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O que é o Ramadão e quais as suas origens?

O Ramadão é o nono mês do calendário islâmico, onde os muçulmanos praticam um ritual de jejum – todos os dias desse mês abstém-se de comer, beber, fumar ou ter relações sexuais desde que o sol nasce até que o sol se põe. A data de celebração varia todos os anos mas tem sempre a duração de 29 ou 30 dias.

Simbolicamente, é o mês em que os muçulmanos acreditam que as escritas do Corão foram reveladas, por fases, a Maomé, o último profeta do Islão. É por isso uma celebração do próprio livro sagrado do Islão, que guia os crentes na forma de viver.

O jejum obrigatório aparece assim como uma forma de disciplina espiritual e de auto-controlo profundo, que prova aos crentes que podem mandam nas suas próprias paixões e desejos e que podem alcançar grandes feitos se resistirem aos desejos mundanos e superficiais. Com a disciplina pretende-se também que os muçulmanos agradeçam a Deus as bênçãos que lhes foram concedidas – pela privação chega-se à apreciação daquilo que se tem.

O Ramadão é também a altura perfeita para reconciliações antigas, independentemente das suas religiões e crenças. É um tempo de renovação da fé, de caridade, de fraternidade e de valorização da família. Durante este mês pede-se aos crentes que tenham uma maior proximidade aos valores sagrados, uma leitura mais assídua do Corão, que vão mais vezes à mesquita, e que mantenham uma atitude de correção pessoal e auto-domínio.

A palavra Ramadão tem origem na palavra árabe ‘ramida’, que pode significar “calor severo”, “terra queimada” ou “falta de provisões”, possivelmente pelo facto de se ter celebrado este jejum pela primeira vez durante aquele que foi o mês mais quente do ano. No sentido figurado, a palavra ‘Ramadão’ refere-se a um ritual de queimar os pecados, tal como o sol queima a terra.

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Qual é a importância do jejum?

O jejum destina-se a educar o muçulmano na espiritualidade, na humildade e na paciência. É um momento para limpar a alma, concentrar a atenção em Deus e ser mais altruísta.

O jejum é feito em nome de Alá como forma de agradecimento a Deus, e é um dos Cinco Pilares fundamentais da religião islâmica. Abdicar dos prazeres e desejos é considerado um ato de obediência a Deus e funciona como limpeza dos pecados, falhas e erros.

É obrigatório a todos os muçulmanos depois de chegarem à puberdade, ou seja, a todos os muçulmanos adultos. A primeira vez que um jovem é autorizado a jejuar pelos pais é um momento importante na sua vida e um marco simbólico de entrada na vida adulta.

Apesar de só ser obrigatório para os adultos, as crianças com mais de oito anos também acompanham o processo de jejum com os seus familiares. O dia da última lua nova é visto com emoção entre os mais novos, e os adultos sentem-se gratos pela oportunidade de pedir perdão pelos seus pecados e de compensar Deus com os seus sacrifícios.

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Quem é que está dispensado de jejuar?

Nem todos são obrigados a jejuar e há vários factores considerados válidos para não o fazer: doença, gravidez, amamentação, menstruação ou a idade avançada. Para além, claro, das crianças.

Se o muçulmano quebrar o jejum e comer, beber, ou tiver relação sexual durante o período do Ramadão, o jejum será anulado e, como compensação, terá de fazer nova fase de abstinência durante 60 dias seguidos.

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Mas não há refeições durante o Ramadão?

Há. Antes e depois do jejum diário há espaço para duas refeições próprias, muito valorizadas por serem tomadas em família:

  • o Su-Hoor – todas as madrugadas antes do sol nascer há uma refeição idêntica ao pequeno-almoço, que antecipa o jejum que está para vir.
  • o Iftar – no fim de cada dia, ainda antes da oração da noite, o muçulmano deve quebrar logo o jejum. Esta refeição é o momento indicado para a família e os amigos se reunirem para celebrarem a fé. Depois do iftar é comum sair com a família para visitar outras famílias, que se reúnem para a oração.

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O que está escrito no Corão sobre o Ramadão?

“O jejum foi escrito sobre ti, como foi escrito sobre aqueles antes de ti”, diz o Corão.

Um dos ensinamentos do livro sagrado aponta ainda para o facto de não ser preciso fazer jejum de comida e bebida se não se fizer também jejum de outros pecados maiores, como a mentira. Segundo o Corão, o corpo precisa de jejum para se limpar dos princípio anti-éticos e imorais que abundam no dia-a-dia.

Alguns versículo do Corão sobre o Ramadão:

  • 183. Ó fiéis, está-vos prescrito o jejum, tal como foi prescrito a vossos antepassados, para que temais a Deus.
  • 184. Jejuareis determinados dias; porém, quem de vós não cumprir jejum, por achar-se enfermo ou em viagem, jejuará, depois, o mesmo número de dias. Mas quem, só à custa de muito sacrifício, consegue cumpri-lo, vier a quebrá-lo, redimir-se-á, alimentando um necessitado; porém, quem se empenhar em fazer além do que for obrigatório, será melhor. Mas, se jejuardes, será preferível para vós, se quereis sabê-lo.
  • 185. O mês do Ramadão foi o mês em que foi revelado o Alcorão, orientação para a humanidade e vidência de orientação e Discernimento. Por conseguinte, quem de vós presenciar o novilúnio deste mês deverá jejuar; porém, quem se achar enfermo ou em viagem jejuará, depois, o mesmo número de dias. Deus vos deseja a comodidade e não a dificuldade, mas cumpri o número (de dias), e glorificai a Deus por ter-vos orientado, a fim de que (Lhe) agradeçais.
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Por que é que as datas do Ramadão não são sempre as mesmas todos os anos?

As datas do Ramadão são diferentes de ano para ano porque o calendário islâmico é um calendário lunar, e não solar. Ou seja, a data é móvel porque depende da lua.

O Ramadão tem início quando se avista a última lua nova do mês de Sha’aban – o oitavo mês do calendário muçulmano. E termina depois de se avistar a lua nova seguinte, o que acontece sempre 29 ou 30 dias depois. Com o avançar dos anos o Ramadão pode acabar por passar pelas várias estações do ano.

Os meses no calendário islâmico começam sempre no dia em que a lua nova é avistada nos céus, mas como podem existir dúvidas pela observação a olho nu, o dia de início do Ramadão já é determinado com base em cálculos de astronomia.

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Quais são as celebrações e os momentos mais importantes do Ramadão?

O dia mais importante do Ramadão é talvez a passagem do dia 26 para o dia 27, com a celebração do Laylat al Kadr – a noite em que o profeta Maomé terá recebido a primeira revelação do Corão. Muitos muçulmanos passam esta noite a rezar por acreditarem que os pedidos feitos durante esse período serão atendidos por Alá.

Outra data especial é o Eid al Fitr, que celebra o fim do Ramadão. Ocorre quando a lua nova é avistada no céu, querendo isso dizer que o 10º mês, o mês de Shawwal, já começou. Os três primeiros dias do novo mês, pós-Ramadão, são feriado e são marcados pela distribuição de alimentos pelos mais pobres, pela realização de banquetes e troca de presentes.

Mas o mês do Ramadão divide-se em três partes, todas igualmente importantes para os crentes: os primeiros 10 dias são os dias da misericórdia, em que os muçulmanos devem procurar a misericórdia de Deus; do dia 11 ao dia 20 são os dias dedicados à busca do perdão de Alá, e os últimos dez dias do mês são os dias em que os crentes procuram a proteção e o refúgio de Deus.