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JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

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Web Summit. Neste "casamento" não faltou nada. Nem astrolábio, nem tecnologia, nem revolução

No arranque da Web Summit, Medina deu um astrolábio a Paddy, António Costa falou da alma e do coração da tecnologia. E a inteligência artificial foi a mão invisível que nos cumprimentou todos.

Antes de António Costa tirar a gravata para arrancar oficialmente a Web Summit, o groove dos portugueses Orelha Negra encheu um Altice Arena esgotado. No palco, não havia sinais de Paddy Cosgrave, fundador e líder da Web Summit, e os 15 minutos de atraso fizeram-se esquecer com os primeiros beats de “Parte de Mim”, single do último álbum da banda de Sam the Kid, DJ Cruzfader, Francisco Rebelo, João Gomes e Fred Pinto Ferreira. Nos ecrãs gigantes: imagens de Lisboa, num vídeo da autoria de Vhils que mostrava a cidade entre os seus pontos mas turísticos e projetos empreendedores com base na capital. Na plateia: as dezenas de milhar de pessoas que estão em Portugal para a maior conferência de empreendedorismo e inovação da Europa. No Altice Arena, dançou-se sentado: “Sejam incrivelmente bem-vindos à Web Summit e à incrível cidade de Lisboa”.

O arranque da Web Sumit aconteceu — como Paddy haveria de escrever mais tarde no Twitter — “sem falhas” de Wi-Fi, ao contrário do que aconteceu no ano passado, quando tentou fazer um Facebook Live, mas não teve rede. Desta vez, o irlandês de 34 anos pediu a todos os participantes que se levantassem e se apresentassem às três pessoas que estavam a seu lado. “Olá, eu sou o Ben”, “Olá, eu sou a Ana”. Uma espécie de “Paz de Cristo” na Web Summit. “Sentados à vossa volta estão brilhantes empreendedores de todo o mundo”, disse Paddy. Na fila da frente, a mulher Faye e o filho Cloud, de um ano. Pediu aplausos para a estreia de ambos em Lisboa e a audiência respondeu.

Num discurso mais emocionado do que o do ano passado, o líder da Web Summit relembrou a primeira edição da conferência em Dublin, em 2010, que teve apenas 40 participantes. Antes de passar a palavra a Nuno Sebastião, presidente executivo da portuguesa Feedzai, uma startup que atua na deteção de fraude eletrónica e que é líder em inteligência artificial, lembrou que a Web Summit serve para falar “do progresso da tecnologia, mas também dos perigos“, sublinhando que o impacto de toda esta revolução “está apenas a começar” e que é preciso refletir sobre ela. Nos próximos dias, vão passar pela Web Summit mais de 81.000 pessoas de 107 países. “Vão todos conhecer pessoas incríveis”, disse.

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O primeiro-ministro concorda. No final da sessão de abertura da Web Summit, antes de, juntamente com Fernando Medina, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ter pressionado o botão que fez a contagem decrescente para o arranque oficial, quebrou o protocolo para elogiar a “criatividade e energia” dos empreendedores portugueses, dirigindo-se às pessoas que estavam presentes no Altice Arena em português. “É com orgulho, como primeiro-ministro, que vejo o ecossistema das startups portuguesas” e “aquilo que quero pedir a todos é que aproveitem muito bem esta semana, bem como as oportunidades de darem a conhecer Portugal e de aprenderem com pessoas de todo o mundo”.

As imagens que marcaram o arranque da Web Summit

Costa, que foi responsável por muita da dinamização do ecossistema de empreendedorismo na capital portuguesa, com a abertura da Startup Lisboa, lembrou que a revolução digital que estamos a viver não trata apenas de “clouds e códigos”. “Até a era digital tem no seu coração e alma o cara-a-cara, que sempre será a melhor forma de conhecer pessoas. De partilhar ideias e de tornar essas ideias em negócios”, defende o primeiro-ministro. “A Web Summit põe Lisboa no debate global” desta revolução, acrescentou. E foi das necessidades desta revolução que mais se falou na abertura da Web Summit.

Mais e melhor regulação para tecnologia, defenderam António Guterres e Margrethe Vestager

A comissária europeia Margrethe Vestager — a dinamarquesa que tem a pasta da concorrência na União Europeia — e o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, foram as duas figuras políticas mais sonantes da noite. Num evento em que os limites do desenvolvimento tecnológico e a ética na inovação dominaram a discussão, Vestager e Guterres trouxeram uma mensagem clara por parte da esfera política: é preciso regular mais e melhor a forma como se produz tecnologia.

Temos de reconquistar a democracia. A sociedade é formada por pessoas, não por tecnologia”, atirou mesmo a comissária europeia. A frase é um bom resumo das intervenções da noite e mereceu fortes aplausos, mesmo tratando-se talvez de uma das figuras mais controversas em Silicon Valley. Isto porque Vestager foi o rosto, em junho, da multa milionária (de 2,4 mil milhões de euros) aplicada à Google pela Comissão Europeia, por abuso de posição dominante no mercado de motores de busca.

“Temos de reconquistar a democracia. A sociedade é formada por pessoas, não por tecnologia”
Margrethe Vestager, comissária europeia para a concorrência

Talvez por isso, Kara Swisher, editora executiva da publicação digital norte-americana Recode, que moderou a conversa com a comissária no palco da Web Summit, tenha começado o momento por lhe perguntar “how fucked is Silicon Valley?”. Vestager não respondeu à letra, mas garantiu que as multas vão mesmo ser pagas. Ainda lembrou os esquemas da Apple na Irlanda para pagar menos impostos, e destacou que as empresas têm todas de pagar impostos “de forma justa”. Sem exceções, nem mesmo para as maiores e mais bem sucedidas.

Para a comissária dinamarquesa, é necessário ter “a certeza de que todos os negócios têm oportunidades justas para ter sucesso no mercado”. “Todos aqui gostariam de ser o próximo Google”, disse Vestager, apontando para a plateia. Por isso, defendeu, são necessárias “regras básicas” no mercado tecnológico, inclusivamente nas questões fiscais. “Não devemos negar a ninguém a possibilidade de desafiar o mercado. A concorrência serve para garantir que esses desafios existem”, sublinhou, rejeitando as críticas de que foi alvo depois da multa milionária aplicada à Google.

A comissária europeia para a concorrência, Margrethe Vestager, esteve no palco principal da Web Summit para defender "regras básicas" no mercado tecnológico (ANTÓNIO COTRIM/LUSA)

ANTÓNIO COTRIM/LUSA

Sobre a Inteligência Artificial, tema que marcou a noite de abertura — sobretudo com o vídeo surpresa do físico Stephen Hawking — Vestager limitou-se a dizer que “alguns algoritmos deviam passar por aulas de direito”. E fazer tecnologia sem esquecer que a sociedade é “formada por pessoas”. Uma ideia que António Guterres, que subiu a palco imediatamente depois da comissária, completaria: “É importante que a inovação e a tecnologia funcionem para o bem da Humanidade”. O secretário-geral da ONU, que falou a alta velocidade num inglês fluente, foi também amplamente aplaudido — ou não fosse ele uma das figuras mais consensuais da governação mundial.

Stephen Hawking já tinha alertado para o mesmo: será “a inteligência artificial a melhor ou a pior coisa da humanidade?” Para o físico, esta “nova revolução” pode ser o “símbolo da nossa civilização”, mas também podemos ser “destruídos” por ela. No final, acabou por dizer que é “um otimista” e que acredita que a inteligência artificial pode beneficiar o mundo.

Web Summit. A aula surpresa que Stephen Hawking deu sobre a “nova revolução”

Guterres não teve meias palavras. Reconhecendo que “nas últimas décadas” a Humanidade testemunhou um grande progresso tecnológico, que teve um “impacto maioritariamente bom”, o secretário-geral das Nações Unidas alertou para os dois “danos colaterais” do crescimento exponencial da tecnologia: as alterações climáticas e a desigualdade na distribuição da riqueza a nível mundial. E defendeu medidas mais fortes para combater ambos os problemas, argumentando que o que foi feito até agora não chega.

“Os mecanismos de regulação que temos não são suficientes para dar resposta. Os mecanismos de regulação do futuro terão de ser diferentes"
António Guterres, secretário-geral da ONU

Relativamente às alterações climáticas, Guterres foi perentório: “O acordo de Paris não é suficiente”, porque “a implementação é difícil”. É necessária maior cooperação entre governos e empresas, defendeu. Mas deixou uma palavra de ânimo pelo que já está a ser feito: “A ciência está do nosso lado. Os negócios verdes são os bons negócios”. O mesmo se verifica para o combate à desigualdade. Hoje já existem, sublinhou Guterres, “formas de inovação que nos vão ajudar a ter um crescimento que beneficie toda a gente”. Não apenas os mais ricos, mas toda a sociedade por igual.

Uma das principais formas de garantir que a evolução tecnológica acontece da melhor forma possível é antecipar as consequências potencialmente negativas. “No país onde vivo atualmente, que são os Estados Unidos, a maioria dos empregos estão relacionados com a condução. Mas, dentro de uns anos, não vamos precisar de condutores”, exemplificou Guterres, destacando a necessidade de antecipar as ameaças e de não as reconhecer “apenas quando é tarde demais”. “Precisamos de olhar para o futuro com uma estratégia”, destacou.

António Guterres esteve na abertura da Web Summit a defender novos mecanismos de regulação para a tecnologia no futuro (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Tal como Vestager, Guterres defendeu mais regulação da atividade tecnológica para cumprir estes objetivos. Mas foi mais longe, admitindo que é “ingénuo” acreditar que os mecanismos de regulação que existem hoje, controlados pelos governos, são capazes de lidar com o problema. “Os mecanismos de regulação que temos não são suficientes para dar resposta. Os mecanismos de regulação do futuro terão de ser diferentes. Temos de combinar governos, cientistas, mas também a sociedade civil, a academia, e estabelecer plataformas de discussão”, defendeu. E deixou uma questão: “Como podemos assegurar que a inovação é uma força usada para o bem?”

O “casamento” entre Lisboa e a Web Summit é para durar, garante Medina

O presidente da câmara — ou mayor, que a Web Summit é toda em inglês — de Lisboa foi a última figura a subir ao palco antes da abertura oficial do certame e trouxe um presente para Paddy Cosgrave. A prenda do ano passado parecia difícil de superar. Afinal, em 2016, Fernando Medina ofereceu ao fundador da Web Summit as chaves da cidade, a mais honrosa distinção que um município concede. Por isso, Medina trouxe uma oferta “diferente”, para assinalar a parceria com a Web Summit, que “é de longo prazo, como um bom casamento”.

Fernando Medina juntou-se a António Costa e Paddy Cosgrave no palco principal para abrir oficialmente a Web Summit (JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR)

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

“Quero dar-lhe este astrolábio. Lisboa foi a capital do mundo há cinco séculos. De Lisboa partiu uma grande aventura que uniu a Humanidade. O que fazemos aqui hoje é reviver essa grande aventura que parte de Lisboa. Há 500 anos foram os navegadores, hoje são vocês. Os empreendedores”, disse Medina, aplaudido em massa pelo vasto auditório que encheu o Altice Arena.

Welcome to Lisbon. Welcome to your home!“, rematou Medina, aos gritos, já no meio de dezenas de empreendedores portugueses que Paddy chamou ao palco para a abertura oficial do evento. Um longo abraço a António Costa e em poucos segundos lá estavam os três — Medina, Costa e Paddy — com a mão em cima do botão ao meio do palco: 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1: carregou-se no botão, voaram confetti e quando olhámos para o palco já Costa — aos saltos — não tinha gravata. Foi, enfim, uma festa.

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