1

Quem são os candidatos que ainda estão na corrida?

Ao todo, ainda há cinco candidatos que estão na calha para chegarem à Casa Branca. No início, quando as eleições primárias começaram, a 1 de fevereiro no Iowa, eram mais de 20, entre democratas e republicanos.

Do lado do Partido Democrata, há dois:

20618383_1200x300_acf_cropped

Hillary Clinton. Devia dispensar apresentações, mas aqui vai. Tem 68 anos e é advogada. Foi primeira-dama no estado do Arkansas quando o seu marido, Bill Clinton, foi governador, e mais tarde primeira-dama, quando ele foi Presidente dos EUA, entre 1993 e 2001. Mal a carreira política do marido terminou, começou a da mulher, que se candidatou ao lugar de senadora pelo estado de Nova Iorque. Ocupou essa posição entre 2001 e 2009. Em 2008 candidatou-se à nomeação do Partido Democrata, mas perdeu para Barack Obama, num duro combate. Mas as feridas sararam — tanto que o primeiro Presidente afro-americano chamou Hillary Clinton para ser sua Secretária de Estado. Liderou a diplomacia norte-americana até 2013, quando deu lugar a John Kerry. Em abril de 2015 anunciou a sua candidatura à Casa Branca. Desde então, apesar de tudo, tem sido a favorita para vencer a nomeação do Partido Democrata. Nestas primárias, a sua base eleitoral consiste sobretudo em eleitores acima dos 40 anos.

20519143_1200x300_acf_cropped

Bernie Sanders. É a grande surpresa destas eleições primárias do Partido Democrata. Aos 74 anos, é o candidato mais velho desta temporada eleitoral — o que não invalida o facto de ser aquele que mais apoio tem junto dos jovens. Bernie Sanders nasceu em Brooklyn e estudou Ciência Política na Universidade de Chicago. Poucos anos depois de acabar o curso foi para o estado do Vermont. Depois de dividir a sua vida entre o ativismo, a realização de pequenos documentários e também a carpintaria, em 1980 Bernie Sanders foi eleito para presidente da câmara de Burlington, a maior cidade do Vermont. Ganhou com apenas 10 votos, mas desde então não largou a política. Entre 1991 e 2007 foi congressista pelo Vermont. Depois foi eleito senador por aquele estado, lugar que ocupa até hoje. A sua carreira política foi feita inteiramente como independente, apesar de ter feito parte de partidos com pouca expressão eleitoral nos anos 1970 e antes. Em 2015 tornou-se militante do Partido Democrata. Descreve-se como um “socialista democrático” — algo que lhe tem valido uma base de apoio bastante sólida entre jovens, mas nem tanto junto dos mais velhos.

Do lado dos republicanos, depois de ter havido 17 candidatos, já só sobram três:

Donald Trump. Só alguém que tenha estado em coma, isolado numa ilha deserta, ou a fazer um retiro espiritual, sem acesso ao mundo exterior, é que pode não ter ouvido falar de Donald Trump. Conhecido por ser um magnata do imobiliário em Nova Iorque e um pouco por todo o mundo, polvilhando-o com edifícios que ostentam o seu nome, Donald Trump é uma figura controversa. Apresentou o reality-show “The Apprentice” (“O Aprendiz”, que em Portugal passou na SIC Radical), onde se destacava pela maneira agressiva como tratava os participantes, que concorriam por um emprego na empresa de Trump. Depois de várias partidas em falso e de rumores que começaram em 1988, o milionário apresentou a sua candidatura à Casa Branca em 2015. Aos 69 anos, tornou-se no candidato mais polémico desta campanha, depois de defender a deportação sumária de 12 milhões de imigrantes ilegais, a criminalização do aborto, o uso de tortura e uma regra que impedisse a entrada de muçulmanos nos EUA. Está à frente nas primárias republicanas — e graças a ele o número de participação eleitoral subiu. A sua base eleitoral é composta sobretudo por republicanos, que são conservadores em matérias fiscais mas nem tanto em termos sociais, a maior parte brancos e sem educação superior.

20559269_1200x300_acf_cropped

Ted Cruz. É o mais conservador entre os candidatos republicanos. Filho de um imigrante cubano, Ted Cruz nasceu no Canadá e foi viver para o Texas aos 4 anos. Atualmente com 45 anos, Ted Cruz entrou para a política no ativo recentemente, em 2013, quando foi eleito senador pelo Texas. Foi no senado que ganhou relevância, depois de ter discursado durante 21 horas sem interrupção, numa manobra para bloquear a ação do Governo de Barack Obama e a aprovação do seguro de saúde estatal, conhecido coloquial e pejorativamente como Obamacare. Ted Cruz é pouco amado dentro e fora do seu partido — e ele, em troca, repete frequentemente o quanto odeia Washington D.C. e despreza “os valores de Nova Iorque”. O discurso anti-aborto, pelo Estado mínimo e a favor da deportação dos cerca de 12 milhões de imigrantes ilegais nos EUA garante-lhe o apoio do eleitorado mais conservador, rural e religioso.

481847558_1200x300_acf_cropped

John Kasich. Entre os candidatos de ambos os partidos, John Kasich é aquele que teve menos votos. Aos 63 anos, é governador do Ohio desde 2011 — o único estado onde venceu nestas eleições primárias. Antes de ser governador, foi deputado no senado estadual do Ohio entre 1979 e 1983 e deputado pelo mesmo estado, entre 1983 e 2001. Apresentou o programa Heartland with John Kasich, na FOX News, entre 2001 e 2007 e trabalhou como banqueiro de investimento para a Lehman Brothers. Em 2015, anunciou a sua candidatura às eleições presidenciais pelo Partido Republicano. A fraca expressão eleitoral de John Kasich, tal como a pouca probabilidade de vir a ser eleito, têm-lhe valido pouca atenção mediática. Politicamente, é o candidato mais moderado e centrista entre os que restam nas primárias republicanas. O tom calmo e o facto de ainda não ter entrado em trocas de insultos contra os seus adversários levaram a que fosse chamado de the adult in the room — algo como “o adulto da casa”. Assim, tem sido apoiado sobretudo por republicanos moderados.

2

Donald Trump pode mesmo ser o próximo Presidente dos EUA?

Poder, pode. Mas será difícil.

Primeiro, porque ainda não é sequer garantido que Trump consiga ganhar a nomeação do Partido Republicano para as eleições presidenciais de 8 de novembro, mesmo que esteja destacado nas primárias. Ou não. É a teoria do copo meio cheio e meio vazio. É que, se por um lado se pode olhar para Trump como estando tão destacado nas primárias que é matematicamente impossível que os seus adversários o vençam, por outro podemos dizer que Trump não está tão destacado assim — pelo menos, não ao ponto de ser certo que consegue juntar os 1237 delegados necessários para ter uma nomeação direta. Se Trump ficar nesse limbo — em primeiro, mas aquém dos 1237 delegados — o Partido Republicano terá uma convenção aberta (ver pergunta 6). E, nessa ocasião, depois de uma primeira votação inconclusiva, os adversários de Trump podem angariar delegados suficientes para roubar a nomeação ao magnata nova-iorquino.

Segundo, porque vai ser muito difícil para Trump convencer o eleitorado nacional caso venha mesmo a ser o candidato republicano em novembro. Leia-se, eleitorado nacional. Ou seja, diferente daquele que vota nas eleições primárias do Partido Republicano.

Tudo isto porque a mensagem do Partido Republicano apela cada vez menos às minorias étnicas dos EUA — que são cada vez maiores, ao mesmo tempo que a população branca diminui. De acordo com o Census Bureau, a população norte-americana era composta por 17,4% de latinos/hispânicos, 13,2% de afro-americanos e 5,4% de asiáticos. A maior fatia ainda era para os brancos não-latinos, que representavam 62,1% — mas que, por outro lado, eram o único grupo a diminuir.

Segundo o Pew Research Center apurou em 2015, as três minorias acima mencionadas identificam-se consideravelmente mais como democratas do que como republicanos: mais concretamente, com uma vantagem de 69% entre afro-americanos, 42% entre asiáticos e 30% entre hispânicos. Quanto ao eleitorado branco, a preferência é o partido republicano. Mas apenas por uma diferença de 9%.

Isto não são problemas apenas de Trump, mas antes do Partido Republicano em geral — e já apontados a seguir à derrota eleitoral de Mitt Romney contra Barack Obama, em 2012, num estudo do partido que ficou conhecido como “relatório de autópsia”. Nele, até era dito que “o partido tem de parar de falar para dentro” e que era preciso que “os republicanos comecem a cativar eleitores que nem sempre se identificam como republicanos”. Ou seja, começar a falar para as minorias. Mais do que estratégia, é uma questão de sobrevivência. Em 2060, o Census Bureau estima que aquelas três minorias componham 54,6% da população e que os brancos passem a ser menos de metade, com 43,6%.

Aparentemente, Trump ignora tudo isto — com particular atenção para os latinos, que são a minoria mais expressiva dos EUA e aquela que cresce à maior velocidade. O maior sinal disso foi o facto de ter classificado os imigrantes mexicanos como “violadores”, “criminosos” e “traficantes de droga”, ainda numa fase inicial da sua campanha. Além de nunca se ter retratado destas palavras, Trump insiste na construção de um muro na fronteira com o México e na deportação sumária dos cerca de 12 milhões imigrantes ilegais que vivem nos EUA.

O resultado deste discurso ficou claro numa sondagem de fevereiro do Washington Post com a Univision, na qual 80% de latinos disseram ter uma visão “negativa” do magnata nova-iorquino. Enquanto isso, o observatório Latino Decisions, que se debruça sobre o comportamento eleitoral dos hispânicos nos EUA, refere que qualquer candidato que pretenda vencer umas eleições gerais precisa do voto de 47% dos latinos.

Por isso, voltamos ao início. Donald Trump pode mesmo ser o próximo Presidente dos EUA? A resposta já foi dada: poder, pode. Mas será difícil.

3

Se é matematicamente impossível que Cruz ou Kasich ganhem as primárias, porque é que não desistem?

Resumidamente, estão a ganhar tempo até à convenção do Partido Republicano, em julho. Desde as primárias de Nova Iorque que esta passou a ser a estratégia de Ted Cruz, depois de a nomeação direta do texano se ter tornado matematicamente impossível. “Bem-vindo”, dirá John Kasich, que já está nessa fase há muito tempo.

Antes das eleições primárias de 26 de abril, já só há 677 delegados do Partido Republicano por conquistar. Para chegar a uma maioria absoluta, e assim conseguir a nomeação direta do Partido Republicano para se ser o candidato nas presidenciais de novembro, qualquer candidato precisa de 1237 delegados.

A questão é que já nem esses 677 chegam para que John Kasich (148 delegados) ou Ted Cruz (543 delegados) cheguem aos 1237. Daí ser matematicamente impossível que qualquer um dos dois vença as eleições primárias.

Mas “vencer as eleições primárias” não é sinónimo de “vencer a nomeação do Partido Republicano”. Pode dar-se o caso de Donald Trump vencer as primárias mas ficar aquém dos 1237 delegados (tem atualmente 844, faltam-lhe 483). Nesse caso, é provável que a primeira votação para escolher o candidato dos republicanos na convenção do partido — de 18 a 21 julho — seja inconclusiva por não haver maioria absoluta.

Aí, passa a haver uma “convenção aberta”. Preste atenção — é provável que ainda venha a ouvir e a ler muito sobre isto.

4

O que é uma convenção aberta?

“Convenção aberta.” É cada vez mais provável que este cenário se confirme no Partido Republicano.

Quando estiverem reunidos na convenção do partido, entre 18 e 21 de julho, em Cleveland, no Ohio, os delegados serão chamados a votar no candidato que querem que represente o partido nas eleições de 8 de novembro. No início, há dois tipos de delegados: a maioria (95%), que são aqueles que estão obrigados a votar no candidato pelo qual foram eleitos; e a minoria de 5% de delegados descomprometidos.

Para vencer a nomeação, um candidato precisa de ter 1237 votos, isto é, o necessário para ter maioria absoluta. Neste ano, é quase certo que Donald Trump vá terminar as eleições primárias com mais delegados, mas não é de todo garantido que ele venha a conseguir os tais 1237. E, se não conseguir, faz-se uma convenção aberta.

Em 1976, na última convenção aberta do Partido Republicano, Gerald Ford acabou por derrotar Ronald Reagan, depois de ter conseguido convencer os delegados descomprometidos. Mas há outras possibilidades, caso a primeira votação não dê a maioria a um dos candidatos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

5

Como funciona uma convenção aberta?

Primeira votação: caso algum dos candidatos consiga convencer a pequena percentagem de delegados descomprometidos que votam na primeira volta e chegar à tão almejada maioria, a convenção termina por aqui.

Mas a matemática — e a política, claro — indicam que é mais provável que haja uma segunda votação.

E é a partir daqui que tudo pode voltar a baralhar-se, porque a cada votação o número de delegados “livres” aumenta. No caso de uma segunda votação, as regras do partido ditam que os delegados de 30 estados deixam de estar legalmente obrigados a votar no candidato pelo qual foram eleitos. Segundo o The New York Times, 39% dos delegados continuam a ter de votar pelo seu candidato original, mas os restantes 61% estão “livres”. Assim, podem votar noutro candidato — basta que este, ou a sua equipa, os convença nesse sentido.

Mas há mais. Pode ainda dar-se o caso de haver novos candidatos, mesmo que não se tenham apresentado nas eleições primárias, ou que tenham desistido. Ainda se lembra de Marco Rubio? Ele suspendeu (isto é, não cancelou) a sua campanha e ainda não abriu mão dos seus 171 delegados.

Se, mesmo nessa segunda votação, não houver uma maioria absoluta, volta a haver uma terceira consulta, desta vez com um número ainda maior de delegados sem obrigação de votarem no candidato pelo qual foram eleitos. 82% estarão livres — um número considerável, depois de os 172 da Califórnia passarem a estar descomprometidos.

O senso comum diz-nos que o assunto pode ficar arrumado numa terceira votação ou até numa segunda. Também pode dar-se o caso se John Kasich sair pelo próprio pé, obrigando assim a que seja matematicamente possível — e mais provável, também — que haja uma maioria absoluta de Ted Cruz ou Donald Trump.

Mas se nem após uma terceira votação houver uma maioria, a convenção terá de entrar numa nova fase. Aqui, o problema é que ainda não se sabe muito bem como é que as coisas poderão funcionar, uma vez que as regras desta convenção ainda podem ser alteradas pelo Comité Nacional Republicano (RNC, na sigla inglesa).

Uma maneira que o RNC pode arranjar para controlar a situação será aplicar — antes das votações ou depois da primeira ou da segunda — uma regra que incluiu no regulamento da convenção de 2012. Nessa altura, foi determinado que só quem tivesse vencido as primárias em oito estados é que podia surgir como candidato na convenção — uma regra que foi feita à medida para cortar as asas a Ron Paul, o candidato libertário que este ano foi substituído pelo filho, Rand Paul. Se esta regra for novamente aplicada, Kasich, que apenas venceu no Ohio e a quem as sondagens não são sorridentes, teria de ficar pelo caminho. Sobraria Donald Trump e Ted Cruz.

6

E do lado dos democratas, Bernie Sanders ainda consegue dar a voltar e vencer Hillary Clinton?

Embora não seja matematicamente impossível, uma reviravolta de Bernie Sanders é cada vez mais improvável.

Eis os números: os democratas disputam um total de 4 765 delegados, sendo que, depois das primárias de Nova Iorque, Hillary Clinton já juntou 1 948 e Bernie Sanders conta com 1 238. Ainda há 1 579 delegados sem “dono”.

Nesta fase, o objetivo de cada candidato é chegar a 2 383, isto é, os necessários para ter maioria absoluta na convenção do Partido Democrata de julho.

E a verdade é que nesta fase as contas estão muito complicadas para Bernie Sanders, que precisa de 1 145 dos tais 1 579 que estão livres para ganhar a nomeação do partido. Isto é, precisa de conquistar pelo menos 72,5% dos próximos delegados.

Por outro lado, Hillary Clinton apenas precisa de mais 435 delegados para chegar ao objetivo dos 2 383. Ou seja, basta-lhe conquistar 27,5% dos delegados ainda em jogo.

Portanto, as perspetivas de Bernie Sanders vir a disputar as eleições presidenciais pelo Partido Democrata são cada vez mais diminutas.

Mas, segundo o diretor de campanha de Bernie Sanders, ainda há uma maneira de o senador socialista do Vermont passar à frente de Hillary Clinton: conquistar os superdelegados (ver pergunta 7), inclusive aqueles que já declararam o seu apoio a Hillary Clinton.

No papel, parece possível. Mas, mais uma vez, a realidade não favorece as perspetivas de Bernie Sanders. Os superdelegados são ao todo 715 e são figuras destacadas do Partido Democrata, cujo voto na convenção é decidido a título individual. Neste momento, segundo o The New York Times, Hillary Clinton tem o apoio de 502 e Bernie Sanders apenas de 38. Sobram 175.

A verdade é que os superdelegados podem mudar de ideias e alterar o seu voto na convenção — mas isso é a teoria. A prática é que é improvável que Bernie Sanders e a sua equipa consiga alterar a opinião de tantos membros da cúpula do Partido Democrata. Até porque a mudança é radical — teriam de deixar de apoiar uma candidata moderada, que é conhecida dentro e fora do partido há décadas, para passarem a votar num candidato até há pouco tempo pouco conhecido e cujas ideias políticas fogem ao establishment do Partido Democrata, ao qual ele se juntou há muito pouco tempo.

Assim, torna-se claro que a matemática não está do lado de Bernie Sanders. Mas tecnicamente ainda é possível — e o socialista do Vermont já deu lições de que não deve ser subestimado. A prova disso é que no início de maio de 2015, quando Hillary Clinton e Bernie Sanders já tinham apresentado as suas candidaturas, ela aparecia nas sondagens com uma média de 61,3% e ele com 9,4%. Quase um ano depois, a 20 de abril deste ano, a ex-Secretária de Estado surge com 49,1% e o senador do Vermont está com 44,8%.

7

O que são os superdelegados do Partido Democrata e para que é que servem?

Antes de tudo, é preciso sublinhar isto: os superdelegados apenas existem no Partido Democrata.

Agora, a definição. Os superdelegados são delegados que não são eleitos e que à partida não estão comprometidos com nenhum dos candidatos nas eleições primárias e que, assim, decidem o seu voto de forma individual e sem compromissos formais na convenção do Partido Democrata, que este ano vai ser entre 25 e 28 de julho. Os votos dos superdelegados têm o mesmo valor dos votos dos delegados, que são eleitos ao longo das eleições primárias.

Não é qualquer pessoa que chega a superdelegado. Entre os 715, estão as figuras mais destacadas do Partido Democrata. Alguns são nomes globalmente desconhecidos, entre antigos e atuais senadores ou congressistas, mas também lá estão outros que são incontornáveis. Estão lá ex-Presidentes (Bill Clinton, que apoia a mulher, ou Jimmy Carter, que ainda não disse em quem vota), antigos candidatos presidenciais (Walter Mondale, que apoia Clinton, ou Al Gore, que ainda não se pronunciou) e até o atual Presidente dos EUA, Barack Obama, que ainda não disse quem vai apoiar e que deixou a ideia de que não o fará antes da convenção — mesmo que seja um segredo de polichinelo que ele vá, muito provavelmente, apoiar a sua ex-Secretária de Estado.

À altura de publicação deste explicador, de acordo com o The New York Times, Hillary Clinton conta com o apoio de 502 superdelegados e Bernie Sanders tem apenas 38 do seu lado. Assim sendo, sobram 175, que ainda estão por declarar o seu apoio.

Estas contas, a par do facto de Hillary Clinton ter uma ligeira vantagem com os delegados eleitos, complicam o futuro de Bernie Sanders. Ainda assim, depois da derrota que o senador do Vermont teve contra a ex-Secretária de Estado em Nova Iorque, o seu diretor de campanha disse que a estratégia de Bernie Sanders passará agora por roubar a preferência de alguns superdelegados que já disseram apoiar Hillary Clinton — uma tarefa difícil, a de um candidato assumidamente socialista conseguir o apoio daqueles que, até aqui, apoiaram publicamente uma candidata moderada e reconhecida.

Segundo Josh Putnam, especialista em processos eleitorais da University of Georgia, o sistema dos superdelegados foi inventado em 1980 para que, de alguma forma, os democratas evitassem o risco de ser eleito um candidato distante das ideias do partido ou com pouca probabilidade de vencer nas presidenciais. “Era preciso que houvesse uma voz do establishment do partido, de forma a que não desviasse a opinião dos eleitores, mas que pudesse encaminhar um candidato que seria dotado o suficiente para vencer as eleições presidenciais”, disse à CBS.

Este sistema foi inventado em 1980, depois de duas experiências dececionantes para o partido. A primeira foi em 1972, quando George McGovern ganhou a nomeação numa convenção conturbada. A seguir, foi derrotado de forma estrondosa por Richard Nixon, ficando a menos 23,2% dos votos que o seu adversário e de conquistar apenas dois em 50 estados.

A segunda foi em 1980, quando Jimmy Carter, então Presidente, se preparava para ser reeleito. Só que, ao contrário do que costuma acontecer aos presidentes que concorrem a um segundo mandato, Jimmy Carter foi desafiado nas primárias por Ted Kennedy. O então Presidente acabou por vencer, mas o combate contra Ted Kennedy fragilizou-o. Mais tarde, viria a ser derrotado por Ronald Reagan nas eleições presidenciais de 1980. Jimmy Carter conseguiu juntar apenas sete estados e perdeu por 10%, tornando-se assim no primeiro Presidente democrata a falhar uma reeleição desde 1888, quando Grover Cleveland perdeu para o republicano Benjamin Harrison.

8

Quem é que as sondagens dizem que deve ganhar as eleições em novembro?

Antes de responder à pergunta, é preciso fazer duas ressalvas. A primeira, é que ainda faltam mais de seis meses para as eleições de 8 de novembro. Seis meses podem parecer — e são — uma eternidade em política. Como tal, muito pode mudar pelo caminho — a imaginação é fértil em exemplos. A segunda, é que as sondagens que opõem candidatos de ambos os partidos frente-a-frente são simulações de algo que foi pouco ou nada testado. Por exemplo, por mais sondagens que digam que Bernie Sanders venceria contra Donald Trump, a verdade é que os dois nunca concorreram um contra o outro nem entraram em debates. Para já, Bernie Sanders concentra-se a dar a volta a Hillary Clinton e Donald Trump tenta evitar que lhe dêem a volta a ele.

Posto isto, vamos a sondagens. Na sua maioria, os republicanos saem menos favorecidos do que os democratas. Isto porque Donald Trump e Ted Cruz perdem tanto com Bernie Sanders como com Hillary Clinton. Paradoxalmente, o republicano menos votado, John Kasich, é o único que aparece consistentemente em primeiro lugar quando colocado frente-a-frente com Hillary Clinton. Mas perde com Bernie Sanders. Ou seja, o senador socialista do Vermont é, segundo as sondagens, o único candidato que venceria em toda a linha.

Veja os resultados ao pormenor, com os gráficos do Huffington Poll Pollster, uma ferramenta que agrega os resultados das sondagens mais relevantes e demonstra como evoluíram ao longo dos últimos tempos.

Donald Trump vs. Hillary Clinton

eua trump vs clinton

Donald Trump vs. Bernie Sanders

eua sanders vs trump

Ted Cruz vs. Hillary Clinton

eua clinton vs cruz

Ted Cruz vs. Bernie Sanders

eua sanders vs cruz

John Kasich vs. Hillary Clinton

eua kasich vs clinton

John Kasich vs. Bernie Sanders

eua sanders vs kasich

9

Quero acompanhar as eleições de perto. Quais são as datas decisivas daqui para a frente?

26 de abril
A 26 de abril disputam-se cinco estados (Connecticut, Pennsylvania, Delaware, Maryland e Rhode Island) e uma quantidade considerável de delegados. No caso dos democratas, estão a jogo 554. Nos republicanos, vota-se por 229 delegados. O estado mais importante é a Pennsylvania (210 delegados democratas, 71 republicanos), onde as sondagens dão vantagem a Hillary Clinton e a Donald Trump.

3 de maio
Os dois partidos vão a votos no Indiana. São 57 delegados para os republicanos e 92 para os democratas.

10 de maio
Os republicanos vão a votos no Nebraska e no West Virginia (70 delegados ao todo) e os democratas vão a votos no West Virginia (37 delegados).

17 de maio
Para os republicanos, não será a data mais importante de todas. Vão a votos no Oregon, onde estão em causa 28 delegados. Quanto aos democratas, os números são mais importantes. Também a votos no Oregon, e além disso no Kentucky, Bernie Sanders e Hillary Clinton vão disputar 135 delegados.

7 de junho
É das datas mais importantes daquelas que ainda estão para vir. Estão em causa 303 delegados republicanos e 806 democratas, divididos por seis estados: North Dakota (só para os democratas), South Dakota, Montana, New Jersey, New Mexico e a California.

É precisamente neste último que a parada é mais alta: 172 delegados entre republicanos e 546 entre democratas. Esta será também a última data das eleições primárias dos republicanos. Assim, pode ser a derradeira hipótese de Donald Trump conseguir os 1 237 delegados necessários para conseguir uma nomeação direta e evitar uma convenção aberta.

14 de junho
É a última data dos democratas, que vão a votos no District of Columbia com 45 delegados em disputa.

18 a 21 de julho
Convenção do Partido Republicano, em Cleveland, no Ohio.

25 a 28 de julho
Convenção do Partido Democrata, em Philadelphia, na Pennsylvania.

8 de novembro de 2016
Eleições presidenciais

20 de janeiro de 2017
Tomada de posse do próximo Presidente dos EUA