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O que é o ébola?

O ébola é um dos dois vírus pertencentes à família Filoviridae (o outro é o vírus marburgo) e que tem por característica a ocorrência de febre hemorrágicaOs surtos surgem normalmente em aldeias remotas da África central e ocidental, junto a florestas tropicais. Neste momento, o ébola concentra-se no continente africano, mas no passado houve casos nas Filipinas e na China.

No atual surto foram já identificados, fora de África, casos nos Estados Unidos da América e na Europa. Estão atualmente em tratamento seis pacientes: três nos EUA, um em Madrid, um em Frankfurt e outro em Oslo (informação a 7 de outubro).

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a infeção pelo vírus ébola pode assumir diversos sintomas: febre, dores musculares, dores de cabeça e de garganta, fraqueza e vómitos. No seu estágio inicial, pode ser difícil diferenciar o diagnóstico da doença, já que alguns dos sintomas iniciais são semelhantes aos da malária, febre tifóide e disenteria. A estes sucedem-se a insuficiência renal e hepática e as hemorragias internas e externas.

O período de incubação da doença varia entre os dois e os 21 dias e o grau de sobrevivência é muito baixo, variando entre os 10% e os 30% nos surtos verificados no continente africano.

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A OMS e o Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças (CPCD) disponibilizam fichas sobre a doença. No site do CPCD é possível ainda consultar relatórios sobre os anos posteriores a 2000 em que se registaram surtos de ébola, bem como uma cronologia onde são apresentados todos os surtos desde que a doença foi descoberta. É possível ainda acompanhar os relatórios publicados semanalmente sobre a evolução do atual surto.

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Quando é que o vírus foi descoberto?

O vírus do ébola foi descoberto em 1976, depois de se registarem dois surtos da doença na cidade de Nzara, no Sudão, e em Yambuku, na República Democrática do Congo, junto ao rio Ébola, que deu nome à doença. Supõe-se que o vírus já exista há muito tempo noutras espécies — sendo conhecida a sua prevalência em várias espécies de macacos e morcegos, tendo apenas sido registada a sua migração para o homem na década de setenta.

Os surtos que fizeram mais vítimas mortais registaram-se na República Democrática do Congo, em 1976 (280 mortos), 1995 (250 mortos), 2002 (128 mortos) e 2007 (187 mortos), no Sudão (151 mortos), em 1976, e no Uganda em 2000 (224 mortos). De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde, desde que o vírus foi descoberto, já morreram 1548 pessoas (não contando com o número de mortos já resultante do atual surto).

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Como é que o vírus é transmitido?

O vírus do ébola é transmitido através do contacto direto com sangue, urina ou fluidos corporais de pessoas infetadas, como o suor ou saliva. A transmissão da doença por via sexual pode ocorrer até 3 meses depois da recuperação clínica. Os rituais fúnebres das vítimas podem representar também um risco elevado, pelo contacto com o cadáver, o que é comum nas comunidades africanas.

Animais infetados também podem transmitir o vírus aos seres humanos, em particular os macacos e os morcegos da fruta, já que são espécies portadoras do vírus. A OMS recomenda que se evite o consumo da carne crua desses animais.

Nos hospitais e nos centros de saúde o risco de transmissão também é elevado, especialmente se não forem tomadas as devidas precauções como a utilização de máscaras, óculos de proteção, batas e luvas.

Ao contrário de outras doenças infecciosas, o ébola é contagioso apenas quando se manifestam os sintomas. Este detalhe é importante porque permite que sejam tomadas medidas adequadas no momento certo — e deste modo travar a progressão.

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Existe uma vacina?

Existe, mas por enquanto apenas para chimpanzés. Em maio deste ano foi publicado um artigo na revista norte-americana Proceedings of the National Academy of Sciences, onde uma equipa de cientistas da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, testou com sucesso em seis chimpanzés uma vacina que tinha sido desenvolvida primeiro para humanos, mas sem autorização para ser testada em pessoas.

A vacina fez com que os chimpanzés produzissem anticorpos contra o vírus ébola. Esses anticorpos foram depois testados em ratinhos que tinham sido previamente infetados e verificou-se que os anticorpos evitaram a morte de 30% a 60% dos ratos.

Poderá estar disponível em 2015 um vacina preventiva contra o ébola, que deverá passar à fase de ensaios clínicos em setembro. De acordo com as declarações do diretor do Departamento de Vacinas e Imunização da Organização Mundial de Saúde à rádio francesa RFI, em setembro devem avançar os ensaios clínico da vacina que está a ser desenvolvida no laboratório britânico GSK, primeiro nos Estados Unidos e depois num país africano, uma vez que é em países do continente Africano que têm surgido casos.

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Há cura para o ébola?

Oficialmente, não. Mas um “tratamento milagroso” aplicado em dois doentes infetados pelo vírus Ébola veio trazer dar uma nova esperança à ciência. Kent Brantly, de 33 anos, e Nancy Writebol, de 59, dois missionários norte-americanos receberam um tratamento, nunca antes aplicado em seres humanos, e já saíram do hospital. Foi testado apenas em macacos e os resultados obtidos foram surpreendentes: dos oito animais testados, seis sobreviveram à infeção.

O medicamento chama-se ZMapp e consiste numa solução de anticorpos. Estes foram obtidos da seguinte forma: o sistema imunitário de cobaias expostas a um vírus desenvolve anticorpos específicos contra ele. Os glóbulos brancos que os produzem (linfócitos) são isolados em laboratório e multiplicados por processos de cultura celular. Neste caso, foram separadas três linhas celulares (clones ou “famílias” de células) que produziram anticorpos específicos muito eficazes contra o Ébola. Estes três anticorpos, reunidos numa solução única, são a base deste “super medicamento”.

Apesar de Kent e Nancy terem recebido alta, ainda existem muitas dúvidas sobre o ZMapp, o fármaco que constitui agora uma esperança para a cura do surto do Ébola. E também sobre o que agora acontece aos que recuperaram. Aqui poderá encontrar algumas questões, levantadas pela CNN, que o Observador decidiu recuperar.

Enquanto não se encontra uma cura “oficial”, o tratamento limita-se à manutenção dos níveis de oxigénio no sangue, do controlo da pressão arterial e dos níveis de hidratação, seja através da ingestão de bebidas ricas em sódio e potássio, seja pela via intravenosa.

Ainda que não seja uma tarefa fácil, o diagnóstico precoce é fundamental para evitar a propagação da doença. Caso se suspeite de uma infeção pelo Ébola, o paciente deve informar as autoridades oficiais (no caso português, a linha Saúde 24) mas sem sair de casa. Este pormenor é muito importante para evitar a propagação do vírus. Depois, o doente será transportado para um hospital e mantido em isolamento.

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Como é que se pode prevenir o contágio?

Os especialistas aconselham que não se toque em nada que possa ter estado em contacto com um portador do vírus e que se lavem as mãos várias vezes ao dia, isto porque o vírus pode ser transmitido através do suor — se existirem feridas nas mãos. Na manipulação direta de objetos e doentes suspeitos é necessária a utilização luvas, bata, máscara e óculos de proteção.

Nos hospitais é imprescindível a esterilização do equipamento médico, nos casos em que o mesmo não é descartável. As superfícies devem ser desinfetadas regularmente. Caso um paciente morra, deve evitar-se ao máximo o contacto com o cadáver. Os agentes sanitários devem tomar as medidas de proteção adequadas.

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O que está a acontecer na Guiné, na Serra Leoa, na Nigéria e na Libéria?

O atual surto de ébola é o pior de sempre. Começou no final de 2013 e já matou 3431 pessoas: 739 na Guiné Conacri, 623 na Serra Leoa e 2069 na Libéria (dados de 30 de setembro do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças).

A Organização Mundial de Saúde declarou o surto uma “emergência de saúde pública internacional” e que uma “resposta coordenada é essencial para parar e fazer recuar a propagação mundial do ébola”. A organização Médicos Sem Fronteiras, que tem várias equipas a trabalhar no terreno, também lançou um alerta: a epidemia de ébola está totalmente fora de controlo na zona oeste de África e há o risco de a doença se conseguir espalhar para mais países.

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No Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças (CPCD) é ainda possível acompanhar os relatórios publicados semanalmente sobre a evolução do atual surto.

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Por que é que chegamos a este ponto?

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, as práticas culturais e as crenças tradicionais em alguns países africanos têm dificultado a aplicação de medidas preventivas no âmbito da saúde pública, contribuindo para a propagação da doença.

No início de julho realizou-se um encontro de emergência no Gana, organizado pela OMS e no qual participaram ministros de Saúde de 11 países da África ocidental. Todos os participantes na reunião acordaram que a estratégia a adotar passa pela melhoria das políticas de educação e não pelo encerramento das fronteiras dos países.

Todas as tentativas de travar o surto têm sido infrutíferas e a OMS já reafirmou que é preciso um compromisso político de longo prazo, uma vez que, segundo Keiji Fukuda, subdiretor geral para a Segurança Sanitária da OMS, é “impossível saber claramente” até onde irá a epidemia, mas “teremos de lidar com ela durante vários meses”.

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O encerramento das fronteiras, tal como aconteceu na Libéria, é uma possível solução?

Não, de acordo com a Organização Mundial de Saúde. O seu porta-voz, Gregory Hartl, considera que a melhor maneira de acabar com o surto não é impedir que as pessoas se desloquem, com medo da propagação, mas sim o diagnóstico precoce e o cumprimento de todas as medidas de prevenção necessárias junto da fonte da infeção. Fechar as fronteiras pode ajudar, diz Hartl, mas não é uma solução infalível.

Na Nigéria também se realizou um rastreio aos passageiros aéreos que apresentassem alguns dos sintomas geralmente associados ao ébola. Mas como os sintomas são comuns a outras doenças, o diagnóstico é difícil de confirmar. Uma das possíveis soluções, segundo Marty Cetrone, um investigador do Centro para a Prevenção e Controlo de Doenças, seria a realização de questionários a esses passageiros sobre o seu historial de saúde e historial de viagens, bem como o potencial de exposição ao vírus através de amigos ou outros contactos próximos.

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