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O Benfica vai mesmo receber 40 milhões de euros por ano?

Não necessariamente, pelo menos confiando na informação comunicada à Comissão do Mercado dos Valores Mobiliários (CMVM). O documento enviado pela NOS revela que o contrato tem “uma duração inicial de três anos”. Como tal, o acordo vigorará de 2016/17 até ao final da temporada 2018/19. Mas o negócio prevê que o vínculo “pode ser renovado por qualquer uma das partes até perfazer um total de 10 épocas desportivas” — logo, poderá durar até 2026/27.

O contrato tem “uma contrapartida financeira global” de 400 milhões de euros, o que, dividido pela tal dezena de épocas, equivaleria aos 40 milhões por ano. Mas o documento sublinha que o valor total do contrato será repartido em “montantes anuais progressivos”. Ou seja, no primeiro ano de vigência do contrato, o Benfica começará por receber um valor presumivelmente bastante inferior aos 40 milhões por época.

Os encarnados apenas chegarão a essa verba anual caso, de facto, o vínculo perdure durante 10 anos para, nesse caso, perfazer a tal média de 40 milhões de euros por cada época desportiva. Mas quanto começarão por receber, afinal? É uma das coisas que poderemos ficar a saber a 10 de dezembro, dia em que a NOS e o Benfica vão realizar uma conferência de imprensa, para prestarem “esclarecimentos adicionais”.

Segundo fonte associada ao processo, o Benfica e a NOS vão “sentar-se à mesa” de três em três anos para acordarem a renovação do vínculo.

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E se recebesse mesmo 40 milhões à época, isso era bom?

Para o mercado português, sem dúvida. Como base de comparação: no anterior contrato que o Benfica manteve, até 2012/2013, com a Sport TV, o clube da Luz recebia, por época, uma verba a rondar os 7,5 milhões de euros. Em relação aos rivais, o Sporting recebe hoje um valor próximo dos 15,5 milhões de euros por temporada, enquanto o FC Porto aufere cerca de 20 milhões em receitas com direitos televisivos.

Moral das contas: se, de facto, receber 40 milhões de euros por temporada, o Benfica ficará a ganhar mais do que os dois rivais juntos. Mas o que é milionário cá dentro é humilde lá fora, onde as receitas televisivas possibilitam que clubes da metade inferior da tabela das principais ligas europeias recebam bem mais do que os encarnados.

Na Premier League inglesa, por exemplo, o Queens Park Rangers, último classificado da época passada, recebeu algo como 86,9 milhões de euros, segundo o The Daily Telegraph. Já o Chelsea, que José Mourinho tornou campeão, terá lucrado uma verba a rondar os 134,5 milhões de euros. Na La Liga espanhola, um dos campeonatos com os desníveis mais acentuados na distribuição das receitas pelos clubes, Barcelona e Real Madrid receberam ambos valores superiores a 300 milhões de euros, enquanto o Atlético de Madrid, terceiro classificado na época passada, lucrou pouco mais de 100 milhões de euros.

Estas duas ligas, contudo, são diferentes. Em Inglaterra, os direitos de transmissão estão centralizados na liga, que os negoceia como um bolo que depois distribui em fatias mais ou menos equitativas pelos clubes, com o intuito de estimular a competitividade e impedir (pelo menos nisto) a desigualdade entre as equipas. Não em Espanha, onde o modelo é parecido ao português e cada clube negoceia individualmente a venda dos seus direitos televisivos.

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Como vai poder ver os jogos do Benfica então?

Por enquanto, e até ao final desta temporada, na Benfica TV. O contrato anunciado na quarta-feira, 2 de dezembro, entre os encarnados e a NOS, prevê que o acordo entre em vigor a partir da próxima época desportiva (2016/17) — ou seja, só lá para junho ou julho é que as regras poderão mudar.

Até aí, qualquer utilizador dos quatro operadores de televisão (NOS, MEO, Vodafone e Cabovisão) que tenha assinado o canal continuará a beneficiar dos serviços.

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A Benfica TV passará a ser exclusiva a assinantes da NOS?

Ainda não se sabe. O comunicado enviado pela NOS à CMVM refere apenas que o contrato firmado com o Benfica pressupõe a “cessão dos direitos de transmissão de transmissão e distribuição do Canal Benfica TV” — além “dos direitos de transmissão televisiva dos jogos em casa [serão 17] da Equipa A de Futebol Sénior da Benfica SAD para a Liga NOS”.

Na informação tornada pública, nada consta sobre qualquer tipo de exclusividade que poderá ser aplicada ao canal encarnado, embora a NOS tenha sempre a possibilidade, por exemplo, de disponibilizar a Benfica TV apenas a assinantes do seu serviços de televisão. O Observador sabe, porém, que essa hipótese, para já, não está prevista, pois será sempre do interesse da NOS poder comercializar os direitos de transmissão do canal encarnado para outras operadoras.

Isto é algo que já acontece com vários outros canais detidos pela NOS, como o Hollywood ou a FOX. A operadora não tem o hábito de fechar os canais que detém à concorrência. Poderemos, lá está, ficar a saber o que a NOS pretende fazer na tal conferência de imprensa, a 10 de dezembro.

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Os jogos do Benfica vão continuar a ser transmitidos apenas no canal do clube?

Também não se sabe. Tendo a NOS os direitos tanto das partidas que os encarnados realizem, em casa, para o campeonato, como da Benfica TV, têm várias hipóteses.

Podem manter tudo como está, deixando os jogos no canal do clube da Luz para, depois, comercializar a BTV com os outros operadores. Podem retirar os encontros do canal e passá-los, por exemplo, para a Sport TV — a NOS detém, aliás, 50% deste canal, sendo a outra metade pertencente à PPTV, empresa de Joaquim Oliveira.

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E as ligas estrangeiras da Benfica TV?

Em teoria, continuam na posse do canal encarnado e, portanto, serão controladas pela NOS. A Benfica TV assegurou no início de julho os direitos da La Ligue (França) e da Série A (Itália) por três épocas, até 2017/2018 — uma temporada antes de os três anos iniciais do contrato com o Benfica serem cumpridos.

Garantido é que o canal do clube da Luz deixará de transmitir a Premier League. Menos de 24 horas após o acordo entre o Benfica e a NOS ser divulgado, a Sport TV anunciou na quinta-feira (3 de dezembro) que adquiriu os direitos de transmissão do campeonato inglês.

Para a NOS foi um ganho duplo: primeiro, por ser detentora de metade da Sport TV; segundo, porque o canal desportivo voltará, três anos depois, a transmitir uma das ligas que mais interesse e audiência atrai e, por isso, sairá valorizada. A questão agora é saber em que canal serão passados os 17 jogos caseiros do Benfica no campeonato — mantê-los no canal do clube da Luz

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Tudo isto não vai contra o que Pedro Proença queria?

Vai pois. Em julho, quando sucedeu a Luís Duque na presidência da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, Pedro Proença tinha como pilar do seu programa a centralização dos direitos televisivos. O ex-árbitro pretendia “negociar a Liga como um todo”, distribuir as receitas consoante a classificação e desempenho dos clubes e, desse modo, replicar o modelo existente nas ligas inglesa e alemã, por exemplo. Mas a chave desta ideia, claro está, era o Benfica.

Os encarnados eram o único clube que não negociava os direitos televisivos com a Sport TV e, portanto, o que teria necessariamente de ser convencido a alinhar neste modelo. Também Sporting e FC Porto o teriam de fazer, já que os três grandes atraem a esmagadora maioria das audiências dos jogos de futebol do campeonato português.

Dias antes de a NOS confirmar o acordo com o Benfica, porém, o Diário de Notícias e o Expresso noticiaram que a MEO — detida pela Altice, empresa francesa — estaria a apresentar propostas aos três grandes, com o objetivo de tentar garantir direitos exclusivos de transmissão para os jogos de cada um dos clubes. Terá sido esta abordagem a motivar a investida da NOS junto do clube da Luz.