É a “fórmula número 1” do Brasil, diz uma publicação, referindo-se a um novo suplemento. Supostamente, trata-se de um remédio feito com recurso a uma fórmula que está a mudar a vida de centenas de pessoas, “natural, saudável e aprovado” pelo regulador da Saúde no Brasil. Tudo isto com base numa suposta notícia do portal Globo, que teria o seguinte título: “Exclusivo: ANVISA aprova composição americana que alivia 96% de qualquer dor em até 24h, sem contraindicações e nem efeitos colaterais.”
Segundo outras publicações do mesmo género, o medicamento de que se estaria a falar aqui é o Cartilaris, que é descrito no seu website oficial como um produto que “age diretamente na corrente sanguínea e no alívio da inflamação”, sendo “100% absorvido pelo organismo” e agindo diretamente para a redução de dores, alívio de inflamações, regeneração da cartilagem, manutenção dos ossos, tudo isto “funcionando de forma 100% natural”.
Mas há várias incorreções ou mesmo informações falsas no processo. A primeira é que não é possível encontrar qualquer registo de tal notícia no g1, o portal de notícias da Globo, ao contrário do que a publicação supostamente mostra: a imagem é de um layout igual ao de portal de notícias, com o título já mencionado e o vídeo de uma reportagem supostamente sobre este produto.
No entanto, no vídeo, onde são incluídos os testemunhos do que se supõe serem especialistas em ortopedia e doentes dessa especialidade (sem que os seus nomes sejam identificados), nunca se menciona o nome do produto em causa. Referem-se, sim, algumas informações sobre as doenças reumáticas, cujo sintoma mais comum será “a dor nas articulações”, mas que pode chegar a materializar-se numa dor difusa pelo corpo ou em “fraqueza”, e uma das pessoas que parecem ser especialistas da área (também não identificada) frisa que houve “uma evolução muito grande no arsenal terapêutico” desta especialidade.
Onde é possível, numa pesquisa pelo Google, encontrar uma página exatamente com este título e conteúdo é precisamente no website da Cartilaris, que imita o layout do g1. Através do motor de busca, é possível encontrar essa página, com a mesma informação sobre os benefícios do produto e a suposta aprovação pelo regulador do Brasil.
Ficando uns segundos na página, ou clicando numa das opções que supostamente dariam acesso a páginas de outros jornais que teriam notícias sobre o produto, ela segue diretamente para uma página promocional do “composto americano”, onde se encontra mais uma lista dos seus benefícios, e passando mais uns segundos aparece uma página com promoções “exclusivas” para quem comprar duas embalagens de Cartilaris.
Se fica assim estabelecido que não existe uma notícia do g1 neste sentido — apenas uma imitação do layout do site –, falta esclarecer a outra premissa da notícia falsa: o facto de o “composto” estar supostamente aprovado pelo regulador do Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Santiária, ou Anvisa. Este é, segundo o governo brasileiro, o “órgão responsável por definir os critérios e as etapas necessárias para a liberação de um novo medicamento à população” e é junto dele que se fazem os registos de novos medicamentos para que possam ser comercializados.
Acontece que a página do Cartilaris remete especificamente para a resolução “240/2018”, conforme está no rótulo do produto, e que mostrará a “aprovação da Anvisa”.
Contudo, ao verificar essa resolução, disponível aqui, encontramos um texto que serve para “estabelecer as categorias de alimentos e embalagens dispensadas e com obrigatoriedade de registo sanitário”. Ou seja: não é um documento da Anvisa que aprove este composto, mas antes que o pode dispensar de obter um registo formal. Da lista de alimentos e embalagens que ficam assim dispensados de registo constam por exemplo os suplementos alimentares, e é mesmo dessa forma que o composto é descrito em páginas de venda de produtos naturais — as mesmas que referem que está “isento de registo”.
Ainda assim, como refere o site de verificação de factos Boatos.org, a mesma resolução também estabelece que “alimentos com alegações de propriedade funcional e ou de saúde” precisam de ser registados, o que pode aplicar-se ao caso do Cartilaris, uma vez que alega ter vários efeitos positivos sobre a saúde dos pacientes, incluindo livrá-los de 96% da dor que sentem (e inclui no seu site vários testemunhos positivos alegadamente enviados por utilizadores do produto).
Conclusão
Não é verdade que o portal g1 tenha noticiado que o regulador brasileiro, Anvisa, aprovou este “composto” de produtos naturais. Primeiro porque a notícia não existe — trata-se apenas de um layout que copia o portal de notícias, para confundir os utilizadores. Segundo, porque o diploma que supostamente comprovaria que o produto está registado serviria, no máximo, para o isentar de registo. Ainda assim, é possível que precise de ser registado, uma vez que o seu website faz “alegações” sobre efeitos na saúde dos utilizadores. De qualquer das formas, o documento apresentado não é prova de qualquer registo ou aprovação.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.