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Se estivesse vacinado, nada disto tinha acontecido. |
Se tivesse explicado desde início que contraíra Covid-19 pela segunda vez a meio de dezembro (a primeira tinha sido em junho de 2020), o que inviabilizava a toma da vacina, nada disto tinha acontecido. |
No limite, se preenchesse de forma correta os formulários para o pedido do visto na chegada à Austrália e se os mesmos não fossem depois chocar com uma realidade que pensaria ser inatacável como se o mundo das redes sociais não tivesse há muito reduzido o espaço das figuras públicas a zero, nada disto tinha acontecido. |
Mas não. Aos 34 anos, Novak Djokovic quis na mesma entrar no jogo. E, pasme-se, perdeu. |
Depois de ter conseguido através de uma extensa, profissional e competente equipa de advogados revogar em tribunal o pedido de deportação que pendia sobre si desde as oito horas em que ficou retido no aeroporto, o jogador sérvio fez quase uma vida normal: hotel, treinos, ginásio, descanso, preparação, trabalho mental. O que fez até aqui, o que faria na preparação de qualquer torneio. Mas até nisso a realidade mudara. Muito. Como escrevia esta semana Ben Rothenberg, especialista em ténis que escreve para órgãos como o The New York Times, a BBC ou a CNN, o ambiente quando o número 1 do ranking ATP entrava na Rod Laver Arena ou andava pelos balneários era frio, distante, tenso. O respeito que ganhara entre os seus conhecia uma outra face de quem, como dizia Stefanos Tsitsipas, “não queria passar por parvo”. Cá fora, o cenário era ainda pior. |
Ao longo dos últimos dias, e excluindo a mensagem deixada duas horas depois de ser libertado na segunda-feira com uma fotografia tirada após o treino na Rod Laver Arena, Djokovic falou apenas uma vez, através de um comunicado colocado nas suas redes sociais. E para quê? Basicamente para confirmar e pedir desculpa pelo facto de ter concedido uma entrevista ao jornal francês L’Équipe a dia 18 de dezembro sabendo (alegadamente, já lá iremos) que tinha recebido um teste positivo dois dias antes – que sem que se perceba se tornou na véspera, dentro da “sua” timeline – e pelo facto de ter errado no preenchimento do pedido para o visto, na parte das viagens 14 dias antes, num lapso administrativo e humano que não passava disso mesmo. |
O cenário estava mau, ainda piorou mais. Aos 34 anos, Novak Djokovic quis na mesma entrar no jogo. E, pasme-se, perdeu. Vamos por partes, em três sets como se de um jogo de Grand Slam se tratasse. |
Set 1: a questão do resultado positivo num PCR feito às 13h05 do dia 16 de dezembro com resultado apurado às 20h19. Passando ao lado da questão do QR Code, que terá levantado suspeitas porque dava negativo e não positivo como era de esperar (algo que de repente “mudou”), o jogador sabia que estava infetado e prosseguiu com a sua vida como se nada fosse, participando em dois eventos públicos no dia 17 (em alguns momentos sem máscara) e na supracitada entrevista ao L’Équipe no dia 18. Só por isso, e de acordo com o artigo 248 do Código Penal da Sérvia, incorre numa pena de prisão até três anos ou trabalho comunitário por ter violado o período de isolamento quando, em junho de 2020, perante um resultado positivo na sequência do Adria Tour organizado pelo próprio, tinha assumido publicamente a infeção e pedido desculpa pelo sucedido. |
Set 2: a questão do preenchimento do visto de entrada na Austrália. Mesmo tendo feito toda essa burocracia à luz de uma “isenção médica”, o jogador colocou num dos pontos do formulário que não tinha feito qualquer viagem nos 14 dias que antecederam a viagem para Melbourne quando tinha passado o Natal em Belgrado (há fotos) e o final do ano já em Marbella a preparar o Open da Austrália (há fotos). Ou seja, a informação prestada junto das autoridades fronteiriças era falsa, incorrendo também aqui numa pena pesada, de acordo com as leis australianas, de um a cinco anos de prisão – e por algo que o próprio assumiu ter feito. |
Set 3: a questão da vacinação. E, perante o risco que corria de ser deportado na segunda-feira, Djokovic disse pela primeira vez, com todas as letras, que não estava vacinado (até duas vezes, perante nova pergunta do juiz, para que não ficassem dúvidas). Ou seja, colocou-se na mesma posição que a tenista checa Renata Vorácová, que chegou a Melbourne na mesma situação e que no início da semana foi mesmo deportada. |
O pior cenário, aquele que estava mau e piorou com os dias (e com as mentiras, em forma de omissões ou erros) confirmava-se. Aos 34 anos, Novak Djokovic quis na mesma entrar no jogo. E, pasme-se, perdeu. |
Esta sexta-feira, Alex Hawke, ministro da Imigração que se tinha isolado no gabinete para analisar todos os dados entretanto conhecidos, revogou o visto do jogador “por razões de saúde e ordem pública”. Já Scott Morrison, primeiro-ministro do país, reforçou que “os australianos fizeram muitos sacrifícios durante a pandemia e, com razão, querem que o resultado desses sacrifícios seja protegido”. E os advogados do sérvio, que há muito preparavam este pior cenário, começaram a avançar com as diligências para congelar a nova decisão. À hora desta newsletter, o número 1 do mundo, que já tinha adversário, está impedido de ser deportado da Austrália mas continua sem visto e está fora do primeiro Major da temporada. |
Por um Grand Slam, Novak Djokovic perdeu 20 vezes mais. Por não ter assumido desde início a sua condição deixou-se enredar num labiríntico caminho de mentiras, falácias, omissões e erros. Claro que o aumento de casos em Victoria pela variante Ómicron também pesou, claro que a luta política interna também teve a sua influência, mas toda a novela tem apenas e só um culpado que é o próprio. O sérvio foi contra tudo e todos em busca de um lugar ainda maior na história mas aquilo que conseguiu até ao momento foi manchar a imagem que tem por mérito desportivo na história. Mais: viu que todo o caminho desde que chegou a Melbourne era errado e seguiu. E ainda continua a seguir. E ainda seguirá mais, até ao limite. |
Se preenchesse de forma correta os formulários para o pedido do visto na chegada à Austrália e se os mesmos não fossem depois chocar com uma realidade que pensaria ser inatacável como se o mundo das redes sociais não tivesse há muito reduzido o espaço das figuras públicas a zero, nada disto tinha acontecido. |
Se tivesse explicado desde início que contraíra Covid-19 pela segunda vez a meio de dezembro (a primeira tinha sido em junho de 2020), o que inviabilizava a toma da vacina, nada disto tinha acontecido. |
No limite, se estivesse vacinado, nada disto tinha acontecido. |
Terá valido a pena? |
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Os quartos da Taça de Portugal trouxeram uma grande surpresa, com a vitória do Mafra no Algarve com o Portimonense (para Marcelo ver na Arábia Saudita…) que valeu de forma automática uma estreia na final entre a equipa da Segunda Liga liderado por um antigo herói no Jamor pelo Beira-Mar, Ricardo Sousa, e o Tondela, que venceu o Rio Ave. Do outro lado, o clássico esperado: o Sporting goleou o Leça em Paços de Ferreira num jogo que marcou o regresso de Rúben Amorim ao banco após isolamento por ter contraído Covid-19, ao passo que o FC Porto passou em Vizela no dia em que Sérgio Oliveira assinou pela Roma. |
Antes, o Campeonato tinha trazido uma grande surpresa, com a derrota do Sporting nos Açores frente ao Santa Clara (a segunda de Amorim nos últimos 51 jogos na prova pelos leões) que permitiu que o FC Porto se isolasse na liderança após vitória ao cair do pano no Estoril e que o Benfica se aproximasse do segundo lugar depois do triunfo na receção ao P. Ferreira. Este fim de semana, os encarnados de Nelson Veríssimo entram em campo no sábado, na Luz com o Moreirense de Sá Pinto (18h), enquanto os dois primeiros classificados jogam no domingo a sua distância no topo: Vizela-Sporting (18h) e Belenenses SAD-FC Porto (20h30). |
Nota ainda para alguns jogos grandes lá fora: Manchester City-Chelsea (sábado, 12h30), Aston Villa-Manchester United (sábado, 17h30) e Tottenham-Arsenal (domingo, 16h30) na Premier League; Arsenal-Liverpool na segunda mão das meias da Taça da Liga; Real Madrid–Athl. Bilbao na final da Supertaça de Espanha (domingo, 18h30); Atalanta-Inter na Serie A (domingo, 19h45); e Guiné-Bissau-Egito (sábado, 19h), Cabo Verde-Camarões (segunda-feira, 16h) e Costa do Marfim-Argélia (quinta-feira, 16h) na CAN. |
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No andebol, Portugal começa esta sexta-feira a sua participação no Campeonato da Europa e já com um “aviso” que chegou do outro encontro do grupo B, que teve os Países Baixos a derrotarem a anfitriã Hungria por 31-28. A Seleção Nacional vai defrontar a partir das 19h30 uma velha conhecida Islândia, “a quem já ganhou por um e com quem já perdeu por um”, seguindo-se no domingo a Hungria (17h) e no fecho desta ronda os Países Baixos (terça-feira, 19h30). Os dois primeiros classificados avançam depois para a main round, de onde vão sair depois os dois conjuntos que irão disputar as meias-finais. Pode ouvir aqui a entrevista ao “Nem tudo o que vai à rede é bola” na Rádio Observador do central Miguel Martins, jogador de 24 anos formado no FC Porto que se mudou esta temporada para a formação húngara do Pick Szeged, ou ler a entrevista de vida a Humberto Gomes, experiente guarda-redes de 44 anos que não foi agora opção. |
De terras magiares para os Países Baixos, Portugal começa esta semana a defesa do primeiro e único título de sempre no Europeu de futsal, defrontando na próxima quarta-feira a equipa da Sérvia (um adversário complicado nos oitavos do último Mundial, que acabou também com vitória nacional) em Amesterdão, às 16h30. Os outros dois jogos do grupo A serão contra Países Baixos (dia 23, 16h30) e Ucrânia (dia 28, 19h30). Pode ouvir na segunda-feira a entrevista com o ala Pany Varela, que é também campeão europeu de clubes pelos Sporting, no programa “Nem tudo o que vai à rede é bola” logo a seguir ao jornal do meio-dia. |
A finalizar, a estreia a marcar de Neemias Queta na NBA, na derrota dos Sacramento Kings frente aos Cleveland Cavaliers por 109-108. Que foi mais do que isso: além do primeiro cesto num total de 11 pontos e dos cinco ressaltos nos 24 minutos que esteve em campo, o poste português mostrou que tem potencial para jogar muito mais e, em paralelo, potenciou uma onda de apoio que se sente também nos EUA. No jogo que se seguiu, frente aos Los Angeles Lakers, Neemias jogou menos de um minuto mas a “semente” já ficou lá numa semana que ficou também marcada pelo regresso de Klay Thompson após quase 1.000 dias de ausência. |