Não foi a primeira vez que o porta-voz do Livre contou esta história, já a tinha referido no debate com o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, mas foi no frente a frente com o PAN que Rui Tavares desenvolveu mais os argumentos a favor da criação de uma agência pública para o hidrogénio verde.

O hidrogénio verde “pode ser uma revolução na energia e Portugal tem potencial” para estar bem posicionado nessa revolução (o hidrogénio verde é um gás produzido a partir de eletricidade de fontes renováveis), afirmou Tavares no debate realizado esta quarta-feira na RTP com Inês Sousa Real, a deputada do partido Pessoas-Animais-Natureza. Só que, em vez de uma gestão do hidrogénio feita à base de leilões lançados pelo Estado para os grandes conglomerados de energia — porque se trata de uma tecnologia muito cara e toda essa fileira será controlada por grupos privados —, “podemos ter (o Estado com) um pé nessa tecnologia”.

Citando os exemplos dos Países Baixos e Noruega, que estão a estudar a criação de uma agência pública para o hidrogénio, o porta-voz do Livre admitiu que Portugal poderia lançar uma congénere da Águas de Portugal, tipo Hidrogénio de Portugal, numa estratégia que não fique dependente dos atores privados. É neste ponto que Rui Tavares conta o episódio que conheceu quando foi a uma visita ao Instituto Superior Técnico (IST).

O IST tem uma investigação sobre o grafeno (é um nano material composto por carbono, mais fino que o cabelo humano, mas muito forte) e estuda a possibilidade de obter, a partir deste material, hidrogénio “de forma mais barata e através da reciclagem de plástico”. O IST falou com a Galp que, “apesar dos seus mil milhões de euros de lucro (em 2023), e de alguns países lhe quererem dar ainda um desconto no IRC, não esteve interessada”, reforçou Tavares, para concluir que, “se existisse do lado público um centro nacional de transferência de conhecimento, como defende o Livre, e uma agência pública para desenvolver essa tecnologia de ponta, poderia posicionar Portugal na revolução energética”.

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O Observador questionou a Galp sobre esta recusa. A empresa começou por esclarecer que é parceira de longa data do IST, “com o qual tem em curso diversos projetos de investigação e desenvolvimento, nomeadamente nas áreas do hidrogénio e dos biocombustíveis” e que está sempre aberta a avaliar ideias em que encontre potencial.

Perante a informação avançada por Rui Tavares, a Galp admite que se trata de uma proposta de projeto que teve origem no Instituto de Plasmas e Fusão Nuclear do IST para “avaliar o nosso interesse numa tecnologia de produção de H2 (hidrogénio), designada Tornado. Esta tecnologia integra a produção, purificação e armazenamento de H2 partindo de matérias primas sustentáveis como biomassa, restos de plásticos, lamas dos esgotos municipais, entre outros, em que o carbono seria convertido em grafeno.”

Fonte oficial da empresa explicou ao Observador que ao aprofundar a discussão, “fomos convidados a integrar um consórcio a uma candidatura europeia (Horizon), que incluía a tecnologia referida, e onde a Galp teria o papel de parceiro industrial, responsável pela industrialização da mesma. Após análise interna, e dado o estado ainda embrionário da tecnologia, a Galp declinou o convite, dado o risco significativo do projeto e os objetivos propostos”.

A empresa salienta contudo que este convite era “para um projeto com financiamento público, e não de investimento próprio exclusivo da parte da Galp”. Além do esforço financeiro, foram também ponderados o tempo e recursos humanos que esse envolvimento exigiria, bem como o grau de maturidade da referida tecnologia.

A Galp adianta que está a trabalhar ” ativamente” com o Técnico em três laboratórios colaborativos (Net4CO2, Bioref, Hylab) e em projetos específicos para a transição energética, nomeadamente os projetos do PRR Moving2Neutrality, Decentralized solution for Ammonia Production, and Hydro Conversion Technologies focados na produção de combustíveis sustentáveis”. E assinou um protocolo de colaboração para projetos de investigação e inovação industrial, bem como na promoção de talento e emprego no sector energético com um investimento total de 450 mil euros durante três anos.

Apesar de existir uma participação pública de 7% no capital (via Parpública), a Galp é uma empresa privada cujo maior acionista é a família de Américo Amorim. A empresa tem um projeto de hidrogénio verde para descarbonizar a refinaria e está envolvida num consórcio de várias empresas que já teve um financiamento europeu.

Conclusão

Apesar de estar envolvida em projetos de hidrogénio verde e de assinalar as várias parcerias de investigação com o Instituto Superior Técnico para a transição energética que envolvem apoios financeiros, a Galp confirma que recusou participar como parceiro industrial no projeto relativo ao grafeno, como referiu Rui Tavares.

CERTO

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