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"Foram 2 meses, gravando 12 horas por dia e seguindo todas as histórias e evoluções das personagens, tanto médicos/enfermeiros como pacientes", explica Fèlix Colomer
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"Foram 2 meses, gravando 12 horas por dia e seguindo todas as histórias e evoluções das personagens, tanto médicos/enfermeiros como pacientes", explica Fèlix Colomer

"Foram 2 meses, gravando 12 horas por dia e seguindo todas as histórias e evoluções das personagens, tanto médicos/enfermeiros como pacientes", explica Fèlix Colomer

"Vitals". Um hospital, dois meses no pico da pandemia na Catalunha e um documentário para mostrar tudo

Fèlix Colomer filmou o dia-a-dia de um hospital catalão no pico da pandemia em Espanha. O resultado é um documentário em três partes, para ver na HBO. Antes da estreia, entrevistámos o realizador.

Talvez seja difícil imaginar que alguém, durante a primeira vaga da pandemia de Covid-19, se tenha aventurado pelos corredores de um hospital para filmar médicos, enfermeiros e pacientes. É difícil imaginar tudo isto em Espanha, num autêntico cenário de guerra, sem fim à vista nos meses em que estas filmagens aconteceram (entre março e maio de 2020). Na entrevista que o realizador Fèlix Colomer (que tem apenas 27 anos) concedeu ao Observador, em nenhum momento ele fala de terror ou de inferno. É como se, para rodar “Vitals”, Colomer tivesse ultrapassado tudo isso, todo o pesadelo, e procurasse apenas o lado da esperança, mesmo que a realidade, o que filmou, o atirasse para o pânico evidente. O documentário em três partes, que se estreia este domingo, dia 7 de fevereiro na HBO Portugal, é um esperançoso retrato de uma guerra que ainda não terminou.

Fèlix Colomer admite que foi duro, que ainda é, mas o realizador nunca se esquece dos sítios “de onde vem a luz”. Na coragem, criatividade e resiliência dos enfermeiros, nas histórias que contam aos pacientes para os manterem ligados a uma realidade que é desconhecida e evolui todos os dias. Quando filmou o documentário, Colomer não deveria suspeitar que “Vitals” fosse um produto vivo, em movimento, passado um ano. Mas é. Não é só um momento filmado de um tempo que se viveu, com princípio e fim. É o presente urgente, fundamental para perceber e viver estes dias.

[o trailer de “Vitals”:]

Como é que em março do ano passado, sem se conhecer tão bem o vírus, ou pelo menos sem o conhecer como conhecemos hoje, decidiu arriscar tanto ao filmar num hospital em Barcelona?
Pois… não sabíamos como iria ser a pandemia da Covid-19. Um amigo que trabalha no hospital disse-me que o que se estava a passar no era incrível, incrível porque era difícil acreditar sem se ver, e que eu tinha de ir filmar. No hospital deixaram-nos entrar dentro dos espaços. Por sorte, vivo em Sabadell e perto da minha casa tenho um hospital [Hospital Parc Taulí], com o qual já tinha relações anteriormente, por causa de um outro documentário. Abriram-me as porta. Foram 2 meses, gravando 12 horas por dia e seguindo todas as histórias e evoluções das personagens, tanto médicos/enfermeiros como pacientes.

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Sendo tudo tão novo, não se sentiu inseguro?
Foi algo aventureiro, confesso. Esta juventude de não pensar muito, não ter medo. Se tivesse ido com medo o resultado não seria o mesmo. Ou nem teria ido. E ao fim de quinze dias vi que havia muitas histórias. À mesma hora, uma senhora tinha alta, depois alguém era positivo e tinha de ir ter com a família. De início comecei sozinho, mas depois precisei de mais gente, para um estar com os enfermeiros e outro com os pacientes. E depois começou a vir um técnico de som. Éramos três pessoas no hospital. Paralelamente, estava um montador a trabalhar connosco, para ir adiantando trabalho para termos a série a pronto para a HBO.

Tinha um plano desde o primeiro dia? Foi adaptando o trabalho à medida que ia sabendo mais sobre o que se estava a passar?
No primeiro dia, estive sempre com os auxiliares da enfermaria. Terminei o dia, vi que havia duas enfermeiras, a Sandra e Naomi, que estão no primeiro episódio, que tinham uma química fantástica, eram divertidas. E quando um paciente sofria, elas sofriam como se fosse com elas mesmas. Vi ali que parecia ser um casting, mas na vida real. Ao fim do primeiro dia, perguntei se elas se importavam de estar com um microfone o dia inteiro. Foi assim com toda a gente, ao fim de algum tempo no hospital, vais vendo quais são as melhores histórias. E algumas das histórias advêm de Sabadell ser uma terra pequena, todos nos conhecemos. Uma das enfermeiras é minha amiga desde sempre, o rapaz que canta a canção, o seu pai é meu amigo. Uma médica que está no terceiro capítulo, por exemplo, é grande amiga da minha irmã. Muita gente está implicada na Covid-19 porque muita gente viveu a doença. Entre os contactos pessoais que já tinha e aqueles que fui fazendo, fui conhecendo toda a gente. Ah, e claro, no caso dos pacientes, que não conhecia. Entrava na sua casa, sem câmara, sem nada, comentava o projeto, dizia que a qualquer momento poderia parar. E o que foi surpreendente é que toda a gente disse que sim. Surpreendeu-me porque foi o momento mais frágil das vidas daquelas pessoas. E eles queriam e as famílias também. Porque percebiam que era algo histórico, que as pessoas de fora não estavam a perceber o que se estava a passar e que a sua história poderia servir para algo. Estavam dispostos a contar a sua própria história a bem do futuro.

"Quando nos cuidados intensivos diziam para não gravar, porque um paciente tinha morrido há pouco tempo e a família ia entrar para se despedir, esses momentos foram muito complicados. Havia situações em que me dava conta de algo tão simples como: a Covid-19 é real, vai estar aqui durante muito tempo e é uma doença que mata."

E em algum momento teve de parar?
Não. E isso foi precioso. Quando todos viram o documentário, ficaram todos encantados. Inclusivamente as famílias de dois pacientes que morreram, pacientes que acompanhei no documentário. Ficaram comovidos com o que viram. Tivemos o apoio de toda a gente. Isso é o mais bonito, essa confiança, entregaram-nos a sua vida. E estarem contentes com o resultado final foi muito importante.

Pegando no que disse há pouco: foi muito aventureiro. Como foi para si enfrentar este risco, o desconhecido?
Foi violento. Acho que foi assim para toda a gente. Por exemplo, quando nos cuidados intensivos diziam para não gravar, porque um paciente tinha morrido há pouco tempo e a família ia entrar para se despedir, esses momentos foram muito complicados. Havia situações em que me dava conta de algo tão simples como: a Covid-19 é real, vai estar aqui durante muito tempo e é uma doença que mata. E isso… pois, foi duro. Quando estamos a rodar, neste local, nestas circunstâncias, temos de ter um escudo e não se pode deixar que as emoções tomem conta. Porque queremos ter uma história com fundamento. Quando chegas a casa, pensas no que viveste, falas com quem vives e cais na cama cansado.

Houve algum momento em que pensou que não conseguiria continuar?
Não.

Porque na altura em que filmou, parecia que não havia um fim à vista.
Estar todos os dias, durante dois meses, e não ver um fim… neste documentário tudo vale pelas pessoas. No caso dos pacientes, o seu arco narrativo corre desde que entram no hospital, até que têm alta, exceto no caso de duas pessoas, que morreram. Era um ciclo fácil de encerrar. E o pessoal médico, tratámos da mesma forma que os pacientes, vimos as suas evoluções, as suas conquistas e derrotas, de quem vai para a guerra todos os dias.

"Em algum momento teríamos de terminar. Já se passaram sete meses e ainda me chegam coisas brutais. Um dos pacientes, há uns tempos subiu uma montanha", diz-nos o realizador Fèlix Colomer

Há pouco falou nos familiares dos pacientes. E os pacientes, eles acolheram-no no hospital?
O nosso objetivo foi o de fazer com que se sentissem supercómodos. E tornámo-nos seus amigos. Passámos o dia todo com eles, filmámos a realidade, sem forçar nenhuma situação, para que não se sentissem incomodados. Os que estiveram nos cuidados intensivos, quando viram o documentário, não se recordam de nada. E tivemos conversas enormes. A Covid-19 desorienta tanto que não se recordam de nada. Pediram-nos as filmagens originais para perceberem o que se passou, o que diziam, com quem falavam. Para eles foi como verem uma ficção, em que são eles os atores. Porque não se refletem nas próprias memórias, de tão difusas que são.

Quando decidiu parar de filmar um paciente?
Em algum momento teríamos de terminar. Já se passaram sete meses e ainda me chegam coisas brutais. Um dos pacientes, há uns tempos subiu uma montanha. Foi com toda a família, subiram uma montanha quando saíram do hospital. Teve uma evolução muito lenta, depois de estarem curados, há algumas consequências nos doentes que duram muito tempo. No caso daquela pessoa, poder subir uma montanha, ainda que com muito esforço, foi uma vitória incrível.

Com o que se passa atualmente, já pensou em regressar ao hospital?
Não, para mim não é interessante. O documentário é sobre pessoas. Não necessito de gravar mais. O que me interessa é a vida daquelas pessoas e isso está documentado. Percebo que seria interessante ver o pessoal médico na segunda, na terceira vaga. Mas seria um trabalho interminável. Tínhamos de cortar em algum sítio e estamos contentes que tenha sido assim. Quero que as pessoas vejam o documentário como um filme em três partes. O final, o terceiro capítulo, é bonito e está cheio de esperança. É para compensar pelo sofrimento dos outros dois capítulos.

"Fui uma espécie de traficante, levava objetos para toda a gente, como um telemóvel para comunicarem com os seus familiares. Ou um iPod, para ouvirem música. Também levava fotos, fotos com dedicatórias. A família aproveitava-se de mim e eu estava contente por isso."

Entre as pessoas que filmou, como têm sido as reações?
Já todos viram e estão todos encantados. Emocionaram-se muito. Para as famílias foi importante, por ver o familiar num momento frágil e vê-lo assim pela primeira vez: não faziam ideia, estavam à distância, não sabiam o que se passava no hospital. Eu tive o privilégio de estar lá. Foi uma semana intensa, onde vi a tudo umas dez vezes, sete tardes e três manhãs, com eles, porque só podiam estar seis pessoas de cada vez na sala. Foi uma semana preciosa.

As famílias perguntavam-lhe como estavam os seus familiares no hospital? Servia de mensageiro?
Fui uma espécie de traficante, levava objetos para toda a gente, como um telemóvel para comunicarem com os seus familiares. Ou um iPod, para ouvirem música. Também levava fotos, fotos com dedicatórias. A família aproveitava-se de mim e eu estava contente por isso, por ser um amigo, por ser alguém que ajudava e contava as notícias do que se passava no hospital. Sentia uma responsabilidade muito particular, tudo o que me pediam, eu fazia.

Foi mais do que um realizador, portanto…
Sim, totalmente. Isso é o mais bonito dos documentários, o que estou a filmar está a ocorrer verdadeiramente. Agora tenho vinte amigos novos que não tinha antes.

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