ainda esta semana, incluirá nos números o caso dos dois polícias de 24 e 27 anos que foram colhidos pelo comboio, na Bobadela, arredores de Lisboa, quando perseguiam dois suspeitos de um assalto.

O acidente marcou o mês de fevereiro. Eram 11h30 quando o comboio Intercidades que partira de Lisboa em direção ao Porto ali cruzou o destino dos dois homens. Um dos polícias mortos tinha apenas 23 anos e estava na polícia ainda não há dois anos. Tinha terminado o curso em 2013. O outro, João Rainho, tinha 27 anos e três de farda.

Na altura o ocorrido motivou uma declaração da então presidente da Assembleia da República, Assunção Esteves. “Morreram como heróis por todos nós! Deixam-nos uma memória de abnegação, um exemplo de entrega sem limite. São eles e outros como eles que nos dão a garantia do Estado de direito, da força das leis e da justiça. A nossa gratidão é imensa, tão imensa como a nossa tristeza”.

Os mortos em serviço são muitas vezes recordados pela própria instituição. Na cerimónia que assinalou o 149.º Aniversario do Comando da PSP de Lisboa foram recordados os nove polícias mortos ao serviço daquele Comando deste 2002.

Entre eles estava o agente Felipe Cambraia, morto acidentalmente por um colega dentro da esquadra de Carnide, em Lisboa, corria o ano de 2011. O chefe da PSP que o atingiu pediu transferência de serviço. Está a fazer trabalho administrativo e os colegas dizem que “nunca mais foi o mesmo”. Também os dois polícias mortos em 2005 na Amadora pelo luso-brasileiro Marcus Fernandes, quando lhe pediram a identificação, foram lembrados naquela cerimónia. Os agentes Alves e Abrantes foram mortos a tiro à porta de um bar no bairro da Falagueira. O homicida, na altura de 31 anos, estava a ser investigado pela Polícia Judiciária por tráfico de armas e fugiu para Melides – onde acabou detido dias depois.

Paulo Alves tinha apenas 23 anos e estava ao serviço da PSP da Amadora por sua escolha. Dizia que sendo polícia ali seria polícia em qualquer sítio. Trabalhava para ajudar os pais, a quem dava uma parte do seu magro salário.

Paulo Alves foi também homenageado na cerimónia de encerramento do 11.º curso de formação de agentes da PSP – onde mais de 10 mil candidatos concorreram. A Polícia atribuiu-lhe um louvor a título póstumo e convidou os pais a estarem presentes. Foi neste momento que a própria ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, se abraçou aos pais desta vítima. E chorou.

Nota: Os dados estatísticos referem-se apenas a elementos da PSP e não incluem os militares da GNR também vítimas em serviço.

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