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Desde que terminou o mestrado em História do Design no Victoria and Albert Museum e no Royal College of Art que Joana Albernaz Delgado escreve sobre tudo e mais alguma coisa, em especial sobre coisas. Escreve também emails que espelham as novas ideias e a visão arejada que trouxe das aulas, o primeiro dos quais chegou à nossa caixa do correio a 25 de janeiro, e esclareceu o projeto em mente. “Pequenas crónicas/ensaios, em estilo solto, não académico mas rigoroso, acessível a todos aqueles que quisessem ler.”. Tudo certo sobre a forma. E o conteúdo? As histórias de objetos humildes de todos os dias. |
Só faltava afinar uns quantos detalhes, ajustados ao longo de videochamadas e utilíssimos bate bolas no WhatsApp, que se estenderam ao longo dos últimos meses. Que tipo de objetos seriam tratados nesta nova rubrica? Um regador? Um piaçaba? Bom, é verdade que são modestos e omnipresentes acessórios, mas falta-lhes um design cristalizado uniforme, apontou Joana. E que marcas caberiam nesta galeria? Nada contra as famosas canetas Bic, garrafas de Coca-Cola ou lápis Viarco mas esta série prefere incidir sobre objetos invisíveis, e de preferência sem etiqueta sonante, que por variadas razões “se consolidaram no tempo de forma mais ou menos consistente, criando uma carga semiótica que todos entendem”. |
Parece tudo simples e prático como muitas destas peças que nos rodeiam? Mais ou menos. Não imagina a carga de trabalhos da Joana, que a partir desta quinta-feira, a cada mês, será a nossa Materialista de serviço. Uma materialista no melhor dos sentidos, claro, pronta para dar voz a ícones que compõem a nossa memória material, para ir além de uma mera descrição da origem de cada item, e para criar um inventário que não pareça uma despesa doméstica. |
Começamos esta montra com o famoso copo de galão e a sua inesperada ligação entre um típico pequeno-almoço português e uma carruagem de comboio na Ucrânia. “É fabricado em Portugal, e é anunciado por várias empresas como sendo um produto típico português. No entanto, experimente perguntar a uma pessoa de nacionalidade brasileira, russa ou ucraniana se conhece este copo. Não se espante com a resposta: todos dirão, se não olharem detalhadamente, que é um copo tradicional do seu país“. |
Vou manter o mistério sobre o próximo alvo mas posso garantir que o vai reconhecer de imediato — e talvez aproveitar para se sentar um pouco e beber mais uma boa história até ao fim. |
Até para a semana. |