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Ezra Acayan/Getty Images

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Violência, hospitais lotados e um tufão. Nas Filipinas a pandemia é uma dupla tempestade

Crianças trancadas em jaulas para cães por violarem o confinamento e um tufão que impede o distanciamento social em abrigos apertados. Nas Filipinas a pandemia parece ter outro peso.

Com mais de 12 mil pessoas infetadas com o novo coronavírus, as Filipinas enfrentam preocupações acrescidas face ao receio de contágio. A par de relatos de hospitais lotados e do uso de violência nas ruas, com cidadãos a serem duramente castigados pelo incumprimento das regras impostas, o país no sudeste asiático enfrenta desde quinta-feira um tufão que põe em causa o plano de contingência do governo.

A pandemia está a complicar os esforços das autoridades filipinas em transferir milhares de pessoas para abrigos, pondo em causa o tão necessário distanciamento social. De acordo com a Aljazeera, o tufão Vongfong, o primeiro a atingir o país em 2020, intensificou-se depois de atingir o leste das Filipinas na tarde de quinta-feira. O tufão é caracterizado por ventos de 150 quilómetros por hora e rajadas até 255 km/h. Estima-se que 200 mil pessoas precisem de ser retiradas das suas casas, nas áreas costeiras e também montanhosas, devido a receios de inundações e deslizamentos, numa altura os recursos financeiros tendem a escassear devido ao impacto da pandemia que já matou 806 filipinos.

Os tufões não são uma raridade no arquipélago composto por mais de 7 mil ilhas — recebe cerca de 20 tufões e tempestades por ano, além de algumas erupções vulcânicas e também tremores de terra —, mas, agora, este vem juntar-se a uma outra tempestade que tem preocupado o mundo desde que foi detetada no final de 2019 na China. O tufão chega precisamente numa altura em que o país tenta lidar com o surto, confinando os filipinos nas respetivas casas e proibindo ajuntamentos, à semelhança do que já acontece em vários países. Mas, ao contrário do que se tem verificado à escala global, as más condições climatéricas que assolam o país vêm acentuar as dificuldades. À CNN, edição filipina, o governador da província de Samar Oriental, Ben Evardone, diz que está a viver “um pesadelo”. “De momento, o nosso problema é onde enfiar as nossas pessoas, enquanto garantimos que elas praticam a distância social.”

A destruição em Samar Oriental; residentes procuram abrigo numa escola em Sorsogon

Alren BERONIO / AFP

No município de Jipapad, que fica no caminho do tufão, apenas existem dois centros de evacuação para os cerca de 8 mil habitantes. Trata-se de um ginásio e da própria câmara municipal. Citado pela Aljazeera, o presidente da câmara, Benjamin Ver, que é também o único médico de Jipapad, disse ter conseguido máscaras suficientes para os locais, mas admitiu que garantir a distância social é “praticamente impossível”. Já em Buhi, na província de Camarines Sul, centenas de pessoas receberam máscaras, enquanto equipamento de proteção individual, e só depois foram recebidas nos centros de acolhimento — o governo local transformou duas escolas em abrigos temporários.

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Em Samar Norte pelo menos 10 mil pessoas foram evacuadas devido ao tufão e em Sorsogon outras 55 mil receberam ordem para ficar em abrigos — no último caso, a distância social teve em consideração famílias e não indivíduos. Autoridades locais de Samar Norte e Sorsogon, citadas pela CNN, admitiram a dificuldade em manter os residentes em segurança considerando a dupla ameaça: a covid-19 e o tufão.

No município de Jipapad, que fica no caminho do tufão, apenas existem dois centros de evacuação para os cerca de 8 mil habitantes. Trata-se de um ginásio e da própria câmara municipal. Citado pela Aljazeera, o presidente da câmara, Benjamin Ver, que é também o único médico de Jipapad, disse ter conseguido máscaras suficientes para os locais, mas admitiu que garantir a distância social é "praticamente impossível".

São dezenas de milhares as pessoas que foram forçadas a ficar em abrigos apertados, reporta a AFP. O tufão começou por atingir a ilha central de Samar na quinta-feira e já na forma de uma forte tempestade tropical está a caminho da ilha de Luzon, onde se situa Manila, que concentra a maior parte das infeções do país — 67% dos novos casos reportados esta sexta-feira, 15 de maio, correspondem à capital filipina.

Balas em vez de arroz e crianças presas em caixões

Numa altura em que a informação é essencial, o presidente filipino Rodrigo Duterte mandou encerrar a ABS-CBN, uma das emissoras mais influentes no país. A decisão, que data de 5 de maio, foi tomada em pleno lockdown pandémico, com o governo a atribuir o encerramento a anomalias nas renovações de licenciamento, explica o The New York Times. Vozes críticas do presidente filipino argumentam que a medida é mais uma prova de um governo cada vez mais dominador, que está a usar a crise provocada pela pandemia para reprimir os dissidentes.

A organização não governamental Human Rights Watch, por sua vez, atesta que a decisão de encerrar a emissora televisiva corresponde a uma “vendetta política”. O certo é que esta é a primeira vez, desde 1986, que a ABS-CBN sai do ar. Entretanto, o principal programa de notícias, TV Patrol, migrou para plataformas digitais — na semana passada registou 8.7 milhões de visualizações num só dia.

"As minhas ordens são para a polícia e para o exército, e também para os barangay [órgãos administrativos de bairro]: se houver problemas ou se surgir uma situação em que as pessoas resistem e as vossas vidas estiverem em risco, matem-nos. Compreendem? Mortos. Em vez de provocarem problemas, vou mandar-vos para a cova.”
Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas

Mas esta será de longe a única polémica associada ao governo filipino, sobretudo depois de o presidente Rodrigo Duterte ter autorizado polícias e militares a disparar contra quem violar a quarentena, isto é, contra qualquer pessoa que cause “problemas” durante o isolamento obrigatório decretado a propósito da pandemia, como já antes escreveu o Observador. No início do mês de abril, Duterte, que está no poder desde 2016, afirmou numa declaração televisiva que não hesitaria nessa questão: “As minhas ordens são para a polícia e para o exército, e também para os barangay [órgãos administrativos de bairro]: se houver problemas ou se surgir uma situação em que as pessoas resistem e as vossas vidas estiverem em risco, matem-nos. Compreendem? Mortos. Em vez de provocarem problemas, vou mandar-vos para a cova”, declarou, segundo o site filipino The Rappler.

Um agricultor de 63 anos da cidade de Nasipit, conta a publicação DW, que terá ameaçado as autoridades com uma foice, estando ele sob a influência de álcool, foi o primeiro civil a ser morto a tiro pelas autoridades. O motivo? Não estava a usar máscara. O facto de Duterte ter escolhido militares em vez médicos como a força nacional de trabalho para combater a covid-19 tem gerado várias críticas. Os filipinos que se opõem a esta realidade já levaram o seu descontentamento para as redes sociais, dando expressão a uma hashtag em particular — “Bigas hindi bala!”, ou seja, “Arroz, não balas”, mas também #SolusyongMedikalHindiMilitar, o que se poderá traduzir em “Soluções médicas, não soluções militares”.

A polémica declaração de Duterte foi feita no mesmo dia em que se registou um protesto espontâneo em Sitio San Roque, um bairro de classe baixa na cidade de Quezon, na ilha de Luzon, quando residentes saíram à rua para exigirem apoio económico devido à impossibilidade de trabalharem uma vez decretado o confinamento. Jocy Lopez, que liderou o protesto, disse à Al Jazeera que estava a pedir ajuda por causa da fome. “Não nos deram comida, arroz, compras ou dinheiro. Não podemos trabalhar. Viramo-nos para onde?” Jocy foi uma das cerca de 20 pessoas detidas na sequência da manifestação. A crise de saúde provocada pelo novo coronavírus está a afetar aqueles que moram nas favelas e também quem sobrevive — ou tenta sobreviver — à conta da economia informal.

Fila de filipinos para receber doações em dinheiro do governo (foto de 11 de maio)

Ezra Acayan/Getty Images

Quezon faz parte da Região Metropolitana de Manila, sendo que a ilha de Luzon está em lockdown desde 16 de março, restringindo o movimento da população com algumas exceções profissionais e relacionadas com questões de saúde. A 12 de maio o governo anunciou que apenas a Região Metropolitana de Manila e Laguna (incluindo a cidade de Cebu) permaneceriam em confinamento, ainda que com algumas restrições aliviadas, até ao dia 31 de maio.

Ainda que a Amnistia Internacional tenha criticado as declarações do presidente, classificando-as como um “perigoso incitamento à violência”, relatos de tratamento abusivo a cidadãos — adultos e crianças — incumpridores das leis em pleno isolamento têm surgido na imprensa internacional. Segundo a organização não-governamental Human Rights Watch (HRW), há menores entre aqueles que têm sido tratados de forma cruel e até desumana, com relatos de duas crianças, na província de Cavite, terem sido fechadas num caixão a 26 de março por terem violado a quarentena obrigatória.

Captura de ecrã da página Human Rights Watch © 2020 Facebook

A 20 de março, continua a HRW, oficiais em Santa Cruz, na província de Laguna, fecharam cinco jovens no interior de uma jaula para cães. E em Binondo, distrito de Manila, quatro rapazes e quatro raparigas foram detidos a 19 de março pelos mesmos motivos: de acordo com os relatos, as autoridades locais cortaram o cabelo das crianças à força, sendo que a única que resistiu foi despida e obrigada a voltar a casa a pé. Outra história semelhante remete para o facto de uma mãe ter sido detida a 24 de março por permitir que o filho brincasse no exterior.

De 17 a 29 de março, mais de 17 mil pessoas foram detidas em todo o país por violarem as restrições impostas pelo governo, dados da Polícia Nacional das Filipinas, citados pela publicação The Rappler. Durante esse período foram contabilizadas quase 70 mil infrações — dessas, 3.777 resultaram em multas e 48.273 em avisos.

A isso soma-se o facto de ainda no final de março seis hospitais privados na Região Metropolitana de Manila terem anunciado que estavam lotados e que não poderiam receber mais pessoas infetadas pelo novo coronavírus. Na altura era ainda notícia que nove médicos tinham morrido devido à Covid-19. Mais recentes são os dados da CNN Filipinas que dá conta, sem discriminar, de 2.245 profissionais de saúde infetados — 779 já recuperaram e 35 morreram.

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