Depois de três dias de internamento, Donald Trump, infetado com o novo coronavírus, abandonou o Hospital Militar Walter Reed e rumou à Casa Branca. Não tardou até voltar ao Twitter com uma mensagem sobre a Covid-19; e também não tardou até a rede social sinalizar — mas não eliminar — o dito tweet por conter “informações enganadoras e potencialmente prejudiciais” relacionadas com a doença. 

A mensagem ainda está disponível — porque na interpretação do Twitter, “determinou-se que pode ser do interesse público que o tweet permaneça acessível” — e defende a abertura total da economia norte-americana ao comparar a gripe sazonal com a Covid-19:

“A época da gripe está a chegar! Muitas pessoas todos os anos, às vezes mais de 100 mil, e apesar da vacina, morrem de gripe. Vamos fechar o nosso país? Não, aprendemos a conviver com isso, assim como estamos a aprender a conviver com a Covid, na maioria das populações muito menos letais”.

A opção do Facebook foi diferente da do Twitter: aquela rede social acabou mesmo por retirar a publicação, por considerar que violava as políticas de desinformação em vigor. “Nós removemos informação incorreta sobre a gravidade da Covid-19 e acabámos de remover esta publicação”, disse o porta-voz da rede social, Andy Stone, citado pela NBCNews.

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Em primeiro lugar, não é verdade que, nos Estados Unidos, o número de mortes provocadas pela gripe chegue a ultrapassar as 100 mil. As estimativas do Centro de Controlo de Doenças (CDC), que elenca os números da gripe desde a temporada de 2010-2011, dizem que, nos últimos 10 anos, nunca houve mais de 61 mil mortes por gripe; e que, na última temporada, foram 22 mil as vítimas mortais.

Em segundo lugar, também não é verdade que a Covid-19 seja “muito menos letal” que a gripe — e, mais uma vez, são as próprias autoridades de saúde norte-americanas que contrariam as informações de Donald Trump. Até à última quarta-feira, perto de 211 mil pessoas morreram de Covid-19 nos Estados Unidos — quase dez vezes mais vítimas mortais do que os doentes que perderam a vida no inverno passado com a gripe.

“A situação da Covid-19 está a mudar rapidamente”, avança a Universidade John Hopkins, uma referência na monitorização da doença nos Estados Unidos:

“Como esta doença é causada por um novo vírus, a grande maioria das pessoas ainda não tem imunidade e a vacina pode demorar muitos meses. Os médicos e cientistas estão a trabalhar para estimar a taxa de mortalidade da Covid-19, mas neste momento acredita-se que seja substancialmente maior — possivelmente dez vezes ou mais — do que a maioria das estirpes de gripe“.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) também confirma que a Covid-19 tem uma taxa de letalidade substancialmente superior à gripe: até quatro em cada 100 pessoas infetadas pelo novo coronavírus morrem da doença provocada pelo SARS-CoV-2. Para a gripe sazonal, essa taxa de letalidade está abaixo dos 0,1%, mas tudo depende do “acesso e da qualidade dos cuidados de saúde”, continua a organização.

Conclusão

É falso que a Covid-19 provoque muito menos mortes que a gripe sazonal. Ao contrário do que Donald Trump afirmou através das redes sociais, a letalidade da gripe não ultrapassa as 61 mil mortes ao longo dos últimos 10 anos nos Estados Unidos, enquanto a Covid-19 já provocou quase 211 mil mortes no país em 10 meses. Ou seja, não é verdade que a Covid-19 seja “muito menos letal” que a gripe, tal como confirmam as estimativas das autoridades de saúde mundiais e norte-americanas.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

NOTA: este artigo foi produzido no âmbito de uma parceria de fact-checking entre o Observador e a TVI.

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