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"Estas culturas todas da diáspora são a cor do país. Gostava de poder fechar os olhos e um dia ver o país assumir isto", diz Welket Bungué, de 33 anos
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"Estas culturas todas da diáspora são a cor do país. Gostava de poder fechar os olhos e um dia ver o país assumir isto", diz Welket Bungué, de 33 anos

"Estas culturas todas da diáspora são a cor do país. Gostava de poder fechar os olhos e um dia ver o país assumir isto", diz Welket Bungué, de 33 anos

Welket Bungué. "Imaginemos o que o nosso cinema poderia ter com toda esta diversidade"

Em 2020, Welket Bungué esteve no Festival de Berlim enquanto ator. Agora, como realizador, apresenta "Mudança". Em entrevista, explica como o passado e o futuro de Portugal inspiraram este filme.

Para quem vai estar como realizador na Berlinale, festival de cinema de Berlim que começa esta segunda-feira, dia 1 de março, Welket Bungué parece muito tranquilo. Anda por Bruxelas em gravações, há de seguir para Espanha e depois regressar a Berlim, onde apresenta o filme “Mudança”, depois de em 2020 ter sido distinguido no Festival de Cinema de Estocolomo com o filme “Berlin Alexanderplatz”. A passagem de ano  foi na Guiné-Bissau, país de onde saiu com apenas dois anos. De câmara em riste como se de um membro extra se tratasse, sempre a trabalhar, quase que parece fácil a sua missão: pegar no cinema, desconstruir estereótipos, meter o dedo na ferida e criar diálogo. Da Europa para o resto do mundo, de África para Portugal. Dos países que o criaram para onde quer que seja. Ou seja, nunca pára.

Dar atenção às palavras de Welket Bungué é ficar em cheque, sem que nos sintamos completamente desarmados. É perceber, pelas suas palavras, as falhas e as vitórias, as de cada um de nós, as do país, as da História. E é pensar no que fazemos com o talento dos outros. que o país não foi capaz de cuidar do seu talento.

O discurso vincado e consciente conquistou-o numa educação parental dura em casa. mas também institucionalizada em Beja. O branco e o negro estavam misturados. E se acha que um ator do mundo, com o teatro na base, como Welket se inspira nas histórias cosmopolitas que vai conhecendo agora que ganha maior destaque, desengane-se. O colonialismo, a diáspora africana, as cores diversificadas de Portugal participam na arte de Bungué, sim, mas essa construção começou em Lisboa, na periferia.

Na 71.ª edição do festival, Welket quer ver mudança. E, para isso, decidiu desafiar a deputada Joacine Katar Moreira para um encontro de gente com perspetivas semelhantes mas com trabalhos diferentes. Um olhar que parece ter uma revolução cultural à vista: que democratize mais, que nos torne a todos mais iguais. Dentro de “Mudança” encontramos poemas do pai de Welket, pinturas do artista plástico Nu Barreto, música de Mu Mbana e a herança das tradições Bijagós, na Guiné Bissau. Tanto para contar e que parece ser transversal à longa conversa que o actor teve com o Observador.

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Agora, falta todo um outro caminho. Aplaude o trabalho de Joacine Katar Moreira e de Mamadou Ba, mas confessa que não chega. Mas a vontade de Welket Bungué, essa, está mesmo imparável.

[o trailer de “Mudança”:]

Parece que na sua vida está sempre a acontecer qualquer coisa. Um filme novo onde entra enquanto ator, outro que realiza…
Sim, tem acontecido sempre alguma coisa. Ou relativo à minha vida profissional ou pessoal. Estive na Guiné Bissau, onde aconteceu a primeira edição daquilo que pode ser um festival de cinema do país que batizamos como “Bissau Filme Meeting”. Fui convidado este ano e curei seis filmes, quatro da minha autoria. Essa viagem teve motivações pessoais porque tenho lá família, consegui visitá-los, aproximar-me de pessoas que estão a fazer um trabalho bastante digno na cultura. Entrevistei realizadores, por exemplo, e tenho esse material para montar. E, ao mesmo tempo, fiz lá a passagem de ano, algo de que não me lembrava. Saí do país com dois anos.

Como foi?
Surreal. Estive numa festa num barco que atravessou Bissau até Bubaque. Vi muita gente feliz, em alto astral, com concertos. Registei tudo. Depois fomos para a praia de Bruce da ilha de Bubaque. E no dia 1 regressamos a Bissau, mais na parte velha, que é a mais histórica. É provavelmente o último território quadrante a ser recuperado pelas tropas da libertação.

Mesmo num sítio e num momento que era suposto ser de reencontro familiar, está sempre a trabalhar.
Exatamente. Percebi que as imagens captadas têm substância para se envolverem num filme. Também esteve lá o ator e performer Joãozinho da Costa. Acabei por chamá-lo. Saio de lá com todas essas vivências e com três filmes para montar. Mas enquanto lá estou, recebo a notícia de que fomos selecionados para estar no Festival Internacional de Berlim. Nos primeiros dias tive de assinar uma série de documentos, mas como na Guiné a conexão não é a melhor, foi preciso falar com o meu editor e também com o primeiro assistente, que estavam em Portugal. Eles é que depois trataram desse processo.

Portanto, apesar das críticas e provocações que faz a Portugal, continua a “ter de regressar”. Como é que está essa relação?
Não é uma relação fácil. Esse sentimento agridoce é uma herança histórica. Mas acho que nunca esteve tão consciente como está agora. Mais não seja pela minha parte. Tem sido um processo longo, que hoje é inter-geracional. Essa compreensão, esse assimilar da cultura afro-lusitana é algo que já vem do meu pai. Escreveu um livro, trabalhou para Portugal, veio da Guiné como engenheiro florestal e ainda fez estágio em Oeiras. A partir de lá foi para outros países, como o Brasil. A especialidade dele era a cultura do cajueiro, onde fazia modificações genéticas. Alguns anos depois, também tive de passar por essa transformação.

Em casa também recebíamos essa educação, o meu pai dizia-nos que tínhamos de saber falar português para não darmos calinadas. Já a minha mãe falava connosco em crioulo. Os pratos que comíamos, sobretudo ao fim de semana, eram da cultura guineense. Essas duas culturas estavam presentes em casa. Fui educado por pais que nasceram numa Guiné ainda colonial, que viram o decorrer da guerra e as consequências para o país. Tudo isso foi-nos incutido. Hoje com 33 anos vejo que sempre tivemos essa presença, do modus operandi com os corpos emigrantes, da diáspora.

"Cresci num ambiente onde tudo era possível. E aberrações relacionadas com a desigualdade não tinham cabimento para mim. Quando entro na profissão, vejo que não há transparência, que há desigualdade e desinteresse por parte dos produtores em fazer diferente, o que resta é mudar."

Mas houve aí um período em que esteve longe dos pais.
Estive em Beja no internato durante oito anos, a minha perceção da portugalidade passa a ser outra. Não temos os pais, precisamos de nos misturar com outros miúdos, com outros problemas dos quais nós, felizmente, não tínhamos contacto.

E foi fácil entrar nesse meio? Ou sentia-se invisível?
Foi benéfico para mim. Veio confirmar o pensamento do meu pai, que teve de se esforçar o triplo para ter as bolsas de estudo, direito ao ensino, viajar pela União Soviética, Cuba ou pela Alemanha comunista. Sabia que precisávamos de ter esta educação que nos desenraizasse daquilo que poderiam ser os confortos maternais e paternais. Nesses oito anos, eu e o meu irmão percebemos melhor o que é a estrutura e a administração da formação educativa de Portugal. Quando íamos para a escola havia um filtro que era relevado pela presença da instituição que estava por detrás das crianças. Tudo o que é a efígie da relação de Portugal nas suas maneiras de operar com as diásporas africanas não nos trazia desvantagem, à primeira vista. Porque não eram os nossos pais que pediam subsídios, nos levavam à escola, era a instituição branca portuguesa. Isso fez com que o meu crescimento fosse desenvolvido no seio de uma assimilação cultural completa. Só foi desvirtuado quando voltávamos para casa nas férias. Fui-me sempre reajustando: vivemos na Ramada, depois Camarate, aí já tinha 18 anos. São bairros muito diferentes. No primeiro quase não havia diáspora africana. No segundo, aí sim existia. E uma classe operária que veio de outras regiões nos anos 60. Essas carências dos miúdos tornam-se mais evidentes em Camarate, a nós não nos faltava nada por estarmos na instituição. A Câmara Municipal era muito mais negligente, havia muitos problemas urbanísticos, o que complica o acesso à cidade, afeta a autoestima. Como saio do colégio com esta vivência e começo a assumir-me como artista….

Queria perceber essa parte. Nessa construção, quando é que se apercebe que quer fazer o que faz agora?
Começo a fazer teatro no colégio, sou influenciado pelas séries juvenis, primeiro a “Malhação” depois os “Morangos com Açúcar”, mesmo estando protegidos pela instituição invisível. Uma vez foi lá o Pedro Lima, disse-lhe que queria ser como ele. Disse-me que tinha de estudar muito, mas que iria conseguir. Terá sido por volta de 2004. Um ano depois, faço um workshop com o David Silva, alentejano, e que tinha participado nos “Morangos”. Corre tão bem que fundámos uma companhia de teatro chamada “Homlet”, porque começámos com essa peça do Shakespeare. Os homens fizeram de mulher e vice-versa. Fiz a estreia como Rainha Gertrudes, mãe do Hamlet. Correu lindamente. A seguir, termino o secundário, venho para Lisboa, deixo o colégio e aí continuo a fazer teatro com o David, porque ele era diretor da companhia “Rastilho”, da Faculdade de Arquitetura. E aí faço “Otelo”, “A Gaivota” e, ao mesmo tempo, vou fazer o “Equador” para o Brasil. A minha personagem, o Saturnino, tem algumas semelhanças com a do “Otelo”, do ponto de vista da rebeldia e da resistência. Vou fazendo peças essenciais e que me dão consciência sobre a força da representatividade do corpo negro em palco. Mas também curtas-metragens com os finalistas dos cursos da licenciatura em Cinema da Lusófona e da Escola Superior de Teatro e Cinema. Acontece porque não era agenciado, fazia moda.

O que é que a moda lhe deu?
Aprendi muito, abriu-me caminhos para uma rede de contactos. Tudo isto são passos que contrastam com a representação de pessoas que correspondem ao perfil de migração. Em 2008, regresso do Brasil e vou fazer Bollywood para a Índia. Vieram fazer casting a talentos angolanos, mas eu também sou levado. Aquilo que acreditava já ser o momento de ser experimentado em Portugal a fazer ficção e cinema, não acontecia. E quando acontecia, de forma tímida, era chamado para fazer personagens estereotipados. Não fazia sentido fazer de treinador de ginásio ou de bandido. O meu background não era esse. Mal entro para a faculdade, todo o meu pensamento ganha lógicas discursivas que, a pouco e pouco, tornam-se cada vez mais autónomas e subjetivas. É aí que entendo que não tenho de estar à espera que me chamem, tenho de ser eu mesmo a contar da minha perspetiva.

A deputada Joacine Katar Moreira (ao centro) é uma das protagonistas do filme "Mudança": "É a fazer um determinado trabalho, político ou no cinema, que captamos a atenção dos média", diz o realizador

ISABEL SUBTIL

Então é a partir do filme “Joaquim”, em 2017, que a sua presença no cinema europeu começa a crescer.
Sim, acontece com um filme brasileiro. Já se deixava adivinhar que tinha de ser assim, infelizmente. Quando fui para lá em intercâmbio já tinha a intenção de fugir desse tradicionalismo dos agentes culturais. Continuam a reproduzir os mesmos padrões narrativos e de pessoas que se veem subrepresentados nessas narrativas.

E porque é que isso acontece?
É uma herança de senso colonial. Que, por sua vez, gera uma falsa supremacia, estando ligada à etnicidade, de se ser branco ou não, e à burguesia. Acaba por anular todos os outros corpos que efetivamente constituem a sociedade portuguesa, o que resvala numa ostracização de tudo aquilo que não é tido como um elemento representativo do culturalismo nacionalista português. É algo que afeta todos os ramos.

Falar de cinema é falar de imagem e representação. Todas essas negações constantes sobressaem. Pode não ser visível durante alguns meses, mas ao longo de 500 anos, sim. Há aqui uma diferença: Portugal nunca foi um país unicamente constituído por nativos portugueses tal como são representados na televisão e no cinema. Desde a ocupação dos espanhóis, passando pela invasão árabe e até quando o país vai para fora e ocupa os territórios ultramarinos, Portugal miscelaniza-se com os nativos. O que entendo é que, politicamente falando, existe uma estratégia que visa não trazer um equilíbrio aos privilégios adotados com a construção de um pensamento de supremacia racial. Se isso não for discutido e reconhecido como um problema, não conseguimos entender que talentos como o meu, vão ser entregues a outras indústrias, como a brasileira e alemã.

Acha que não foi estimado?
Houve um grande descuido por parte dos produtores, não estavam à espera que estivéssemos à frente de uma geração que é mais empoderada. Que tem um olhar mais globalizante na sua participação social. Na minha situação tive de me esforçar para ter algum tipo de privilégio. Cresci num ambiente onde tudo era possível. E aberrações relacionadas com a desigualdade não tinham cabimento para mim. Quando entro na profissão, vejo que não há transparência, que há desigualdade e desinteresse por parte dos produtores em fazer diferente, o que resta é mudar.

Olhando para essa palavra: mudança. Dá nome ao tal filme que estará na Berlinale e para o qual foi buscar a deputada Joacine Katar Moreira, alguém que causou muito impacto quando chegou ao parlamento. São estas figuras necessárias para a tal mudança de mentalidade?
Aprendi uma coisa com o pai do cinema africano, Ousmane Sembène: o homem ou mulher podem liderar a sociedade, mas são feitos por ela. A Joacine é um produto necessário da sociedade em que nos encontramos. Ela fala um português vernáculo de Portugal. O caminho é por aí. Mas uma andorinha não faz a Primavera. A mudança vai surgir quando pudermos continuar a ter este diálogo que estou a ter consigo. É a fazer um determinado trabalho, político ou no cinema, que captamos a atenção dos média. E de perceber que vocês ficaram sensibilizados. Esta conversa que estamos a ter não é meramente profissional, há um interesse honesto em querer perceber o que se passa. É com este contexto que a mudança vai acontecer. Existir um diálogo bilateral.

"Precisamos que as pessoas se manifestem sobre a memória de deixar países africanos para viver em Portugal. Porque essa sensação é a que mais se aproxima das que foram escravizadas e levadas de África para outros territórios, ou dos que foram obrigados a alistarem-se no exército português, por exemplo. Este tipo de relação traz sensibilidade à sociedade."

Ou seja, além de apontar para a ferida, é preciso chamar mais gente e criar uma reflexão? É preciso atenção mediática?
Sem isso, as pessoas vão achar que aquela pessoa tem um pensamento único e hermético. Que aquele discurso só fará sentido à diáspora negra e africana. Temos uma diáspora branca, caramba, onde é que anda? Quem foi forçado a abandonar as colónias, essas pessoas são portuguesas, africanas, ou portuguesas-africanas? Precisamos que as pessoas se manifestem sobre a memória de deixar países africanos para viver em Portugal. Porque essa sensação é a que mais se aproxima das que foram escravizadas e levadas de África para outros territórios, ou dos que foram obrigados a alistarem-se no exército português, por exemplo. Este tipo de relação traz sensibilidade à sociedade. Só que há uma grande ferida que nunca foi estancada que tem a ver com a presença do salazarismo no meio desta história toda. Este é o lado da nossa história recente que, por imposição do governo fascista, foi obrigado a apagar, todas estas relações humanas entre portugueses e africanos. Portanto, quando regressamos a Portugal há uma grande negação, o que faz com que toda a reprodução da imagem do território africano bem como da diáspora negra africana que volta à procura de exílio é completamente precarizado. E isso repercute-se.

E talvez se sinta na discussão acesa, carregada de ódio, que estamos a ter agora.
Hoje em dia, termos uma Joacine e um Mamadou Ba é ter uma voz ativa com agenda bastante definida. Mas eles não podem ser vistos como personas non gratas. Eles amam a cultura portuguesa. São portugueses, caramba. E se não se perceber isso, partimos para o absurdo de pedir petições de deportação. Onde é que queremos ir com isto? Porque o que a Joacine e o Mamadou estão a dizer deve ser observado e discutido, não pode ser marginalizado. Só nos vai fortalecer a todos. Os pequenos burgueses que dominam alguns espaços de poder não vão ser afetados na sua autoridade, estão apenas a ser convidados e a reequilibrar as políticas de exploração e de opressão invisível.

O seu trabalho deixou, de facto, de ser invisível. Está no centro, neste momento.
Estou a trabalhar há muito tempo, o meu pai e a minha mãe também. Por isso é que cheguei aqui. A sensibilidade dos agentes culturais é que determina o sucesso de uma pessoa, e é o que se passa aqui. Estou muito grato, porque posso agora contar com o vosso apoio. Queremos trazer coisas benéficas e celebrativas. A minha trajetória, segundo se escreve, parece de louvar, por isso vamos lá dar umas palmadinhas nas costas. Sou filho de dois ou três países. Se está imparável? Esteve sempre. Cresci a ouvir a máxima do ter de trabalhar 300%. É claro que é preciso humildade e racionalidade. É um caminho duro, feito com grande resiliência, mas chega um momento em que o cidadão artista se sente amparado e motivado pelas pessoas que o vão acompanhando. Deixa de ser uma missão de foro particular, passa a ser uma consciência coletiva. Mais não seja de quem simpatiza com a minha trajetória e do meu posicionamento politico-artístico. É bem provável que a pertinência da minha intervenção artística faça sentido para outras pessoas noutros quadrantes. É por isso que também começo a ser escrito noutras línguas, algo que vem de tudo o que me foi incutido por Portugal.

"Imaginemos o que o nosso cinema poderia ter com toda a esta diversidade. De ver tudo isto vincado na nossa demografia. É o reinventar da afro-portugalidade"

ISABEL SUBTIL

Já agora, o alemão está completamente afinado ou é um obstáculo nesse caminho? Vi que teve cursos intensivos.
Zero. Vá, está para aí a 5% ou 8%. Não temos relação nenhuma com a cultura alemã. Tanto que este livro Alexanderplatz é um best seller na Alemanha, só conhecia o Fausto. Quando venho para este filme, sabia dizer uma ou outra coisa. Em Lisboa tive 3 meses de aprendizagem básica. Estive 5 meses em Berlim e nos dois primeiros tive aulas intensivas com uma professora, disseram-me que ia fazer milagres. Já tinha trabalhado com o Mickey Rourke, meteu-o a falar alemão. Ela também me ensinou. Neste caso transcrevi metricamente as palavras, foi a técnica que usei para ter a carga emocional necessária. Um processo muito difícil. É sempre preciso que haja uma fagulha de desorientação na arte de representar, se não cristalizamos toda a participação humana no filme. Tem de haver imperfeição. E esta minha fragilidade na língua fez com que se ganhasse uma profundidade no trabalho de representação.

[o trailer de “Berlin Alexanderplatz”, de 2020:]

Está atento à História. Mas essa atenção é importante no cinema? Ou importa mais na vida real, digamos?
Portugal não é o que é porque ocupou outros territórios. Fez-se muita porcaria, mas foram atraiçoados pelas hegemonias europeias. Portugal quando volta para casa, recolhe-se com muito fado. Estas culturas todas da diáspora são a cor do país. Gostava de poder fechar os olhos e um dia ver o país assumir isto. Para depois estarmos a um nível parecido com Inglaterra, por exemplo. Somos 400 milhões de falantes desta língua. Um português salta para São Tomé, Brasil, Cabo Verde, para onde quer que seja. Imaginemos um país carregado com esta diversidade. Imaginemos o que o nosso cinema poderia ter com esta diversidade. De ver tudo isto vincado na nossa demografia. É o reinventar da afro-portugalidade. Os brasileiros fizeram-no com o tropicalismo, não tinham a diáspora que temos. Africanismo seria reatar esses laços de África com Portugal no contexto europeu.

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