Na véspera da entrega da proposta de Orçamento do Estado para 2021, o partido Iniciativa Liberal divulgou um tweet em que procura pôr em evidência que o fraco crescimento de Portugal nos últimos 20 anos – face à média da União Europeia (UE) – nos está a afastar cada vez mais da convergência com os restantes 27 Estados-membros. E complementa: os portugueses “têm hoje menos poder de compra face à média da UE” do que tinham há duas décadas. O partido também complementa o tweet com um gráfico em que compara a tendência de crescimento do PIB face à média da UE de Portugal com outros países, como a República Checa, a Estónia e a Lituânia.

Neste fact check analisamos apenas a frase de título – que é a que extrai uma conclusão – e não a comparação com os três países. Também não nos debruçamos sobre a comparação de Portugal com estes mesmos três países em “Liberdade Económica”, medidos pelo Heritage Freedom.

No que diz respeito ao rendimento per capita, Portugal está, de facto, entre os países com níveis mais baixos da União Europeia a 28. Num ensaio publicado em fevereiro no Observador, o economista e investigador Abel Mateus dava conta que “cada português tem um rendimento médio de cerca de 20.510 euros, por ano, que compara com a média europeia a 28 membros, de 31.831 euros, em que os holandeses têm 46,5 mil e os austríacos 44,9 mil, segundo os dados do Eurostat para 2019”.

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Isto, com valores “medidos a euros de mercado”, ressalva o investigador. Corrigindo pela Paridade do Poder de Compra (que ajusta o rendimento pelo nível de preços do país), podemos calcular o rácio com a média europeia. É assim que Abel Mateus chega aos valores da Figura 1 (abaixo), em que “Portugal [tinha], em 2019, um PIB per capita médio igual a 77% da média da EU-28″. Face aos três países que têm o PIB per capita mais elevado (Holanda, Áustria e Dinamarca), o valor para Portugal é apenas de 60%.

Numa análise mais longa, Abel Mateus compara depois as posições de Portugal em PIB per capita (ainda em paridade de poder do compra) em dois momentos: 2000 e 2019. É perfeito para avaliar a afirmação do Iniciativa Liberal.

Assim, em 2000, Portugal estava na 16.ª posição dentro da UE a 28. Duas décadas depois, em 2019, Portugal tinha caído cinco lugares, para a posição 21.º no mesmo indicador. Como mostra a figura abaixo, de 2000 a esta parte, vários países do Leste europeu – que, quando entraram na UE, eram bastante mais pobres – iniciaram uma trajetória de crescimento intenso que os levou a ultrapassar Portugal em PIB per capita: República Checa em 2oo7; Eslováquia em 2012; Lituânia em 2017.

“Hoje, temos apenas sete países atrás de nós. Se a notícia é má, fica ainda pior: como veremos, vamos ser ainda ultrapassados por alguns destes países até 2025”, antecipa Abel Mateus.

Da análise dos números, conclui-se que Portugal, depois de convergir 20 pontos percentuais entre 1980 e 2001 para a média do rendimento per capita da União Europeia, encontra-se hoje 6,5 pontos percentuais abaixo da posição que tinha em 1999. “Ou seja, desde 1999 que o país se encontra em divergência europeia”, salienta Abel Mateus.

Conclusão

Tanto a afirmação que lança o tweet da Iniciativa Liberal como a ideia que a complementa estão corretas. “Portugal está cada vez mais longe da Europa” e os portugueses têm hoje, efetivamente, “menos poder de compra face à média da UE” face à realidade de há duas décadas.

Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:

CERTO

NOTA: este artigo foi produzido no âmbito de uma parceria de fact-checking entre o Observador e a TVI

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