O tweet foi publicado a 5 de janeiro e rapidamente se espalhou pela rede social e chegou a outras, como o Facebook. Nele estavam duas imagens, lado a lado. À esquerda a foto de Pedro Fonseca, de 24 anos, assassinado no Campo Grande, em Lisboa, a 28 de dezembro; do lado direito Luís Giovani Rodrigues, de 21 anos, violentamente agredido em Bragança a 21 de dezembro, acabando por morrer no final do ano. A acompanhar a publicação de Joacine Katar Moreira surgia a frase: “O assassinato racista do cidadão cabo-verdiano não pode ser confundido com o delito comum ocorrido na FCUL. Um é racismo o outro foi um mero assalto!!” O tweet é falso, mas foi difundido no Facebook, quer em páginas quer por utilizadores individuais.

A página “Sentinela” partilhou o falso tweet, a fotografia dos dois jovens e questionou: “Alguém quer comentar?”

Um utilizador acrescenta: “Palavras para quê… após as declarações de hoje do Livre sai esta…”

Outro utilizador aproveitou o tweet falso para dizer que Joacine “é a maior racista que existe em Portugal”

Não só é falso que a deputada do Livre tenha feito este comentário, como também é falsa a conta pertencente ao utilizador do Twitter @KatarMoreira2. Joacine Katar Moreira não tem conta nesta rede social desde o início de dezembro de 2019. Na altura, noticiou a TSF, a decisão surgiu depois de inúmeras polémicas — o pedido de escolta no Parlamento, a abstenção num voto sobre a Palestina, entre outras coisas — e de se terem multiplicado as críticas online.

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Em relação à polémica atual, o tweet espalhou-se tão rapidamente que, além da indignação de muitos utilizadores das redes sociais, gerou apreciações de figuras públicas, como Camilo Lourenço, por exemplo. Porém, o jornalista e comentador alertou depois para a eventualidade de ter feito um juízo com base numa intervenção falsa: “Há pouco fiz um comentário sobre este post que anda a correr nas redes sociais. A minha amiga Simone Espinoza alertou-me para o facto de poder ser mais uma manifestação de fake news. Se for, espero que a Joacine a desminta.”

Foi exatamente o que a deputada fez a 6 de janeiro, usando o Facebook para garantir que nada tem a ver com a publicação sobre os dois jovens. “Tenho recebido várias mensagens a alertar-me para a existência de contas falsas em meu nome. Chegam-me agora também montagens com tweets supostamente meus. Como é sabido, eu não tenho conta no Twitter, pelo que agradeço que ignorem e/ou denunciem comentários que nele virem em meu nome”, escreveu.

Tenho recebido várias mensagens a alertar-me para a existência de contas falsas em meu nome. Chegam-me agora também…

Posted by Joacine Katar Moreira on Monday, January 6, 2020

Um dia antes, Joacine Katar Moreira já tinha partilhado um comunicado de duas páginas do Livre pedindo “justiça para Giovani”. Em momento algum referia o caso de Pedro Fonseca.

No Twitter, a publicação que descrevia um dos crimes como “mero assalto” e o outro como “racismo” já não está disponível mas o perfil Joacine K. Moreira (ou @KatarMoreira2) continua ativo. Nas informações disponíveis percebe-se que foi criado em dezembro de 2019. É acompanhado por uma descrição: “PhD in african studies Gaguejo mas ainda assim falo pelos cotovelos para defender o que defendo.” Tal como no tweet que comparava as duas mortes, é possível ver que não houve grande cuidado com a pontuação.

Esta não é a primeira vez que Joacine Katar Moreira é alvo de desinformação nas redes sociais. O mesmo já tinha acontecido em acusações de que exagerava propositadamente a gaguez ou de que tinha feito uma proposta de uma nova bandeira portuguesa.

Deputada Joacine Katar Moreira está a exagerar a gaguez?

Fact Check. Joacine propõe uma nova bandeira portuguesa com as cores da Guiné?

Conclusão

O tweet foi feito, sim, mas não por Joacine Katar Moreira, que deixou de ter conta no Twitter desde o início de dezembro de 2019. Não se sabe a quem pertence o perfil falso mas a deputada do Livre garantiu no Facebook que não é da sua autoria. “O ódio e as políticas cuja única função é dividir as pessoas organizam-se de dia para dia”, lamentou ainda. No caso de Luís Giovani Rodrigues, a polícia descartou uma motivação racial e acredita que tudo terá começado com uma discussão no interior de um bar. Os suspeitos já foram identificados e começaram a ser interrogados. Já Pedro Fonseca foi esfaqueado após resistir a um assalto — os três suspeitos do crimeestão em prisão preventiva.

De acordo com o sistema de classificação do Observador este conteúdo é:

Errado

De acordo com o sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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