“Mulheres desarrumadas são mais saudáveis e criativas.” Parece a desculpa perfeita para uma adolescente que não quer ouvir a mãe mandá-la arrumar o quarto todos os dias ou para uma jovem adulta que ainda se está a habituar à ideia de viver sozinha. O site Mulher Contemporânea, que divulgou estas conclusões, diz que as encontrou num estudo da Universidade do Minnesota. Mas o único estudo deste tipo que o Observador conseguiu localizar é de 2013, está publicado na revista científica Psychological Science, não se foca só em mulheres e tem conclusões bem diferentes das anunciadas. Contactada pelo Observador, a universidade respondeu que também não conseguiu localizar o estudo anunciado no site Mulher Contemporânea.

Tradicionalmente, a ordem está associada a características positivas e a desordem é conotada com aspetos mais negativos. A ordem está ligada à moralidade e aos padrões e a desordem aos desvios e comportamentos destrutivos. A preferência pela ordem está relacionada com ideias mais tradicionais e conservadoras, enquanto aqueles que lidam bem com a desordem toleram mais a ambiguidade e valorização a liberdade.

Os investigadores da Universidade do Minnesota decidiram, no entanto, conduzir algumas experiências para perceber se os ambientes desorganizados podiam ter um impacto mais positivo ou neutro do que lhes é normalmente atribuído — além da quebra com a tradição e com o que está convencionado, alimentando a criatividade, que pode ser considerada um aspeto positivo da desorganização.

Para fazerem as experiências, os investigadores criaram dois tipos de ambientes diferentes: uma sala ou um gabinete com as mesas vazias ou com os papéis organizados; outra sala ou gabinete, com a mesma luz e a mesma disposição dos móveis, onde havia livros, papéis e outros objetos espalhados pelas mesas e pelo chão.

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Ao contrário do que alega o artigo do site Mulher Contemporânea, as pessoas que estiveram nas salas arrumadas fizeram escolhas mais saudáveis (escolheram mais vezes maçãs do que chocolates) e foram mais generosas com uma instituição de caridade do que as que estiveram numa sala desarrumada. Por outro lado, quem teve de tomar decisões numa sala desorganizada mostrou que podia ter ideias mais criativas e que lhe era mais fácil quebrar com a tradição (de um menu apresentado escolheram mais vezes as opções assinaladas como novas do que as clássicas).

Conclusão

O site Mulher Contemporânea diz que o estudo da Universidade do Minnesota “revelou que as mulheres desordenadas têm melhor saúde física e mental” e dá exemplos: “menor risco de sofrer ataque cardíaco porque não sentem stress”, “menor probabilidade de terem rugas pois o processo de envelhecimento desacelera” e que “é menos provável que adoeçam do estômago porque o nível de raiva e de stress é menor”. O problema é que nada disto é abordado no único estudo relacionado com o tema que o Observador conseguiu localizar naquela Universidade, nem as experiências permitiram chegar a estas conclusões — pelo contrário: em ambiente mais arrumados, os intervenientes no estudo tiveram comportamentos mais saudáveis.

Mais, a Universidade do Minnesota respondeu que estudos como o que Observador encontrou, que foram realizados pela Faculdade de Gestão, nunca se focam em questões de saúde.

O único ponto em que o site Mulher Contemporânea acertou é que, nas experiências, a desordem estava associada à criatividade. Mas o grosso dos texto e das alegações do site são falsos.

Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

Errado

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas aos reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.

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