A fotografia de uma alegada nova espécie de felino descoberta na floresta Amazónia, no Brasil, tornou-se viral nas últimas semanas e levou a internet a desdobrar-se em debates para avaliar se a imagem era, ou não, verdadeira. Trata-se do “gato cobra” — ou serpens catus —, descrito num destes posts como a “espécie mais rara de felino na Terra”.

Numa publicação no Facebook, um utilizador revela mesmo que este felino foi apenas descoberto no ano de 2020 e que se trata de um animal que vive “em regiões difíceis de alcançar da floresta amazónica” e que, por essa razão, é “relativamente mal estudado”. Escreve ainda este autor que o gato cobra pesa até 4 quilos, chega a atingir os 50 centímetros de comprimento e que é, também, “virtualmente livre”, apesar de ser usado por algumas tribos amazónicas para proteger “casas de roedores”.

A publicação é acompanhada por uma fotografia, onde é possível observar o que parece ser um gato doméstico, mas com cores fora do comum: o pelo é pintado de amarelo e preto, com listras a fazer lembrar escamas de cobra. A imagem foi, nos últimos dias, partilhada em múltiplas redes sociais como Facebook, Twitter, Reddit, Tik Tok ou Youtube. Mas será que o “gato cobra” existe mesmo?

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Fazendo uma simples pesquisa no Google pelo alegado nome científico desta espécie, “serpens catus”, não encontramos qualquer referência relacionada com o campo da biologia, à exceção das publicações já referidas, partilhadas nas redes sociais. O mesmo acontece se analisarmos a fotografia em análise com ferramentas como a Google Images. Igualmente, se fizermos a mesma pesquisa numa base de dados que compile nomes científicos de espécies, como o Sistema Integrado de Informação Taxonómica (ITIS) do governo federal dos Estados Unidos, temos o mesmo resultado: zero referências a esta suposta nova espécie.

Além disso, não encontramos, igualmente, qualquer notícia em meios de comunicação credíveis, relatórios ou revistas científicas que confirmem a descoberta de uma nova espécie de felino na Amazónia no ano de 2020.

Podemos, por isso, concluir que a publicação é falsa. Não há factos que comprovem que esta suposta nova espécie, descoberta em 2020 na Amazónia, exista efetivamente. É verdade que vários felinos nativos da América do Sul podem ser encontrados na floresta brasileira, mas não há nenhum registo da descoberta de um “serpens catus“. Face às semelhanças com um comum gato doméstico, a fotografia que se tornou viral parece ter sido alterada através de ferramentas de edição e manipulação de imagem. De resto, esta nova descoberta já foi desmentida por outros fact-checkers internacionais, como o Snopes.

Importa referir que, ainda que o gato cobra não seja uma realidade, a cobra gato existe mesmo. Trata-se de uma espécie de cobra batizada devido à forma dos olhos, que se assemelham aos de um felino. É o caso, por exemplo, da cobra de mangue — nome cientifico boiga dendrophila — que, tal como o alegado gato na publicação, tem as cores amarelo e preto. Ainda assim, de acordo com o Instituto Smithsonian, a cobra de mangue é encontrada principalmente no sudeste da Ásia e não na floresta amazónica brasileira.

Conclusão

Não existem provas que confirmem a descoberta de uma nova espécie de felino na floresta amazónica com o nome gato cobra, ou serpens catus. A fotografia que se tornou viral parece ter sido alterada através de ferramentas de edição de imagem e já foi, igualmente, desmentida por fact-checkers internacionais.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook

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