|
|
|
Estreou-se esta semana na Netflix o novo documentário de David Attenborough. Aos 94 anos de idade, o naturalista britânico que, na década de 1950, trouxe as maravilhas do mundo natural para a televisão tinha todos os motivos para estar pessimista com o estado do planeta: como ele próprio reconhece em “Uma Vida no Nosso Planeta“, a ciência prevê que, no final deste século, grande parte da Terra se torne, pura e simplesmente, inabitável. Ainda assim, Attenborough mantém-se otimista. Na semana passada, quando bateu o curioso recorde de seguidores no Instagram (conquistou um milhão de seguidores menos de cinco horas depois de ter criado a sua conta, roubando o título a Jennifer Aniston), afirmou que o feito lhe dava uma “grande esperança” no envolvimento dos mais jovens na defesa do planeta. |
“É o mundo deles, é o amanhã deles. Eu não vou estar lá, eles vão. É deles e, se não os persuadimos de que é importante, estamos a desperdiçar o nosso tempo”, dizia o nonagenário. “Sinto-me privilegiado por eles ouvirem o que um velho como eu está a dizer.” |
“Uma Vida no Nosso Planeta” é um filme poderoso. Durante uma hora e meia, David Attenborough usa a sua própria vida para nos dar uma ideia de como o planeta se transformou radicalmente em menos de cem anos. Para o britânico, não há dúvidas sobre o maior erro que a Humanidade cometeu ao longo dos últimos séculos: ao subjugarmos todos os recursos do planeta às necessidades humanas, desequilibrámos os ecossistemas que funcionavam harmoniosamente e destruímos — em alguns casos, de modo irreversível — a biodiversidade do globo terrestre. Grande parte do filme é dramática, mas Attenborough não deixa que o documentário acabe nesse tom: ainda vamos a tempo de dar meia volta e de garantir ao planeta as condições para restaurar a biodiversidade, assegura-nos. Há maneiras de nos redimirmos. Não vos conto mais, porque vale a pena assistir ao documentário do início ao fim (podem fazê-lo aqui). |
O que é certo é que a destruição das outras espécies pela Humanidade não é só um lamento de David Attenborough. No ano passado, um relatório publicado pela ONU deixava evidentes alguns números preocupantes: desde o século XVI, pelo menos 680 espécies de animais vertebrados já foram levadas à extinção diretamente por causa da ação humana. Entre todo o tipo de animais e plantas, há atualmente um milhão de espécies ameaçadas de extinção — e muitas podem desaparecer por completo nas próximas décadas, durante o período de vida da geração atual. É certo que são vários os fatores que levam à extinção de espécies — como a evolução natural, grandes desastres ou as alterações climáticas. Mas, segundo um estudo recente, publicado na revista Science, o impacto humano está a fazer com que essas extinções aconteçam a um ritmo mil vezes superior ao que seria natural sem a interferência da espécie humana. |
Há, porém, como diz o britânico, formas de redenção para a Humanidade. Uma delas é a conservação ativa das espécies que se encontram em risco de extinção. |
Em fevereiro deste ano, eu e outros jornalistas — portugueses e de outros países europeus — aceitámos um convite da Comissão Europeia para visitar o centro ambiental Arcturos, uma ONG ambiental que se dedica à reconstrução do ecossistema próprio das montanhas do norte da Grécia, perto da fronteira com a Macedónia do Norte. É um ecossistema particularmente complexo e basta olhar para as relações entre mamíferos. Nas montanhas habitam ursos-pardos e lobos, predadores habituais do gado que, nas planícies que rodeiam os montes, constitui uma das principais atividades económicas da região. |
Ao longo do século passado, o ecossistema alterou-se profundamente. Os ursos-pardos, capturados em bebés por toda a região dos Balcãs para servirem de atração de rua após serem cruelmente ensinados a dançar, começaram a escassear; os lobos, vítimas da falta de alimento e da destruição de habitats das montanhas, começaram a alargar cada vez mais o seu território de caça e a chegar às aldeias e quintas dos agricultores locais; e os cães da raça pastor-grego, que durante décadas ajudaram os agricultores a manter as pastagens em segurança, tornaram-se moda nos apartamentos das cidades gregas e foram cruzados com espécies mais pequenas e mais dóceis. Para reconstruir o ecossistema, o centro ambiental Arcturos tem trabalhado em todas estas frentes. |
A Covid-19 chegou a Portugal pouco depois do meu voo de regresso de Tessalónica para Lisboa. O confinamento e a necessidade de garantir a cobertura noticiosa da pandemia deixaram a segunda parte desta reportagem em suspenso até ao mês de setembro, altura em que fui com o João Porfírio, editor de fotografia do Observador, a Castro Verde, no Baixo Alentejo, para ver o que é feito no nosso país com vista à preservação das aves estepárias — espécies que dependiam das planícies alentejanas para sobreviver e que têm o seu habitat em risco devido à agricultura intensiva que trocou as searas douradas por imensos olivais. Porque fomos mais tarde do que o planeado, já não apanhámos os peneireiros-das-torres, os falcões da planície, que já tinham migrado para a África subsaariana. Voltam em janeiro. |
O ambiente nas eleições americanas |
Continua por estes dias a campanha eleitoral para as eleições presidenciais norte-americanas, que acontecem a 3 de novembro (embora, com Donald Trump infetado com a Covid-19, os próximos dias de campanha ainda sejam uma incógnita). Numa eleição tão polarizada como esta, também o ambiente e as alterações climáticas são um dos pontos de maior discórdia entre Trump — que põe sistematicamente em causa a ciência por trás das alterações climáticas — e o antigo vice-presidente Joe Biden, que quer que os EUA voltem a integrar o Acordo de Paris. |
O The Wall Street Journal tem publicado um conjunto de comparativos entre os dois candidatos. Vale a pena ler o artigo que compara os pontos de vista de ambos sobre o clima e a política energética, publicado esta semana. “A política ambiental é um dos maiores contrastes entre Trump e Biden”, escreve o jornal. Enquanto Biden propôs “a agenda climática mais agressiva apresentada por um finalista presidencial”, Trump não inclui o ambiente entre as prioridades de campanha e considera o plano de Biden uma ameaça à indústria norte-americana. Falta saber que caminho vão seguir os EUA — o segundo maior emissor de dióxido de carbono do mundo — no que diz respeito à abordagem ao clima. Quando receber a próxima edição desta newsletter, essa decisão já estará tomada. |