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“Melhor dia da minha vida? Naaa. Eu quero mais, nasci para o ouro, não nasci para o bronze. Estou feliz, mas infelizmente não consegui o meu grande objetivo, que era ser campeão olímpico” |
Logo depois de conquistar uma medalha olímpica, a primeira da carreira e a primeira de Portugal em Tóquio 2020, Jorge Fonseca estava a passar por um momento ambíguo. Agridoce, até. Um momento em que não sabia o que sentir, para onde se virar, como reagir. A alegria era visível; mas a desilusão por não ter chegado ao lugar mais alto do pódio estava presente em todas as frases. E esteve presente até na cerimónia de entrega de medalhas, muito a la Jorge, quando o judoca ainda brincou e ensaiou que ia retirar a de ouro ao invés da de bronze. |
Falar do Jorge, para mim, é especial. Se é certo que o jornalista nunca é notícia, também é certo que existem momentos em que podemos acrescentar algo que só poucos puderam ver. Desde que o Jorge foi campeão do mundo pela primeira vez, em 2019, que repito uma frase sempre que o assunto vai ter com ele: “O Jorge andou comigo na escola”. E andou mesmo, na Preparatória da Damaia, quando os mais cruéis lhe chamavam “gordinho”, como ele próprio já contou, e o judo ainda não era uma constante. Os anos passaram, os caminhos separaram-se e só fui assistindo à evolução do Jorge pelas redes sociais. Quando o Jorge saltou para a atualidade nacional, e sempre que me encontrava com os amigos de hoje que ainda são os amigos daquele tempo, apercebi-me de algo. Todos nós dizíamos, no meio profissional e social, a mesma frase: “O Jorge andou comigo na escola”. |
E não é por acaso. Já na altura, o Jorge tinha uma gargalhada que se distinguia, um sorriso divertido e uma forma leve de encarar a vida. Era um daqueles miúdos que toda a gente sabia quem era. Era um daqueles miúdos que dava trabalho às auxiliares mas que, ao mesmo tempo, era o maior aliado de todas elas na hora de controlar as ocorrências do recreio. O Jorge nunca passou despercebido — não faz parte da sua natureza. E, no dia em que embarcou rumo a Tóquio, sabia perfeitamente que ia voltar com uma medalha no bolso. |
O judoca português, bicampeão mundial, conquistou a medalha de bronze nos -100kg depois de falhar a disputa pelo ouro numa meia-final em que foi traído por uma cãibra no dedo e acabou por cometer um erro. A subida ao pódio de Jorge Fonseca, que já apontou baterias ao ouro em Paris 2024, foi o ponto alto de uma primeira semana de Jogos Olímpicos que trouxe algumas surpresas e várias desilusões ao contingente português. |
Logo a abrir, no primeiro dia, Rui Bragança foi eliminado no taekwondo e João Almeida não foi além de um 13.º lugar na prova de estrada; a surpresa foi Catarina Costa, que por pouco não chegou à disputa pelo bronze nos -48kg do judo. No dia seguinte, e apesar de ter levado para casa um diploma olímpico, Gustavo Ribeiro ficou no último lugar da final inaugural do skate, traído por uma lesão incapacitante no ombro; a surpresa, pelo menos para alguns, foi no surf, com Teresa Bonvalot e Yolanda Hopkins a seguirem em frente, e na ginástica, onde Filipa Martins teve uma ótima prestação e ficou à beira da final nas paralelas. Depois, Telma Monteiro não foi além da segunda ronda nos -57kg e falhou uma medalha que era considerada como quase certa; a boa notícia, mais do que uma surpresa, foi a vitória da seleção de andebol contra o Bahrain, em resposta à derrota no primeiro jogo contra o Egito. Seguiram-se as eliminações de Anri Egutidze e Bárbara Timo, o afastamento de todos os mesatenistas, novas derrotas no andebol contra a Suécia e a Dinamarca e outros resultados abaixo do esperado no contrarrelógio. A grande surpresa, pelo meio, foi a presença de Ana Catarina Monteiro na meia-final dos 200 metros mariposa, onde a nadadora alcançou o 11.º lugar geral e atingiu o terceiro melhor resultado da natação portuguesa, apenas atrás de Alexandre Yokochi em Los Angeles 1984 e Seul 1988. |
No fim, e em resumo, Portugal terminou a primeira semana de Jogos Olímpicos com quatro diplomas e uma medalha: Catarina Costa, no judo, Gustavo Ribeiro, no skate, Yolanda Hopkins, no surf, a equipa de dressage, na equitação, e o bronze de Jorge Fonseca, também no judo. Uma semana assim-assim, podemos dizer, mas onde a maré parece estar já a mudar. No arranque do atletismo e já na manhã desta sexta-feira, Auriol Dongmo e Patrícia Mamona carimbaram a presença nas finais do lançamento do peso e do triplo salto. Os próximos dias vão ainda contar com a participação de Pedro Pablo Pichardo, Nélson Évora e Fernando Pimenta, para além de Francisco Belo (lançamento do peso), João Vieira (marcha) e Sara Moreira (maratona), entre muitos outros. Pelo meio, vai ainda ficar decidido o destino da seleção de andebol, que está numa posição frágil no Grupo B mas só precisa de ganhar ao Japão, na madrugada de sábado para domingo, para se seguir para os quartos de final. |
Também nos Jogos Olímpicos mas para lá da delegação portuguesa, a semana ficou marcada por Simone Biles. A ginasta norte-americana esteve na qualificação do All Around, onde esteve longe de ser perfeita mas ainda assim conseguiu ser a melhor pela dificuldade que coloca em todos os exercícios, e até chegou onde não tinha chegado no Rio de Janeiro, já que garantiu o apuramento para todas as finais. Na final por equipas, porém, Biles não aguentou mais: na sequência de um salto mal sucedido no cavalo, que deixou a treinadora a chorar e até poderia ter tido consequências mais graves, decidiu abandonar a competição e retirar-se da final. Os Estados Unidos não chegaram ao ouro, com o Comité Olímpico Russo a ganhar e as norte-americanas a ficarem com a medalha de prata, mas o assunto em cima da mesa era a saúde mental de Simone Biles. A ginasta acabou por retirar-se também da final individual All Around, onde a colega Sunisa Lee brilhou e conquistou o ouro, e é ainda uma incógnita se vai estar ou não nas finais de aparelhos. |
Tudo isso, porém, acaba por ser secundário. Simone Biles foi a primeira atleta a retirar-se de uma competição, tanto durante como antes, para proteger a própria saúde mental — ou, pelo menos, foi a primeira a fazê-lo sem dar outras justificações, apresentando a coragem que sempre teve para dizer o que realmente se estava a passar, sem floreados. Biles, apesar de ter cinco medalhas olímpicas e inúmeros títulos às costas, tem apenas 24 anos. Biles, apesar de ser uma das atletas mais conhecidas do mundo, é claramente introvertida. E Biles, apesar de passar a vida a sorrir e nunca dar sinais de incómodo quando é rodeada por autênticas multidões de jornalistas, continua a ser a única ginasta abusada por Larry Nassar que ainda compete. A culpa de Simone Biles ter chegado a este ponto é de todos nós. E a responsabilidade de cuidar dela, assim como de todas e todos que já cá estão e vêm a seguir, continuar a ser de todos nós. |
Por fim, os momentos altos desta primeira semana de Jogos Olímpicos concentraram-se praticamente por inteiro no Centro Aquático de Tóquio. Ahmed Hafnaoui, tunisino de apenas 18 anos, orquestrou um autêntico golpe de teatro e venceu os 400 metros livres. Caeleb Dressel, considerado por muitos aquilo que de mais próximo existe de Michael Phelps na natação atual, venceu nos 100 metros livres, bateu o recorde olímpico e ainda protagonizou um momento bonito ao oferecer a medalha conquistada pelos Estados Unidos na estafeta 4×100 ao colega que tinha feito as eliminatórias. Katie Ledecky, tida como a grande referência dos últimos anos na natação feminina, perdeu o ouro nos 400 metros livres, nem sequer foi ao pódio nos 200 metros livres e só conseguiu redimir-se com a vitória nos 1.500 metros livres. Em oposição, a rival australiana Ariarne Titmus, de apenas 20 anos, ganhou tanto nos 200 como nos 400 e apresentou oficialmente a candidatura ao estatuto de próximo grande nome da modalidade. Tatjana Schoenmaker, sul-africana de 24 anos, ganhou os 200 metros bruços depois de já ter sido prata nos 100 e quebrou o único recorde mundial que caiu em Tóquio. E Robert Finke, ilustre desconhecido, foi mais forte do que Gregorio Paltrinieri e Mykhailo Romanchuk e chocou toda a gente ao ganhar nos 800 metros livres. Pelo meio, nos saltos para a água, Tom Daley (e o parceiro Matty Lee) conquistou finalmente uma medalha de ouro ao ganhar nos saltos sincronizados da plataforma de 10 metros. |
Longe dos Jogos Olímpicos, a temporada de futebol arranca já este sábado em Portugal, com Sporting e Sp. Braga a disputarem a Supertaça Cândido de Oliveira no Estádio Municipal de Aveiro e com adeptos nas bancadas (33% da lotação), a partir das 20h45. Durante a semana, na quarta-feira, o Benfica visita o Spartak Moscovo na Rússia, na primeira mão da terceira pré-eliminatória de acesso à Liga dos Campeões — e escassos dias depois de Rui Costa ter dado a primeira entrevista enquanto líder encarnado e depois da detenção de Luís Filipe Vieira. À TVI, o antigo jogador explicou que não quer ser “príncipe herdeiro”, que ainda não está a pensar em eleições e que só pretende encontrar e criar estabilidade. Independentemente disso, o destino de Rui Costa e do Benfica estará intrinsecamente ligado ao resultado final da eliminatória europeia contra a equipa russa de Rui Vitória. |
Por fim, e se começámos com uma frase de Jorge Fonseca, torna-se urgente terminar com uma frase de Neemias Queta. Na madrugada desta sexta-feira, já perto das cinco da manhã, o jovem poste de 22 anos tornou-se o primeiro português a entrar na NBA. O jogador natural do Barreiro, que estava há três anos na liga universitária dos Estados Unidos a representar os Utah State Aggies, foi a 39.ª escolha do draft e vai jogar nos Sacramento Kings — curiosamente, na mesma cidade da Califórnia onde Ticha Penicheiro representou os Sacramento Monarchs durante 11 anos, conquistando até um título da WNBA em 2005. Neemias, tal como Jorge, mostrou-nos que nenhum sonho é impossível. Basta ir atrás dele. |
“Estou muito contente. Foi lindo. Esperava por este dia há muito tempo e finalmente chegou o dia” |
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Eu, a TV e um comando
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O jogo em palavras
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Pódio
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1
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Nadadora de Vila do Conde terminou a respetiva meia-final em 5.º e acabou em 11.º na geral, falhando a final mas assegurando o 3.º melhor resultado de sempre da natação, apenas atrás dos de Yokochi.
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2
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Portuguesa teve mais de dez minutos a prioridade, precisava de uma onda para duas manobras que nunca apareceu mas caiu de pé com um quinto lugar na estreia do surf nos Jogos, na praia de Tsurigasaki.
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3
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Começou com duas vitórias, cedeu contra a bicampeã mundial, derrotou a campeã olímpica, perdeu com a quarta do ranking: judoca de Coimbra teve um dia quase perfeito mas acabou -48kg em quinto.
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A reflexão
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Tóquio 2020
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Simone Biles bateu as regras da física e revolucionou a ginástica. Agora, foi-se abaixo mentalmente e admitiu-o em lágrimas. O gesto pode iniciar uma outra revolução: a da saúde mental dos atletas.
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Terceiro tempo
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