Uma publicação do passado dia 6 de fevereiro garante que existe um medicamento com circulação no mercado que contém um vírus. “Cuidado para não tomar paracetamol que vem escrito p/500. É novo, muito branco e brilhante, contém o vírus ‘Machupo’, considerado um dos vírus mais perigosos do mundo”. Este texto alarmante vem associado com uma suposta imagem do tal medicamento. Trata-se, no entanto, de uma publicação falsa.

Publicação viral alega que um medicamento contém um vírus letal. É falso.

Olhando para o que foi escrito pelo autor, nenhuma da informação partilhada vem confirmada por qualquer tipo de notícia ou fonte oficial. Nem sequer se sabe em que país estará o medicamento a ser comercializado. Antes da verificação do argumento principal espelhado na publicação, é importante dizer que o vírus referido existe e faz parte da família dos vírus Arenaviridade. Pode causar febre hemorrágica e ser transmitido de roedores para seres humanos.

Depois, é necessário esclarecer que este medicamento não se encontra em Portugal. “O medicamento P-500 não tem autorização de introdução no mercado em Portugal. Por outro lado, feita a pesquisa dos alertas de qualidade que o Infarmed recebeu nos últimos três anos, apurou-se que não houve nenhuma suspeita de defeito de qualidade reportada para este medicamento”, defendeu este instituto em declarações ao Observador.

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Além disso, o Infarmed fez uma pesquisa “nas listagens submetidas pela Autoridade Tributária”, que servem para identificar e impedir a entrada “de medicamentos falsificados no país”. É também importante referir que qualquer tipo de medicamentos deve ser adquirido em farmácias ou locais de venda (não sujeitos a receita médica) que são autorizados pelo Infarmed. “A aquisição fora dos locais autorizados não garante a autenticidade, qualidade, segurança e eficácia dos medicamentos adquiridos”, disse o Infarmed.

Além de Portugal, este conteúdo já circulou em publicações de países como o Brasil, Angola e Moçambique. Uma publicação semelhante a esta já foi, aliás, desmentida anteriormente por outros fact-checkers. O jornal brasileiro Estado de Minas também chegou à conclusão de que aquele medicamento não continha o vírus referido pelo autor. Ao projeto de verificação de factos da agência AFP, Anderson Brito, especialista em Biologia Computacional pelo Imperial College London e investigador de pós-doutoramento em Epidemiologia, na Universidade de Yale, refere mesmo a existência de uma “barreira logística” que leva a que “essa teoria conspiratória possa sequer ser plausível”.

Brito explica que “produzir vírus em laboratório, especialmente um vírus tão letal como esse, exigiria uma estrutura de segurança que pouquíssimos países têm”. Razão pela qual “produzir um vírus destes numa escala industrial é praticamente impossível”, uma vez que “mataria os próprios funcionários”. Além disso, acrescenta, o arenavírus é particularmente suscetível à desidratação. “Se fosse possível produzi-lo em laboratório, seria produzido em ambientes líquidos, teria que ser hidratado de alguma forma, porque o comprimido é seco.”

Conclusão

Não é verdade que o medicamento Paracetamol 500 contenha um vírus letal, tal como alega a publicação original. O Infarmed desmentiu que esse medicamento tenha circulação em Portugal. Aliás, refere ainda que o fármaco não consta da lista de medicamentos falsificados que foram impedidos de entrar no país. Publicações semelhantes a esta já foram também desmentidas noutros países como no Brasil.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ERRADO

No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:

FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.

NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.

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